terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Oco, o caso ocaso

Vazio iluminado, luminoso e brilhante.
Meu fastio interior de casta devassidão,
acredita que eu posso ser um Deus ao
invés de apenas concordar que é legítimo
crer e não acreditar na possibilidade da
existência real, erro de lógica, de um
ser chamado e/ou empossado Deus.

Eu não acredito e jamais negarei isso,
mas esse Deus é esse meu vazio exterior,
está em toda a esfera,
em toda a circunferência de tudo exposto
que observa a mim,
enquanto eu estou diametralmente do
outro lado:
 
   fácil em verso de se ver...
   fácil de se ler inverso,
   mas mais adentro,
   lá fora, fora disso,
   fora da esfera e
   esfera afora,
   é onde está,
   todo o oco
   existencial
   que tanto 
   me
   assola.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Efemérides

Tessitura de existências, todas quase
diurnas, lembranças anotadas
sobre versos noturnos
de dias idos há muito, e
se sabe que você com
eles ainda vai:
Anoitece e, se acorda, acorda-se
outra vez.
Calendários gastos,
vários,
todos em paredes lógicas,
dependurados.
O dia que você ignora
é aquele que você olha ali
para saber que dia será,
qual será o dia marcado
ali, e você sabe:
saber você
sobre você
você sabe,
saber você
sobre você
você sabe, sobre,
sobre você
saber você
você sabe qual dia
você quer saber sobre.

Tarde da noite descobre-se
qual dia você quer saber e...,
foda-se, e o dia é aquele que
há muito a noite já devora.

O Dia é Hoje!

O dia de hoje
é hoje e só
hoje amanhã
já não será
mais esse dia.

Não lembrou que ontem ele já sabia.
Esqueceu e o dia se foi para sempre,
nunca mais mais esse dia.

Anteontem à tardinha ele já pensava
em não esquecer,
mas não lembrou de não esquecer
de não esquecer o dia.

Esse dia só existe agora na eternidade
dos dias idos há pouco,
e sabe que você com eles ainda vai.

Ante Intensidade Tardia

Amanhã seria o melhor dia de uma vida
inteira de dias ruins,
seria um dia bom se hoje fosse
também as melhores projeções
e aspirações de ontem.
Mas ontem não fugiu à regra e 
foi um típico dia ruim,
porém, e se tudo for para ser e
se realizar a partir de amanhã?
Eu jamais saberei;
Eu não faço ideia;
Eu nunca soube.
Sou um quase poeta, um epígono,
um discípulo de si mesmo que
aprende tudo sobre ser quem se
é sempre tarde demais.
Sou tarde demais mas sei que
ainda é cedo para dizer que
apenas postumamente a glória virá.
Amanhã,
amanhã eu farei tudo de novo da
melhor forma possível,
única aptidão que tenho para poder
realizar e transformar tudo o que sou.

Silêncio Falido

O silêncio desabafou comigo:
Faço companhia para a solidão
das minhas coisas e desabou
meu céu teto abrigo como
chuva num insalubre domingo.
Fiasco existencial,
fui fraco enquanto o fracasso
da humanidade respingava em
meu quintal, 
também tenho culpa e tampouco
tentei ser melhor mesmo
sabendo que um dia o mundo
iria acabar, porém, as circunstâncias
do fim acabaram comigo antes
do tal apocalipse total dos Homens.
Assim o planeta azul de tantas
águas desaguou, caiu por terra
em pranto comigo.

Não há mais
liquidez
para suportar
tudo isso.

Ambos e nenhum

Ah! Eu absolutamente nada mais
desejo da vida.
Há dias como este de total desapego
ao o que antes nos fazia (querer) viver.
Eu hoje nada mais quero, ou antes,
a partir de agora eu nada mais
espero da vida.
Nem mesmo a morte nesse dia
me interessa (existo nesse instante
como um glossário de significados
vagos para a consulta de claviculários
a procura da chave certa para uma
saída ainda não encontrada).
E antes de querer o nada,
eu nada quero.
Eu neste momento apenas assinto
em sentir que esse sentimento de,
nem de fuga e menos ainda de busca,
mas esse sentimento de recolhimento
em mim, poderia significar que é
chegada a hora de morrer,
porém, nem mesmo a ação da morte
sobre mim, ou a ação de partida daqui,
de mim em direção a ela,
é algo que eu possa desejar.
No momento eu sou àquele livro
que na pequena biblioteca de alguém,
ávido leitor, está lá na prateleira
da estante como sempre esteve,
mas jamais foi lido outra vez desde
a única vez em que teve suas páginas
analisadas há muito tempo,
mas não se sabe quanto, nem quando,
e menos ainda por quem.
Eu sou este livro que está lá
e nunca mais será aberto outra vez
e por isso é imensamente feliz
em saber que agora intocável
ele tem para si o total desprezo
do ao redor que sempre desejou.
Eu estou nesse livro naquelas
páginas que se aproximam do fim,
e esse livro sempre esteve no 
início de tudo,
tudo que um dia alguém,
relacionou a mim.
Somos o mesmo e ambos nenhum.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Para todos os sempres

Ainda é cedo agora
muito embora
daqui a pouco
antes da hora
muito em breve
será de fato
tarde demais.
Cedo para morrer
tarde para recomeçar.

(Será que será sempre cedo para morrer tarde demais?)

De repente
ainda agora
cedo demais
já pode ser
tarde.

Tarde para ser o que cedo
se percebe aquilo que jamais
será?

Não nem nunca,
mas sim também
e muito provavelmente
talvez.

O poema acaba agora
muito embora
a poesia seja
eterna.

Mas não obstante
todo o tempo disso
tudo,
sabe-se há muito
que nem toda 
eternidade é
para sempre.



dEus mesmo

Da presença de Deus quando estamos
a sós:
Vós é vozes dentro de mim,
voz da razão...
da razão da minha loucura endêmica.
Fosse um templo minha cabeça
falta-me colunas e sobra
indisposição para sustentar
alguma crença.
Se existe algum Deus a esmo
dentro de mim,
uma voz na minha cabeça
me diz que esse Deus não pode
ser outro senão eu mesmo.

Prótese (ou heterônimo)

Reveses às vezes pelo
caminho do sempre eterno.
As vezes que não, é quase
tão nulo quanto supérfluo.
Sorte na vida!
naquela qu'eu busco um dia
ainda viver:

Ser rico e profano, digo, profundo,
ao invés de pobre e santo, digo,
pobre e raso;
Ser tido como de uma espiritualidade
única, e não ser ou parecer como um
niilista inútil e fracassado.

Não ser poeta!
Não ser de poesia.

Ser mais prosaico,
orador de palavras elegantes,
abrangentes,
ser dono de palavras que testemunhem
um real sentido de um vínculo
verdadeiro com a realidade dos fatos.
Mas ao contrário vivo a ser
um pensador de sínteses co-inventadas
por um vocabulário pobre e quase raro.
Chega dessa minha 
metafísica canastrona,
eu quero é potência de verdade,
não só vontade,
quero ser maior e melhor do que
todas as minhas bobagens existenciais.

Chega de mim!
Eu quero ser outro.

Do meu eu verdadeiro
eu quero ser prótese.

Versos Versus Versos

Há versus e versos.
Eu sou verso,
Inverso
Anverso
Re-verso,
Verso ante
e pós verbo.

Sou versus,
sou verso poético,
poética!
Sou verso disléxico 
Simetria Poética Disléxica,
sou verso
sou versus métrica.
Sou versos sou versus
que versa,
verseja
num posto de contracultura
à cultura de adoração,
adulação da métrica.
Sou verso versus ao
academicismo da poética,
sou versus, sou contra e,
que seja, sou voto nulo
se querem poesia correta.
Que se fodam!
Lavo minhas mãos se querem
admitir que possa haver 
regras dentro da poesia.
Sou verso e por ser sou versus,
assim me calo,
jamais escrevo
de novo (e nesse universo),
eu me mato!
me mato nos versos,
e como autor,
minha morte
como poeta eu 
endosso.

Indensidade

Sou um apaixonado por papéis,
por folhas de papel, cadernos,
lápis de cores, lápis preto,
tintas, pincéis...
Toda a possibilidade de tudo e
qualquer coisa, do centro do
planeta até o mais longínquo
cometa a desbravar o universo,
tudo se apresenta numa folha de
papel em branco, uma tela branca,
nua...
Poetas e pintores, artistas plásticos,
são deuses, são diabos, são Homens,
animais artísticos, arteiros, artérias
que sangram arte, que pulsam expulsam
arte por onde quer que caiba o estro,
a verve, e onde a arte não cabe cabe
ao artista inventar espaços e universos
infinitos de todas as possibilidades de
toda e qualquer arte.
E para mim, contudo e no entanto,
o quadro mais bonito, o poema mais
bonito, qualquer forma de arte escrita
e pintada, para mim, como disse,
é uma tela virgem e uma folha de
papel em branco,
pois minha imaginação é a reprodução
artística que ali atinge, que aí a tinge.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Afrutificação

Fico a olhar para o silêncio
pensando em tudo aquilo que
eu jamais pude ser.
O silêncio que queria ser barulho
pensa junto comigo se não seria
melhor o suicídio ao invés de
ainda tentar ingenuamente viver.
Mas faço um esforço maior do que
a ideia da morte e levanto cedo
diariamente para trabalhar até tarde
buscando assim algum significado
na vida. Ter.
No fim de cada dia de luta volto
cansado para casa sempre numa
total desolação absoluta.
A tristeza que se fez minha melhor
amiga e minha maior filosofia,
me acompanha na rotina de aguentar
tamanha existência absurda.
Mas sempre finjo suportar e demonstro
vontade, força e força de vontade
para quem eu sei que em mim
acredita.
E o silêncio continua a fazer
música de toda essa minha mímica
acústica surrealista.
Viver é um fardo, fato, e fato
consumado no empirismo diário de
cada tentativa, mas penso e quero
gritar, mas não grito e penso
alto comigo:
O que me adiantaria morrer assim
tão desconsolado e desconte com
tudo e comigo, se posso ainda viver
e tentar mais uma vez amanhã e
depois naquilo que me resta de futuro?
E minha última tentativa será daqui
pra frente viver como vive e existe
uma árvore que sabe que pertence à
família das espécies de árvores que
não dão e jamais darão frutos.

Soneto

O que havia antes de nós, antes
de tudo que se sabe e percebe?
Na época, no tempo do nada,
tudo, o todo era utopia.

Hoje só me interessa o nada.
Fazer um soneto sem usar
rima alguma. Quando saberei se
é mais fácil assim ou rimando?

Em que ponto de contestação do 
nada que se deu o ponto de partida
para pôr fim a inexistência das coisas?

Hoje só me interessa a poesia.
Se tudo que resiste hoje ainda fosse
apenas literatura, estaria satisfeito.

Olhos Escuros

É frio o
sangue (falso)
azul clarinho de
Deus da mesma
cor (falsa) da
íris dos olhos
de Jesus menino
filho bastardo preto
e pardo e humano
de sangue vermelho
e quente como
sangra triste
todos nós.

Alma e Lama

Eu não acredito em Deus
mas acredito em mim,
se Deus não acreditar em mim,
só precisa do poder de 
crer em si mesmo
para tudo entre nós
ficar perfeitamente
equilibrado,
e digo que ele é humanamente
capaz de tal crença,
uma vez que eu também
sou: Divino!
Somos dois em um
sendo um o mesmo
que o outro acredita
ser.
Somos iguais,
pois um diferente
do outro é o que nos 
torna comum.

Retorno sem volta

Antes do pra sempre
já é o tempo que
nunca morrerá.
Depois,
tudo que vira depois,
será sempre o mesmo
tempo morto de sempre.
Após isso nada mais é.
Observe o ciclo:
ante o antes da eternidade
nada mais há. Por ora...
O fim que ainda não acabou,
assim, agora,
a vida me parece bastante.

Saber o Tempo

Efêmera é a carne que
definha, atrofia e apodrece,
o corpo humano, animal,
vegetal, a matéria...orgânica (?)
Talvez os fungos se relacionem
com o tempo de alguma
maneira de uma forma
diferente, desconhecida.
Mas alguma coisa diz para
mim, aqui dentro, e que seja
a loucura, que internamente
tudo será eterno.
E eu ainda me mato a tempo
de saber a desfazer esse erro:
saber o tempo certo de nunca
saber quando jamais acabará
tudo outra vez.

Silex ex-

Sintomas se for
de dor que seja,
não se admira o
vermelho sem
ousar sangrar
para sagrar-se
vencedor.

Um Corte no Fio do Aço Frio da Lâmina,
uma Ruptura no Intacto da Alma e o
Metal faz-se Cravado no Peito como Lança.

E o coração antes
invicto em toda
batalha, agora
agoniza ferido,
abatido embora
ainda batendo,
desde que fora
apanhado.

Assim o Amor faz Doer e faz Saber que Ele
Sempre Vence qualquer Coração Apaixonado.

Então a paixão
do verso livre:
tolo o guerreiro
vira poeta,
vira a noite,
vive em tavernas,
se revira na cama,
vive ébrio de febre
e entrega-se
rendido aos abraços
da métrica.

De Obsidiana ou antes um Silex primitivo,
Agora uma Caneta Esferográfica.