quarta-feira, 18 de maio de 2022

Dia bom

Eu quis um pacto com
Deus, por dinheiro e pela
nossa salvação, a minha em
vida, e a de Deus pela minha
crença enquanto vivo e pela
posse de minha alma depois
de morto.
Mas um acordo jamais foi
firmado, perdemos contato e
por discordâncias tolas de
ordem moral, Deus e Eu
desistimos de ter um com
o outro, outra vez depois disso.
E depois de muitos anos de
dias ruins eu tive enfim meu
pacto, não com Deus mas com
alguém que já foi muito
próximo dele, mas que romperam
também pra sempre, pelo que me
disse que disseram pro mundo
todo. Tolice! Pois foi através desse
novo contato que eu consegui
enfim meu contrato com Deus,
num dia bom, por dinheiro e
pela minha alma...
por intermédio de um vil mercador.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Frágil Brutal

Eu posso ser o que eu quiser,
e o que não quero jamais.
Como uma pedra a rolar,
meu tempo existe no espaço
que eu caibo para ser o que
for desde que eu seja,
e isso enseja que eu saiba o
porquê do jamais daquilo que
eu para mim não quero.
Não quero ser no espaço tempo
que minha existência não cabe,
eu quero ser o que o tempo sabe
o que eu quero.
Eu ser o que quero
eu quero ser,
jamais o contrário,
assim desejo mais o não ser
do que o que espero,
não posso existir,
não meço existir no que sou
na medida que me deram.
Existo para ser na medida da
vontade brutal que o frágil tem
de ser eterno,
existo para transcender no
espaço tempo que eu caibo,
na vontade legítima que a
eternidade tem de expirar
e de ser frágil.

Sísifo omito em mim
nos arrabaldes da rebeldia
da recusa de insistir no mesmo,
eu insisto na recusa e me
vejo nele quando ele se
reconhece em mim,
escondido, como eu, revelado
pro pronto para me revoltar
com um adeus a esse mundo
e deixar de chegar ao topo
para lá de cima me lançar.

Mas eu morro antes de aceitar o fracasso.

Faz parecer fácil o existir
quando não se tem de viver
em dobro para ser.
Eu não sou, nunca fui,
e tampouco quero ser,
mas não aguento mais carregar
essa farsa montanha acima
vida agora,
busca adentro.
Eu sou o nunca dessa afirmação,
o sempre,
eu sou agora mesmo o não,
a semente da ilusão para
jamais da árvore da vida cair
o fruto da certeza, tola, que só
acredita no que acha certo.
Não quero dar frutos da razão,
nem ser Deus nem Serpente,
o que eu quero da existência é
de natureza desconhecida ainda
e eu duvido  em vida um dia
descobrir. 

Quero fugir nessa vida das razões para morrer.

Mas a vida apenas também não
me basta, tampouco a morte.
Ser um Deus Serpente para deslizar
pelo agreste do éden fugindo buscar,
empurrando com a barriga,
fingindo fugir e temer ter de voltar
para partir de novo, pois o de novo
é o mesmo e o mesmo não é novo,
e se novidade é o desejo eu devo ser
sempre construção, ser sempre 
imaginar.

Ser no estro do existir, Revolução!

Crer que se pode sobre o
conservadorismo das coisas,
desacreditar...e o progresso
um caminho sem volta para
o fim de então tudo que há.

Réu revel

Ocupado em existir.
R e s i s t i r!
A melhor maneira 
de ser, é não ser
o que não é...
sem culpa.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Entropia Tropical

Deixar de ser carne,
sangue e ossos
para ser apenas
luz, espírito e
energia.
Ser Deus!
Eu queria ser um
Deus suicida,
para ser maior ainda,
e depois morrer de
novo, para então depois
ressurgir em vida
microscópica habitando
sais de lágrimas de
alguma divindade
caída.

Deixar o sistema
chorar,
deixar os trópicos
de um ponto pálido
azul e só,
despedir-se do sol
a noite, 
da via láctea ir
quando adormecem
luzes de estrelas vivas,
partir com um brilho
no olhar na velocidade
do zoom que se dá
para observar micros
cosmos que não vemos,
mas que gostaríamos
de habitar sendo
ursos d'água ou deuses
maiores encolhidos
vindos da estrela
d'alva para lá para
descansar de existir
e para ser prazer para
provar o gosto de ter
sabor para oferecer
amor e doer, doar-se
a ser do ser o ar,
e deixar-se morrer,
parar de respirar,
suspender, suspirar...
eflúvios a flutuar de
fluidos gasosos como
energias de jovens
seres de luz,
supernovas em pranto
a se cortar.

Referências na Lixeira

Quanta coisa boa pode vir
depois de mim,
quanto de muito novo pode
surgir,
não posso me dar ao lixo
de não ser,
não devo me dar ao luxo
de não existir.

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Parasitismo

No poema havia uma
árvore feita de versos,
as flores e frutos eram
enfeites em festa por
estarem ali reunidos,
alegorias felizes que
quanto mais alegres
mais cresciam.
Mas um parasita
chamado Métrica
alimentava-se dessas 
flores e frutos, 
e portadora de uma
doença crônica chamada
perfeccionismo, 
ela sempre matava 
apenas por matar toda
flor e fruto sempre que
achava que eles cresciam
demais e destoavam 
daquilo que acreditava 
estar no tamanho certo
da perfeição imaginada.
Era tamanha a gula da
doença da métrica que
na maioria das vezes a
árvore de versos sempre
morria, e assim na floresta
poesia haviam bilhares
de espaços gigantescos
cheios de árvores mortas,
e a natureza ficava cada
vez mais vazia, e a forma
do nada, o formato do
vazio, era perfeitamente
simétrico, de todos os 
lados os diferentes espaços
se refletiam, e tudo parecia
ser sempre a mesma coisa,
e a mesma coisa e uma
coisa só por ali se repetiam.

terça-feira, 10 de maio de 2022

Aspectus

Perder a calma pelo óbvio
pender a aura para o ódio,
vender o Diabo para a alma
e no amor fazê-lo ópio,
fazer o errado por linhas
certas, com os dedos tortos
ir por certas entrelinhas,
a métrica uma regra abolida,
sacrificar muitos versos e doar
a mesma alma para a poesia,
fazer rimas mais ou menos 
à risca, ferver à toa o sangue
da pena, a verve a esmo e o
estro se perde à vista,
ser um nada de saco cheio,
todo farto da vida, vazia...
endeusar o poeta e
santificar o poema,
bem mais tarde, depois da morte,
do mesmo modo como em vida seria.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Homilia

Deus dará e não, e que assim não seja
um passo em falso,
pois quem dera andar sobre as águas
que banham o sofrimento
humano...tipo andor...
Toda dor incide um mar...tipo altar...
onde ondas de furor num templo,
um ardor,
um caos hardcore de doídas
toadas indoor, espinhosas,
dolorosas flores púrpuras de
estupor,
das aflições de um cinza
Jardim inside,
insights surgem em latim
enquanto calo sufocando dores
dos outros em mim,
não me importam outras carnes
com cortes que não sangram
em mim,
mas o sangue escorre dos dedos,
do tato...
Vermelhas cores que não tingem
tecidos nobres desconhecem a
filosofia do cetim,
os versos das manchas do sudário
santo só sabe ler a besta Deus pai
e o bicho da seda,
la madrepérola marfim sabe
que dói como todos vós têm
o vermelho do sangue nas mãos.
Eu não matei Jesus e abomino
o uso do crucifixo como símbolo,
insígnia do bem, distintivo como
afirmação de cidadão de bem,
como revólver na cintura,
como domingo na missa
na casa de Deus em minha
voz um amém.
É como prova do crime,
ali à revelia,
meu álibi é não comungar
do mesmo pão de joio desses
que pregam o terror,
esses diabos cristãos,
anfitriões malditos anunciadores
do fim.

Tardes de Abril

Profusão de solidões
de um homem só,
dentro de uma vida
única com várias
mortes buscando Ser
absolutas,

a noite acaba, más madrugadas em
boas insônias, adormecem quando
amanhece,
o dia passa
e quando
entardece,
algum tipo de morte deseja afirmar-se
outra vez,

confusão de idéias,
sentimentos, tristezas ad hoc,
admoestações e quando outra
estação,
você outra vez como
um Deus efêmero que 
não morre,
que jamais vive,
mas existe,
apenas existe em algum lugar,
em qualquer solidão
e em toda felicidade,

apenas existe como estar
triste numa tarde qualquer.

domingo, 8 de maio de 2022

Venha

Não demore
para ir, mas
mas vá com
pressa
voltar.




sábado, 7 de maio de 2022

Cristão

Se eu morresse pela vida daquele
que irá me matar antes de morrer
pelas mãos dele,
ele jamais me mataria e 
eu salvaria sua alma,
mas ainda assim estaria morto.
Porém eu também poderia matá-lo
antes de ele me matar,
salvaria minha vida,
a alma dele, e viveria para matar
de novo.

Início, o Fim

Quem poderá saber se
o adeus vem antes ou
depois do pra sempre?

Após o fim há um mundo
todo novo pronto para
acabar, e o tempo que
leva, adeuses a nós 
pertence.

Auto Outros

Ser eu mesmo como o outro
é, nada como ser como o todo
é, o potencial absoluto quando
tudo pode ser, o poder superior
é algo que se parece comigo,
minha imagem e semelhança
no que se parece ser Deus,
o Deus do próximo,
o salvador de todos.
Eu sou Deus,
eu sou tudo,
o nada e o todo,
isso e aquilo mais e também
aqueloutro.
Deus sou eu,
Deus é todo mundo e o
mundo todo quer ser Deus,
Deus quer ser ele mesmo
como o outro quer,
o outro é ele mesmo assim
como sou, e não há nada,
nada como ser você mesmo.

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Vivos Juntos Mortos

Nasce para morrer
e morre para...
viver para morte
pela vida eternamente.

Morte Nasce Quando
Vida Morre Sempre.

A morte é eterna
enquanto vida,
viva morte
morta vida.

A morte vive junto
à vida, co-existem,
vivos juntos mortos.

Nasce para morrer
e morre para ser
o que foi vivo.
Morre para nascer
e nasce para ser
o que foi morto.

Para esta vida
eu venho de outras mortes.

terça-feira, 3 de maio de 2022

Contrastes

Luz Carne Máquina.
Beleza vil a sina da alma má,
transcende a aura, o corpo,
a humanidade ruim dentro do que
há de urbanidade em cada princípio
primitivo de todos nós,
e volta para a natureza celeste
bestial que nos criou.
Somos Sápiens como fomos tantos
outros Homos tempos atrás,
e antes do Deus Homem de hoje,
deuses animais já éramos nós.
Doravante quando formos
descendentes de Sápiens robóticos,
o cio cibernético de nossos
algoritmos será tão vil e belo
quanto o cruel e feio que hoje
há na ancestralidade divina do
nosso DNA.
Eu contra Deus contra
Mim contra Todos contra
Tudo contra o Todo contra
o Nada,
contrastes.
Eu comigo, Deus por si,
juntos conseguimos dispor
para depor:
Poder contra Poder,
contra atacar ou agora,
atacar antes, desafiar...
Desacreditar contra a má-fé,
acreditar na nossa vitória
e não nas conquistas da fé má.
Ideologias a priori...
Revoluções empíricas...
Religiões fanáticas...
Razões científicas...
O Deus vivo somos todos
nós, máquinas perfeitas,
fantásticos animais.
A natureza viva é da
única sabedoria que precisamos,
sabemos disso quando dissecamos
o cadáver dela rotineiramente.
Conhecimento, que temos muito 
pouco, é o que dispomos para
parar de matar e começar a viver
de novo, nós todos,
Deuses, Homens e Máquinas.

domingo, 1 de maio de 2022

Perfumes

Diz o vento fragrância,
dizem abelhas alimento
de enxames, suaves
pétalas calam bem
mal me querem,
disseram vozes
diversas vezes:
divagam velozes
pelo silêncio das
flores, perfumes.