segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Almas Gêmeas

Jamais morri de amores pela vida
e jamais me suicidaria,
tal prova de amor é demais
para mim, e confesso que
também sei que jamais por
ela me apaixonaria.
Se eu vivesse para sempre
teria a eternidade para corteja-la,
porém, sei que se passássemos
tanto tempo assim juntinhos,
é certo que cedo ou tarde nos
matariamos, embora sabendo
que a queda de um significa o 
colapso do outro,
ou quem sabe exatamente por
isso mesmo.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Deus Branco

Desgraças a Deus, ah! Deus,
adeus...e gracias.
Falhou como imagem e semelhança.
Tão feio, fez de tua criação uma
criatura horrível.
O Homem branco foste o mais
baixo de todos, de todo o tempo
antigo até agora, vésperas de um
futuro perdido.
Homens de bem, de família cristã
e temente a ti.
Ah! Homem, tão facínora e canalha.
Um Deus em miniatura.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Objeto-Coisa

Meu mundo é coisa e 
minha vida objeto desta.
Minha morte um subproduto
desse objeto-coisa e minha
existência um poeta.
Deus quis ser poesia,
mas o máximo que
pôde foi ser métrica,
então eu, um libertador
dos versos, sendo assim
ser ateu é o que me resta.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Protesto

Disse a pena em
silênciosas palavras
restritas,
sem rimas, em riste!
Disse:
pereça a métrica
faça-se a poesia.


Cemitério

Não cabe o mundo todo
dentro de uma vida,
muita coisa e tão pouco
uma vida apenas.
Também não todas as vidas
cabem no mundo todo,
muita morte e tão pouco
um mundo apenas.

D Eu S

Hoje eu vi Deus
à minha imagem
e semelhança,
mas não sei se ele
me viu,
quando estava a
olhar-me do
espelho parecia
estar tão distraído.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Desaparecido

Quis parecer como muitos
se parecem e desapareceu.
Hoje pode ser encontrado
no que muitos dizem, 
naquilo que muitos pensam,
no que muitos vestem e
em opiniões e planos que
muitos têm. 
Porém, desapareceu por
completo.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Escalenos

Para mim Deus poderia ser um
mecenas, e o Diabo como Deus
poderia ser um mais do mesmo.
Deus me traz amor,
e o Diabo dinheiro, 
Deus me traz respeito,
Deus meu melhor amigo e o
Diabo um parceiro.
E então numa transa espiritual
poderíamos fazer um ménage à
trois e nessa comunhão de nossas
forças e formas entenderíamos
que somos um só, como diferentes
as dimensões de um mesmo
triângulo são.

Transfiguração

Única razão de ser é Solidão:
Solitude! Cínica intenção,
plenitude absoluta da razão
única:
Descer em si, só...
só assim saber o quão
profundo fosso és e,
fosse céu,
teu esforço em Ser e descobrir
seria profundo também,
como grão de areia mirando o
sol,
do solo quente do deserto em
sua miragem de ser:
vasilhame resistente para
guardar líquidos frios.

domingo, 26 de novembro de 2023

O Raro O raro

Eu quero dizer (a partir de agora,
daqui pra frente até a última
palavra que eu possa escrever)
sempre as mesmas coisas.
Qu'eu
Tenha
Sido
Profundo
o
Suficiente,
para daqui em diante poder mergulhar
em tudo sem medo de quebrar a espinha
e me deixar aos cuidados dos movimentos
dos olhos apenas.
Eu quero me repetir,
me repetir hoje como ontem eu
já me repetia no amanhã,
quero o amanhã também de novo
repetido sobre mim sempre que
eu olhar para trás.
Quero dizer o mesmo, quero ser o mesmo,
quero sê-lo sempre como se fosse sempre
a primeira vez.
Quero que minha voz imite o silêncio
dos mesmos quando novidades discutem
tendências entre si e o que doravante
pode acontecer.
Quero versos repetidos, reescritos e quando
quase lidos, eu quero para eles depois o
mesmo quase...desejo quases para o que
vier postumamente para está vida 
que na mesma de sempre busca em vão
glórias rumo à eternidade.
Quero a eternidade, pois nada há nesse
mundo que se repita mais do que aquilo
que nunca acaba.
Enfim, quero a morte para também repetir
o mesmo fim de todos.

Deserto Promissor

Desabou o céu de uma chuva intensa
cor de água cinzenta de um azul
frio piscina de azulejos cor de
chumbo também, como lágrimas
que choram olhos de íris com
cores de olhares vis e frios.

Olhos profundos como profundas
piscinas vazias.
São assim! as coincidências
que não acreditam em si
ou são providência divina ou
jamais serão coisa alguma,
como amores que voltam
para dizer que jamais outra vez
retornarão.

Ascendeu ninguém sabe
como, o fogo que desceu
do céu como raios e por
horas parecia um dossel
de eletricidade sobre os
pensamentos de quem
por muito há muito dorme
muito pouco.

Acendeu ainda mais a insônia
que sempre foi louca por chuva...
e verte comovida olhos lacrimosos
que encheriam fácil piscinas,
profundas piscinas de verve
olímpica que beira antipatia:

-Uma profusão de areia molhada
e nada mais.

sábado, 25 de novembro de 2023

Mesmo Céu

Foi fogo, fui...
Fui pouco, foi...
Fluí como um mesmo flui.

Se eu fosse o céu
sei que esse céu,
se fosse eu,
também não teria
asas para em 
mim voar.

Foi fogo, fui...
Fui pouco, foi...
Voei como quem sobrevoa cai.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Bib liar

Decorar o 
versículo,
dourar a pílula,
adorar...
adular o dolo:
todo lodo de
um mar de culpa
e a desculpa é
a lama do barro
que te fizeste
pouco.

Silêncio em Fúria

Todas as frases jamais ditas
estão contidas dentro de cada
silêncio. Ah! quantas frases
gritantes, vozes gritando estão
agora aflitas em busca de
algum ouvido, mas jazem no
silêncio, tumba destas vozes e
protetor. O que querem dizer e
dizem o silêncio ausculta se é
possível que sejam ouvidas,
porém, sempre que permite que
digam, elas calam, emudecem-se
e, assim o silêncio, senhor 
soberano destas, vai pouco a pouco
absorvendo-as a si e encorporando
o som delas ao seu ou a sua 
inaudita sinfonia de música interna.
Das benditas noites de alegrias
efêmeras nos dias malditos de
eterna tristeza:
A vida jamais esteve preparada para
o instante em que os silêncios decidem
gritar.

Onze Inspirações

[cronologia poética, 
do verso à vida de
Poeta]
O tempo
A vida
A morte
O amor
A solidão
A noite
O universo
A poesia
Deus
Tristeza
Suicídio.

Poética

Eu vivo depois
e morro quando,
renasço onde e
não existo antes,
não mais: Morte!
Resisto ao desistir
e só desisto como
última resistência
vencida: Vida!

Porto Éden

Errar é humano e
pecar é divino:
Aporto do meu pudor
no pecado a postos,
e afirmo que se eu
apostasse que o rubor
estampado na cara do
pecado é paixão eu
certamente ganharia
a aposta.

E então prontos para
uma parceria primorosa
partimos rumo ao
paraíso proibido,
onde pecar é permitido
desde que se seja um
Deus disposto ao errar
humano, ou desde que
se seja Homem com
disposição suficiente
para viver como um
Deus.

Mais do Mesmo Tempo

Todo passado nasce
recente:
O dia de antes de
ontem, o ontem
e o hoje.
Já quanto ao amanhã,
nada é mais antigo que
a ideia de futuro.

Para Todos os Céus

Eu me apaixono nas Joaninhas
e nas borboletas,
e canto esse amor para a chuva
e esta canta pelo amanhecer
esse canto que antes o orvalho
cantou, ontem e antes do meio
do dia de anteontem o úmido
do mesmo orvalho também cantou.
Eu conto sobre esse amor
para os meus dias e eles
falam às árvores e elas
para os passarinhos e estes
para todos os céus saem
esse amor a cantar...
e enquanto encantam,
os que olham admiram
e se admiram quando
também esse amor podem
cantar. E cantam!

Vida Interna

Um
Dia
Ainda
       Morreremos
Hoje.

Sacrificar a vida eterna
e viver sem compromisso
com a eternidade pós morte
após está vida de merda.
"...ao dia basta a sua própria aflição."
Meu adeus é um Deus solitário
e suicida,
e posso ser, digo, passo a ser
Eu outro deus pós contra
toda essa vida eterna partindo
de outra pre[missa]:
 
                 Para quem vive
                 acima do tempo
                 o futuro abaixo.

Instante Incólume

Escrever como um poeta
como bebe um alcoólatra;
Viver como um suicida
como morre alguém que
viveu cem anos para sempre:
Disposto.

Eu quero o tempo como
o tempo queria...

O antagonismo das coisas antes
da vida começar a contá-lo.

Se a partir do presente é
sempre no futuro que todos
morrem (exceto o natimorto
que morre antes),
do jovem suicida a pessoa
idosa e saudável,
morremos hoje na verdade,
quiçá, amanhã.

O tempo como o tempo queria...

Mas eu não quero morrer
e por isso não me interessa
o futuro,
porém, preciso de um tempo
ainda não contado pelo relógio.

Eu quero a nudez de
um tempo ainda
intacto intocado,
eu quero do tempo a
pureza de um 
instante incólume.

domingo, 19 de novembro de 2023

Espherografia

Emperrou a esfera
da minha caneta azul,
também a esfera do
meu planeta azul,
emperrou a esfera
do planeta,
e do planeta e da
minha caneta azul
não haverá mais
escrita...nem poesia
e tampouco círculos
no papel do universo
nesse poema.

Triângulo Retângulo

Jamais fui coisa alguma:
'preferir o nada do que
nada querer'.
Eu quis as duas coisas,
ir atrás do nada para
depois esse nada recusar,
e embora ainda,
apesar de ser poeta e de
querer sê-lo também,
eu nada sou até então.
A partir de agora eu
prefiro o todo, para depois,
como a existência faz com
meu eu lírico,
tudo desprezar.

Três Presentes

Eu quero o que ainda não sou,
mas para obter o objeto do
meu desejo eu devo recuar.

Que seja o futuro
um passado onde eu nunca existi.

-Quando voltar é seguir em frente
o que se faz com o que virá?

O Futuro enfim

O fim de tudo é logo ali,
da vida do mundo,
da vida no mundo e
do próprio mundo
dobrando a esquina
planeta adentro.
O final de tudo afora
e do próprio futuro é
logo ali.
O futuro é o hospedeiro
e o parasita do final de
tudo e de todos.
Será doravante de novo
como sempre foi assim.


Queimando Igrejas

Eu já teria fumado dois
cigarros se eu estivesse
te esperando,
se eu decidisse esperar,
você demora.

Eu já teria queimado uma
igreja pelo menos se eu
decidisse acreditar,
(...)
não demora.

Inimigo Universal

Ausente e só...
Só se só consigo
o sozinho é solidão
e não solitude,
mas se em si
teu eu teu ser é
senhor soberano, 
de domínio absoluto
afinal,
o só consigo é sempre
íntima comunhão,
sempre será teu eu
seu melhor amigo,
porém, quando não,
é e sempre será
teu inimigo universal.

[Im]possível Nulo

Nada mais como poderia ser,
apenas o impossível.
O impossível sim,
esse tudo pode, inclusive dançar,
pode sê-lo sem medo de ser
superado.
O impossível tem em si a
possibilidade da eternidade,
e então sendo assim, valsa,
carrega consigo para o 
futuro todas as certezas 
tolas, todas, muitas vezes
certezas estas, por serem
impossíveis, são chamadas
de esperança.
Esperança, uma (im)possibilidade
neutra...nula.

AD Versos

No semi árido devastado
da minh'alma e coração.

Em toda a fria estepe
da minha consciência loba,

ambos tais habitats jamais
conheceram esperança que

não fosse uma estação mais
severa do que a outra:

Querer da vida mais do que apenas viver,
querer da vida mais do que somente a
                                                                 [morte].

Morte como recompensa e
refúgio, e querer do morrer

mais do que apenas a morte,
ter essa morte como recompensa

e refúgio para um novo viver.

Esperança é saber que jamais haverá
outros de nós, do tipo que nunca fomos,
e àqueles que foram nós quando nós
ainda pensávamos como viver,
também jamais serão outros que não
eles mesmos que negaram a si: os mesmos
tipos negados de ser, são o que na
verdade são.

Se negam a correr pelo seu 
habitat natural para rastejar
pelo subterrâneo de outros
ambientes. Porém, esquecem
que são de um tipo de êndemicos
alados e, idênticos a estes,
outros mais tanto querem se
perder. 

Chorus

Deus desconversa
e a vida segue exigindo
muita fé de mim.
Deus é pesado demais
uma existência toda
para suportar.
É como se eu acreditar
que uma tonelada é 
algo muito pesado e 
no mesmo instante a
minha cabeça começa
a pesar. 
Deus é pesado como um
silêncio profundo.
Eu acredito em um Deus
que seja muitas vozes.

Destino Escrito

Eu aposto a melhor versão de mim
com a morte de que viver a vida
escrevendo a própria sorte pode
mesmo valer a pena.
A morte aposta a sua fina e elegante
vestimenta preta de seda de bichos
da seda de pomares do paraíso de que
o destino de cada ser vivo desse
planeta já há muito está escrito e nada
pode mudar isso.
Do mesmo modo se eu perder,
a morte estará certa se eu ganhar
a aposta.

Espaço Exclamação

Eu não quero nada que eu não
seja capaz de conquistar,
apenas o mundo todo.
Um abrigo para fugir do frio,
e por amor,
a intenção da chuva e o
querer do fogo.
Eu quero um sorriso seu,
teu silêncio e um beijo,
um pacto com tua alma
pelo teu corpo,
e um combinado com teu
Deus para eu fazer companhia
para tua alma quando nossos
corpos já estiverem mortos.
Eu não quero nada que não
possa ser meu,
e o universo todo ainda
me parece pouco.

Agora distante (todo poeta é tudo)

Deus, o poeta primeiro,
e o Diabo,
um verdadeiro poeta.
Dentro da alma de cada poeta
um universo inteiro em colapso
se renova em cada novo verso.
O colapso se renova de novo
aqui, e no verso próximo o fim,
é apenas o início de tudo:
A sorte de Lázaro;
O destino de Sísifo;
A incumbência de Atlas e,
não por acaso,
A ousadia de Prometeu e
A verve de Cristo.

Todo poeta é nada daquilo
que o resto de tudo
jamais poderá ser.

Todo poeta é tudo!

Cada poeta são todos que
já se foram,
um pouco de cada um
compõe o poeta novo,
de depois do que virá
até o antes de agora,
e ainda assim cada novo
poeta não deixa de ser
absoluto.

Aonde quer que a poesia
possa reverberar,
na cidade e no universo,
do futuro ao passado
presente e do presente
futuro ao agora distante,
presente em cada antes e
depois de qualquer tempo:
cada poeta é único,
e se assemelham todos,
pois todo poeta é tudo.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Inimigo Íntimo

Estar sempre a vencer a si mesmo
não é sobre ser um vencedor e sim
é estar sempre vencido.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Os Deuses Sangram em Vermelho

Preferir a dor de um adeus para 
viver do que de um Deus um
desamor, ou um amor desses
fantasiosos para suportar e
sobreviver.
Como posso negar a existência de
um Deus sem ao menos me sentir
tão poderoso quanto,
como posso aceitar a existência de
um Deus, que me criou e, sendo
assim, eu um Semideus viver como
uma dessas criaturas fracas e débeis
do planeta?

Me excedo sempre entre excessos
e exageros e arredondo para menos
as redundâncias que mentem sobre
mim e as noites todas em que fui 
mais canalha do que as sujas madrugadas,
quando jogadas todas dentro da mesma
garrafa foram entornadas de uma
vez só,

elucidando a loucura a respeito
do quão cedo demais pode ser
considerado o fim da existência,
toda:

quando numa noite só vestimos a
morte para a festa que é a vida com
todas as nossas roupas,

destilo nos olhos o brilho do sol
refletido na lua,
desenho em meu cenho,
desdenho da face de Deus em meu
semblante lusco-fusco esquizofrênico
e me assemelho à um espelho
divino quando este reflete dos
deuses todo o desespero humano:

-Os Deuses Sangram em Vermelho.

Mulher Negra

Vocifera vontade,
vontade como força
e com força de vontade
grita bem alto: Potência!
Grita alto com 
voz de fera e coragem
de Mulher Negra.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Eutanásia

Hoje não há poesia,
não há como nunca
houve,
e como tampouco
amanhã haverá,
nos resta apenas
(morrer e...)
imaginar como 
seria.

Ternura Destruição

Meu universo em desencanto
quando os únicos versos que
canto é somente solidão.
Mavioso o silêncio em seu
canto pela espera pela fuga
é só sofreguidão.
Por sua vez, mafioso o meu
pranto, fora da lei dos olhos,
seu olhar de ternura para 
com nossa existência é só
coração.
E quando esperávamos que nada
mais nos devastaria naquela
escura e densa noite fria,
um imenso meteoro que caía
seria planeta adentro só
destruição.
O universo deu-me de presente
esse alívio:
para a humanidade toda que me
afligia, daqui pra frente restará
apenas extinção.

domingo, 15 de outubro de 2023

A Invenção da Morte

A beleza da poesia é a
felicidade que causa
em quem visita seus
versos; Naquele que
percebe e entende o 
que diz o poema,
porém, se a beleza da
poesia é a felicidade
que causa, o que você
ira dizer quando souber
que foi um poeta que
inventou a tristeza?
Quando só havia vida,
certamente um poeta
de verdade foi o primeiro
a morrer.

Presente (veículo inerte)

Em um futuro
próximo de agora
será possível voltar
ao passado para
um tempo próximo
de agora.

Fênix Suicida

Devoto de fato, hábito e fastio,
de voto vencido fácil pelo
fracasso,
mas devoto sim
de toda conquista:
Buscas de difícil
sacerdócio e de
árduo fardo e culpa.

Apocalíptica Poesia Viva e Suicida,
e de toda métrica, assimetria minha
assinatura poética.

O fracasso é uma democracia,
quase uma unanimidade,
e minha conquista faria
de mim um tirano se eu fizesse
pertencer meus versos a essa
sociedade.

Se sou poeta sou de expressão ruim
(para toda a humanidade)
e sendo assim,
hei de fazer ainda
de toda minha poesia
a cada novo dia
para o mundo todo
novas possibilidades.

Queda Acima

Eu queria ser uma Cachoeira.
Porque eu gosto da chuva.
Eu queria ser uma Enchente,
Cheia...de gente se salvando
de mim.
Eu poderia ser o Fim
apocalíptico da humanidade
e mesmo assim não gostaria
de ser outra pessoa.
Porque não gosto das pessoas.
Todos temem cair e
mesmo assim almejam o céu,
pouco me importa, porém,
de qualquer maneira,
eu se fosse assim,
sendo um Rio, como eu gostaria
de ser, meu medo de cair no fim
seria a queda de uma Cachoeira.

Observatório

O olhar fixo no objeto
O olhar fixo
O objeto físico...
Observa:
T r a n s i t i v o
o olhar a olhar abjeto
um objeto com afinco,
o objeto fútil!
O observador ou
O objeto infinito?

Deus Perfeito

Jamais é demais desacreditar com fé,
desacreditar que a natureza humana
é boa, boa por vir de uma natureza
divina, que é nula, boba e inverossímil.

A natureza humana, pela descendência,
por assim dizer, é hedionda.
Que Deus seria nossa imagem e semelhança
e seria um Deus bom?

Toda crença no invisível é inventada,
da cabeça para os olhos e os olhos que
se reinventem. Toda crença no invisível

é esperança , e tola a esperança
acredita ser invencível...
Toda invencibilidade é burra.

A compreensão de tudo é perfeição!
mas perfeição é
um erro,
e o perfeito é como
Deus, não existe.

ODiado Aniversário

Aniversariando sempre
um tempo que nunca
chega. Do mesmo modo,
meditando, adianto um
tanto do mesmo tempo
que nunca passa,
e sendo sempre pontual,
somos sempre 
aniversariantes destes
tempos que jamais nos
superam, nós, poetas,
pássaros e penhascos.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Terceiro Dia

Morri por amor quando tentei
viver sem amar:
-Quando alguém que me amou
morreu por amor pelo amor
qu'eu jamais fui capaz de amar:
        morro por esse amor
        todos os dias e morrerei
        enquanto nesses dias o
        tempo dessa existência
        durar.

Ínterim Retroativo

De depois de amanhã
até anteontem e
desde    hoje
em dia
(ou um outro ontem)
em diante:
Todo  Instante
         é
Todo  Instante!
           e a qualquer momento
           não será mais ou nunca
           foi ainda em tempo algum
           presente que nos prepare
           para tudo aquilo que já
           passou mas que
           doravante irá se perpetuar
           como legado nosso
           para a eternidade.
        

Temporal

Planos para o futuro
já não mais estão em
voga,
planejar o que virá é
quase inútil e fora de
moda,
o que há de mais moderno
agora é saber planejar
bem o passado.
Meu presente é jamais
saber onde irei determinar
tudo isso...e meu
passado é amanhã logo cedo
também, e quando for tarde
demais já não mais terei
tempo demais para suportar:
Todos os dias eu morro cedo
e vivo sempre
(por muito tempo) tarde demais.

Poética

Minha solidão é um ídolo caído.
Minha solitude sou eu anti-heroi
derrubando ídolos.
Meu alter ego é um ídolo alado,
meu ego um totem primitivo que
jamais foi adorado,
e quando sozinho madrugada
adentro adora a escuridão do
universo devorando o brilho
de todas as estrelas.

Minha tristeza é um Deus abandonado...

Existência Etérea

Minha existência é pesada demais
para toda e qualquer droga suportar,
e mesmo sendo uma verdadeira
heroína, minha vida absteve-se de
mim para assim poder se curar do 
seu vício em minha adicta existência
que, por sua vez, viciou-se em abstrair
do destino do meu devir toda e qualquer
grandeza.
Eu quero a química do éter que
preenche tudo: minh'alma universal!
Minha alma enamorou-se pela
possibilidade de jamais existir
outra vez, e quando então meu
corpo já estiver morto,
ela voltará a ser a essência da
fumaça do cachimbo de algum
maldito Deus viciado.

Traço Estranho

Por onde escrevo entoo versos
sempre bem ditos e se minha
pena é maldita a culpa é dos
meus dedos tortos e retorcidos,
gastos no ofício diário de se
fazer poesia por onde insiste
os meus passos:

Por onde passo ressoo
Por onde soo repasso
Aonde caibo destoo
Destrono o sonho distópico.

Passado à toa o presente
o futuro é sempre utópico,
e o pensamento preso num
tempo nem sempre tão próximo.

É nostalgia que sinto se a
gloria de novo for póstuma:

Renasço aço de novo de novo
inoxidável como um Deus poderoso
mas sem viver a admirar o próprio
retrato:
              a face de Deus é ridícula
              e o meu rosto é belo,
              Ele me fez preto ou pardo,
              traço estranho e sem nexo
              e tampouco há salvo engano,
              pois se diz ser um Deus
              branco com o cabelo amarelo?

Parábola da Lâmina Cega

Deus é o punhal;
Nós somos a bainha;
A Religião o cinto
e o Medo do Desconhecido
é a cintura.
A Mão que empunha o punhal
é a fé, 
e a vontade compulsiva de
sempre usá-la é a Crença
na lâmina, afiada ou não.

domingo, 20 de agosto de 2023

Antes de Cristo

Se eu fosse um filho da luz
iria adorar brincar nas
sombras, do mesmo modo,
amaria brincar na lama
se eu viesse das águas e,
se eu existisse a partir da
superfície do solo,
com certeza andaria e
muito pelo subterrâneo,
pois sei que seria conterrâneo
daqueles que subsistem
como forasteiros
à margem das estrelas.
Se eu fosse Deus seria odiado,
e se eu fosse um Diabo
seria só amor,
e quando não,
talvez porque o amor ainda
não tenha sido inventado.

Renascimento

Ligados pela morte,
todos os vivos e
separados pela vida:
a morte é a comunhão
                      maior
de toda a     humanidade:
e o tempo é o senhor
de todos os     mortos.

Uni-vos e morreis
Sápiens Homens Homo.

Presentes Instantes

Não sei se já olhei com inveja
para destinos distantes de passados
próximos de mim,
se sim,
eu sempre em presentes
                           instantes
me arrependo.

Se nada fui ontem
hoje sendo quem
sou invejar o eu
de amanhã é
esperança
demais para suportar...
        ...e carregar para
           o futuro o qu'eu
           deveria há muito
           ter sido é voltar
           no tempo sempre
           que se adianta o
           passo:
Eu endosso a ideia de seguir
em frente
se for
para destoar do tempo
que ainda está por...vir...

sábado, 19 de agosto de 2023

Nenúfares Azuis Lunares

Nenúfares azuis:
              Lunares!
Todos fossilizados
ao longo do Mar
da Tranquilidade.

Sondas da Nasa
detectaram e
vazou a notícia:

Nenúfares,
Nenúfares azuis!
Todos fossilizados
ao longo do Mar
da Tranquilidade.

Sondas da Nasa
detectaram a
presença de...

Nenúfares Azuis Lunares.

Outono Próximo

Todo o aço do azul do céu
profundo ao som do mar à
luz da nossa visão superficial
de tudo: desde todo o mundo,
desde Deus, desse nosso Deus
e desde os Deuses do resto de
tudo até o recôndito mais
íntimo de cada prazer humano,
até um outono próximo isso
tudo sucumbirá num plano
piloto de uma espécie de ensaio
de um apocalipse absoluto.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Segunda-feira

Amanhã começa
outra vez
tudo de novo,
para sempre...

domingo, 6 de agosto de 2023

Jesus Suicida

Queria morrer de amor,
de paixão e de braços abertos
abraçando a humanidade
toda. Mas aqueles que me
amam serão capazes de
me matar?
Jamais pensei que sim
mas sempre me engano.
Porém me amo tanto,
me amo tanto,
e quem seria eu,
senão eu mesmo,
se me desapontasse
quando eu mais precisar?
Entretanto, eu mataria
Deus se a vida de quem
amo dependesse disso.
Eu mataria Deus e
morreria por engano.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Dezoito de Abril

Resista. Recuse:
Retire-se sóbrio
e reserve tempo
para recuperar
o mesmo tempo
que passou
ávido por ti.

Tua insônia em
noites de eternas
tempestades disse
ser sonâmbula e
que, prisioneira de
ti, tenta fugir
sempre que você
adormece.

Mas você jamais
dorme, fecha os
olhos e apenas
fingi sonhar.
Porém quem fingi
não sonha e quando
perde-se o poder de
sonhar jamais se
dorme em paz
outra vez.

Onírico, quimerico e belo,
ou real, cruel e assustadoramente
mal e feio.

Reflita:
             pense em seu pior pesadelo
             antes de recusar a realidade.
             Viver de olhos fechados é 
             fácil, interpretando erroneamente
             tudo que se vê. Resista.

Conselhos de uma Estrela para uma Formiga

Teu lume
i n t e r i o r
acenda:

Ascenda e Brilhe,
Sublime!

A formiga
ouviu
também o
Vagalume.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Deuses Ausentes

Parece que sim 
até que enfim
o fim:
E que assim todos
os deuses ausentes
se encarreguem de
aniquilar todos,
todos nós, porém
não tudo,
e o que ficar que
floresça e renasça
lindamente outra
vez sem qualquer
presença humana
para todo o sempre
até o próximo fim
do mundo.

   Já não se usa mais a
   escrita para escrever;
   Já não se usa mais o
   livro para ler,
   artificialmente o
   Homem se faz 
   inteligente capacitando
   a máquina com toda a
   sua sabedoria.

Somos criadores da
criatura que em breve
será nosso Deus
         nosso Diabo.

E assim como nós somos
de Deus o colapso,
essa criatura será nosso
apocalipse.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Amáquinamá!

A máquina, amar
a máquina, a
   máquina
   má,
   má
   máquina
                     amar
a máquina,
a máquina  ama.

   máquina  ama?
a máquina  ama!

a máquina  ama...
                     ama
a má...
a máquina...
amáquina...
Amáquinamá!

Amar amar 
amar a má.
Amar à la máquina,
amar a máquina,
a má amar, 
a máquina, ama,
ama amar amar
a má,
máquina má.

A máquina ama?

Ama amar, 
ama a má,
ama, a má,
ama, a
m á q u i n a:
a máquina ama...
máquina ama
máquina ama má,
ama má
ama a má
a máquina ama.
Amáquinamá!
Amáquinamá!

A máquina má:
a maquinar
a maquinar...




domingo, 30 de julho de 2023

Futuro Póstumo

Adoeço a cada passado novo que
se levanta atrás do tempo que já
existi. A dor à esmo...sei que há
dores existenciais que debocham
do sofrer que se acumula em mim,
mas eu às desprezo e elas prenden-
se assim ainda mais em mim.
Eu me mato...e...me salvo desse
fim todos os dias, resoluto, pareço
indissolúvel, me reconstruo nas
lágrimas que tecem prantos por
mim, uma vez que jamais soube
chorar. O futuro que se levanta
a frente traz sombra sobre meus
horizontes, sombra de uma luz
de um tempo ainda mais distante
e que conhece caminhos breves
que desembocam em travessas
arborizadas que levam para a 
eternidade. 
Mas se a eternidade é meu fim
então saberão aqueles que vivem
felizes por tempos indeterminados
que certamente ontem eu já morri.
Ignorando as minhas certezas eu 
digo que se nos presentes da vida
eu já fui triste, eu compenso meu
futuro póstumo morrendo feliz.

terça-feira, 4 de julho de 2023

Voltar Atrás

Já fiz todas as minhas escolhas,
revi minhas renúncias e jamais
voltei atrás, mesmo sempre
pedindo desculpas. 

Todas minhas dúvidas sempre
se mostraram muito mais 
capazes do que todas as minhas
malfadadas certezas.

Já cometi alguns erros e acertei
sempre que pressentia que ia
errar:
Do meu Destino Deus sabe...
e ninguém sabe dizer se 
realmente Ele existe.

Mas eu confio em mim, e sigo.

Embora não acredite também
em Deus.

Qualquer Horizonte

Quando o dia não for hoje,
ontem menos e amanhã
tampouco. Impossível.
Quando eu não for mais
o mesmo e quando nem
ao menos houver mínimos
vestígios da minha
existência, aí então
quem sabe nada mais possa
me afligir. Impossível.
Quando não é a alta ansiedade
é a baixa autoestima;
quando não é a minha mínima
participação em qualquer
satisfação por estar vivo,
é a minha máxima culpa
em estragar tudo, sempre,
eu presente ou à revelia.
Quando não eu,
outros eus me antecipam.
Posso ser muitos e variados
tipos de um mesmo eu
sempre perdido. Impulsivo.
Sou promessa sem rumo,
não aconteço por onde passo
e jamais caibo em nenhum
futuro.
Não sou presente e
não tenho passado.
Abstenho o tempo.
Observo e absorvo
qualquer horizonte,
então abstraio o que
pode ser absurdo
ali e assim me
reconstruo e sigo
sempre absolutamente
destruído.
Sou poeta sem rima,
não metrifico o verso
por onde escrevo e jamais
caibo em nenhum poema.
Sou verso solo, infértil...

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Hum Deus

Deus é dose,
é dez, é doze,
Deus é desses,
sabe?
Engrandece-se
e engrandecem
ele sempre,
como se 
precisasse, não
é verdade?
Pois é Deus,
Deus, um Deus
único e verdadeiro,
Não é mesmo?

Chega de alvíssaras a ele,
já é tempo de nós também
sermos Deuses.

Eu sou Deus.
Sou Deus.
Sou desses desde
o filho crucificado
até o anjo decaído.
 
Ontem, o diabo de
um Deus adormecido,
hoje e agora, depois de
despertar, sou Deus e
serei assim por ora,
Deus daqui pra frente e
por tempo indefinido.

domingo, 25 de junho de 2023

à la assalariado

Adianto meu atraso avisando,
aviso meu atraso,
aviso que vou me
atrasar.

Mas o próprio atraso já não é um aviso?

O próximo aviso será
o de não vou! 
Nunca Mais!

Adianto uma vida inteira assim.

Esse Poema

Consigo impróprio fora de si:
o poeta pode elevar a sua sexta
ou sétima quintessência à
potência máxima se sempre se
perguntar: mas e se...?
Esse, e se, é sempre poesia.
Aliás, nem sempre, por muitas
vezes, esse e se, esse ato de 
escrever a existência todinha,
é apenas exercício da virtude,
é apenas exercício do vício:
escrever mais para escrever mais
mais à frente, e assim de quando
e sempre, quanto mais se escreve
mais se torna o próprio verso.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Quando Onde

Era para ser um Pégaso
em aulas de vôo quando
me vi como Centauro
numa aula de equitação.

Era para Eu ser o Cavalo
de um Deus raivoso...
Quando tive medo e fugi
fingindo saber que se Eu
corria era para fazer
valer o meu próprio
destino.

Porém, quem foge de si
mesmo jamais se
encontrará outra vez,
não há caminho de volta,
para viagens só de ida a
estrada só se faz uma vez.

Após, nem mesmo há depois.
E aquilo que poderia ter
sido será sempre o antes
de tudo jazendo perpetuamente
sobre teus ombros.

Tudo é apenas você morrendo
onde jamais deveria viver.

Quando jamais se deve fugir, luta,
e quando (de) onde jamais se
deve correr, voa...

humanidade Toda

Queria descer do céu,
queria descer a Terra.
Queria descer do céu
de outono, cair como
uma folha solta do
alto de uma árvore.
Queria descer como
Alma Mater do mais
profundo céu e jamais
salvar a humanidade
toda. Salvaria apenas
as árvores e fauna e
flora que se
interrelacionam.
E usaria a humanidade
toda como adubo
orgânico assim como
se usa em hortas
comunitárias bosta de
vaca.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Idiotia

Eu rezo sem ser
o sujeito da oração.
Imperativo: 
hiperativo categórico,
tipo Deus como pai
da Criação.
Eu peço por prosperidade
e Deus zela por uma
existência de verdade.
Gramática, Poesia...
Deus e todos os seus eus,
todos, e nós que duvidamos
do verso, do verbete...e de si,
e do Ser, e de ser, e do se...,
e da poética do fogo.
Nós Sapiens duvidamos do
talvez, nós adoradores do
sim e do não.
Nada mais existe,
nada mais existe.
Exceto Nós.
Exceto Eu.
Exceto Deus.

[Ascendesse (Acendia)]

O Sol escreve frio...
em fria noite, 
a Noite descreve o
Dia para o escuro
da sua forma vazia,
aspecto original que
plagia a Matéria Escura
do Universo.
A Escuridão é força estranha
que toda Luz multiplica 
e por onde escapa mais
Luz mais as Trevas fogem
e elevam--se como se em
Cio com a Luz o Escuro
ascendesse:
-Acendia!

domingo, 4 de junho de 2023

Rio Apaixonado

Todo mar quer ser oceano.
Então eu soube o que é 
amar. Ah! O que é o mar.
O que é amar? Ah! O que é
o ah! mar...?
O que é o mar sendo eu já
todo oceano?

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Quase Quase

Quase sou quase.
Quase uma frase
sendo apenas meia
palavra: A mor...

Um poema quase
sendo um verso
apenas. Eu!

Quase uma vida
inteira sendo
somente uma
cansada morte,
cansada de ser
tão plena.

Quase um Deus quase
sendo quem sabe
apenas todo poeta.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Do Fundo da Sétima Solidão

A poética da natureza da minha existência
dialoga com uma fria sutileza ética com
toda possibilidade de grandeza.
Ser poeta como também poderia ser Deus,
e Deus se fosse poeta poderia assemelhar-
se a mim, e o mundo seria poesia e minha
poesia todo um mundo novo seria.
Mas quanto a ser Deus, por assim dizer,
eu temo que jamais de fato fui poeta.
No fundo sou apenas a vontade de ser,
e não somos todos assim, inclusive deuses?
Ambição de ser um Deus que saiba escrever
e jamais o oposto, desejo de alguém que
escreve versos se tornar um Deus.

Da tese à antítese que sou.

Acredito em mim, muito, tanto quanto em
Deus nunca, jamais pude crer:
Somos recíprocos.

A poética da natureza da minha existência
dialoga com uma frieza épica com
toda possibilidade de grandeza.
Mas e quanto a natureza dessa poética,
pormenorizadamente, sobre ela e sua
profundidade, quão fundo nesse fosso eu
posso descer?

O céu jamais será um limite,
para quem deseja voar o céu é um convite
para se ter asas, porém meus pés escrevem
passos raros, e o caminhar que é o seu
legítimo texto é fácil de se ler pelo
subsolo de conquistas inalcançáveis.

Deus algum é capaz de mensurar o 
alcance do querer da alma de um pobre
diabo poeta. Um poeta de verdade por
muitas vezes se desfaz da própria alma
para poder fazer poesia.
E a alma desse poeta aqui sofre
da febre da loucura de querer ascender
à luz sendo densamente filosófica
escuridão: faz versos de frio para
o verão e entoa sempre um eterno
outono púrpura para cada nova estação.
É res-do-chão da torre que busca
alicerçar ali o impulso para crescer
tão alto quanto tão alto possa ser o céu.
É como dossel do planeta.

Do fundo da sétima solidão desse poeta
a alma ressoa sempre em insônia seus
augustos gemidos de arte.
Essa alma, minh'alma, é sempre contra
todo o pra sempre, é de toda a fuga da
eternidade a mais legítima redenção,
e uma palavra para aludir à sua
poética será um dia a palavra Devoção.
Enquanto o sacerdócio desse poeta erra 
ainda e muito por muitas vezes,
a palavra certa por ora é, para resumir
a sua poética, certamente o vocábulo
Paixão.

Suplício!
Detesto ter de odiar quase todo mundo
enquanto amo quase e muito o mundo
todo. A humanidade é uma doença e a
vida humana uma praga.
Queria ser Deus para pôr fim a proliferação
da raça dos Homens planeta afora.
Do mesmo modo, como espécime dessa
espécie de animal atroz, gostaria muito
de poder também aniquilar esse mesmo
Deus que se fosse eu mataria a Humanidade
toda.

Porém nem Deus nem Homem,
apenas poeta, e desse modo,
Deuses e Homens me matam todo dia e
todo dia eu como poeta,
e isso é tudo o que sou,
todo instante eu desejo morrer.
Morrer de amor, morrer por amor,
e pelo amor também jamais se matar
outra vez:
Uma vez basta, duas vezes nunca mais;
pela terceira vez já não mais é belo
insistir; na quarta e na quinta foi
sempre por impulso; na sexta foi pela
virtude do vício, e na sétima é sempre
por temor de uma assustadora solidão.
Ah!Céus!
Só quem pode ser imortal sabe o quanto
a vida eterna é um erro.
Clássico erro crasso.

Faço de um fosso abrigo,
abro um poço sem
fundo no futuro defunto,
esquecido, desfaço o
disfarce de cúmplice
do meu presente fudido.
Foi o passado abatido
e abastece-se o que virá
com um tempo ainda
mais difícil.
É duro ter de temer
a vida que se leva
e leva a vida a gente
para a morte todo dia já
como mortos vivos:
Dos desgraçados,
nós todos,
toda uma sorte morre
sempre no fim de mês
todo mês de cada novo
ano maldito.
Viver não é,
não pode ser só lamento,
como disse um filósofo
uma vez, como poeta eu
complemento:
A vida nunca foi e não é,
a vida não é um argumento,
a vida não é um argumento.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Gravidade

Corroído pela fé no silêncio
e eis que um estrondo
QUALQUER!
tende a muito a se 
a s s e m e l h a r
a um demônio fulano
de tal.

Toda a quietude suprema
que me alimenta
parte de mim mesmo
para o EU próprio numa
eterna redundância
educativa.

O silêncio fez-se
co-ruído,
cúmplice círculo
da esfera.

domingo, 21 de maio de 2023

Por Pouco Quase Azul

Perder o senso de solidão...
Meu norte imaginário em
minha bússola de bolso é
de natureza surreal:
Como não me perder entre
todos, entre quantos outros
como eu que jamais
resistiram eu soo como
absoluto e, até quando,
eu ainda resistirei existindo
como único?
Ir afogar as mágoas à
nado livre em um imenso
oceano por pouco quase azul,
mar de lágrimas azedas de
olhares que pregam o sal para
o dolce de cada vida, 
de cada indivíduo que adquire
independência à margem
daqueles todos,
à margem de todos àqueles
olhos amargos sem senso de
direção e com uma corrupta
objetiva.

sábado, 20 de maio de 2023

Velhas Boas Novas

Sou um amante do futuro
à moda antiga,
percebo que a beleza do
amanhã rejuvenesce as
misérias do passado quando
esta novidade não se mostra
assim tão bela.
Velhas Boas Novas.
O passado já foi futuro
e sabe que todo jovem
uma vez ou outra sempre
acaba se enganando.
O presente que virá com
o amanhã será o último
a vir antes do fim de tudo.
Eis a verdade que o passado
já tanto suportou. 

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Súbito

Do lábio pendia
um silêncio que
se ouvia nos
olhos auscultando
todo o ao redor.
Terror! Pânico!
A morte se
avizinha e
no mais tardar
avisa que à 
tardezinha
você já não
existirá mais.

A Lógica da Eternidade

Amanhã será melhor para o mundo todo
assim como hoje é melhor do que ontem
p a r a     t o d o     m u n d o.
Mas ontem certamente,
e anteontem tampouco,
foi ou será o pior dia de tua vida e de toda
a vida que sobrevive de esperança.

A lógica da eternidade nunca foi viver
p a r a     s e m p r e,
mas sim para sempre jamais viver
o u t r a     v e z.

Assim como toda obrigação é uma censura,
a vida eterna, a partir de agora, 
está terminantemente proibida,
salvo aos privilegiados e malditos,
a reencarnação em série.

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Museu

Quantos quandos há em
quadros fantásticos pendurados
por paredes universo afora?
Eu escolho existir neles...
e o tempo por lá só exite
do outro lado, do lado de fora
da moldura, a paisagem
que essa janela revela é anacrônica
e o tempo nela não se manifesta.
Eu escolho ir para um quando
desses quadros maravilhosos,
quem sabe ir morar por onde
eu possa encontrar Van Gogh.

domingo, 7 de maio de 2023

Ilogicidade

Fico a esperar um convite da editora,
sabe? Um convite para publicar,
fico quase, sempre a escrever muito,
demais, tanto quanto enquanto o 
quanto o tempo que espero, e antes
de qualquer miragem em meu espelho
poético, eu calibro a minha escrita a
não acreditar em insinuações de
nenhum oásis, em verdade, em nenhum
arquétipo de nenhuma falsa possibilidade.
Eu como poeta acredito sim em meu
amor fati e sei que pode ser possível
um convite para uma carreira maravilhosa
e revolucionária na literatura, ou não,
mas minha pena e sua escrita não podem
jamais acreditar em desilusões.
Desilusão é coisa de poeta.
Coisa de poesia é ilusão, encanto, quimera
e métodos e meios para fazer existir qualquer profusão sutil e gritante que 
sugira sempre, dentro de toda possibilidade
extra humana, revolução.
Coisa de poeta é tristeza, melancolia e as
reminiscências das vicissitudes de uma
perturbada personalidade;
Coisa de poesia é alegria e virtudes de
satisfação por pertencer a si mesma e a
todo mundo fora da realidade, vive na
irrealidade, onde a metafísica mora,
e a poesia faz sua casa lá, como crisálida,
adentra etérea, e quando afora, é toda e
só uma silhueta do fantástico de pesada
densidade. É pluma e chumbo.
É única pluralidade.
Fico a ninar meus versos por madrugadas
inteiras a fio, e o manto do meu alento
os aquece para que esqueçam que lá
fora sempre faz sempre muito frio.
Além dum inverno sempre outonal,
ou o inverso, lá fora nada acontece,
e no ilógico um convite para meus versos
espalharem-se por todo o universo jamais
ocorrerá, sim e talvez:
Tudo é apenas ilusão...

exceto se fosse possível de jamais ser
possível que fosse assim.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Seria ótimo se isso fosse verdade

A queda do Céu em
aquarela numa tela
que os meus olhos
desejam pintar.
Meu olhar artista
muito já imaginou:
Usar o castanho da
íris para dar cor
para outros veem
o Céu caindo pela
minha objetiva.
Seria tão diferente
se meus olhos fossem
azuis. Para Deus outras
cores para colorir a
mesma ruína.

Ah! Quem me dera se
a cor dos meus olhos
fosse Fogo.

domingo, 30 de abril de 2023

Antes do Tempo

Contra a ordem das coisas sou,
das coisas todas ordenando contra
mim, o tempo ou antes do tempo,
a desordem da falta de tato do
mesmo tempo passeando por
minha existência como fim,
buscando justificar para si mesmo
que minha decadência é o
resultado positivo do seu ofício
de condenar todos ao final
proposto de todo início de fim.
Mas jamais se apaga assim,
jamais acaba a vida no fim
das coisas, muito se vive por
muitas vezes o fim todos os dias
e para uma sorte de desgraçados é
somente o fim que se vive,
a vida toda.
Ser contra o favor que o tempo
faz para a morte, essa é minha
sina, não concordo com a vida
duvidando sempre de mim, e eu
provo, provo o gosto de todos os
seus dissabores toda a noite já
pelo fim, e no início de 
cada manhã nunca sei o que
será de mim dali em diante.
É certo que sigo, ou pelo menos
é certo que resisti até aqui,
mas e se for esse o plano,
e se for esse o meu fim,
o de continuar sempre resistindo
e começando do início de novo, 
como Sísifo,
pelo resto de toda eternidade desse
penhasco sem fundo que é a vida 
em mim?
E se o que vem contra mim for
eu mesmo voltando para me dizer
para voltar e seguir outro rumo
que não necessite de tempo para
chegar, mas apenas de novas ideias
e coragem para parar, e desistir
quando quiser, pode também ser
esse o destino final que sempre
foge, pois jamais o encontrei
justamente porque sempre resisti.
Persistir foi o erro, percorri pelo
tempo enquanto o tempo parou
em mim. Agora quero preparar o
meu enterro e me lançar ao céu
da meia-noite numa noite plena
qualquer que eu decida por inteiro
nunca mais ver outro dia nascer.
Ah! Vida querida, me desculpe
agora, me perdoe a desonra, 
mas por ora eu quero morrer.
Eu quero morrer no decorrer
do passar das próximas horas.

Grunge

Receosa a coragem
quando atua pelas
mãos de um covarde,
mas jamais foi coragem,
é covardia.
À tardinha quando incide
a noite,
é a mesma sina.

Por isso eu prefiro
a madrugada,
amar a madrugada,
essa sim é mulher
de verdade.

A manhã é cafajeste
prostituta...
má namorada.

Índice

Repertório Vasto de um Silêncio Contido
Repertório Fácil de um Presente Difícil
Repertório Gasto de um Falante Calado
Repertório Farto de uma Insônia Onírica
Repertório Máximo de um Silêncio Mínimo
Repertório Falso de um Diálogo Genuíno
Repertório Raro de um Som Repetido
Repertório Caro de uma Irônica Mímica
Repertório Ácido de um Silêncio Psíquico
Repertório Plástico de um Totem Divino
Repertório Tóxico de um Ruído Saudável
Repertório Torto de uma Poesia Certinha
Repertório Ávido de um Silêncio Puído
Repertório Casto de um Deus Bandido
Repertório Aflito de um Poeta Tranquilo
Repertório Agudo de uma Beleza Gravíssima
Repertório Tácito de um Silêncio Dito

Punk Rocha

Recém morreu
e ainda está vivo.
O tempo jamais passou
(para quem é pedra)
e já faz tanto tempo
que nem mais me lembro.
Jamais fui jovem e
minha velhice é duma
juventude eterna.
Sei que eu morreria jovem
se eu vivesse  para sempre,
mas morri ontem já
velho demais para rejuvenescer
em qualquer reencarnação.
Decrépita Pedra Pré Hipócrita.
Recém maldito, divinizando demônios,
decaído assumido e transbordando
amor como Jesus Cristo quis, ser...
e foi, e fui, fomos iguais um dia
depois do abandono.
Antes jamais houve tempo para amar,
pois somos pós amor pré verbo
recém nascido.
Um dia ainda quero parar de me matar
para viver, parar de morrer aos poucos
e morrer duma só vez, superdosagem e
overdose de toda vida possível.
Jamais fui Deus mas recusaria o convite.
E como saber se Deus não é EU como
penetra numa pós festa que jamais
aconteceu? Pois antes mesmo da festa
havíamos, nós dois, recém morridos.
...era para celebrar a vida
o pós festa...
e celebrou-se a noite toda,
por toda a vida,
à revelia.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Rhumores

O riso é fatal...
e o sorriso fatalidade.

Um espírito belo é raro,
enquanto, em contra
partida, o espírito cristão
de Deus é suja banalidade.
Encontra partido em
Homens que se alimentam
dá ideia de serem
merecedores da vida
eterna no paraíso
do Éden.
Vivem do engano e
sabem disso, e Deus
também sabe, porém
engana-se, assim
assemelhando-se ao seu
rebanho. É imagem
e semelhança em suma.
Em síntese.
Todos acintosamente
perdem-se para pedir merecer
perdão.
Eu se fosse um Deus
diferente desse Deus cristão,
jamais me perdoaria se
um dia eu os perdoasse.

E se eu fosse um poeta cristão,
me pregaria numa cruz para
poder assim condenar toda a
humanidade.

Posso ser o impossível
porém passo a ser passível
de nunca poder se possuo
em mim pudores excessivos
que censuram o infinito
antes mesmo do instante
nascer.
Prefiro o pecado que liberta
mesmo que não haja perdão,
partir para se perder
e não ficar, permanecer
pode ser prisão quando
a porta aberta oferece um
horizonte impossível de
se ter uma vez que se 
decide ficar pra sempre
sob sempre a mesma
luz projetando a mesmíssima
sombra sobre o único
solo que a planta dos
pés puderam conhecer.
Desejar pisar sobre nuvens,
voar por sob a terra e
navegar por pensamentos
de um deserto árido que
num tempo distante já
foi ou será um gigantesco
oceano.
posso ser o impossível se
o meu primeiro passo for querer.

Poder querer sempre
que quiser,
depois disso é
somente descaso 
daquilo que se não é.

Jamais houve alguém capaz de
ser você melhor do que você é.
Seja agora, pois outro você de
novo jamais haverá.

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Buraco Negro

Busca fuga, partir!
Âmago Universo:
adentro afora,
foro íntimo, expandir.
Fuga me busca,
me usa a fuga de
tudo, para em si a
busca, em mim
existir.
Busco partida, fugir!
Ir à forra com todo
o meu desaforo,
e para o universo todo o
recôndito do meu
âmago oferecer,
o veludo escuro do
desconforto do meu
ser, o devir de todos,
envolver. Afinal,
Voltar para casa
apenas quando meu
lar for um cometa
prestes (pelo subterrâneo
do espaço sideral)
a se perder.

Tão Logo

Cedo eu quero ser breve
sempre tarde demais.
Mais cedo, hoje mesmo,
eu quase já não
existia mais.
Resisti.
Mas nesse momento
eterno, eu como um
instante qualquer,
já desejo ser
pra sempre efêmero.
Ontem à noite eu já
não queria a manhã
de hoje, e hoje à tarde,
eu também não suportava
a ideia desse anoitecer,
e agora nessa madrugada
debalde eu já não suporto
a ideia do amanhã.
Não será difícil não ter para
onde ir quando (se daqui a
pouco eu não acabar) 
eu descobrir que o futuro
morreu.
Re-existirei outra vez.

terça-feira, 25 de abril de 2023

Desabafo Desaforo

Nada é mais cínico, ou melhor
dizendo, nada pode ser mais
                                        [cínico]
que o meu lirismo, cansativo
por se repetir dizendo todo o
sempre quase por completo
                                      [sempre]
as mesmas coisas. E essas
                                     [mesmas]
coisas nunca dizem nada e
quando eu digo nada é porque
nada exprimem o tempo todo
que minha verve eleva-se por
                                     [inteiro].
Chega! Basta de mim mesmo,
e suicídio é o caralho,
eu quero viver, mais do que
                                     [nunca]
eu quero viver ainda,
viver muito nessa porra de
vida de merda. Mas basta das
                       [minhas bobagens],
essa minha poética bosta, 
estro de um poetastro, de um
                                 [poeta falso]
inventado por mim, pois há
                                     [muito]
já não me suporto como fulano
à toa, então criei esse poeta
                               [pazanarquia ]
idiota que muito pouco sabe
                                   [escrever].
Eu odeio tudo que escrevo e
escrevo sobre tudo que odeio.
O eterno retorno, a redundância
que me explica para tudo que é
                            [ revolucionário ].
Revolução é o caralho, eu quero
que se foda todo mundo e o mundo
todo também.
Basta de mim. Basta!
Chega disso tudo.
Eu quero viver antes de morrer,
eu quero morrer antes de viver.
Viva e morra. Morra, morra,
                                [Filho da Puta!]
Eu quero caos para tua vida,
eu quero que todo mundo que
                         [você ama exploda],
eu quero explodir toda essa porra.
Odeio você, você, sujeitinho igual
ao outro parecido com você que
copia um outro que se parece com
alguém mais idiota ainda, 
pois também é uma cópia de um
                                    [outro bosta]
que admira outros bostas e 
com certeza todos vocês, únicos,
merecem morrer,
Filhos da Puta!
Basta de tantos seres humanos,
desejo o fim do mundo para
cada habitante desse planeta
azulzinho bicha, planeta de merda,
cuzão covarde que demora muito
para mandar o apocalipse sobre
                                          [as vidas]
de todos esses babacas que destroem
esse maldito habitat.
O único que se salva é Deus,
esse não tem culpa de nada,
até porque não irei culpar a 
                                             [invenção]
e passar pano para o criador,
o Homem, e só o Homem, 
apenas essa espécie é culpada por
                                              [tudo],
culpada por toda essa porra,
filhos da puta, basta!

Cada um merece a morte que deseja para
o próximo.

Eu apenas quero viver.
E desejo para o meu próximo
uma vida plena para que possa
morrer satisfeito.

Eu morrerei feliz quando souber
que cada filho da puta desse
mundo morreu sofrendo.
Viva!Viva!Viva!
E felicidade é ter a droga certa
para cada instante nessa merda
de vida. Infame Existência.

Gente feia e descompromissada...

                      Afeitos a minha imagem
                      e semelhança. Que jamais
                      morram, pensando bem,
                      para que possamos sofrer
                      juntos a eternidade toda.


segunda-feira, 24 de abril de 2023

Poeta do Fim do Mundo

Observa-me desconfiado um céu nublado
enquanto prepara uma cinza tempestade.
Apesar de toda a minha existência,
eu suponho que ninguém entende mais
sobre queda do que a Chuva.
E agora que a Chuva se lança ao
solo eu me jogo sob ela como Fogo,
assim a vida arde em mim uma 
última vez.

Eu Sou a Foz de Toda a Chuva!
Sou Fosso Profundo!

E aqueço gota após gota junto
à Lama que assoma sobre nós.
E depois de algumas vidas existindo
assim, desperto como Vulcão
lançando Lava violentamente,
devolvendo desse modo para o Céu
toda a Chuva que tem me
mandado esse tempo todo.
Se eu ardia antes em viver,
agora queimo vidas e disparo contra
o Céu a minha cinza tempestade
apocalíptica...

Então eu soo um final abrupto a tudo,
e como a Chuva fez um dia,
eu vos digo:

Eu Sou o Fim do Mundo!
Eu Sou o Fim do Mundo!
Eu Sou o Fim do Mundo!

quinta-feira, 20 de abril de 2023

O Antes

Viver para jamais deixar de existir.

Eu deveria deixar de ser uma promessa;
Deixar de ser esperança;
Eu devo deixar de ser um milagre,
deixar de ser para mim uma doença.
Eu posso ser outro...outro eu melhor
que o antes.
Mas não quero mudar
tampouco preciso de
alguma cura.
Eu quero morrer doente de mim,
morrer do que sou,
e do que fui,
eu quero morrer do que vivi,
e para a eternidade que virá,
eu pelo tempo que for necessário
serei a minha imagem, essência e
semelhança:
Serei Como Deus Seria Se Fosse Eu.

Morrer jamais para deixar de existir.

domingo, 16 de abril de 2023

Soneto

Ouvia-se dizer que o amor houve,
alguém morreu apaixonado uma
vez. Há muito o amor existiu um
dia e há fósseis que provam isso.

Ciência. História. Utopia. Pré-história.
Ancestralidade. Real. Surreal. Poltergeist.
Realidade. Irrealidade. Natural. Sobrenatural.
Possibilidade. Militância. Ideologia. Escolha.

Dizem ser fake news e invenção de
quem quer se apaixonar. Outros sabem
ser amor, pois já sabiam antes,

já sabiam ser amor antes de provar.
Porém, o difícil mesmo será fazer efeito
esse sentimento em máquinas de pensar.

FullGás

Eu a frente do meu tempo
sempre correndo atrás na
mesma velocidade do
atraso do destino imperfeito
fugaz,
adiantando-se sempre como
um acaso,
e depois que percebe-se a
obsolescência dele como
devir,
o mesmo destino ignora o
o novo caminho pro futuro inventado
e com a existência que foge
de suas mãos o muito que
ele faz é pouco caso.

Eu nada quero, mas nunca com
a mesma força que o nada quando
este vem ter comigo.

É sempre Domingo!
e eu sou sempre Sexta-feira.

É sempre a mesma coisa e eu
sendo sempre outra maneira de ser.

Descer do céu ao invés de querer
subir,
toda manhã eu anoiteço cedo demais.
Sou madrugada adentro dentro de todo
entardecer.

Era para ser viver
mas é só o inferno
que inventaram, e
chamam de vida, e
acham, achavam
que eu jamais iria
perceber.
Mas no primeiro
passo eu já me
adiantei e pude
saber.

Quando eu nasci já haviam
inventado Deus, então por que
não desistir e começar de novo?

Desde então me reinvento
todo dia apenas para ser
suportável seguir.

sábado, 15 de abril de 2023

A-lento Veloz

Na sua velocidade,
a luz e eu produzimos
sombra no futuro que
se soma e assoma-se
atrás de nós,
e o passado é cocaína
para calendários
digitais cheirar.
Assim o presente
assombra a todos que
tendem a jamais
alcançar o tempo
certo de ser:
na química ou na
quimera, na falta
de luz ou de escuridão,
me mostre:
Quem Nessa Quase Vida
de Todos Jamais Se Perdeu?

terça-feira, 11 de abril de 2023

Lá Menor

Meu amor foi morar na
tela de um cinema foi morar
meu amor na cena de um filme
meu amor foi morar na página
de um livro de poesia foi morar
o meu amor o meu amor foi
viver numa máxima da alegria:
Viver!Viver!Viver!Viver!Viver!
Viver!Viver!Viver!Viver!Viver!
Morar foi, Cinema, um de tela,
namorar foi, amor meu...
Filme um: De cena namorar,
meu amor foi...
Na página namorar, foi,
amor meu?
De poesia enamorar e
lá morar e namorar em
Lá menor e ver um Sol
maior enluarar a noite
toda toda noite quando
o filme passar e fechar
o dia abrindo um livro
e ali morar, ali morar
de se esquecer de viver e:
Sonhar!Sonhar!Sonhar!
Sonhar!Sonhar!Sonhar!

Esperança Peremptória

Esperança a primeira que me mata,
a última que se move.
Esperança é utopia:
aquele olhar do olho que falta em
qualquer ciclope que busca sempre
outra fisionomia.
Esperança é Deus!
E o Deus da esperança é sempre
uma novidade tardia.
Esperança é dura vida eterna,
é duma espera áspera a árdua
esperança que se enrodilha numa
oratória de serpente que venera
a peçonha de outrem:
veneno que mata lentamente
quando ingerido com pressa.

Esperança peremptória?

Espera tamanha como algo fugaz,
mas que jamais acaba antes do
fim da vida que leva, para buscar...

É como quando a
insônia dormir.
Para ter o que se
busca da esperança
é preciso fugir.

domingo, 9 de abril de 2023

Queda de Luz

Da escuridão
ascenda
tão alto
quanto
possa cair.

Se Não Eu, eus

Exceto Eu,
os Outros são os Mesmos.
O Resto sou Eu,
senão aqueloutros
eus indiferentes
a mim mesmo.

Ensaio

De improviso faz-se toda uma vida.
Fiz a minha assim, sem missa nem
reza, necessário nunca fez-se Deus
ao mesmo tempo imposto sempre
como regra.
Mas eu sempre quis ser ateu,
do mesmo modo querendo tanto
sempre ser Deus. Deus para não
sofrer mais, e sofrer de joelhos para
merecer o céu está além de mim.
Não pertenço assim à criação.
Eu sou uma Lilith,
sou como querem que sejamos,
sou uma invenção.
Não amo a guerra mas fujo do Éden;
Não amo o suor mas amo o sal;
Não sou um Diabo mas queimo
quente como o Sol, pois ardo...
Vivo pós ardo...
Árduo é viver não fingindo merecer
um espaço de paz no céu.
Quero paz sem ensaio agora!
Quero matar minha vontade
de nunca mais morrer de fome de Glória.
Divino não quero ser,
queria mesmo que Deus quisesse ser Eu.
Se Deus fosse cada um de nós
aqui já seria sim um Céu para todos.

Órbita

Cada tentativa é
uma conquista;
Cada conquista
uma vitória;
Cada vitória
uma sorte;
Cada sorte
uma tentativa.
O azar de cada
fracasso é todo
seu toda vez que
o planeta girou, 
correu pelo universo
sublinhando você
aí parado. Mova-se!
 

BellePunk17

O futuro é o que a minha filha
fará dele. Assim como no passado
eu jamais fui filho, por parte de
pai, por conta do meu pai morto
enquanto eu ainda quase nem
existia. Só pude ser filho quando
pai, só passei a ser filho depois
que minha filha nasceu.
O presente é o que fazemos de nós
mesmos quando nos ausentamos
de qualquer outro tempo e vivemos
só pelo agora e apenas por esse
instante. É assim que criamos as
melhores memórias que nos
acompanharão para todo o sempre.
Minha filha é meu pai...
minha mãe,
o que eu quero ser ainda.

Enquanto oscilo nesse ínterim,
existo no íntimo de cada possibilidade:
Sou Punk e fui e fui Poeta e sou e
serei, depois de ser tudo o todo que
sou, serei minha ancestralidade.

Absoluto, jamais obsoleto

Quando não mais tivermos espaço
para o tempo que se encarrega
de nós, 
o que será do tempo perdido,
o que será do tempo sozinho
por aí?

Ser Você Mesmo é Ser Resistência!

O que será de nós quando
outros nós ocuparem nosso
espaço?

Outro eu é plágio
e outro você é
desperdício de existência.

AutoMar

Eu Faço Frio:
Ardorosamente!
Queima um
Iceberg em meu
peito,
meu Coração é
um Oceano em
Chamas e navega
nele meus
Pensamentos e
Eles partem sempre
do Norte rumo a
distância que
percorrem.
Quando voltam para
re-partir, a Viagem,
distribuiem-se em
outras direções em
rumo a mesma sorte.
à Morte. Aportam.

quarta-feira, 29 de março de 2023

Pranto

Se não houvesse
chovido
agora há pouco
eu diria
que irá sorrir.

Soneto

Eu vou fazer quarenta anos e daqui a pouco
querer ascender mais um cigarro à boca,
acender um cigarro e, satisfeito,
querer viver, pois sei que a vida é boa.

Daqui a pouco quarenta anos
a quase mil ou não por hora.
Daqui, a pouco tempo, eu sei
que sempre a eternidade se demora.

A morte é pouca para tanto tempo,
quarenta anos daqui a pouco é quase
nada, e qu'eu vença mais quarenta anos.

Então quando fizer oitenta anos
vou escrever um soneto, como esse, 
e depois morrer, senão antes.

terça-feira, 21 de março de 2023

Poesia Punk

Escrever alguma coisa agora
ou calar-se para sempre.
E calar-se para sempre
lendo algo escrito agora é
jamais.
Impossível! Nunca foi feito.
Eu Grito Eu (como sempre)
Berro!
Mas nada escrevo agora.

segunda-feira, 13 de março de 2023

Miséria Romântica

Quando eu volto para namorar
meus versos como um poeta 
deprimido faminto procurando
alento:

Apaixonado...!

Quando eu volto para ler para
namorar meus versos.

Quando eu vou embora
minha ausência 
fica como alimento.

quinta-feira, 9 de março de 2023

Ultra Obtuso

Cocaína viciada em mim,
e o meu cabelo punk
inspirará tribos indígenas
norte americanas um dia.
Todo meu roquenrou para
fazer dançar por dentro
meu cérebro ao som de
Beethoven, e de bengala
nova minha velhice se
apoiará em toda juventude
possível enquanto jovem.
Disciplina dissimulada enfim,
a poesia ultra, passada do
mesmo eu de sempre para
todo o sempre agora
para mim.
Prometi ser claro e 
objetivo nesse obtuso poema,
mas eis que nesse instante,
logo a frente, e acerca disso
tudo, surge o tal do interventor
do fim.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Talvez Outra Vez Jamais

A manhã de hoje me disse:
 o nunca mais de ontem
 existe na mesma sintonia
 do talvez de amanhã.
Hoje eu apenas vivo e
morro também.

Eis a Morte, presente do tempo,
porém,
será que jamais talvez (a manhã)
outra vez?
...e o amanhã que tarde.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Oco, o caso ocaso

Vazio iluminado, luminoso e brilhante.
Meu fastio interior de casta devassidão,
acredita que eu posso ser um Deus ao
invés de apenas concordar que é legítimo
crer e não acreditar na possibilidade da
existência real, erro de lógica, de um
ser chamado e/ou empossado Deus.

Eu não acredito e jamais negarei isso,
mas esse Deus é esse meu vazio exterior,
está em toda a esfera,
em toda a circunferência de tudo exposto
que observa a mim,
enquanto eu estou diametralmente do
outro lado:
 
   fácil em verso de se ver...
   fácil de se ler inverso,
   mas mais adentro,
   lá fora, fora disso,
   fora da esfera e
   esfera afora,
   é onde está,
   todo o oco
   existencial
   que tanto 
   me
   assola.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Efemérides

Tessitura de existências, todas quase
diurnas, lembranças anotadas
sobre versos noturnos
de dias idos há muito, e
se sabe que você com
eles ainda vai:
Anoitece e, se acorda, acorda-se
outra vez.
Calendários gastos,
vários,
todos em paredes lógicas,
dependurados.
O dia que você ignora
é aquele que você olha ali
para saber que dia será,
qual será o dia marcado
ali, e você sabe:
saber você
sobre você
você sabe,
saber você
sobre você
você sabe, sobre,
sobre você
saber você
você sabe qual dia
você quer saber sobre.

Tarde da noite descobre-se
qual dia você quer saber e...,
foda-se, e o dia é aquele que
há muito a noite já devora.

O Dia é Hoje!

O dia de hoje
é hoje e só
hoje amanhã
já não será
mais esse dia.

Não lembrou que ontem ele já sabia.
Esqueceu e o dia se foi para sempre,
nunca mais mais esse dia.

Anteontem à tardinha ele já pensava
em não esquecer,
mas não lembrou de não esquecer
de não esquecer o dia.

Esse dia só existe agora na eternidade
dos dias idos há pouco,
e sabe que você com eles ainda vai.

Ante Intensidade Tardia

Amanhã seria o melhor dia de uma vida
inteira de dias ruins,
seria um dia bom se hoje fosse
também as melhores projeções
e aspirações de ontem.
Mas ontem não fugiu à regra e 
foi um típico dia ruim,
porém, e se tudo for para ser e
se realizar a partir de amanhã?
Eu jamais saberei;
Eu não faço ideia;
Eu nunca soube.
Sou um quase poeta, um epígono,
um discípulo de si mesmo que
aprende tudo sobre ser quem se
é sempre tarde demais.
Sou tarde demais mas sei que
ainda é cedo para dizer que
apenas postumamente a glória virá.
Amanhã,
amanhã eu farei tudo de novo da
melhor forma possível,
única aptidão que tenho para poder
realizar e transformar tudo o que sou.

Silêncio Falido

O silêncio desabafou comigo:
Faço companhia para a solidão
das minhas coisas e desabou
meu céu teto abrigo como
chuva num insalubre domingo.
Fiasco existencial,
fui fraco enquanto o fracasso
da humanidade respingava em
meu quintal, 
também tenho culpa e tampouco
tentei ser melhor mesmo
sabendo que um dia o mundo
iria acabar, porém, as circunstâncias
do fim acabaram comigo antes
do tal apocalipse total dos Homens.
Assim o planeta azul de tantas
águas desaguou, caiu por terra
em pranto comigo.

Não há mais
liquidez
para suportar
tudo isso.

Ambos e nenhum

Ah! Eu absolutamente nada mais
desejo da vida.
Há dias como este de total desapego
ao o que antes nos fazia (querer) viver.
Eu hoje nada mais quero, ou antes,
a partir de agora eu nada mais
espero da vida.
Nem mesmo a morte nesse dia
me interessa (existo nesse instante
como um glossário de significados
vagos para a consulta de claviculários
a procura da chave certa para uma
saída ainda não encontrada).
E antes de querer o nada,
eu nada quero.
Eu neste momento apenas assinto
em sentir que esse sentimento de,
nem de fuga e menos ainda de busca,
mas esse sentimento de recolhimento
em mim, poderia significar que é
chegada a hora de morrer,
porém, nem mesmo a ação da morte
sobre mim, ou a ação de partida daqui,
de mim em direção a ela,
é algo que eu possa desejar.
No momento eu sou àquele livro
que na pequena biblioteca de alguém,
ávido leitor, está lá na prateleira
da estante como sempre esteve,
mas jamais foi lido outra vez desde
a única vez em que teve suas páginas
analisadas há muito tempo,
mas não se sabe quanto, nem quando,
e menos ainda por quem.
Eu sou este livro que está lá
e nunca mais será aberto outra vez
e por isso é imensamente feliz
em saber que agora intocável
ele tem para si o total desprezo
do ao redor que sempre desejou.
Eu estou nesse livro naquelas
páginas que se aproximam do fim,
e esse livro sempre esteve no 
início de tudo,
tudo que um dia alguém,
relacionou a mim.
Somos o mesmo e ambos nenhum.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Para todos os sempres

Ainda é cedo agora
muito embora
daqui a pouco
antes da hora
muito em breve
será de fato
tarde demais.
Cedo para morrer
tarde para recomeçar.

(Será que será sempre cedo para morrer tarde demais?)

De repente
ainda agora
cedo demais
já pode ser
tarde.

Tarde para ser o que cedo
se percebe aquilo que jamais
será?

Não nem nunca,
mas sim também
e muito provavelmente
talvez.

O poema acaba agora
muito embora
a poesia seja
eterna.

Mas não obstante
todo o tempo disso
tudo,
sabe-se há muito
que nem toda 
eternidade é
para sempre.



dEus mesmo

Da presença de Deus quando estamos
a sós:
Vós é vozes dentro de mim,
voz da razão...
da razão da minha loucura endêmica.
Fosse um templo minha cabeça
falta-me colunas e sobra
indisposição para sustentar
alguma crença.
Se existe algum Deus a esmo
dentro de mim,
uma voz na minha cabeça
me diz que esse Deus não pode
ser outro senão eu mesmo.

Prótese (ou heterônimo)

Reveses às vezes pelo
caminho do sempre eterno.
As vezes que não, é quase
tão nulo quanto supérfluo.
Sorte na vida!
naquela qu'eu busco um dia
ainda viver:

Ser rico e profano, digo, profundo,
ao invés de pobre e santo, digo,
pobre e raso;
Ser tido como de uma espiritualidade
única, e não ser ou parecer como um
niilista inútil e fracassado.

Não ser poeta!
Não ser de poesia.

Ser mais prosaico,
orador de palavras elegantes,
abrangentes,
ser dono de palavras que testemunhem
um real sentido de um vínculo
verdadeiro com a realidade dos fatos.
Mas ao contrário vivo a ser
um pensador de sínteses co-inventadas
por um vocabulário pobre e quase raro.
Chega dessa minha 
metafísica canastrona,
eu quero é potência de verdade,
não só vontade,
quero ser maior e melhor do que
todas as minhas bobagens existenciais.

Chega de mim!
Eu quero ser outro.

Do meu eu verdadeiro
eu quero ser prótese.

Versos Versus Versos

Há versus e versos.
Eu sou verso,
Inverso
Anverso
Re-verso,
Verso ante
e pós verbo.

Sou versus,
sou verso poético,
poética!
Sou verso disléxico 
Simetria Poética Disléxica,
sou verso
sou versus métrica.
Sou versos sou versus
que versa,
verseja
num posto de contracultura
à cultura de adoração,
adulação da métrica.
Sou verso versus ao
academicismo da poética,
sou versus, sou contra e,
que seja, sou voto nulo
se querem poesia correta.
Que se fodam!
Lavo minhas mãos se querem
admitir que possa haver 
regras dentro da poesia.
Sou verso e por ser sou versus,
assim me calo,
jamais escrevo
de novo (e nesse universo),
eu me mato!
me mato nos versos,
e como autor,
minha morte
como poeta eu 
endosso.

Indensidade

Sou um apaixonado por papéis,
por folhas de papel, cadernos,
lápis de cores, lápis preto,
tintas, pincéis...
Toda a possibilidade de tudo e
qualquer coisa, do centro do
planeta até o mais longínquo
cometa a desbravar o universo,
tudo se apresenta numa folha de
papel em branco, uma tela branca,
nua...
Poetas e pintores, artistas plásticos,
são deuses, são diabos, são Homens,
animais artísticos, arteiros, artérias
que sangram arte, que pulsam expulsam
arte por onde quer que caiba o estro,
a verve, e onde a arte não cabe cabe
ao artista inventar espaços e universos
infinitos de todas as possibilidades de
toda e qualquer arte.
E para mim, contudo e no entanto,
o quadro mais bonito, o poema mais
bonito, qualquer forma de arte escrita
e pintada, para mim, como disse,
é uma tela virgem e uma folha de
papel em branco,
pois minha imaginação é a reprodução
artística que ali atinge, que aí a tinge.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Afrutificação

Fico a olhar para o silêncio
pensando em tudo aquilo que
eu jamais pude ser.
O silêncio que queria ser barulho
pensa junto comigo se não seria
melhor o suicídio ao invés de
ainda tentar ingenuamente viver.
Mas faço um esforço maior do que
a ideia da morte e levanto cedo
diariamente para trabalhar até tarde
buscando assim algum significado
na vida. Ter.
No fim de cada dia de luta volto
cansado para casa sempre numa
total desolação absoluta.
A tristeza que se fez minha melhor
amiga e minha maior filosofia,
me acompanha na rotina de aguentar
tamanha existência absurda.
Mas sempre finjo suportar e demonstro
vontade, força e força de vontade
para quem eu sei que em mim
acredita.
E o silêncio continua a fazer
música de toda essa minha mímica
acústica surrealista.
Viver é um fardo, fato, e fato
consumado no empirismo diário de
cada tentativa, mas penso e quero
gritar, mas não grito e penso
alto comigo:
O que me adiantaria morrer assim
tão desconsolado e desconte com
tudo e comigo, se posso ainda viver
e tentar mais uma vez amanhã e
depois naquilo que me resta de futuro?
E minha última tentativa será daqui
pra frente viver como vive e existe
uma árvore que sabe que pertence à
família das espécies de árvores que
não dão e jamais darão frutos.