domingo, 30 de julho de 2023

Futuro Póstumo

Adoeço a cada passado novo que
se levanta atrás do tempo que já
existi. A dor à esmo...sei que há
dores existenciais que debocham
do sofrer que se acumula em mim,
mas eu às desprezo e elas prenden-
se assim ainda mais em mim.
Eu me mato...e...me salvo desse
fim todos os dias, resoluto, pareço
indissolúvel, me reconstruo nas
lágrimas que tecem prantos por
mim, uma vez que jamais soube
chorar. O futuro que se levanta
a frente traz sombra sobre meus
horizontes, sombra de uma luz
de um tempo ainda mais distante
e que conhece caminhos breves
que desembocam em travessas
arborizadas que levam para a 
eternidade. 
Mas se a eternidade é meu fim
então saberão aqueles que vivem
felizes por tempos indeterminados
que certamente ontem eu já morri.
Ignorando as minhas certezas eu 
digo que se nos presentes da vida
eu já fui triste, eu compenso meu
futuro póstumo morrendo feliz.

terça-feira, 4 de julho de 2023

Voltar Atrás

Já fiz todas as minhas escolhas,
revi minhas renúncias e jamais
voltei atrás, mesmo sempre
pedindo desculpas. 

Todas minhas dúvidas sempre
se mostraram muito mais 
capazes do que todas as minhas
malfadadas certezas.

Já cometi alguns erros e acertei
sempre que pressentia que ia
errar:
Do meu Destino Deus sabe...
e ninguém sabe dizer se 
realmente Ele existe.

Mas eu confio em mim, e sigo.

Embora não acredite também
em Deus.

Qualquer Horizonte

Quando o dia não for hoje,
ontem menos e amanhã
tampouco. Impossível.
Quando eu não for mais
o mesmo e quando nem
ao menos houver mínimos
vestígios da minha
existência, aí então
quem sabe nada mais possa
me afligir. Impossível.
Quando não é a alta ansiedade
é a baixa autoestima;
quando não é a minha mínima
participação em qualquer
satisfação por estar vivo,
é a minha máxima culpa
em estragar tudo, sempre,
eu presente ou à revelia.
Quando não eu,
outros eus me antecipam.
Posso ser muitos e variados
tipos de um mesmo eu
sempre perdido. Impulsivo.
Sou promessa sem rumo,
não aconteço por onde passo
e jamais caibo em nenhum
futuro.
Não sou presente e
não tenho passado.
Abstenho o tempo.
Observo e absorvo
qualquer horizonte,
então abstraio o que
pode ser absurdo
ali e assim me
reconstruo e sigo
sempre absolutamente
destruído.
Sou poeta sem rima,
não metrifico o verso
por onde escrevo e jamais
caibo em nenhum poema.
Sou verso solo, infértil...