quinta-feira, 30 de abril de 2020

O adeus

Agradeço a Deus por nunca
ter existido,
amaldiçoo os Homens por
tê-lo inventado e determino
contra mim mesmo o peso
da culpa por ter em tudo
acreditado,
e se a esperança de ter
uma existência melhor
baseada numa crença cheia
de bobagens religiosas inúteis
e pormenores absurdos me
abandonou desde que eu
assassinei a mística,
eu agradeço o adeus.

Escuridão

Oh meu Deus,
dá-me um tiro
na cabeça ou
exploda meu
coração.
Estraçalha-me
a carne, salva-
me agora, ou
minha alma
fará da eternidade
onde quér que
ocorra,
uma busca
incessante
por vingança
e redenção.
Nada me conduz,
ando só e
em péssima companhia.
Dentro de toda
escuridão
quero eu também
ser o
portador da luz,
da luz que
Incendeia.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Pardo Cinza e Frio

Nada há no
Outono que
não aconteça
em mim
primeiro,
e nada há em
mim que não
aconteça o
Inverno inteiro.

Vasto Olhar

Vago o olhar denso
do horizonte a olhar
para si,
olhos carregados de
sentimentos vastos,
o olhar dos meus olhos
chora a mesma chuva,
talvez águas de lágrimas
pela mesma culpa.
Desacreditados!
Sou eu o horizonte
quando olho para
mim e sei que foi
isso o que o horizonte
viu quando olhou para si,
pois sempre que olho para
longe posso me ver de lá
olhando para mim.


Velhos Versos

Meu cigarro já não queima mais do mesmo jeito, em meus dedos tortos que já não
seguram mais a pena do mesmo modo,
e escreve seus poemas com os mesmos

velhos versos
que já não são
mais os mesmos,
pois os versos,
como eu,
são reversos de
si mesmos e
mesmo assim,
como eu,
aos avessos ainda insistem em ser os mesmos.

Como a poética da chuva
e a paixão do fogo.

Sobre minhas virtudes,
não há rima possível entre minha existência
e a esperança de ser adepto das alegrias da vida, minha filosofia é a tristeza e a tristeza
é a inspiração maior das existências em
desalinho.

Meus passos já não
andam mais do mesmo
jeito, e o meu caminhar
cai por terra por não
querer pisar outro
caminho.

Vou seguindo pelo subsolo,
por outras rimas e outros
rumos, e para orientar-me
pelos astros à noite eu
volto à superfície,
surjo sempre mais escuro e sigo sempre mais sozinho.

Como a poética do fogo
e a paixão da chuva,
como os primeiros versos do primeiro texto
do mais antigo pergaminho.
Sózinho, mesmo sabendo que antes de mim
a solidão já escrevia seus cuneiformes na
argila das primeiras existências em desalinho.

Como a poética da paixão
da chuva pelo fogo,
igual a todas as minhas virtudes
de verve apaixonada pelos vícios
meus, de Deus e de seus demônios.

Meu coração já não bate mais do mesmo jeito,
ainda pulsa sangue atrás de pulsar vida,
mas a vida pulsa em repulsa por estar vivo.
Será doença, depressão, suicídio?
não, quanta tolice,
é só mais um poeta fazendo de suas
frases uma ponte entre a inspiração
e o declínio,
como o fogo sob a chuva,
sem mais poética nem paixão,
apenas cinzas e fumaça sobre
a brasa que se apaga e que
aos poucos vai sumindo,
subindo do meu cigarro
apagado no cinzeiro,
cemitério da virtude dos meus vícios.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Únicos

Deus é um,
comigo é dois...
cúmplices!
ou então
nada e nem um,
pois assim nenhum
de nós existe.

Amadrugada

Foi de dia que eu
lembrei da minha
noite mais incrível,
lembro que naquela
noite eu pensava
em quanto meu dia
tinha sido ruim,
horrível, e por esse
motivo nunca esqueço
daquela lua me
olhando e implorando
que eu fosse lá ter
com ela, que esquecesse
meu dia ruim e
dali pra frente só me
embriagasse de
luz e brilho,
e assim a manhã seria
mais bela:
- Assim apossa a manhã
após amanhecer,
o orvalho,
a fria brisa,
a gélida geada
asseada e cristalina
sobre a superfície
de todo o relento.
Aproveite,
pois após a manhã
o dia poderá ser
só esvaecimento.



quinta-feira, 23 de abril de 2020

Excedida

Talvez eu já tenha
excedido toda a minha
capacidade de ser.
Minha alma cansada
foi tudo e foi quase,
quando não pode ser,
foi nada, e agora
completamente esgotada,
essa alma gasta aguarda
angustiada o desencarne.

Redenção

Eu vou chover hoje pela tarde,
fui frio pela manhã e durante
boa parte da madrugada eu quis
ser mais escuro do que à noite
eu fui, mas só consegui ser
escuridão pela metade.
Se eu conseguir chover essa tarde
quero ser inteiro tempestade,
posso ser enchente por onde
correr minhas águas, e que eu
lave o mundo e leve comigo
todos que se sentem aptos
para ir embora.
Serei a vinda da redenção,
essa tarde serei um atentado
à chuva, brutal e violento,
e como terrorista,
se o céu quiser,
à noite eu ainda quero estar
chovendo.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Viva!

Atento contra a vida
e distraído para a
m o r t e, dizem que
se puder suportar a
vida o máximo
p o s s í v e l,
certamente será um
morto de  s o r t e,

compensacão pelo azar
de ainda estar vivo,
pois:

a única beleza
dessa vida é a
possibilidade
da morte.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Um novo agora é pra ontem

Se somos nós os responsáveis
pelo fim,
por que não começamos tudo
de novo?
Vamos deixar o modelo ultra-
passado de futuro para trás.
Chegamos ao fim
e agora somos retorno,
daqui pra frente
nosso passado é um
futuro miserável e hediondo.
O que nos espera pode ser
algo bom de nós mesmos
que um dia já fomos.

domingo, 19 de abril de 2020

Doce Sal

Se o amor um oceano fosse...
ah! quanto mar há
para amar cada
cristal de sal.
Mas isso nada importa
afinal, pois
sou eu um poeta
romântico de água doce.


sábado, 18 de abril de 2020

Atiro-me

Eu um dia
ainda mato
todos com
um único
tiro.

Desordens

Passar ao largo da ordem,
subverter para observar,
para observar as ruínas...
das pessoas na praça
à fonte do cavalo,
de Nietzsche ao rock e
drogas, punks e fanzines
de poesia do'dos Anjos e
dos'diabos ao pensamento
de Nietzsche ao cavalo
passando filosófico ao
largo da ordem e eu em
garrafas, sentado em
escadarias sorvendo e
observando para subverter
as ruínas de mim,
na praça, na opera primeira
e por todas as sextas-feiras
a frente...
que já se foram todas!?

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Assim assaz

Por todo o tudo que sou
eu busco conhecer o
todo que não,
observo que
metade de tudo o que sou
nada mais é do que a
sombra da outra metade.

Sombrio por inteiro,
por entre o reverso e
através,

sou metade inteiro
e por inteiro outra
metade não.

Diamante Grafite

Poesia escrita à lápis,
paralela ao prassempre,
de forma física efêmera
e de eternidade implícita
intrísica mente ligada
ao o que sugere o poema.

Poesia escrita à música,
escrita à chuva,
há ventos in versos,
estreita a tempestade a
poesia escrita a pena.

Poesia escrita à noite,
escrita à lua,
escrita à super novas
estrelas e, da energia
das que morrem,
que surgem agora
a bilhões de explosões
daqui, escrita a fogos e
artifícios dos deuses dos
sápiens,
poetas ultrarromânticos
escritores do cosmo,
seres ultra nós mesmos
de um futuro já
encenado no passado.

Estreita a poesia a
tempestade escrita à lápis,
à lápis a poética do existir
escrita em cuneiformes em
rochas e asteroides bilhões
de bilhões de poemas de aqui.

terça-feira, 14 de abril de 2020

...amor a morte...

Eu quero morrer,
eu quero amar,
eu quero morrer
de amor, de amor
eu quero matar.
Como eu quero o
amor a morte
quer a vida e
como a vida é
amor a morte
quer amar.

A Vida Venceu

Desistiu de morrer e matar,
renunciou ao suicídio:
Foi na sorveteria, no shopping,
foi ao cinema, na praça,
foi na boate a noite e andou
a tarde pela praia;
Jogou futebol, basquete;
Leu Paulo Coelho, Augusto Cury,
Agatha Christie, Sidney Sheldon
e Cortella;
Esteve com a mãe, o irmão,
a namorada, o amigo e o padre;
Falou com o pastor, o padeiro,
o policial, conversou com a moça
do caixa da farmácia, na esquina
do supermercado;
Viajou para a Bahia, para Minas Gerais,
Ouro Preto, os avós, Mariana, Tiradentes,
foi para Brasília, passou por Goiás,
voltou para casa.
Voltou ao trabalho, à faculdade,
à namorada, os amigos, os pais.
Parou de beber e deixou de ir à igreja.

Morreu aposentado, 87 anos,
quase pobre, sem filhos e casado.
Morreu muito velho, bem mais
velho do que a idade,
cansado e triste.
Arrependido e decepcionado.

A vida venceu.


domingo, 12 de abril de 2020

Imanência

A tristeza é a forma
genuína e pura de existir
do ser.
A tristeza é a primeira
filosofia, é o primeiro
amor e a única
amizade verdadeira.
Tua tristeza é tua mais
fiel confidente.
É a poesia maior,
é a religião do único
Deus possível.
A tristeza é a afirmação
do Eu, do Eu sobre todas
as coisas e a afirmação
imperativa de todas as
coisas sobre si mesmo:
a vida afirma para si o
descontentamento de ser.
A vida é triste e a
afirmação existencial
desse si exprime através
do triste ser
a tristeza como
consequência de uma
razão absurdamente mais
triste ainda.
O viver. O existir.
A vida existe triste e
nós poetas vivemos plenamente
à risca. Feliz entristecer.



Psicodélica

Os saltimbancos Sápiens
percebem o final dos tempos:
Todos olham para as
nuanças dos ares,
fumaças fantásticas,
a dança punk das nuvens em
cores de vitrais estilhaçados.
Logo lá, longe,
um Quebranto iridescente
de silhueta maligna,
cores densas em clarões
de um fundo escuro
vivo em fúria etérea.
Violenta tempestade
vindo abaixo como
um metal pesado,
de um pesado céu cinza,
tempo fechando em chuva
quente e abrasiva
horizonte a frente.
Magmas do interior dos céus
caem!! caem em esquizofrenia
elétrica, fluxos de eletricidade
liquida derretem o céu
como lava azul psicodélica.
O crepúsculo dos Sápiens,
um majestoso apocalipse
púrpura como a cor da íris
dos olhos vivos das trevas.

Desassemelho

Os meus semelhantes
assemelham-se entre
si. Todos iguais por
igual por serem
diferentes de mim.
Desautorizo meus
espelhos a pensar
como, e a refletir
tais semelhanças
que não se pareçam
em nada com todos
os muitos Eu's que
há em mim.


quarta-feira, 8 de abril de 2020

Imemorial

Num lapso de
memória o
esquecimento
falou e a
lembrança
foi toda
olvidos.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Sobrevalia Reversa

Ser alguém existência adentro
vale mais do que ser um alguém
mundo afora.
Mais valia eu antes do eu que sou agora.

Mais valia antes de amar o amor que
hoje se namora, não se emenda um
sentimento que se mede por sua natureza
desastrosa. Se ama se quer o risco,
se lança a ele se se quer a glória.
Eu, sequer a glória...

Mais valia a vida antes de estar vivo,
mais valia a morte antes de estar morto.
Mas a vida vale muito e viver é mais-valia,
e quando a morte estiver próxima,
esta vida bruta estará lapidada e bem
mais preciosa. Por isso a morte é tão rica.

Mais valia minha vontade antes do
livre arbítrio,
mais valia o ir-e-vir natural antes do
Estado que se apossa da liberdade
e depois devolvê-a assegurando minha
condição universal de Homem livre,
nessa livre, nada livre, sociedade nossa.

Mais valia esse Planeta azul de verdes
matas antes do Homem branco macaco nú,
mais valia cheia devoluta do que agora
vazia habitada,
devastada a natureza dos Índios
vale mais do que a natureza Humana
nefasta, fascista e falha.

Mais valia o mundo antes,
antes da globalização,
muito antes menos totalitária.

Mais valia a crença antes do rito
dos cultos e cerimônias das sujas
igrejas canalhas. Mais valia Deus
antes, ou melhor se nunca houvesse.

Mais valia a poesia antes da métrica,
a filosofia valia mais antes dos
sofistas e sofisma e só frases,
feitas a feição da cicuta socrática.

Mais valia a dúvida antes da certeza,
antes da certeza valia mais as possibilidades.

Mais valia a solitude antes da solidão,
mais valia a ilusão antes da realidade.

Acredito que Não

Você consegue acreditar em o que,
não vale Deus,
não vale Amor,
não vale Você,
você consegue acreditar em o que?
Eu, acredito em crer:

Quando foge do tempo
um momento e se lança
a olhar para você,

Quando foge do pensamento
uma idéia e se põe
a ouvir o que você
(a partir desse momento)
irá dizer,

Quando se percebe que
está sendo observado
e então um insight
faz silêncio  por você.

Deus acredita em você,
O amor acredita em você,
Você, acredita em você?

Eu, acredito que não.
Sem nunca deixar de crer.

Déjà hoje

Hoje será
sempre ontem
e amanhã.
Nunca agora.
Agora já passou,
é déjà vu,
é de já hoje.

Aniversário do tempo

Daqui pra frente
começa o passado.
O futuro, amanhã.

Quando será o
aniversário do
tempo?

Eu trago o presente
hoje.

sábado, 4 de abril de 2020

Juventude

O combustível da vida é viver.
A priori a maciez polida das mãos,
a posteriori os calos em carne viva.
A dureza é experimentada no tato
dos passos dos pés tropeçando nas
pedras e percalços da vida.
Antes as belezas da vida que se
anuncia, e após a partida,
somente a ida que dura a vida toda
gastando pelo caminho a beleza que
à impulsiona para o fim,
a mesma beleza que se busca.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Doer

Das enfermidades de amar,
da dor e dos dissabores
do amor,
nunca amar é um
remédio amargo demais
para uma doce doença...e,
eu prefiro sofrer,
sangrar,
eu espero sempre mais
o doer e jamais,
em circunstância alguma,
eu quero desse mal,
doce mal,
me curar.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Presença

O silêncio das ausências
dói menos do que a
ausência de silêncios
por conta da presença
incessante destes ausentes.
Mas eu prefiro as inconstâncias
e irregularidades destes
silêncios parcias
do que a completa
plenitude das ausências,
assim, com estas palavras,
elas doem mais.