terça-feira, 28 de junho de 2022

Além Mar

Areia entre os dedos dos pés
e os passos calmos nada demonstravam
do que se passava por dentro da alma,
os pensamentos por entre os dentes
com raiva,
calada a boca a cabeça jamais para,
essa fauces hiantes ainda me devora.
Acalmava o furioso mar que na praia
me observava,
o desespero do meu olhar buscando o
limiar do horizonte pronto para me
perder.
Poderia mergulhar nas águas salgadas
assim como meus olhos,
mas meus pés só pensavam em continuar,
caminhar para achar em algum lugar o
objetivo de ser. Para os passos o significado
é seguir sem parar, 
mas para os pés que sustentam o corpo o
descanso parece ser o sentido de tudo...
e a cabeça a pensar,
os olhos a ver,
a boca a falar.
Rispidamente parei de buscar,
deixei de fugir,
rompi com os pensamentos e
pus o olhar no escuro,
profundo como o silêncio que
a boca jamais proferiu.
O mar mergulhou em mim
refletindo as crateras da lua
em suas águas calmas,
e então toda poeira da superfície
lunar se conectou com cada
molécula de sal do oceano todo.
Eu continuava ali,
mas agora com as águas salgadas
pelo pescoço,
os pés submersos seguiam,
pensando na cabeça que não
sabia nadar.
Jamais fui visto novamente,
como antes do mar me perceber,
como antes do mar me objetivar.

domingo, 26 de junho de 2022

Diamante Dinamite

Bateu o desespero à porta
e o azul profundo do céu
meu teto preto abrigo,
amigo do peito dilacerado,
sagrado e sacramentado
como maldito.

Seria Eu
          Eu mesmo
          se  mesmo 
bem quisto pelo
Pai,
por minha carne
numa sexta-feira
santa firmasse um
pacto com satã
junto a Jesus Cristo
para buscar algo
mais?

É do amor que falo,
por amor que grito
e calo, e se Deus me
entendesse e adicto
da minha crença,
por isso caísse?

A queda pode nos catapultar
para além do céu.
E se do subsolo do
universo todo a gente
se servisse?

Sou amante dos deuses,
acredite, promíscuo
carbono imposto,
implosivo,
e quando insisto para
estar junto é por ser
diamante dinamite,
como um brilhante
de presente para um
Deus prestes a ser
explodido.

Levante

Ofusca o brio a vida
O brilho a vista
Avilta
O risco à risca,
À sorte de Ser,
Avulso Eu,
Vulgo o Vulto:
Fantasma em riste,
Só na morte,
Como na existência
A doer.

terça-feira, 14 de junho de 2022

Título

Primeira linha do poema,
outros versos e também
os demais, terceira linha,
fim da primeira estrofe.

Início da segunda,
sexta linha, mais versos e
outros blá blá blás e
pormenores dispensáveis,
fim da segunda estrofe.

Outra estrofe,
outros versos e
mais palavras para deixar
o poema bem verborrágico,
décima quarta linha.

O poema acaba aqui.

Doces Sais

Pela métrica audito minha
poesia jamais.
Meus poemas de poeta
maldito adoçam todos os
ais da existência com os
sais das lágrimas de todos
que endosso com o sal do
meu próprio pranto.
Dizer que o apocalipse está
por vir, que o mundo irá
acabar, se preocupar com
isso por que se sei que tenho
tido anteriormente a isso
dias muito piores.
Todavia, se o mundo mesmo
acabar, se tudo ruir...:
Deus, tire tudo de mim,
mas por amor, faça o favor
de me deixar a poesia.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Sufrágio Universal

Cravar como um 
punhal no peito da
urna meu voto e
fascinar o país
inteiro com a
morte do fascismo.

Meu voto é minha espada!

Estigma

Cheirava à cocaína
o nariz;
à lágrimas decaídas
os olhos;
à saliva amarga
a boca;
a silêncio em surto
os ouvidos;
a sangue inocente
o tato.

Meditando a Loucura

Bazar de toda a sorte
de pensamentos,
minha cabeça de portas
fechadas, os olhos,
consome a si mesmo
como o plágio faz
com o que não lhe
pertence,
e quando abre-se para 
o mundo,
todos os pensamentos
estão nús em movimentos
estranhos de frente para
a parede.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Quase Quando

Menos muito e
pouco tanto.
O tempo põe
pressa quando
acaba,

acalma a eternidade
quando já passada a
hora de deixar de
existir,

resiste enquanto
perde-se a pressa.

Se um dia perceber
que jamais será,
a n t e c i p e - s e.

Polítipo

Nem tudo
nem todos,
Animal
Deus
Homem,
querer ser
nenhum ou
ambos.
Poeta e Poesia,
poder ser
nada, ninguém,
ou tantos.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Eternidade

Horas haviam passado
desde o instante antes
de agora até o fim de
tudo que se tem
observado desde o
início de tudo:
Incide um prazo de
validade, ou seja,
existia uma efemeridade,
o mundo acabou,
a vida venceu.
Agora não há mais
nada, mas até quando?


Àquele que tudo vê

Vil o olhar
ávido de Deus
está como de
um tirânico
mestre sobre
toda fé cega
capaz de um
dia abrir os
olhos e
enxergar...Ver!

terça-feira, 7 de junho de 2022

Infinito Enfim

Minha alma é 
um vândalo
em meu corpo. 
Uma ideologia 
revolucionária
surge em meus
pensamentos, 
sempre.
Uma lua gigante
de um exoplaneta
distante, habitado
apenas por musas
e poetas
ultrarromanticos
é minha cabeça.
Um emissor de
ondas de rádio de
baixa frequência de
longo alcance é
meu coração,
e quando não mais
haver um corpo
vivo e a vida
libertar-se enfim,
meu espírito habitará
o infinito,
desde aqui, passando
pelos Campos Elíseos
até os mais longínquos
e desconhecidos
sistemas estelares.

domingo, 5 de junho de 2022

Elétricas

Crianças obesas
tropeçam nos versos,
reluzem nos vidros
reflexos sonoros de
trovões,
começa a chover,
as crianças seguem
às cambalhotas
alegres,
saem à chuva que
chega agora,
vão de dentro de 
casa para o quintal
e conhecem a
eletricidade dos
raios.

Amar Cada Besta

Entre Homens e heterônimos,
Deuses, ex-Deuses, Anjos,
Demônios,
saber a escolha certa e
amar cada besta por amor,
pelo nome,
para marcar n'alma,
como senão a morte já amais,
como sinal amor te amou,
como se não houvesse morte jamais:
demais amou amou, 
e se a morte amor te tem,
amor de morte te ama ou mata:
Revide Amar, Re-vide Amar.

Corre Começar

Correr começar de novo,
todo dia outra vez por
toda a vida e pela morte,
enquanto corre o Outono.
Todo ano um cinza duplo
único ocorre:
da estação de chegada
eu de partida até o Outono
mais próximo daqui.
Mas até partir
eu fico todo o entardecer
até à noitinha a esperar 
por mim mesmo, 
mas eu não chego e nesse
tempo que não volto não
ouso partir,
espero pelo próximo Outono
num cinza messiânico que
insiste existir.
Existe um insistir em tudo
que morre, 
agora é a vida e ora por horas
é a morte.

Quase Utópico

Quando quanto importa
importa tanto quanto
quando importa,
mas quando importa...

...e importa quanto?

Tanto quanto nada
é o tempo todo pra
sempre, e nisso tudo
quando é utopia.

Deus Quase

Quase eu utópico,
pele e ossos, 
corpo e espírito:
Quase Deus, 
fantasma.
Delírio quase
ilógico,
eu drogado,
não corpo,
Eu Alma.