quinta-feira, 1 de junho de 2023

Do Fundo da Sétima Solidão

A poética da natureza da minha existência
dialoga com uma fria sutileza ética com
toda possibilidade de grandeza.
Ser poeta como também poderia ser Deus,
e Deus se fosse poeta poderia assemelhar-
se a mim, e o mundo seria poesia e minha
poesia todo um mundo novo seria.
Mas quanto a ser Deus, por assim dizer,
eu temo que jamais de fato fui poeta.
No fundo sou apenas a vontade de ser,
e não somos todos assim, inclusive deuses?
Ambição de ser um Deus que saiba escrever
e jamais o oposto, desejo de alguém que
escreve versos se tornar um Deus.

Da tese à antítese que sou.

Acredito em mim, muito, tanto quanto em
Deus nunca, jamais pude crer:
Somos recíprocos.

A poética da natureza da minha existência
dialoga com uma frieza épica com
toda possibilidade de grandeza.
Mas e quanto a natureza dessa poética,
pormenorizadamente, sobre ela e sua
profundidade, quão fundo nesse fosso eu
posso descer?

O céu jamais será um limite,
para quem deseja voar o céu é um convite
para se ter asas, porém meus pés escrevem
passos raros, e o caminhar que é o seu
legítimo texto é fácil de se ler pelo
subsolo de conquistas inalcançáveis.

Deus algum é capaz de mensurar o 
alcance do querer da alma de um pobre
diabo poeta. Um poeta de verdade por
muitas vezes se desfaz da própria alma
para poder fazer poesia.
E a alma desse poeta aqui sofre
da febre da loucura de querer ascender
à luz sendo densamente filosófica
escuridão: faz versos de frio para
o verão e entoa sempre um eterno
outono púrpura para cada nova estação.
É res-do-chão da torre que busca
alicerçar ali o impulso para crescer
tão alto quanto tão alto possa ser o céu.
É como dossel do planeta.

Do fundo da sétima solidão desse poeta
a alma ressoa sempre em insônia seus
augustos gemidos de arte.
Essa alma, minh'alma, é sempre contra
todo o pra sempre, é de toda a fuga da
eternidade a mais legítima redenção,
e uma palavra para aludir à sua
poética será um dia a palavra Devoção.
Enquanto o sacerdócio desse poeta erra 
ainda e muito por muitas vezes,
a palavra certa por ora é, para resumir
a sua poética, certamente o vocábulo
Paixão.

Suplício!
Detesto ter de odiar quase todo mundo
enquanto amo quase e muito o mundo
todo. A humanidade é uma doença e a
vida humana uma praga.
Queria ser Deus para pôr fim a proliferação
da raça dos Homens planeta afora.
Do mesmo modo, como espécime dessa
espécie de animal atroz, gostaria muito
de poder também aniquilar esse mesmo
Deus que se fosse eu mataria a Humanidade
toda.

Porém nem Deus nem Homem,
apenas poeta, e desse modo,
Deuses e Homens me matam todo dia e
todo dia eu como poeta,
e isso é tudo o que sou,
todo instante eu desejo morrer.
Morrer de amor, morrer por amor,
e pelo amor também jamais se matar
outra vez:
Uma vez basta, duas vezes nunca mais;
pela terceira vez já não mais é belo
insistir; na quarta e na quinta foi
sempre por impulso; na sexta foi pela
virtude do vício, e na sétima é sempre
por temor de uma assustadora solidão.
Ah!Céus!
Só quem pode ser imortal sabe o quanto
a vida eterna é um erro.
Clássico erro crasso.

Faço de um fosso abrigo,
abro um poço sem
fundo no futuro defunto,
esquecido, desfaço o
disfarce de cúmplice
do meu presente fudido.
Foi o passado abatido
e abastece-se o que virá
com um tempo ainda
mais difícil.
É duro ter de temer
a vida que se leva
e leva a vida a gente
para a morte todo dia já
como mortos vivos:
Dos desgraçados,
nós todos,
toda uma sorte morre
sempre no fim de mês
todo mês de cada novo
ano maldito.
Viver não é,
não pode ser só lamento,
como disse um filósofo
uma vez, como poeta eu
complemento:
A vida nunca foi e não é,
a vida não é um argumento,
a vida não é um argumento.

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