quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Inclusive Isso

Abstrai-se o 
(substrato da irrealidade)
o abstrato do sonho insônia sono, e coma,
e sonha que sonha que cai
e vai ascender a queda
como obscurecer uma sombra,
(e leva-se a) desejar cair, ir ao céu
como mariposa em trôpego vôo
em volta da lâmpada.

Falso quando muito
um fundo sem fosso
e quando poço profundo,
um oásis de águas
límpidas se apresentará
para quem quiser
mergulhar a fundo
nos sonhos.

Sob a objetiva da pena
em meus torpes dedos tortos
em total sintonia com meus
pensamentos vastos,
tudo apresenta-se como poesia.

Inclusive (insiste em ser) isso.

domingo, 15 de janeiro de 2023

Desencontro

Deixei um bilhete para mim mesmo
em determinado lugar por onde
certamente eu passaria.
No bilhete eu marcava um
encontro comigo, ali mesmo,
a certa hora, no dia seguinte.

Então quando passava pelo local
eu rapidamente pude notar que
havia um bilhete ali, deixado por
alguém.
Qual a minha surpresa quando ao
ler o bilhete vi que eu havia
marcado um encontro comigo,
ali mesmo, no dia de amanhã?
Não posso faltar a essa entrevista,
pensei comigo.

Certo de que eu encontrei o bilhete
deixado por mim, alguns poucos
minutos antes da hora marcada,
eu já me encontrava lá esperando
por mim mesmo, com quem, com
algum entusiasmo, eu esperava
me encontrar.

Olhando para o bilhete e reconhecendo
a letra que me era muito familiar,
fiquei pensando a noite toda se
deveria ou não ir ao meu encontro.
E fui, mas iria me atrasar.

Fiquei esperando certo tempo e um
bom tempo a mais da hora marcada
para o encontro.
Me aborreci com meus pensamentos
e como sempre muito ansioso e
impaciente, já não suportava mais
esperar e acabei chegando a conclusão
de que eu não iria vir.
Chateado, pus-me a caminhar e fui
embora.

Exatamente 19 minutos cheguei atrasado
à entrevista, não havia ninguém lá.
Será que já fui embora ou também
talvez tenha me atrasado?
Fiquei a pensar, e decidi esperar um
pouco, quem sabe dali a poucos
instantes eu chegasse, atrasado também.
Esperei por quase uma hora e nada.
Depois de muito tempo ainda hoje não
sei se eu não fui ao encontro,
ou se fui, mas como me atrasei,
decidi ir embora achando que eu
não viria mais.

Depois daquele dia e daquele bilhete,
nunca mais nos vimos de novo,
e também nunca mais nos falamos.

Escuro Silêncio o Culto

O tato calejado da voz, gasto,
de tanto silenciar impropérios
absurdos, o âmago sequestrado,
de tanto em silêncio orar para
deuses que nunca lhe dão ouvidos.
 
Detesta Deuses Esta Poesia,
e por sua vez, destoa, e
dissonante grita:
Abaixo o Altíssimo!
Destratando a vós
que também cala para adorar
e deu-se em dizer que tudo
deve ser para glorificar um
senhor poderoso todo absoluto,
que resiste em si e também 
faz morada no medo de todos
que temem o que sabem o que
são, mas vivem a morrer,
sacrificando a própria alma
para esconder a vergonha de
ser daquele que tudo sabe.

O Toque do Cajado Destrói
o que toca,
mora onde ecoa a sua voz
sedenta por ouvintes mais
medíocres que ti, e no entanto
melhores que nós:
Poetas do Subterrâneo!
Vozes Iluminadas Nesse Silêncio Escuro.





sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Saturnal

Adeus dado a Deus
a Deus dado adeus,
também Deus deu
adeus a Ele:
Assim esse Deus
dado aos dados,
parou de jogar
com a vida daquele
coitado...
Então este homem
que sempre sentiu-se
pequeno,
desde o dia do adeus,
da despedida,
e da última partida,
passou a sentir-se
grande, endeusado...

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Adversus

Feitos de Feltro e Mármore
e Feio e Belo como o
Ódio e o Amor,
assim em estranho modo
um Duo de unidades distintas,
porém com perfeito encaixe.
Se encantar mais com o
rótulo da garrafa do que
com o sabor do vinho;
Ficar preso na fascinante
capa e nunca, jamais ousar
abrir o livro.
Assim pode ser o Divino,
e é...
Como aquilo que sempre acaba
é eterno, as repetições das tragédias
diárias que em noites de felicidades
jamais adormecem,
a Fé que acredita ser inabalável
dúvida da própria imagem quando
diante do retrovisor (de Deus,
Veículo Inerte) do abandono ainda
permanece estável (?)
O Deus Cristão pode ser o criador
de tudo e de muitos, de quase todos,
mas em estranho modo como Eu me
faço Maldito,
Ele certamente fracassaria se
ousasse em ser Poeta.

Punk-se

Por entre ruínas de
                  rimas ruins
e sem
graça e beleza,
faz-se assim
os              poemas
sem forma e
elegância:
esculpido (como fanzine)
à forma e sombra
do             poeta
que produz tais versos.
Esse poeta aboliu
de sua pena toda a 
religião da metrificação
dos versos.
-Ele jamais soube escrever assim.

No entanto faz desse caos,
melhor ainda,

                        Caos,
             Nesse
Edifica
Aquilo que poeta acadêmico algum
jamais foi capaz de produzir:
Poesia sem medo de se despir
de toda roupa velha que não mais
lhe cabe.
E toda essa nudez poética
quando muito com frio,
mesmo e embora sendo fria,
faz dela e ela mesma,
as vestes que por ventura
deseja usar.
-Livre e Rebelde para desrespeitar
qualquer estúpida
etiqueta social - assim É e Sempre
será, pois
Punk-se faz toda dia.

Replicare

O ódio é um mundo
onde não existe vida,
ali, o amor pode ser
uma bactéria que se
replica.






Pormenorizado Gigante

Metade daquilo que
fui é maior,
bem maior do que
o completo idiota
que sou.
Ontem eu era amanhã
e hoje sou só agora.

domingo, 8 de janeiro de 2023

Todo Revolução

Me furtar de todos os prazeres que o
dinheiro pode pagar,
pois plenitude eu não gozo.
Felicidade que existe, a material,
eu não tenho e jamais posso:
porque eu não posso gozar
porque eu não posso comprar.

Azar assaz assim
em ser o azar de
ser assim assalariado.

Dessa (má) sorte de estar vivo
nessa/dessa existência um eterno operário.
Um fim do mundo todo fim de mês,
todo fim do mês o mundo não acaba,
Ah!, e quem me dera, assim melhor seria,
melhor seria o fim de tudo de uma
única vez, do que o fim do mundo
sempre a cada fim de mês.

Viver sempre a revelia porque jamais eu sou...jamais no presente eu gozo a plenitude de ser...de ter...de sede...de vontade...de poder!

Poder adquirir o mínimo para sobreviver,
Deus eu imploro, não quero vida eterna,
eu quero enquanto vivo poder fugir
dessa (merda) sorte de ser um assalariado;
Sorte de estar empregado para bater 
ponto todo dia e no entardecer sempre
morrer de fome.
Porque,
por que meu serviço não me dá suficiente
dinheiro,
suficiente dinheiro para viver?

Melhor seria a morte uma vez que
eu não precisasse pagar para morrer,
pois para fugir da vida nem para isso
dinheiro eu tenho, e mesmo assim
todo dia é um suicídio diferente
buscando sempre o mesmo fim:
Fim do mês;
Fim de mim;
Fim da grana, da garra e da
gana de vencer.

Vencer sempre a mim mesmo
para todo dia a cada hora não,
jamais não enlouquecer,
e o patrão e a razão do lucro
sobre a minha pobreza?
Sobre a minha miséria a razão
de existir do lucro:
mais vale não existir,
mais vale e vale mais a Mais-valia,
a existência justa para um todo mais
valeria, Mais-valia, Mais-valia mais vale
morrer por isso, do que morrer por
um emprego que alimenta contas
bancárias de quem se empanturra todo
fim de mês de lucro e mais lucro.

A vida morta
a morte viva morte
e o lucro do patrão!
E Viva a morte
Viva a morte do
patrão.
O Fim da exploração
o lucro acaba
Alforria Operária:
venham todos, pois
é Festa enfim
aqui no chão de
fábrica.

Assaz assalariado azar de ser e que
assim seja até o dia em que não mais,
nunca mais,
pois mudar o mundo,
viver para mudar o mundo
eu sei que posso,
posso não mudar a minha vida agora,
mas mudar o mundo pro futuro eu sei
que posso...
dessa vontade eu vivo e dessa escolha
todo fim do mês eu sei que posso,
pois eu sou poder,
o poder da transformação eu sei que gozo,
na minha força de vontade determinar
enfim a revolução eu sei que posso,
todo dia a cada dia buscar sempre ser
agente da ação que porá fim a exploração
do assalariado.
Ser Eu eu sei que posso Ser Todo
Revolução.
E dinheiro algum me furtará dese
prazer por ser quem Eu Sou,
eu sei que desse desprazer dos
senhores do lucro eu sei que gozo.

Lacuna

Entre o pra sempre
e o nunca mais
eu vivo presente dentro
desse ínterim.

E o futuro é jamais,
é mais daquilo que não
há nem nunca houve,
e será quando depois
de amanhã nunca mais
nada mais for pra
sempre.

Tudo é presente sendo
sempre passado,
que passa e vai e é e
volta para ser o que
(nem) sempre será.

Beba a viver

Devorar uma vinícola inteira
e degustar a embriaguez
moderadamente.

Uma noite toda ficar acordado
a vida inteira e aproveitar
a insônia de cada madrugada.

Para bem quisto ser per si sempre
e olhando para cima para ser
visto sempre pela lua.

Viver e Ser Viver é ser a
Vida que Já É,
aproveitar que sabe que
vai morrer e Viver e Ser
Viver para Ser a Vida que
Já É.

Idealizar enquanto sonha
e sonhando acordado a ver,
acordar do sonho para todos
os sonhos do mundo realizar.

Dormir o sono só depois de
muito e tanto,
depois, muito depois de tanto
viver e se embriagar.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Sacro Vil

Eu quero matar Deus
como se eu fosse Jesus
buscando vingança.
Eu quero matar o Pai
sempre morto como a
abandonada criança
que nunca Pai teve.
Eu quero revanche,
eu quero redenção de
sangue, eu quero
esperança.
Minha utopia é distópica,
pois é essa a minha fotografia
viva da lembrança.
Eu quero apagar a memória,
eu quero fazer o tempo me
lembrar como o corpo
tetraplégico ousa pensar
em qualquer passo ousado
de todo tipo de subversiva e
sensual dança.
Eu quero dançar sobre o
túmulo de toda e qualquer
crença.

Eu quero Ser Eu!

Todo esse silêncio presente
em meu quarto adentro de
mim, e eu afora dele,
psicografado quase como
por uma psicose divina
psicodélica, talvez já não mais
me ensurdece mais como antes
me fazia calar.

Cansei do Mesmo Modo de Ser!

Cansei das cores e do som blasé,
agora eu quero o sombrio e
qualquer ruído punk que me
distancie da ataraxia dos deuses
e me apresente para todo caos
que possa me fazer reinventar
quem eu ainda quero ser.

Quem eu ainda quero ser
se não o eu mesmo que
ainda não sou?
Não sei nem nunca soube,
mas cansei do mesmo modo
de ser,
agora eu quero outro mesmo
eu que possa me fazer
incrivelmente ser quem sempre
fui, mas ainda não me encontrei
para apresentar-me.

Eu quero Ser Eu!

domingo, 1 de janeiro de 2023

Iluminado

Tarde demais e ademais como
qualquer epígono o entardecer
vai-se sempre no mesmo tempo
incerto do nunca mais.
Mas e se quando o dia
morrer de novo outra
vez e outra vez a luz do
dia nunca mais?
Como um aprendiz adiantado
das trevas eu como um,
não apenas mais um poeta,
mas como um em sacerdócio,
certamente trarei a luz,
e à sombra de toda a poesia
um novo dia virá.