domingo, 30 de abril de 2023

Antes do Tempo

Contra a ordem das coisas sou,
das coisas todas ordenando contra
mim, o tempo ou antes do tempo,
a desordem da falta de tato do
mesmo tempo passeando por
minha existência como fim,
buscando justificar para si mesmo
que minha decadência é o
resultado positivo do seu ofício
de condenar todos ao final
proposto de todo início de fim.
Mas jamais se apaga assim,
jamais acaba a vida no fim
das coisas, muito se vive por
muitas vezes o fim todos os dias
e para uma sorte de desgraçados é
somente o fim que se vive,
a vida toda.
Ser contra o favor que o tempo
faz para a morte, essa é minha
sina, não concordo com a vida
duvidando sempre de mim, e eu
provo, provo o gosto de todos os
seus dissabores toda a noite já
pelo fim, e no início de 
cada manhã nunca sei o que
será de mim dali em diante.
É certo que sigo, ou pelo menos
é certo que resisti até aqui,
mas e se for esse o plano,
e se for esse o meu fim,
o de continuar sempre resistindo
e começando do início de novo, 
como Sísifo,
pelo resto de toda eternidade desse
penhasco sem fundo que é a vida 
em mim?
E se o que vem contra mim for
eu mesmo voltando para me dizer
para voltar e seguir outro rumo
que não necessite de tempo para
chegar, mas apenas de novas ideias
e coragem para parar, e desistir
quando quiser, pode também ser
esse o destino final que sempre
foge, pois jamais o encontrei
justamente porque sempre resisti.
Persistir foi o erro, percorri pelo
tempo enquanto o tempo parou
em mim. Agora quero preparar o
meu enterro e me lançar ao céu
da meia-noite numa noite plena
qualquer que eu decida por inteiro
nunca mais ver outro dia nascer.
Ah! Vida querida, me desculpe
agora, me perdoe a desonra, 
mas por ora eu quero morrer.
Eu quero morrer no decorrer
do passar das próximas horas.

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