quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Desaparecido

Quis parecer como muitos
se parecem e desapareceu.
Hoje pode ser encontrado
no que muitos dizem, 
naquilo que muitos pensam,
no que muitos vestem e
em opiniões e planos que
muitos têm. 
Porém, desapareceu por
completo.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Escalenos

Para mim Deus poderia ser um
mecenas, e o Diabo como Deus
poderia ser um mais do mesmo.
Deus me traz amor,
e o Diabo dinheiro, 
Deus me traz respeito,
Deus meu melhor amigo e o
Diabo um parceiro.
E então numa transa espiritual
poderíamos fazer um ménage à
trois e nessa comunhão de nossas
forças e formas entenderíamos
que somos um só, como diferentes
as dimensões de um mesmo
triângulo são.

Transfiguração

Única razão de ser é Solidão:
Solitude! Cínica intenção,
plenitude absoluta da razão
única:
Descer em si, só...
só assim saber o quão
profundo fosso és e,
fosse céu,
teu esforço em Ser e descobrir
seria profundo também,
como grão de areia mirando o
sol,
do solo quente do deserto em
sua miragem de ser:
vasilhame resistente para
guardar líquidos frios.

domingo, 26 de novembro de 2023

O Raro O raro

Eu quero dizer (a partir de agora,
daqui pra frente até a última
palavra que eu possa escrever)
sempre as mesmas coisas.
Qu'eu
Tenha
Sido
Profundo
o
Suficiente,
para daqui em diante poder mergulhar
em tudo sem medo de quebrar a espinha
e me deixar aos cuidados dos movimentos
dos olhos apenas.
Eu quero me repetir,
me repetir hoje como ontem eu
já me repetia no amanhã,
quero o amanhã também de novo
repetido sobre mim sempre que
eu olhar para trás.
Quero dizer o mesmo, quero ser o mesmo,
quero sê-lo sempre como se fosse sempre
a primeira vez.
Quero que minha voz imite o silêncio
dos mesmos quando novidades discutem
tendências entre si e o que doravante
pode acontecer.
Quero versos repetidos, reescritos e quando
quase lidos, eu quero para eles depois o
mesmo quase...desejo quases para o que
vier postumamente para está vida 
que na mesma de sempre busca em vão
glórias rumo à eternidade.
Quero a eternidade, pois nada há nesse
mundo que se repita mais do que aquilo
que nunca acaba.
Enfim, quero a morte para também repetir
o mesmo fim de todos.

Deserto Promissor

Desabou o céu de uma chuva intensa
cor de água cinzenta de um azul
frio piscina de azulejos cor de
chumbo também, como lágrimas
que choram olhos de íris com
cores de olhares vis e frios.

Olhos profundos como profundas
piscinas vazias.
São assim! as coincidências
que não acreditam em si
ou são providência divina ou
jamais serão coisa alguma,
como amores que voltam
para dizer que jamais outra vez
retornarão.

Ascendeu ninguém sabe
como, o fogo que desceu
do céu como raios e por
horas parecia um dossel
de eletricidade sobre os
pensamentos de quem
por muito há muito dorme
muito pouco.

Acendeu ainda mais a insônia
que sempre foi louca por chuva...
e verte comovida olhos lacrimosos
que encheriam fácil piscinas,
profundas piscinas de verve
olímpica que beira antipatia:

-Uma profusão de areia molhada
e nada mais.

sábado, 25 de novembro de 2023

Mesmo Céu

Foi fogo, fui...
Fui pouco, foi...
Fluí como um mesmo flui.

Se eu fosse o céu
sei que esse céu,
se fosse eu,
também não teria
asas para em 
mim voar.

Foi fogo, fui...
Fui pouco, foi...
Voei como quem sobrevoa cai.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Bib liar

Decorar o 
versículo,
dourar a pílula,
adorar...
adular o dolo:
todo lodo de
um mar de culpa
e a desculpa é
a lama do barro
que te fizeste
pouco.

Silêncio em Fúria

Todas as frases jamais ditas
estão contidas dentro de cada
silêncio. Ah! quantas frases
gritantes, vozes gritando estão
agora aflitas em busca de
algum ouvido, mas jazem no
silêncio, tumba destas vozes e
protetor. O que querem dizer e
dizem o silêncio ausculta se é
possível que sejam ouvidas,
porém, sempre que permite que
digam, elas calam, emudecem-se
e, assim o silêncio, senhor 
soberano destas, vai pouco a pouco
absorvendo-as a si e encorporando
o som delas ao seu ou a sua 
inaudita sinfonia de música interna.
Das benditas noites de alegrias
efêmeras nos dias malditos de
eterna tristeza:
A vida jamais esteve preparada para
o instante em que os silêncios decidem
gritar.

Onze Inspirações

[cronologia poética, 
do verso à vida de
Poeta]
O tempo
A vida
A morte
O amor
A solidão
A noite
O universo
A poesia
Deus
Tristeza
Suicídio.

Poética

Eu vivo depois
e morro quando,
renasço onde e
não existo antes,
não mais: Morte!
Resisto ao desistir
e só desisto como
última resistência
vencida: Vida!

Porto Éden

Errar é humano e
pecar é divino:
Aporto do meu pudor
no pecado a postos,
e afirmo que se eu
apostasse que o rubor
estampado na cara do
pecado é paixão eu
certamente ganharia
a aposta.

E então prontos para
uma parceria primorosa
partimos rumo ao
paraíso proibido,
onde pecar é permitido
desde que se seja um
Deus disposto ao errar
humano, ou desde que
se seja Homem com
disposição suficiente
para viver como um
Deus.

Mais do Mesmo Tempo

Todo passado nasce
recente:
O dia de antes de
ontem, o ontem
e o hoje.
Já quanto ao amanhã,
nada é mais antigo que
a ideia de futuro.

Para Todos os Céus

Eu me apaixono nas Joaninhas
e nas borboletas,
e canto esse amor para a chuva
e esta canta pelo amanhecer
esse canto que antes o orvalho
cantou, ontem e antes do meio
do dia de anteontem o úmido
do mesmo orvalho também cantou.
Eu conto sobre esse amor
para os meus dias e eles
falam às árvores e elas
para os passarinhos e estes
para todos os céus saem
esse amor a cantar...
e enquanto encantam,
os que olham admiram
e se admiram quando
também esse amor podem
cantar. E cantam!

Vida Interna

Um
Dia
Ainda
       Morreremos
Hoje.

Sacrificar a vida eterna
e viver sem compromisso
com a eternidade pós morte
após está vida de merda.
"...ao dia basta a sua própria aflição."
Meu adeus é um Deus solitário
e suicida,
e posso ser, digo, passo a ser
Eu outro deus pós contra
toda essa vida eterna partindo
de outra pre[missa]:
 
                 Para quem vive
                 acima do tempo
                 o futuro abaixo.

Instante Incólume

Escrever como um poeta
como bebe um alcoólatra;
Viver como um suicida
como morre alguém que
viveu cem anos para sempre:
Disposto.

Eu quero o tempo como
o tempo queria...

O antagonismo das coisas antes
da vida começar a contá-lo.

Se a partir do presente é
sempre no futuro que todos
morrem (exceto o natimorto
que morre antes),
do jovem suicida a pessoa
idosa e saudável,
morremos hoje na verdade,
quiçá, amanhã.

O tempo como o tempo queria...

Mas eu não quero morrer
e por isso não me interessa
o futuro,
porém, preciso de um tempo
ainda não contado pelo relógio.

Eu quero a nudez de
um tempo ainda
intacto intocado,
eu quero do tempo a
pureza de um 
instante incólume.

domingo, 19 de novembro de 2023

Espherografia

Emperrou a esfera
da minha caneta azul,
também a esfera do
meu planeta azul,
emperrou a esfera
do planeta,
e do planeta e da
minha caneta azul
não haverá mais
escrita...nem poesia
e tampouco círculos
no papel do universo
nesse poema.

Triângulo Retângulo

Jamais fui coisa alguma:
'preferir o nada do que
nada querer'.
Eu quis as duas coisas,
ir atrás do nada para
depois esse nada recusar,
e embora ainda,
apesar de ser poeta e de
querer sê-lo também,
eu nada sou até então.
A partir de agora eu
prefiro o todo, para depois,
como a existência faz com
meu eu lírico,
tudo desprezar.

Três Presentes

Eu quero o que ainda não sou,
mas para obter o objeto do
meu desejo eu devo recuar.

Que seja o futuro
um passado onde eu nunca existi.

-Quando voltar é seguir em frente
o que se faz com o que virá?

O Futuro enfim

O fim de tudo é logo ali,
da vida do mundo,
da vida no mundo e
do próprio mundo
dobrando a esquina
planeta adentro.
O final de tudo afora
e do próprio futuro é
logo ali.
O futuro é o hospedeiro
e o parasita do final de
tudo e de todos.
Será doravante de novo
como sempre foi assim.


Queimando Igrejas

Eu já teria fumado dois
cigarros se eu estivesse
te esperando,
se eu decidisse esperar,
você demora.

Eu já teria queimado uma
igreja pelo menos se eu
decidisse acreditar,
(...)
não demora.

Inimigo Universal

Ausente e só...
Só se só consigo
o sozinho é solidão
e não solitude,
mas se em si
teu eu teu ser é
senhor soberano, 
de domínio absoluto
afinal,
o só consigo é sempre
íntima comunhão,
sempre será teu eu
seu melhor amigo,
porém, quando não,
é e sempre será
teu inimigo universal.

[Im]possível Nulo

Nada mais como poderia ser,
apenas o impossível.
O impossível sim,
esse tudo pode, inclusive dançar,
pode sê-lo sem medo de ser
superado.
O impossível tem em si a
possibilidade da eternidade,
e então sendo assim, valsa,
carrega consigo para o 
futuro todas as certezas 
tolas, todas, muitas vezes
certezas estas, por serem
impossíveis, são chamadas
de esperança.
Esperança, uma (im)possibilidade
neutra...nula.

AD Versos

No semi árido devastado
da minh'alma e coração.

Em toda a fria estepe
da minha consciência loba,

ambos tais habitats jamais
conheceram esperança que

não fosse uma estação mais
severa do que a outra:

Querer da vida mais do que apenas viver,
querer da vida mais do que somente a
                                                                 [morte].

Morte como recompensa e
refúgio, e querer do morrer

mais do que apenas a morte,
ter essa morte como recompensa

e refúgio para um novo viver.

Esperança é saber que jamais haverá
outros de nós, do tipo que nunca fomos,
e àqueles que foram nós quando nós
ainda pensávamos como viver,
também jamais serão outros que não
eles mesmos que negaram a si: os mesmos
tipos negados de ser, são o que na
verdade são.

Se negam a correr pelo seu 
habitat natural para rastejar
pelo subterrâneo de outros
ambientes. Porém, esquecem
que são de um tipo de êndemicos
alados e, idênticos a estes,
outros mais tanto querem se
perder. 

Chorus

Deus desconversa
e a vida segue exigindo
muita fé de mim.
Deus é pesado demais
uma existência toda
para suportar.
É como se eu acreditar
que uma tonelada é 
algo muito pesado e 
no mesmo instante a
minha cabeça começa
a pesar. 
Deus é pesado como um
silêncio profundo.
Eu acredito em um Deus
que seja muitas vozes.

Destino Escrito

Eu aposto a melhor versão de mim
com a morte de que viver a vida
escrevendo a própria sorte pode
mesmo valer a pena.
A morte aposta a sua fina e elegante
vestimenta preta de seda de bichos
da seda de pomares do paraíso de que
o destino de cada ser vivo desse
planeta já há muito está escrito e nada
pode mudar isso.
Do mesmo modo se eu perder,
a morte estará certa se eu ganhar
a aposta.

Espaço Exclamação

Eu não quero nada que eu não
seja capaz de conquistar,
apenas o mundo todo.
Um abrigo para fugir do frio,
e por amor,
a intenção da chuva e o
querer do fogo.
Eu quero um sorriso seu,
teu silêncio e um beijo,
um pacto com tua alma
pelo teu corpo,
e um combinado com teu
Deus para eu fazer companhia
para tua alma quando nossos
corpos já estiverem mortos.
Eu não quero nada que não
possa ser meu,
e o universo todo ainda
me parece pouco.

Agora distante (todo poeta é tudo)

Deus, o poeta primeiro,
e o Diabo,
um verdadeiro poeta.
Dentro da alma de cada poeta
um universo inteiro em colapso
se renova em cada novo verso.
O colapso se renova de novo
aqui, e no verso próximo o fim,
é apenas o início de tudo:
A sorte de Lázaro;
O destino de Sísifo;
A incumbência de Atlas e,
não por acaso,
A ousadia de Prometeu e
A verve de Cristo.

Todo poeta é nada daquilo
que o resto de tudo
jamais poderá ser.

Todo poeta é tudo!

Cada poeta são todos que
já se foram,
um pouco de cada um
compõe o poeta novo,
de depois do que virá
até o antes de agora,
e ainda assim cada novo
poeta não deixa de ser
absoluto.

Aonde quer que a poesia
possa reverberar,
na cidade e no universo,
do futuro ao passado
presente e do presente
futuro ao agora distante,
presente em cada antes e
depois de qualquer tempo:
cada poeta é único,
e se assemelham todos,
pois todo poeta é tudo.