sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Primeiro Poema Último

Eu poderia agora escrever
o último poema do ano,
escrever o último poema 
de agora, da vida,
escrever meu último poema
hoje e fazer dele o
último poema que escrevo.
Mas talvez de todos meus
últimos poemas esse seja
o que eu menos goste,
e o último para ser o
último verdadeiro precisa,
me parece,
parecer melhor do que o
primeiro.
Mas deixo para o próximo 
ano o meu primeiro poema,
o primeiro de todos,
todos aqueles que me
levarão para o último,
para o túmulo, 
e também assim me trarão 
para esse aqui,
meu último poema,
... primeiro último...
poema último,
poema. Primeiro...


Ou Isso Ou Esse Ou

Sorrir isso ou esse
ou
isso de sorrir
quando nisso
o riso do 
pranto disse:
-o bom de ser não é!
Sou ruim,
ouso ser real 
ou sou assim
torto igual
assim tolo
igual a todo
o ruim de
todo o ser
ruim real.
Não só sou, tanto,
como sou só, tanto
também, 
e muito pouco sou
só isso ou esse ou
aqueloutro afinal.

Eu céu vazio maior

Sob o céu atmosfera, o céu anil,
o maior deserto de todos.
Também o céu acima,
fosso maior                   (que eu?)
onde tudo flutua,
deserto maior de todos.
O céu é maior que tudo
nada é maior que o vazio.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Zumbidos palmarès

Amar ainda que não,
viver ainda que não.
Tentar, sempre...
sempre tentar,
ainda que não,
para não morrer,
jamais, não mais,
ainda que vivo.

Mudez

Em silêncio pede berço,
beijo ou
pede peso de volta e
perde de novo:

O Silêncio Perde Peso!

Pesa menos em si,
pesa se sim ou se
não, o silêncio,
pensa se 
cabe (caberia) em
si se
não 
perdesse peso e sim
ganhasse. Tempo,
tempo para si.

Tempo Para Ser Um Gordo Silêncio,
imenso,
imenso em si,
imenso enfim,
imenso imensuravelmente
sensação de voz,
ser...mudez.

Sangues e Suores

Tanto andou os pés e
apenas cansou as pernas.
Os braços lançou-os ao
horizonte e não alcançou
um abraço sequer.
De tanto que gritou que
apenas perdeu a voz,
agora em silêncio marmóreo,
perde também a vez junto
àqueles que ainda podem gritar.
Os olhos cansados de serem
observados por uma junta de
sombrios clarões conservadores
convertendo-se em escuridão
densa e palpável,
lançam-se em outras visões
menos vilipendiadoras,
mas quando pensam poder ver
diferentes coisas,
acham-se diante de espelhos
curvos e pardos e estes espelhos
refletem desprezo como
admiração e sinceros elogios
como vis escárnios.

Vã glória viver louco em sã guerra!
Vanglória em san'guerra,
inglória,  suores, sangues e guerras.

Vencer na vida e perder-se
na guerra que é viver,
sangrar em tinta e pintar
um quadro vermelho vivo
para a morte,
pintá-lo, pintá-lo agora e 
sempre, ou por enquanto
apenas, enquanto sangra.

Sangro o hoje e alimento-me
dele agora e deixo para querer
morrer amanhã, mas quando
me acharem saberão que foi
ontem que morri...
e uma vida toda pela frente
ficou pelo caminho,
como pernas cansadas,
de pés que muito andaram,
os braços esticados pediam
por algum amparo,
pendiam pro desespero
embora calmos iam percebendo
o destino.

Um contra o outro ou de encontro,
ou pelo menos assim deveria...ser,
sei lá...
acredita-se,
muito tempo depois,
que o destino e o viajante,
juntos se perderam.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Amanhã será Ontem

Passado é no
futuro, pois o
dia de hoje
amanhã será
ontem.

Amanhã será ontem!
Hoje será ontem amanhã!
Ontem era amanhã hoje!

Q u e   Dia  é  Hoje  me
pergunta o calendário
depois do poema, desse.

Mais que passado

Desde sempre tanto tempo
tendo passado e a vida a
olhar pro futuro, típico olhar
viciado. O amanhã eu quero
hoje do mesmo modo que
ontem pela janela do meu
quarto eu observara o hoje
me desafiando a querê-lo
antecipado, eu o quis como
vício, desejo antes do tempo
o depois de todas as coisas.
Desde sempre antes do tempo
é característica do passado,
entre mim e a ansiedade
amanhã e morte...
Eu ansiedade sem pressa,
com alguma calma sou de
um tempo sem tempo algum
determinado.
Desde sempre,
característica de minha alma,
eu ansiedade sou do tempo
um viciado.

domingo, 12 de dezembro de 2021

Amorama

Amor vida
amor mata,
vive!
amor ama?

Mata-me o amor
apaixonado pela
vida,

mata-me quando
sobrevive,
quando sobrevive
apenas...

...vive apenas, sobre, e não ama.

Amor mata
amor morra,
amor vida, desengana.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Contextura

Desposa a solidão e
faz dela um templo,
vive junto aos seus
sonhos e fez deles
santos quando percebeu
ser o sonho o Deus
de todos os medos:
Deus é temor.
Eu temo te amo em sonho;
Eu sonho dizendo agora;
Sonho o amanhã dormindo hoje.
O medo desperta,
lança-me para um cotidiano ou
vórtice:
Eu voz eu calo;
Eu mudo eu grito;
Eu pés eu paro;
Eu estrada eu parto,
subvenciono meu ego subvertendo
a fobia em ilusão de que venço os
medos todos o tempo inteiro,
todo o tempo é mentira
e verdade mesmo é em tempo algum
toda a minha falsa valentia.
Eu danço minha última valsa
todos os dias,
eu canto com os cisnes meu
último canto todas as horas.
Versejo o que sente a vida
e pensa o mundo em minha poesia,
sempre e, em instantes raros,
também agora.
Ser o mais solícito possível
com a minha solitude ardil,
um altar,
um andor,
e à semelhança dela
um ídolo com formas
de um abismo cósmico
pendurado pelo templo,
com a mesma alma e com
o mesmo ardor frio.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Veículo Inerte

Erro raro, acaso e
caso a caso quando
busca ser outro, esse,
nunca passa de quase
ele mesmo:
Veículo inerte onde
as sensações todas se
misturam em sinistras
sinestesias para propôr
a esse que seja ao
menos, por vezes, 
agente de si mesmo.
Ele é o não é que
sempre foi sem muito
esforço existencial sua
melhor versão:
Não é outro senão ele
próprio;
Não é cópia senão
original. Porém,
quando foge das suas
buscas, passa a ser 
como outros, omisso
míssil irresistível,
um quase, um não,
um mesmo,
um mesmo como 
àquele igual.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Insane Consciência

Canções do escuro
e clarões em silêncio,
em suspenso (suspense)
a queda e o chão.
E suspeito de ser quem
é, a culpa que o acusa
de sê-lo, só existe 
mesmo quando em
momentos de lucidez
se decide deliberadamente
enlouquecer,
sorte ou outros azares ou
simples mente
asas à razão.
Quem é que não quer
ser aquilo que não se
pode acreditar?
Eu quero ser aquele que
irá desacreditar o mundo,
amar doer sangrar a vida,
decepcionar quem não
desconfia de mim,
cair pra cima após
tropeçar sem gravidade
nas coisas do caos que
começam, coisas imemoriais,
que começam a girar.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Neuroticismo

Eu sou o meu perturbador,
eu não,
eu sou,
não eu,
o meu perturbador.

Eu não!
Eu nunca,
hoje talvez seja apenas
eu mesmo,
não eu,
o meu perturbador.

Eu sou sim,
o meu perturbador,
antes já era eu mesmo,
mas quando disse
eu não,
eu mesmo não disse
eu não, foi o meu
perturbador,
não eu,
o meu perturbador.

Alta ansiedade em alta,
ânsias de um tempo em
alta voltagem,
eletricidade o ar que se
respira com dificuldade,
angústia e terror.

Eu sou sim assim
o meu perturbador,
pânico em paz em
minha cabeça,
tranquilidade é como
cocaína, tristeza e
tempestade, breve
como um ímpeto e
eterna como a 
liberdade, eu,
o meu perturbador,
livre sempre para me prender.

Como alguém outro,
livre e satisfeito,
que fica pensando
em como não, como
é não ser,

quando
              amanhã
hoje      apenas
              ontem.
Quando
              ontem
amanhã o
              hoje
ainda não
e já foi.

Algum dia quando não,
lembrarei qu'eu fui,
pra sempre, um dia,
o meu perturbador:

quando o semblante
do silêncio em total
desespero, e o desespero
calado pelo pânico,
sofrer por querer o futuro
como sofre a fuga do passado.

Denso e tenso o
tempo todo, inteiro,
dentro do intenso
de cada momento de
completa distopia,
o fim do mundo é
todo dia e todo dia é
véspera de ser
o fim de tudo de 
todo o eu,
o meu perturbador.
-Eu sou!