domingo, 19 de fevereiro de 2023

Afrutificação

Fico a olhar para o silêncio
pensando em tudo aquilo que
eu jamais pude ser.
O silêncio que queria ser barulho
pensa junto comigo se não seria
melhor o suicídio ao invés de
ainda tentar ingenuamente viver.
Mas faço um esforço maior do que
a ideia da morte e levanto cedo
diariamente para trabalhar até tarde
buscando assim algum significado
na vida. Ter.
No fim de cada dia de luta volto
cansado para casa sempre numa
total desolação absoluta.
A tristeza que se fez minha melhor
amiga e minha maior filosofia,
me acompanha na rotina de aguentar
tamanha existência absurda.
Mas sempre finjo suportar e demonstro
vontade, força e força de vontade
para quem eu sei que em mim
acredita.
E o silêncio continua a fazer
música de toda essa minha mímica
acústica surrealista.
Viver é um fardo, fato, e fato
consumado no empirismo diário de
cada tentativa, mas penso e quero
gritar, mas não grito e penso
alto comigo:
O que me adiantaria morrer assim
tão desconsolado e desconte com
tudo e comigo, se posso ainda viver
e tentar mais uma vez amanhã e
depois naquilo que me resta de futuro?
E minha última tentativa será daqui
pra frente viver como vive e existe
uma árvore que sabe que pertence à
família das espécies de árvores que
não dão e jamais darão frutos.

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