segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Maior Amor

Maior amor maior
amor amor maior,
maior que ele
próprio mesmo
quando em face de
um ódio qualquer,
mesmo quando foste
medo e pavor de
ser ou de ter sido
amor menor,
mas nunca foste
amor menor,
foste mágoa,
foste raiva e
ira e foste tudo
isso sendo antes
de amor maior
paixão destruidora
e agente causa de
alguma dor,
alguma dor pior
se essa não fosse
já sintoma de
um grande e
absoluto
amor maior amor.

Amor amor maior
absoluto e grande
e sintoma já
se não fosse essa
pior que dor alguma,
alguma dor causa
e agente de uma
destruidora paixão
e maior amor maior
sendo antes e foi,
foi irá e foste raiva,
foi mágoa mas 
amor menor nunca
foste,
e o pavor de ter
sido medo quando
foi um ódio qualquer
quando em face
dele próprio,
dele mesmo
sendo maior,
maior que o
amor maior
que ele mesmo
jamais foste.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Sobre Viver

Cansado de me matar
para viver,
e o cansaço,
pior do que a própria
morte,
só não é pior do que
estar vivo para morrer
de novo, 
e de novo, rotineiramente.
Sobreviver a própria vida
é como sobre viver a própria
morte.

Sobre(viver) como rochas que
não podem morrer.

Como rochas se jogando
de um penhasco para
morrerem no mar,
e pelo resto da
existência elas
irão viver ali,
no fundo do oceano.

A razão de partir é nunca mais voltar,
e isso não é sobre morrer,
tudo é sobre viver,
como um fluctívago sobre o mar...

Desde Quando (antes fosse assim sempre)

Enquanto muitos precisam de
Deus,
eu me desfaço da necessidade 
de um,
ou do mesmo Deus dos outros.
Abro mão, de braços abertos 
para a libertação,
do Deus criador de tudo e de 
todos.
Eu o renuncio, e o Deus
destituído por mim,
segue firme castigando o que
resta do seu rebanho.
Eu, filho da terra, sigo só,
enquanto o papai do céu
olha por mim,
olha para mim
com ternura e desprezo tóxico,
do mesmo modo eu o encaro
quando peço perdão,
mas Deus não me perdoa mais
desde quando me perdeu.
Desde quando eu me encontrei
Deus não me castiga mais,
e Deus aos meus pés sabe
que juntos,
nós dois,
nunca mais.
Como antes nunca mais,
e como nunca,
antes fosse assim sempre,
mas nunca foi
nem sempre será.
Mas por hoje,
só por hoje,
o Deus dos outros
por mim e para mim,
a respeito dele e
de mim mesmo,
Eu afirmo jamais.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Alteridade

O que é o que é
o que não é e
pode ser:
o jamais;
o nunca;
o sempre;
o todo;
o talvez;
o nada;
o tudo, o sujeito
você, o Eu,
o ser sim não ser?

É o que era
era o que será
será o que foi
foi o que é,
mesmo o Não-Ser
existindo,
ou a não ser que
já seja o que
nunca será,
mas sim e não,
o existir sim
poderá ser,
talvez e quem
sabe,
o tempo o seja
por toda a eternidade
o que jamais agora não é...
e sempre.


sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Um Quantum

Atrasa o tempo,
traz atrás à frente,
afronta o futuro,
o trai, 
e atrai assim
pro presente
um tempo a mais,
um terço ou
um quarto...
ou seja,
um quanto,
um meio para
ter nesse instante
um intruso momento,
um tanto de um
tempo novo, 
ou pelo menos
diferente.


sábado, 8 de janeiro de 2022

Jazzem

Instrumentos de sopro no
vácuo,
sem fôlego todos sucumbem
silenciosos intactos.
Os de corda, sem cordas e
acordes, enforcam-se
desafinados harmoniosamente
e fazem música da morte na
morte, a sorte da vida a voz
das melodias todas não temem,
não pedem socorro e
jazzem tristes como blues,
heróicas e estoicas como o
punk rock faz por ele mesmo
acontecer.
Os metais todos, calados pensam
pesados, pesarosos e surdos pelo
heavy metal que soa, ecoa, ressoa
pelas distopias reais imaginadas
por músicos e poetas e orquestras,
orquestram e arquitetam planos
para cada amanhã novo,
novas e supernovas utopias,
outras vias para viéses existenciais
devoradores de lógicas e ideologias
e cosmos e caos.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Palindromia

Um contra todos:
contra um contra,
todos contra, um.

Um contra
todos contra,
um contra,
todos,
contra um.

Um contra,
todos contra,
um,
contra todos,
contra um.

Um contra todos
contra, um contra
todos, contra, um.

Um contra todos,
contra um contra,
todos contra um...

Conto de Fábula

Era uma vez um Deus
Era uma vez um Anjo
Era uma vez uma Virgem
Era uma vez uma Gravidez
Era uma vez um Filho
Era uma vez uma Missão
Era uma vez um Destino
Era uma vez um Povo
Era uma vez uma Salvação
Era uma vez o Amor...

Era uma vez o Sistema
Era uma vez o Poder Estabelecido
Era uma vez uma Cruz
Era uma vez uma Crucificação
Era uma vez Cristo Jesus...

Era uma vez o Amor
Era uma vez um Amar
Era uma vez Não é mais
Era uma vez Acabou
Era uma vez Uma Vez
Era uma vez Nunca Mais.



quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Pranto Pálido

Insta véu a face
para disfarçar a
ira,
disfarce vexame
para cada fase
quando instável
a tez:
a ver 
avermelhada,
assim,
ora rubro o riso
desespero, ora
pranto pálido em
desapego ao sal,
líquidos sorrisos
poucos, estúpidos
sempre e
felizes ex-...

Quando retira o escuro véu
para ver,
a tristeza olha com olhos que
dizem adeus.

Meu Deus sou Eu

Sangro falso como
santo postiço.
Vendo minha imagem
como vendem a de
ídolos católicos.
Meu vazio interior
como uma grande nave
de uma imensa catedral
repleta de Anjos assassinos
de Deus e Demônios adoradores
do mesmo Deus morto,
ali, Jesus não foi para a cruz,
mas pregou seu destino nela
e foi para o gueto levar uma
vida patética e altruísta.
Esse gueto anexo da grande
nave, vai desde meu vazio
até o vazio dos corações
partidos dos adoradores do
Deus morto.
Eu não existo internamente e
observo toda essa cena que se
passa agora e sempre,
de fora,
de cima,
do alto...
como um verdadeiro Deus vivo.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Onde Aonde

Fraturas ex-postas em arranhões,
feridas em face 
de farsas e a existência 
em fases de ênfases,
máximas falsas e enfáticas que
desdizem-se afirmando ser azul
o vermelho ferro do sangue.
Haicais tão profundos quanto
uma conversa entre navios de
plástico encalhados no raso do
mesmo cais.
A vida hoje faz-se assim,
neutra, nula, omissa, boba, rasa,
pseudo casta e conservadora. 
Hasteio minha ideologia onde
todos possam ver minha bandeira...
e grito, subo alto e grito,
piso firme e afirmo...me,
firmo o passo e sigo,
vou e volto e busco...me,
busco-me onde aonde todos não vão.
                    

Morrer Matar

Eu irei morrer
(de amor) nesta vida.
Obviamente não.
Irei condená-la 
(a vida) a morte
todos os dias, e
quando (por amor)
não mais querer viver,
nem morrer, 
hibernarei congelado
em algum poema-cometa
e quando chegar perto do
ouvido de Deus,
deslizarei pela espiral
de sua orelha e voltarei
para cá, para morrer matar
em ódio a raiva de sempre
estar a querer (viver) de
amor uma existência toda.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Sobre poetas e demônios

Algumas vezes já fui
Neruda e, assim como
Pablo, também já fui
Augusto, dos Anjos. E
de outros demônios
que vivem nas ruas 
que passam ao largo
de tudo mais que posso
ser já fui amigo,
amante e confidente
fiel de todos os tormentos
que afligem os demônios
e os poetas também.
Quanto a mim...?
espero um dia qualquer
também poder sê-lo.