quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Terceiro Dia

Morri por amor quando tentei
viver sem amar:
-Quando alguém que me amou
morreu por amor pelo amor
qu'eu jamais fui capaz de amar:
        morro por esse amor
        todos os dias e morrerei
        enquanto nesses dias o
        tempo dessa existência
        durar.

Ínterim Retroativo

De depois de amanhã
até anteontem e
desde    hoje
em dia
(ou um outro ontem)
em diante:
Todo  Instante
         é
Todo  Instante!
           e a qualquer momento
           não será mais ou nunca
           foi ainda em tempo algum
           presente que nos prepare
           para tudo aquilo que já
           passou mas que
           doravante irá se perpetuar
           como legado nosso
           para a eternidade.
        

Temporal

Planos para o futuro
já não mais estão em
voga,
planejar o que virá é
quase inútil e fora de
moda,
o que há de mais moderno
agora é saber planejar
bem o passado.
Meu presente é jamais
saber onde irei determinar
tudo isso...e meu
passado é amanhã logo cedo
também, e quando for tarde
demais já não mais terei
tempo demais para suportar:
Todos os dias eu morro cedo
e vivo sempre
(por muito tempo) tarde demais.

Poética

Minha solidão é um ídolo caído.
Minha solitude sou eu anti-heroi
derrubando ídolos.
Meu alter ego é um ídolo alado,
meu ego um totem primitivo que
jamais foi adorado,
e quando sozinho madrugada
adentro adora a escuridão do
universo devorando o brilho
de todas as estrelas.

Minha tristeza é um Deus abandonado...

Existência Etérea

Minha existência é pesada demais
para toda e qualquer droga suportar,
e mesmo sendo uma verdadeira
heroína, minha vida absteve-se de
mim para assim poder se curar do 
seu vício em minha adicta existência
que, por sua vez, viciou-se em abstrair
do destino do meu devir toda e qualquer
grandeza.
Eu quero a química do éter que
preenche tudo: minh'alma universal!
Minha alma enamorou-se pela
possibilidade de jamais existir
outra vez, e quando então meu
corpo já estiver morto,
ela voltará a ser a essência da
fumaça do cachimbo de algum
maldito Deus viciado.

Traço Estranho

Por onde escrevo entoo versos
sempre bem ditos e se minha
pena é maldita a culpa é dos
meus dedos tortos e retorcidos,
gastos no ofício diário de se
fazer poesia por onde insiste
os meus passos:

Por onde passo ressoo
Por onde soo repasso
Aonde caibo destoo
Destrono o sonho distópico.

Passado à toa o presente
o futuro é sempre utópico,
e o pensamento preso num
tempo nem sempre tão próximo.

É nostalgia que sinto se a
gloria de novo for póstuma:

Renasço aço de novo de novo
inoxidável como um Deus poderoso
mas sem viver a admirar o próprio
retrato:
              a face de Deus é ridícula
              e o meu rosto é belo,
              Ele me fez preto ou pardo,
              traço estranho e sem nexo
              e tampouco há salvo engano,
              pois se diz ser um Deus
              branco com o cabelo amarelo?

Parábola da Lâmina Cega

Deus é o punhal;
Nós somos a bainha;
A Religião o cinto
e o Medo do Desconhecido
é a cintura.
A Mão que empunha o punhal
é a fé, 
e a vontade compulsiva de
sempre usá-la é a Crença
na lâmina, afiada ou não.