sábado, 30 de julho de 2011

outono em meu jardim

laboriosamente tento não lembrar que jamais
consegui te esquecer. pelo infinito que me resta
vou dissimulando meus passos como um viciado
busca o maldito prazer. fosse o amor uma dádiva
divina, seria eu então incapaz de, no jardim da minha
sina, cultivar essa flor que ilumina a alma quando o
coração prova seu espinhoso sabor. ensimesmado,
dentro do mundo perfeito que você arruinou, prostrado,
lançado ao chão, como um olhar caído de algum diabo
deprimido que esqueceu a oração, percebo que esse
sentimento endêmico em apátrida paixão, não poderia
ser pra sempre eterno, posto que a eternidade é um futuro
sem ambição, e, nosso amor colossal, maior que a propria
existencia, fugiu de nós ao sentir-se infinitesimal. caiu por terra,
e, quando outono em meu jardim, brotará a flor da perdida guerra.

terça-feira, 5 de julho de 2011

verossimilhança

bastaria à mim uma só oportunidade,
e eu não perdoaria você. o modo como
colocou veracidade em tudo que me disse,
as frases, as palavras de efeito, eu cuspiria
em sua face toda aquela verdade, todo amor
que ainda sangra em meu peito.
impreterivelmente, desejaria perceber em ti,
ao lhe ver, todo aquele entusiasmo barato
que ardia em teus olhos diáfanos de vadia fria
que deixa transparecer o quão poderosa é a
fêmea que sabe como usar o corpo quando
quer convencer, e aquele teu jeito jocoso,
hoje me enoja tanto e me embrulha o estômago
só em pensar em você. sei da tua sagacidade, e sei
que sabe que não há verossimilhança nesse poema,

uma pena, pois adoraria lhe matar.
 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

por você... por amor.

por você,
por amor,
como uma noite escura
em todo seu esplendor
finge não saber
que irá amanhecer, em
dissabor, eu soube sofrer.
sofrer é bonito.
o amor que pra ti
foi um engano,
em meu coração
fez soturnos planos,
e ainda que morto
diante da dor do meu luto,
por toda minha vida
permanecerá dia após dia,
insepulto.
assim sofro sozinho e,
em nome dessa dor, recito:
por você,
por amor,
sofrer é bonito.

sábado, 2 de julho de 2011

desenho vazio

eu que nunca fui de ser,
ponho toda minha paixão
nas coisas que tenho, e como
um amante do nada, desenho vazio
um universo que no brilho de cada
verso revela sempre uma nova estrada.
ainda que seja eu poeta, nessa via certa
sempre vou na contramão, e as palavras
que guiam minha pena se repetem, se confundem
erram a direção. talvez seja eu em mim um enclave que quase sempre
nunca cabe dentro daquilo que sou, um gauche que no auge
da dúvida tem com clareza a vencida certeza que nem meus
passos sabem por onde vou...e os versos que sabem são versos
que a pena jamais desenhou.