sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Poesia outonal

e fica cinza o céu das minhas magoas...
minha conturbada e nublada alegria de viver se encanta com o impulsivo ato de narciso em cortar os pulsos com cacos de espelhos quebrados, com a extinção de Macondo, o terrível destino dos Buendías, a solidão...
e fica cinza o céu das minhas magoas...
minha tristeza como passatempo, meu tempo inerte e voraz, as certezas angustiantes das minhas derrotas eminentes e verossímeis, a dor...
e fica cinza o céu das minhas magoas...
o passo em falso que dou por temer prosseguir, a culpa que me culpa por não admitir a minha desgraça poética, o desejo de matar-me até o entardecer, a razão...
e fica cinza o céu das minhas magoas...
o prognóstico do espelho, o uso contínuo de estimulantes depressivos, a cólera da minha calma insuportável, o uso do tédio como algo para fazer, a libertinagem de minhas virtudes dogmáticas, a alienação...
e fica cinza o céu das minhas magoas...
a ingrata compaixão, os escrúpulos corrompidos na ambição de tentar ser sempre otimista, o sentimento maquiavélico, a tortura da rejeição, o profundo desejo de seguir incompleto e a incapacidade diante da minha perdição, o amor...

e fica cinza o céu das minhas magoas.

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