sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Primeiro Poema Último

Eu poderia agora escrever
o último poema do ano,
escrever o último poema 
de agora, da vida,
escrever meu último poema
hoje e fazer dele o
último poema que escrevo.
Mas talvez de todos meus
últimos poemas esse seja
o que eu menos goste,
e o último para ser o
último verdadeiro precisa,
me parece,
parecer melhor do que o
primeiro.
Mas deixo para o próximo 
ano o meu primeiro poema,
o primeiro de todos,
todos aqueles que me
levarão para o último,
para o túmulo, 
e também assim me trarão 
para esse aqui,
meu último poema,
... primeiro último...
poema último,
poema. Primeiro...


Ou Isso Ou Esse Ou

Sorrir isso ou esse
ou
isso de sorrir
quando nisso
o riso do 
pranto disse:
-o bom de ser não é!
Sou ruim,
ouso ser real 
ou sou assim
torto igual
assim tolo
igual a todo
o ruim de
todo o ser
ruim real.
Não só sou, tanto,
como sou só, tanto
também, 
e muito pouco sou
só isso ou esse ou
aqueloutro afinal.

Eu céu vazio maior

Sob o céu atmosfera, o céu anil,
o maior deserto de todos.
Também o céu acima,
fosso maior                   (que eu?)
onde tudo flutua,
deserto maior de todos.
O céu é maior que tudo
nada é maior que o vazio.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Zumbidos palmarès

Amar ainda que não,
viver ainda que não.
Tentar, sempre...
sempre tentar,
ainda que não,
para não morrer,
jamais, não mais,
ainda que vivo.

Mudez

Em silêncio pede berço,
beijo ou
pede peso de volta e
perde de novo:

O Silêncio Perde Peso!

Pesa menos em si,
pesa se sim ou se
não, o silêncio,
pensa se 
cabe (caberia) em
si se
não 
perdesse peso e sim
ganhasse. Tempo,
tempo para si.

Tempo Para Ser Um Gordo Silêncio,
imenso,
imenso em si,
imenso enfim,
imenso imensuravelmente
sensação de voz,
ser...mudez.

Sangues e Suores

Tanto andou os pés e
apenas cansou as pernas.
Os braços lançou-os ao
horizonte e não alcançou
um abraço sequer.
De tanto que gritou que
apenas perdeu a voz,
agora em silêncio marmóreo,
perde também a vez junto
àqueles que ainda podem gritar.
Os olhos cansados de serem
observados por uma junta de
sombrios clarões conservadores
convertendo-se em escuridão
densa e palpável,
lançam-se em outras visões
menos vilipendiadoras,
mas quando pensam poder ver
diferentes coisas,
acham-se diante de espelhos
curvos e pardos e estes espelhos
refletem desprezo como
admiração e sinceros elogios
como vis escárnios.

Vã glória viver louco em sã guerra!
Vanglória em san'guerra,
inglória,  suores, sangues e guerras.

Vencer na vida e perder-se
na guerra que é viver,
sangrar em tinta e pintar
um quadro vermelho vivo
para a morte,
pintá-lo, pintá-lo agora e 
sempre, ou por enquanto
apenas, enquanto sangra.

Sangro o hoje e alimento-me
dele agora e deixo para querer
morrer amanhã, mas quando
me acharem saberão que foi
ontem que morri...
e uma vida toda pela frente
ficou pelo caminho,
como pernas cansadas,
de pés que muito andaram,
os braços esticados pediam
por algum amparo,
pendiam pro desespero
embora calmos iam percebendo
o destino.

Um contra o outro ou de encontro,
ou pelo menos assim deveria...ser,
sei lá...
acredita-se,
muito tempo depois,
que o destino e o viajante,
juntos se perderam.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Amanhã será Ontem

Passado é no
futuro, pois o
dia de hoje
amanhã será
ontem.

Amanhã será ontem!
Hoje será ontem amanhã!
Ontem era amanhã hoje!

Q u e   Dia  é  Hoje  me
pergunta o calendário
depois do poema, desse.

Mais que passado

Desde sempre tanto tempo
tendo passado e a vida a
olhar pro futuro, típico olhar
viciado. O amanhã eu quero
hoje do mesmo modo que
ontem pela janela do meu
quarto eu observara o hoje
me desafiando a querê-lo
antecipado, eu o quis como
vício, desejo antes do tempo
o depois de todas as coisas.
Desde sempre antes do tempo
é característica do passado,
entre mim e a ansiedade
amanhã e morte...
Eu ansiedade sem pressa,
com alguma calma sou de
um tempo sem tempo algum
determinado.
Desde sempre,
característica de minha alma,
eu ansiedade sou do tempo
um viciado.

domingo, 12 de dezembro de 2021

Amorama

Amor vida
amor mata,
vive!
amor ama?

Mata-me o amor
apaixonado pela
vida,

mata-me quando
sobrevive,
quando sobrevive
apenas...

...vive apenas, sobre, e não ama.

Amor mata
amor morra,
amor vida, desengana.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Contextura

Desposa a solidão e
faz dela um templo,
vive junto aos seus
sonhos e fez deles
santos quando percebeu
ser o sonho o Deus
de todos os medos:
Deus é temor.
Eu temo te amo em sonho;
Eu sonho dizendo agora;
Sonho o amanhã dormindo hoje.
O medo desperta,
lança-me para um cotidiano ou
vórtice:
Eu voz eu calo;
Eu mudo eu grito;
Eu pés eu paro;
Eu estrada eu parto,
subvenciono meu ego subvertendo
a fobia em ilusão de que venço os
medos todos o tempo inteiro,
todo o tempo é mentira
e verdade mesmo é em tempo algum
toda a minha falsa valentia.
Eu danço minha última valsa
todos os dias,
eu canto com os cisnes meu
último canto todas as horas.
Versejo o que sente a vida
e pensa o mundo em minha poesia,
sempre e, em instantes raros,
também agora.
Ser o mais solícito possível
com a minha solitude ardil,
um altar,
um andor,
e à semelhança dela
um ídolo com formas
de um abismo cósmico
pendurado pelo templo,
com a mesma alma e com
o mesmo ardor frio.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Veículo Inerte

Erro raro, acaso e
caso a caso quando
busca ser outro, esse,
nunca passa de quase
ele mesmo:
Veículo inerte onde
as sensações todas se
misturam em sinistras
sinestesias para propôr
a esse que seja ao
menos, por vezes, 
agente de si mesmo.
Ele é o não é que
sempre foi sem muito
esforço existencial sua
melhor versão:
Não é outro senão ele
próprio;
Não é cópia senão
original. Porém,
quando foge das suas
buscas, passa a ser 
como outros, omisso
míssil irresistível,
um quase, um não,
um mesmo,
um mesmo como 
àquele igual.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Insane Consciência

Canções do escuro
e clarões em silêncio,
em suspenso (suspense)
a queda e o chão.
E suspeito de ser quem
é, a culpa que o acusa
de sê-lo, só existe 
mesmo quando em
momentos de lucidez
se decide deliberadamente
enlouquecer,
sorte ou outros azares ou
simples mente
asas à razão.
Quem é que não quer
ser aquilo que não se
pode acreditar?
Eu quero ser aquele que
irá desacreditar o mundo,
amar doer sangrar a vida,
decepcionar quem não
desconfia de mim,
cair pra cima após
tropeçar sem gravidade
nas coisas do caos que
começam, coisas imemoriais,
que começam a girar.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Neuroticismo

Eu sou o meu perturbador,
eu não,
eu sou,
não eu,
o meu perturbador.

Eu não!
Eu nunca,
hoje talvez seja apenas
eu mesmo,
não eu,
o meu perturbador.

Eu sou sim,
o meu perturbador,
antes já era eu mesmo,
mas quando disse
eu não,
eu mesmo não disse
eu não, foi o meu
perturbador,
não eu,
o meu perturbador.

Alta ansiedade em alta,
ânsias de um tempo em
alta voltagem,
eletricidade o ar que se
respira com dificuldade,
angústia e terror.

Eu sou sim assim
o meu perturbador,
pânico em paz em
minha cabeça,
tranquilidade é como
cocaína, tristeza e
tempestade, breve
como um ímpeto e
eterna como a 
liberdade, eu,
o meu perturbador,
livre sempre para me prender.

Como alguém outro,
livre e satisfeito,
que fica pensando
em como não, como
é não ser,

quando
              amanhã
hoje      apenas
              ontem.
Quando
              ontem
amanhã o
              hoje
ainda não
e já foi.

Algum dia quando não,
lembrarei qu'eu fui,
pra sempre, um dia,
o meu perturbador:

quando o semblante
do silêncio em total
desespero, e o desespero
calado pelo pânico,
sofrer por querer o futuro
como sofre a fuga do passado.

Denso e tenso o
tempo todo, inteiro,
dentro do intenso
de cada momento de
completa distopia,
o fim do mundo é
todo dia e todo dia é
véspera de ser
o fim de tudo de 
todo o eu,
o meu perturbador.
-Eu sou!

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Paralelo

Me confundir com outros
que valem tanto, porém,
tolo do ouro que se acha
valioso avaliando aquele
outro com quem se 
confundiu.
Logo eu, típico de um 
tipo raro de mim mesmo,
confuso convenço a sombra
de ser luz e do outro lado
a silhueta dela,
desenhada em brilho a sua
forma.
Confundo, não há mais olhos
para tantos espelhos, espelho
o mesmo olhar olhando para
si mesmo.
Não há mais olhos,
espelhos refletindo-se
admirados, existindo admirados,
presos para sempre em
labirintos deles, neles mesmo.

domingo, 21 de novembro de 2021

Hostil Estilizado

Dormir com insônia
Acordar com sono
Sonhar com um
Pesadelo:
-aquele suicida morto,
que morreu de velhice,
Viveu sem glória
Trabalhou a vida toda
Buscou a existência
Melhorar.
Imutável, a vida dele,
jamais melhorou.
Acordou cedo demais
a vida inteira
para morrer tarde,
demais, ademais,
sempre morreu
sem nunca viver.

Perdoadas Pedras Não

A primeira pedra atirada,
quem nunca errou que
atire a seguinte,
e quando quem
apedrejado foi
exigir uma réplica,
soma-se a todos os
apedrejadores presentes
uma imensa pedreira
inteira de tréplicas e
mais pedras e pedidos
de respostas e perdão.

Mais é Vida

Para saber
mais
sobre quem
mais se
pode ser,
é
preciso muito,
além de muita
vida,
primeiro morrer.

Cuspa!

Cuspa às tuas custas
toda a culpa, própria,
carga karma sobre
as costas que carrega
a existência tua a tua
vida inteira.
Cuspa, cuspa...Fora!

domingo, 14 de novembro de 2021

Idem Idéa

O gosto daquilo
a mente degusta
doce. Um sabor
estranho de
alguma coisa na
cabeça, e jamais
saber o gosto 
daquilo que
nunca imaginei,
um pensamento
novo às vezes
amargo, o gosto
disso a mente
degusta doce.

Ontem Eu Partirei

Em qual tempo estou
quando               estou
            esperando
o ontem chegar?
O futuro chegou
e já foi e como
                     {não
sei à qual tempo
              pertenço,
eu espero o hoje
acabar para então saber,

assim
de
ontem
eu
partirei.

Mas somente quando amanhã chegar.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Defronte Daqui Distante

Quem sou eu em minha
cara, face a face frente ao
espelho? Exausto existo.
Quem sou eu em minha
carne, corpo a corpo só 
em meu leito?
                {Exausto existo.
Quem sou eu em minha
mente, cabeça à frente e
só em multidão de arcaicos
pensamentos?
                {Exausto existo.
Quem sou eu em meus
pés, passo a passo rumo
a...onde?   Exausto existo.
Quem fui ser eu em meu
tempo, tiquetaqueando
para a morte?
                {Exausto existo.

Meu passado tendo o
hoje como futuro,
e o presente em
gerúndio,
aonde poderá chegar?
Já não sei se apenas
exausto ou será mesmo 
que existo,
há sorte,
há azar,
há destino,
quem sou eu
agora aqui se
não apenas longe?

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Suicídio

A necessidade
                    de
NÃO
querer
   mais.

domingo, 31 de outubro de 2021

O melhor do mundo

Quer algo
a b s u r d
              {o?
               eu
o          pior

      melhor
     p o e t a
 domundo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Sou eu todos (os outros que como eu não são)

Moro longe de casa e
asa mora junto ao vôo,
como quando e onde eu
não pertenço,
tendo a pensar diferente
como, aonde e sempre,
e sempre penso
itinerante de novo.
Sou eu todos
os outros
que como eu
não são,
todos os outros,
sou eu todos...
os outros que como
eu não são.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Velhicissitude

Não preciso mais de outros
poemas para um poeta ser;
Não preciso mais de outros
amores para romântico ser;
Não preciso mais de tanto
                                    {tempo
para um velho ser,
nem quero mais tanta
                             {juventude 
para viver.
De certo prefiro eu a
                           {velhice sim
do que a juventude não.
Fui jovem quando jovem e
quero ser velho agora que
velho sou, 
do mesmo modo fui poeta
quando a poesia assim de
                                       {mim
precisou, e fui romântico
quando outros amores em
mim se amou.
Talvez precise ainda de 
                                   {algum
tempo para velho ser, mas
não quero mais razão
                                 {alguma
para existir,
quero a vida simples e reta,
curta e intensa, e então
                                   {depois
quero, e não abro mão 
                                    {disso,
singelamente morrer.

Paroxismo

Viva morrer de
delirium tremens
ou com e de
demência,
assim como a
arte abusa de mim,
eu abuso do uso ou
do querer o abuso
do uso de álcool e
de drogas, do uso
do cosmos e de um
paradoxo pós pró
paracosmo em mim,
pois a realidade não
mais foge, não deve
mais haver fuga 
em mim. 
Quanto ao abuso,
talvez já há muito...
ou quem sabe no
futuro, porém hoje
não, hoje eu já morri,
como já quis morrer
antes, como antes
também eu já existi.
Vivo a vida que
vive a morrer 
em mim,
mas morre a morte
de vida ávida e aguda
sempre que o abuso
volta a ter poderes
sobre mim,
sabe, o abuso,
o uso em que
experimento-me e
que me experimenta
o fim?


segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Ante Esfinge Tese

O todo pode ser
inassimilável na síntese,
isto dito em tese,
sugere que, talvez,
haja outro meio,
modo ou método
para dizer muito ou 
tudo sobre algo,
discorrendo pouco sobre.
Caros, eis a poesia,
a que tudo fala e
nada explica,
a que o todo explica
e nada fala.
A poesia pode ser
inassimilável na síntese,
na prosa e em versos
de qualquer natureza,
desde que seja lida apenas.
A poesia precisa para ser
precisa no que diz
ser sentida,
só se assimila a poesia
quando se sente e percebe
onde ela dói,
o quando que ela fala
e o quanto dela cabe em nós.

Perífrase

Tende a doer. A
arte tende a arder, 
e arde em dor que
tende a arte a ser,
e é dor que arde e
arde como o fogo
como o fogo
tende a carne a 
arder, e em arte
tudo tende em dor
ser e dor arde e
há de ser arte até
a arte de sofrer.
Há ser e ser há,
arte a ser dor e
será arte a arder
em dor enquanto
um quanto de
arte em mim
doer, e dói e
arde, e arte sim
há, um tanto em
dor em tudo que
tende a arte ser.
E sim, se há, 
tenderá a arte,
assim como arde,
tenderá a arte a doer.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Estação Amor

Versos de Amor
Inversos em Amor
Invernos de Amor
Vastas e várias
Versões de Amor
Outono primavera
E verões de Amor.

Aonde vou não sei,
nunca soube,
mas quero chegar
ao Amor.
Quero ficar no Amor.
O Amor que há,
o que haverá e o que
houve. 
Porém não vou partir
agora atrás,
pois já fui há muito
tempo e desde dado
instante eu voltarei
jamais.

Nada Mais Quero Ser

Do underground ao altíssimo
a queda e a ascensão é e será
sempre possível.
A queda do Diabo pela querela
com Deus e talvez a volta pra
lage, fugindo do porão,
por que não? 
Enquanto isso, nesse ínterim,
o Homem deseja ser ambos
sendo ele mesmo, e é.
Nada mais normal do que
seguir a sua natureza.
O Homem Deus é o Diabo,
e o Diabo do Homem por
muitas vezes é um Deus e
sempre ascende em queda.
Quanto a mim, o que sou e
o que quero parecer:
sou nem Homem
       nem Deus
       nem Diabo,
mas sim e só apenas Poeta...
e nada mais quero ser.





domingo, 26 de setembro de 2021

Outros Nós

baixos acima a cismar
com os que estão cá
embaixo, e não caem,
portanto, abaixo eles:
Deuses, Santos e Anjos 
torpes. Somos nós,
Homens, que com eles
devemos cismar. Mas
vivemos tão ensimesmados
com nossos demônios que
não paramos para
derruba-los. 
Em profundidade eu digo
que o céu é um oásis
vertical com outros seres,
porém não há glória lá
e tampouco (deuses) graça
para com nós,
como se precisássemos,
como quem existe apenas
em crença e precisa de quem
acredite para ser. 
Não creio e sou, e refuto 
quem queira em mim
acreditar. Sigo só em mim
junto a outros acreditando
na possibilidade de um dia
desaparecer, para todo o
sempre até nunca mais.
Até lá resisto existindo
a cismar com os céus.

sábado, 25 de setembro de 2021

A Deus ao Diabo

Quem queria um
Deus
só conseguiu
Diabo.
Quem queria um
Diabo
conseguiu um
Deus.
Quem quis um 
Olá
ainda não havia
Chegado.
E quem pediu
Companhia
só conseguiu um
Adeus 
e também um ao
Diabo.

Dark Dawn Síndrome

Síndrome drama,
tragédia trama azul do
céu e (dos olhos) cinza
nebulosidade,
prazer praxe pra ser plácido astral,
pra ser plástico autêntico
básico
bacilo (gérmen)
base pra zen artificial. Frase.
O poeta explica o poema-
   trata-se  de dizer como
   posso ainda em noite
   a manhã ser e como
   logo pela manhã posso
   eu anoitecer, e fazer
   na madrugada adentro
   o entardecer.
Mas costumo ser a noite
quando de costume a noite
esclarecida e déspota
obscurece as coisas,
folclore e filosofia
costuram as falas da noite
na língua da pena e 
essa quando fala
diz com um beijo na boca
da noite
fantástica poesia. Poema.
Fanática a noite fã de muita
psicodelia e cinza tristeza
vã ao longo da mesma ira e
virtude do vício doce ao
doce vício amargo de muita
cocaína.

Psique em chama.
Salvo os que estão vivos,
todos morreram...
e hoje já jazem recém-nascidos.
Síndrome drama.
Habitat para sofrer,
vida. Dromo.
Existência sustentável,
vidas reutilizáveis,
reencenação,
releitura de sempre a
mesma tragédia,
cortante e em (carne) viva trama. Cena.

A vida  enfatiza em face da morte
da morte faz-se a vida.
Anoitecer
Amanhecer
Crepúsculo Aurora
Pôr do sol
Púrpura obscuro,
cores da íris de um mesmo
olhar nos observando.
São os olhos do futuro de outrora,
hoje passado.
O futuro jovem de agora
já nos ignora com
outros olhos.
Ofuscados nós,
ou ofuscamos ele,
vamos até lá,
ou ficamos nós,
cá esperando,
como que embrulhados
para presente?

O mal a manhã anoite ou
amanhã à noite
bem de manhãzinha,
um dia o entardecer ou
a madrugada
ainda nos surpreenderá,
salvo àqueles que até lá
morrerem.

Somos Solares, eis a questão!

Anoiteçamos sempre
e um dia quando amanhã ser,
a manhã será.

Síndrome drama, indiferente
do que a madrugada for,
amanhecerá talvez. Ou não.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Nelson Rodrigues

Muita fé ou pouca,
                ou quase;
Um bom Deus,
se bom Deus fosse,
regular ou ruim;
Muito tudo nada e
porra nenhuma,
e a existência 
segue ávida como
ela é. 
Porém foda-se.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Asco Roso

...asco coisas saem em mim.
Odiaria amar em dor e ser,
e indoor em mim amaria o
ódio em raiva e terror, 
saberia dizer quanto tempo
leva o amor para doer.

Quando a
solidão
me pedir
em
namoro
eu estarei
pronto
para ir.
Mas as coisas saem em mim
antes...
Ensaio. Proto. Pioneiro.

A luz em brilho é o
vício dos olhos,
o brilho da luz é o
vício do olhar.
Escuridão é abstinência.
Mas as coisas saem em mim,
do controle, e sendo eu o
contrário, sei que é do
escuro que quero me drogar,
porém da noite escura eu
prefiro o luar a olhar
pros meus olhos viciados,
olhar adicto, piscando a se
picar de luz em brilho,
luz diluída no sal líquido
dos olhos de visão trêmula,
tendo tristeza como bandeira
preta a tremular, pois as coisas
saem em mim em asco. Todas.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Mais Gritar Mais

Um dia ainda
estouro os
tímpanos por
medo de dizer
tanto silêncio,
um tiro no 
ouvido,
um suicídio
ou não,
um abrir de
olhos talvez,
um barulho
ou não...
alguém decidido
a gritar,
viver ou morrer
tanto faz,
mas gritar e
gritar mais.

Depois do Antes

O que é mais
baixo do que
o auge da fossa,
do fosso...?
Ápice é o
instante antes,
é o estar a cair
do mais alto
penhasco para
o mais fundo
poço.

Fumódromo

Ao ar livre
para fumar
cigarros,
entre o céu
e o chão,
sempre até
o câncer.

Admirar o ambiente
como um observador
que está ali apenas
para passar os seus
cinco minutos de
direito de existir,
depois volta e produção,
produzir até a morte,
viver e trabalhar.
Graças a Deus.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Breve Prassempre

Entre mim e Deus
ótima cumplicidade,
do ódio ao amor;
do olá ao adeus;
da crença até a
desconfiança:
átimo eternidade.

domingo, 29 de agosto de 2021

Desacredite e Creia

Tua fé cega é testemunha
ocular de toda a tua desgraça,
ela tudo observa,
ela tudo regenera.
Jamais perder a esperança
e ser até a morte
resiliente em tua causa.
Tua fé cega é a responsável
primeira de toda a tua
(des)graça,
ela tudo cega,
ela tudo degenera.
Jamais foi esperança
e Deus é testemunha
ocular, pois tudo vê e sabe,
que tua fé é a causa
de toda a tua desgraça,
e nada será mais resiliente
do que ela até a tua morte.
Esperança é desespero.
Fé é medo.
Deus é placebo.
Você e só você é quem
de fato pode se achar
o todo poderoso.
Liberta-se e seja.

sábado, 28 de agosto de 2021

Das Coisas ao Caos

Hoje Depois
Ontem Agora
Amanhã Já Foi.
Versa a 
poesia que
subverte o
tempo e
assim faz-se
esse subversivo,
pois pôs
desordem na
cronologia
das coisas, e
das coisas
ao caos
jamais se
supôs.
Pois bem,
isso propôs
a poesia,
e não,
mas só talvez.

Nem Toda a Poesia

Muito pouco não
é obstante,
a noite cedo ou
tarde será dia,
enquanto de tudo
um pouco não
é o suficiente,
porque não é
o bastante nem
toda a poesia.

Livro Me

O livro
determino
de lê-lo
quando começo
a leitura,
por esse tempo
livro-me de
mim e
deixo-me nele,
em silêncio e
fúria.
Quando termino
de ler,
eu livre jamais
livro-me dele.

Quando

Quando 
            o
calor
       romper
com
o  fogo, o
    fogo 
com  o sol
      romper
com      o
    fogo   do
             sol
      romper
com  todos.
Quando.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Rebeldia

Meu adeus dado
à revelia,
pois talvez já fui
embora ou já vou,
déjà vu se me ver
pelo futuro:
-Vida Fuga Busca
e Morte. Cortejar
a despedida,
diariamente,
viver cada último
dia como se fosse
o primeiro.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Quimera

Decantou das nuvens
a chuva em grãos de
água e gotas de mais
água como em grãos.
Caiu sobre mim, 
singular como outros
singulares como eu,
decaídos (des)encan-
tados  sob  água  em
águas e mais, 
saudades do céu 
quando as águas de
um rio que nasce lá
nos acha aqui embaixo.
Saudades de casa.

domingo, 22 de agosto de 2021

Dicionário para dinossauros

Definição sob
análise
d e t a l h a d a,
deu-se no
contrário 
do sentido.

Dicionário para dinossauros
Explicando      Todo dia              Assim o   
o destino         o dia é                  fim chegou
do brilho          o dia todo            ao dia,
no céu              porém não          assim do
noturno            sempre nem       céu desceu
vindo.               todos.                   o fogo.

Mais,
mas menos,
bem menos
do que mais,
mas
mais sendo
menos,
então menos
é mais
mais.

Dicionário para dinossauros
Explicando
o habitat
único a
ser
destruído.

Muito depois
dos milhões de
anos idos
desde os
dinossauros,
hoje o futuro
dos Homens
também muito
em breve será
destruído.
Mas amanhã
talvez não,
e muitos milhões
de anos mais
à mais virão.

Dicionário para cyborgs
Explicando
o habitat
único a
ser
construído.

Definição sob
análise detalhada,
deu-se
no contrário
do senso.

Deu-se assim
adiante sempre
indo em
anti horário
(o tempo)
do presente
pro passado
passando muitas
vezes pelo
futuro, como
num ciclo
pós eterno.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Paralaxe

Homônimo   do   inominável
sinônimo do contrário 
de si, antônimo da própria
imagem, velha novidade do
mesmo dentro do que ficou
à margem fora do próprio
contexto, a fuga da busca,
ir embora antes de voltar 
pra casa, viver dentro do mais
belo sonho seu mais terrível
pesadelo. 
Paradoxo
da psique...
A cabeça parasitada por
libertadores pensamentos,
acalanto é punk rock,
alento é cocaína,
Deus é o demônio santo criador 
da graça de todos os pormenores
de cada verso único da poesia
que existe em todos os tormentos.
Para além de cada idéia há outros
pontos de vistas te observando...

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Farto de tanto de si

Ensurdecedor quase,
assim se deixa estar esse,
que querendo ganhar no
grito passa a se
manifestar fora de praxe,
enlouquecido aquieta-se
fora do eixo, inclinado já
há meses a uma nova
forma de ser.
Oscila entre silvos agudos
e graves gritos dissidentes
dos que antes calava.
Teme, mas quem não teme
um dia a voz perder,
ainda mais tendo, atento
como sempre, muito a
dizer?
Eu acalmo-me para ouvir,
assinto sobre os
fundamentos ensinados
por ele mesmo e passo a
ser todo ouvidos,
então o silêncio vasto,
farto de tanto de si,
divide comigo seu ego
em ecos fractais,
frágeis o suficiente para
me apetecer o que dizem,
ouço calado, como quem
entre ruídos tenta
concentrar-se para ver,
desse modo o silêncio
ensurdecedor quase,
comovido assim, deixa
estar esse a ser.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Póstumo

 ...é só aquilo que 
não é 
que é,
enquanto
            aquilo que
é,
não pode ser.
Jamais 
            será agora,
aquele que
nasceu  para      a
p o s t e r i d a d e.

Europa Europa

Amar-te ou Saturno,
Myanmar ou te querer,
partir, ir para longe
buscar o desconhecido
ou ficar, deixar todo o
resto de lado por você,
visitar o velho
continente, talvez uma
lua longínqua de um
planeta distante ou
ignorar tal aventura
para apenas lhe 
pertencer?

Eu vou, e o certo
é que por onde quer
que eu vá, levarei 
comigo o meu amor.

domingo, 8 de agosto de 2021

Ainda

Sempre é nunca e
pra sempre é 
nunca mais.
Muito cedo é
tarde demais
quando logo
cedo for por 
algum tempo
apenas jamais.
Muito em breve é
a eternidade
ainda, à frente,
do tempo futuro
que há pouco 
ficou para trás.

Eucaristia Não

Soo surdo mudo como
sonda-me o silêncio
quando passo
desapercebido por
entre outras
existências,
penso que por
séculos venho me
escondendo do contato
direto com quem
tende a me ignorar.
Eu não existo,
tampouco nunca poderei
coexistir junto àqueles.
Eu indivíduo
eles multidão.
Eu rebeldia por querer
tudo para todos,
eles,
entre eles apenas,
sagrada e santa comunhão.

sábado, 7 de agosto de 2021

Clara noite da alma escura

Um ser torto, espiral,
um eu todo retorcido
não pode acreditar ou
querer um deus todo
reto e vertical.

O sol sublinha
a noite da alma escura,
convida meu obscuro espírito
a ficar, partir para o 
horizonte agora pode
ser tarde demais.
Deus pode não estar mais lá,
mas e se for de deus que eu
quero fugir?
Está aqui,
pode vê-lo através do
espelho quando põe-se a
observar a imagem dele
que em muito se assemelha
àqueles que não crêem.
Mas eu posso ir além e
não acreditar na crença,
na fé oblíqua e abstrata
que muito representa mas
não significa nada,
no fundo não significa nada 
e nada é mais
profundo do que os
confins dos céus.

Estar de frente para trás
e seguir adiante ou ir no
inverso da contramão,
o infinito (universo) é
como uma rosca sem fim,
sempre a mesma coisa ilusão,
parece eterno mas começa
ali e termina aqui,
girando em si e dentro de si
acredita ser imensidão.
Lembrando que foi num átimo
de tempo que se deu no início,
o princípio, a explosão.

Por onde vamos para crer
é por onde seguimos acreditando
naquilo que achamos ser.
E u   t o d o   t o r t o   s o u,
heterogêneo do ódio ao amor,
deitado na solidão meu divã,
solitude a me compor
para ser para outros
melhor desamparo acolhedor,
um conflito reconciliador
entre busca e desilusão,
desequilíbrio em harmonia...
Derrubar o Deus despótico 
como símbolo de Estado,
desacreditá-lo,
buscar no caos das coisas
que estão para surgir,
evolução e revolução e
querer ser e estar sempre
em anarquia:
Abaixo!Abaixo!Abaixo!

Distorço minha fé cega
e posso começar a ver,
discorro sobre a fé que
cega quem precisa de 
deuses para melhor ser,
piores são e condenam
seus deuses a sempre
existir apenas por medo
e pusilânime auto compaixão.

Escorre a escura noite
por bueiros que ladeiam
um úmido asfalto por onde
antes o sol por ali passou,
nauseabundo e afoito.
Por agora sou eu o asqueroso,
ali, arquétipo em desconstrução,
caminhando sem pressa e
fugindo de encontro
para onde vou.
Sabe lá deus para onde vou,
lá onde porém ninguém sabe.
Talvez para o porvir,
mas o futuro queira quem
sabe a intenção de voltar,
a alma escura, embriagada
pela noite,
voltar a fugir da luz
das ideias eternas.

    Sobre o leito
    sob um dossel
    sob o teto sob
    um céu noturno
    de estrelas mortas
    ou a morrer ou
    vivas ou a nascer,
    há outros astros
    singulares,
    e tantos outros
    astros percebem:
    dá-se a insônia
    que segue ainda em
    coma profundo pela
    madrugada adentro
    e afora,
    e é nesse momento,
    nesse instante
    itinerante que tudo
    se põe a prova:
todo o pensamento em si parte
em fuga atrás do para-si e nesse
ensimesmo para si perde-se toda
a fé que existia e pede-se mais,
alguma razão para o nada que se
vislumbra e que justifica-se 
também partindo em busca para
dentro de si.

O nada sou Eu,
o todo.
O todo sou Eu,
o nada.

É mesmo muito útil a
necessidade de um deus
sol a se pôr e/ou
contrapor a tudo isso,
pois o todo é deus,
uma aurora;
o nada é deus,
a escuridão.

Eu continuo, sigo ainda...
que o adeus me livre...ando.
Prefiro o púrpura do
crepúsculo eterno como
num exoplaneta imóvel
em si e iluminado,
v a g a n d o.

    


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Intemperismo

Sob o chão do
a s s o a l h o
querendo ser 
da lage, 
underground
postulante
à criatura
celeste.
Lutar todo dia
para vencer na
vida e sempre
chegar vencido
ao final do mês.
Sou Eu, 
não sei vocês,
habitante do
submundo
tateando o chão
de outros,
meu teto,
buscando achar
alguma saída.
Mas não há,
Não há mais
nem nunca houve.
Observo formações
rochosas sob o solo
imaginando
nelas desenhos de
nuvens.


quinta-feira, 1 de julho de 2021

Predileção

Entre o último
Salvador que morreu
crucificado por nós
e o primeiro anjo
decaído expulso dos 
céus, eu certamente
prefiro o primeiro.

Se Pitágoras fosse poeta

O que há de mais
sábio? O silêncio.
O que há de mais
Belo? A poesia.




domingo, 20 de junho de 2021

Tríade

Sabe-se que o
silêncio é sábio
e que o poeta é
baixo,
e a terceira voz
do verso é o
pensamento.
Os três 
somam-se ao
máximo
anulando-se
ambos num
poema.

Quando ainda não existia o tempo

Se houver céu
que caia
como
chuva.
Se há chão,
como montanha,
que suba.
Se existe Deus
que seja melhor
não ser sua
criação
nem tampouco
sua culpa...
mas se há Eu
hoje,
certamente
então houve,
um dia,
quando ainda
não existia o tempo,
toda uma
singularidade nua,
vestida de criatividade
e explosão.




terça-feira, 15 de junho de 2021

(d')Eu's

Entre todos os 
Eu's
em mim,
Eu
nunca fui o
melhor de
mim mesmo,
e se o pior
de mim
pode ser maior
do que o que há
de ruim
nos outros,
Eu mesmo
desconheço.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Antes da Morte

Posso necessariamente
precisar de alguma doença
para experimentar a cura,
minha saúde e seus vícios
um dia deverá ser mais
careta, enquanto sua maior
virtude é manter-me vivo,
eu talvez devesse merecer
a vida. Mas quem merece
e quem abre mão da
existência?
Os suicídas são tolos,
as pessoas felizes estúpidas,
os poetas são tristes
e a morte mesmo assim
tem a cura para todos.
Em tempo, antes da
morte, quero ir no
oposto da direção
em que a vida insiste.

Instante Lisérgico

Amanhã eu já fui
e quando ontem
eu voltarei, mas
hoje só Deus sabe.
Se quero ir embora
antes de voltar pra
casa, ficar onde
estou pode ser
por agora,
por semanas
uma eternidade.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Enfoque

Se olhar mais
de perto
se enxerga bem
mais longe,
Deus não
existe.
Um dia ruim
e outro pior,
numa vida sem
fim que logo
acabará,
Deus não
(r)existe.

Deus, eu.

Eu, Deus,
o ateísmo
e o
desamparo.
A crença
e a 
criação.
O Deus 
e o
Homem arte
de si mesmo,
auto retrato
animado,
filiação.
Arte de Deus
retratando-se
Homem,
Homem
querendo ser
Deus, Eu.

Bem me quer

Vivo a querer o
mal do mal
daqueles que 
me querem,
bem, digo,
daqueles que
não me querem
mal.

Re-sentimento

Depois do sentimento,
mais. Depois de mais
sentimento, muito mais.
Depois de mais de muito
mais sentimento,
ressaca e remorso:
Eu ti Amo
Eu que Odeio
Eu que Amo
Eu ti odeio,
eu com amor de
orelha a orelha antes,
agora sou todo apenas
amor próprio e aquilo
que era sentimento 
me parece que foste
na cara apaixonada
somente paixão e
sorriso falso.
Mas amei assim,
assim amei amor,
e ninguém poderá
negar.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Agora Depois

O futuro é
hoje.
Amanhã já
será tarde
demais,
assim como
um tempo
que já passou.
Depois de agora
é passado.

Desmedida Assim

Amém se amam e
que amem mesmo
a métrica,
a régua e
as regras.
Eu não discordo se
não concordam
comigo,
eu sendo um outro
também discordaria.
Ruptura é utopia e
talvez a única
possível,
a minha utopia é
a ruptura,
não é a rima, 
as cadências 
da rima e
contudo,
nem rima há;
não é o ritmo e,
à la arritimia,
nem ritmo tem,
e claro, 
menos ainda é
a metrificação
a minha
utopia poética;
não há cálculos,
meios e modos;
não há métrica.
Minha poesia é
só e é toda ela,
a desacompanhada,
só aquilo o que diz
e discorda e declara.
Amém se odeiam e
que odeiem-a mesmo
à regra.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Noturno Assolar

Já fui um selvícola
notívago quando
eu era pelas
madrugadas um
quase
ultrarromântico
incorrigível.
Acordado com
cara de sono e
quando
dormindo eu
fazia-me
sonâmbulo,
mas tudo isso
quando
fui poeta,
hoje sou só...
só apenas
mais um
civilizado solar.

Banquete

Banquete de dissabores
de sabores vários,
a vida amarga por
natureza pode ser
doce como mel se
o apetite de tua
existência conseguir
ver beleza no
amargo sabor do fel.
Mas a vida é bela
e boa, se for esse
o caso, o horrível
e o ruim está em
você,
você que 
provavelmente
tem lugar
cativo à mesa.

Busca Vida

A melhor fase da
minha existência
certamente será
a póstuma, pois 
a morte é o 
clímax e o pós
morte é o auge.
Foi- se o tempo
da vida, o que
eu quero agora
está além.
Se há sempre
busca então
nada é agora,
exceto a própria
procura.

Atrofia

Deus Vil
v i u - se
Animal
no
mesmo
espelho
onde o
Homem
Mal
v i u - se
Deus.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Fanática

Rompantes,
impulsos de compulsão,
tempestade de ímpetos
em breves desejos de
eterna paixão.

Ávida, ácida e áspera,
a alma em três ases
em seu sabor de ser,
romântica e enamorada,
de si para o pra sempre
mesmo que isso se dê
assim,
de brusquidão.

Que seja breve a eternidade
para quem deseja o infinito
mas se indispõe fácil com o
tempo e com quem se é,
quando tudo que se tem é
sempre o mesmo imenso
mais do mesmo,
mesmíssimo sempre como
a própria existência.

O caso Crepúsculo

Escura noite clara
cura a alma alva
e, ex escura, hoje
brilhante é,
como a lua alude
à noite a luz do
sol explodindo em
fogo em fuga...
Mas a alma chora
e ama ao ver ir
embora 
sol e lua em
horizonte púrpura.

dissera

Eu li a imagem do silêncio
na janela, eu vi, lá fora,
aquilo que se ouvia por dentro,
dentro da alma dissera a imagem
a mim o silêncio.
O silêncio que a desenhava
no vidro.
O vidro era meu corpo,
o silêncio a imagem,
e a imagem foi o que
houve...e ainda há e
ainda ouve-se.

Morre e Vive

Não há prazer no
p r a s s e m p r e
como existe 
deleite no efêmero,
não há razão no
i n f i n i t o como
resiste a tudo o
propósito da
e x i s t ê n c i a:
Ser, para assim
perpetuar a
vida, 
como apaixonar-
se é do amor a
e t e r n i d a d e.

Mas pobre do
indivíduo que
morre e vive 
a ilusão do
A M A R.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Sim possível

 A autópsia da
utopia  suicida
revela que ela
foi induzida  a
cometer a 
               morte
de toda a   sua
i d e o l o g i a.
              Matou-
se por 
          acreditar
que o   melhor
é possível  sim.

Ásperos Versos Violentos

São Vestes de Tempestade
                          tua Voz!
Amas...ás más línguas!
a mastigar Silvos
para nutrir-se,
tua Boca devora Gritos e
estão a Cuspir os meios
para Novas Formas
de Calar,
Declaras os Fins ao calar-
se, esse és teu álibi,
fingir Quietude ante o ato
de berrar em
                         Ásperos
                         Versos
                         Violentos...
o Hálito do Silêncio,
Mal Hábito da tua Voz!

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Se Não Exceto

Hoje sou pré
aquilo que já
fui há muito
tempo,
diametralmente
inverso...
hoje,
sou quase morte.

Levante

Meus versos são canções
de adeuses que passam
tristes por onde andam,
titubeando passos sobem
e descem imóveis
montanhas e movem-se
niilistas e quase satisfeitos.

Meus versos sãos,
fortes e destemidos,
pagãos contrários do
cristianismo de campanha
sobrepujado na guerra dos
Homens contra seus
semelhantes e na guerra do
Deus com cara humana
contra os Homens que se
ajoelham por um levante:
-Meus Versos hão de Ser
para Ti,
pois sou Eu um Poeta teu,
Servo e Senhor,
como um Deus,
depende como 
queira lê-los...

Em meus versos vão
eu, deus e o mundo.
Meus Versus vão em
vão com um adeus,
pois mesmo indo, sei
que sempre ficam.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Amais Mariana

Você não me ama Mariana,
não lhe engana o amor.
Não me pertence mais
quem já me amou,
e o teu amor já me
foi demais.
Não me ame Mariana,
não me pertença,
não me pertença mais
quem já me amou,
e o teu amor já me
foi demais.
Você não me engana Mariana,
não lhe pertence o amor,
não lhe pertence mais
quem já tanto amou,
e o meu amor é pouco
e eu já amei demais,
demais Mariana.

Talvez Apenas

Terrivelmente pontual
e sempre pela hora da
morte.
A morte custa caro,
custa a própria vida,
quando no peito de
nossa existência
atravessa-nos o 
tempo como um
afiado punhal.

Viver dói e talvez
satisfação seja
apenas não existir.

O Preço da Morte é Viver.

Frio Sol

Minh'Alma avocável, solícita,
acessível a solitude, à chuvas
e luares,
                prostituta de noites
escuras e outonais.
Minha triste Alma
de sonhos e insônias,
de pesadelos e modorra,
dona de patentes de
rupturas e novos
ideais,
             santa por ser
             curadora dos
             pecados de
             deus e de
             semelhantes
             infernais.
Minha Alma um demônio,
uma bandeira preta
carente por luz de
devassos e invernais
sois soturnos como ela,
Alma minha,
                        fria matéria
                        escura   que
pós morte a  escura
matéria do universo
adubarás.

sábado, 1 de maio de 2021

D'existência

Sinto frio
sendo fogo:

Sonda-me assim a solidão
que ascende do sub-solo do
mais profundo fosso:
- o poço que mata a sede da
alma que sente em si 
a sensação de ser o ex estéril
deserto interior de um
corpo farto da vida e quase
morto.

Acende o frio
e sente o fogo:

que seja a vida um Fim
e a morte o Recomeço...
...como o que constitui
a eternidade é a mesma
matéria escura e fria do
efêmero.

Saudades do futuro
quando hoje eu
nunca existi,
meu passado exato
é itinerante,
se move pelo
tempo
como
fujo
do
presente.

Serei quem fui
e não quem sou.

terça-feira, 27 de abril de 2021

Eu, deus.

Acreditar em Deus é
desistir de ser quem
se pode ser.
Deus se pode ser
se crer que sim,
ninguém acredita
mais em deus do
que ele próprio.
A toda poderosa confiança
de grande ser e de se fazer
maior cada vez mais,
ao mesmo tempo que se
eleva o tamanho da sua
sombra.
Acreditar em si é poder ser
também todo poderoso,
com a diferença de que
não precisa que outros
postulantes a deuses
acreditem em você 
como Homem.

Breve história de um caso de amor eterno

O Mal já amou uma vez.
O amor é acessível a todos,
mas poucos sabem das coisas,
e todos sabem que o Mal é sábio.
O Mal já andou apaixonado,
o Mal já se fez namorado e
cortejou por longa data o Bem.
O Bem desconhecia o
amor, o Bem pouco sabe da vida.
Sempre foi mais intuitivo do que
sábio, mas o Mal o amou e o
Bem conheceu o amor.
Dissera mais tarde que pressentiu
a paixão, como o frio que receia e
aguarda o calor, porém paixão
não é amor, paixão queima,
o amor aquece, a paixão é fugaz,
o amor diz-se que pode ser eterno,
por isso muitos afirmam que o Mal
ainda anda apaixonado.
O Bem se deixou devorar pela paixão
e entregou-se ao Mal, devorou junto
ao Mal a porção de amor que o
susteve e como quem avisa com um
sorriso que vai embora e não com
um adeus, o Bem abandonou o Mal.
O Mal entregou-se ao obscuro,
viveu da escuridão do coração
abandonado, andou só por entre
os malditos e se assemelhou àqueles
que sabem do ódio.
Àqueles que já amaram uma vez.

sábado, 24 de abril de 2021

Adeuses

Amor, ardor e dor...
foi frio,
foi vil,
foi inverno austral.
Ruim o fim
foi só o começo,
entretanto,
fui bem quando só propus calor,
e indo eu diabo pru'n inferno astral,
quando adeus,
o Deus sempre
foi Eu mesmo:
Deus, Homem,
Animal e
Espírito Santo.

Força Sempre

De quantos passos precisam teus pés
para exercer o ir e vir,
o dever de ser você,
o prazer de estar pronto
para o devido devir;
De quantas idas precisam teus pés
para vir...
para vir a ser teus passos
ida é preciso partir,
de quantas caminhadas se faz
uma partida ideal...
ideal para prosseguir é preciso
continuidade e continuar a
seguir;
De quantas sequências de passos
dados é preciso para teus pés
compor a melodia do ir...
Vá ainda que fique,
faça ainda que force
e esforce-se para chegar
ainda mesmo antes de partir,
força sempre é necessário
para ser,
mesmo que não seja permitido
existir, seja!
seja você o primeiro ser
ainda que o último nascido,
seja você,
o último você é o mais próximo
de agora,
o último você é o mais atual,
lembra você quando primeiro,
lembra, antes do momento de
agora ser,
agora é,
já foi, segue,
partiu para ir e 
nunca mais irá voltar,
pois certamente
certo prosseguirá,
mesmo que dando passos tortos,
teus pés,
tropeça em si tudo o que vem sôfrego
e torpe a caminhada já
sabe de ti, sofre de ti,
a estrada já cabe em ti
e quando não mais andar
por aí,
outros terão tuas pegadas
para saber que também podem ir...
força sempre é preciso ser
forte sempre para ser fraco
quando for preciso ser,
pare, não ande mais por onde
não quer caminhar,
chega!
mas só para aqueles que foram ser
é que chega a hora de parar...
De quantas chegadas precisam
teus pés para cansar,
para alcançar o objetivo
da ida é preciso cansar e,
quando cansado já de tantas
partidas quiser não mais
continuar,
saiba que talvez nunca partiste,
quis ficar,
ficar para ser não é preciso ir...
força sempre para ser,
e pergunta o horizonte que te
olha, que te espera,
quem é você,
quem você é,
quem precisará ser
para estar você a
partir?

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Dar de Si

A vida me promete uma recusa,
uma nova a cada novo dia,
a cada sol que nasce e morre,
uma recusa a cada madrugada,
manhã, noite e tardezinha.
Uma nova recusa a cada passo
dado, ainda que os passos sejam
dados pelo pensamento numa
caminhada pelos corredores
obscuros da cabeça.
À vida uma vontade daquilo que
inexiste não lhe assusta,
e sem insistência a vida
consegue fácil o que quer,
faz existir. E eu insisto numa
idéia. Dou de mim.
Sei que enquanto estiver 
prometido à vida, ela sempre
me encarará com a mesma
recusa nos olhos.
Mas um dia a vida trará
a morte no olhar me
dando-a de ombros,
eu que para ela sempre
fui um tanto faz.

Insônia Modorra

Eu sabia e sempre soube
que havia vida ali,
onde a morte coube,
onde a vida ouvia e
ouve o silêncio que da morte
re-tumba,
é onde a vida morava,
talvez mora ainda ou pode ser
que apenas ressoe...re...soa.
Já jazia quando morreu,
sorria quando chorou e
chovia quando chorava,
muito, mas doce era e é
dessa chuva a lágrima.
Eu sabia que sempre houve
dúvidas acerca das certezas
da vida,
sobre o silêncio da morte
e o molhado da chuva,
no certo eu sonhava
enquanto morria.

Presente Sombrio

No escuro antecipa a visão
o tato,
precede o tempo quem
pressente o medo,
se adianta ao fardo,
como intuição antepõe-se
ao futuro,
ao fato.
Como procede o presente
que sabe de tudo e que,
leitor do passado,
é como do sábio a visão,
o faro.
Há luz no tempo passado
e escuridão à frente,
o tempo presente assombra
o futuro,
faz sombra lá o hoje
iluminado.
A sombra é um silêncio da luz.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Todavia Não

Me olham mas
não me vêem;
Me tocam mas
não me sentem;
Me ouvem mas
não me escutam;
Percebem-me 
mas me ignoram,
inócua Eu... e
não me lêem.
Poderia ser
apenas silêncio
e solidão,
todavia
não, pois sou
Eu só poesia 
agora e,
mais tarde,
como antes 
e sempre,
poesia e
revolução.

domingo, 18 de abril de 2021

Deu-se Eu

Eu juro que
se há um Deus,
eu o odeio.
Mas se não há,
e se houvesse,
acho que Eu o
poderia amar...
ou sê-lo.

Quanta vida

Quase quântico qual mero
quotidiano de um velho
Deus neo romântico,
embora falte quorum de
tempo para ser prassempre.

Mas Quanta vida tenho
para rodar pelo infinito
se a última coisa que me
disse a primeira existência
foi (bem vindo!) pela boca
da morte um adeus (?)

Qualquer semelhança
com o novo é mera
insistência do velho
e qualquer semelhança
com o velho é a
irrelevância do novo
querendo ser o mesmo,
como nos soa sempre
tudo aquilo que é
eterno.


Não e Nada

S o f r i m e n t o,
preces e buscas,
dinheiro, retórica,
drogas, fosso,
deuses, tempo...
Tudo posso naquilo
que me fortalece,
mesmo às vezes,
muitas vezes,
não e nada
acontecendo.

Instante Intacto

Adiantar para agora um
possível atraso por adiar
a pressa que aflige em
fracasso minha calma
ansiosa. Eu quero acelerar
o tempo, passear pelas
horas como passamos
pelos segundos,
e quando chegar a um
instante intacto,
avisar lá que não irei nem
chegarei no horário marcado,
pois estarei calmo no passado
recente decidido a não sucumbir
à velocidade das máquinas.
Estarei lento lendo livros
quando todos já tiverem
desistido do seu futuro original
em prol de um novo estado
artificial das coisas.
Naturalmente eu serei o mesmo
entre todos àqueles que já há
muito são outros.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

eu Nunca existi

Do choro um soro,
um pranto placebo,
se planto desejo
só colho ilusão,
como militante de
mim em egoísmo
fraterno,
e a causa que é
só minha eu plagiei
do universo. A cura.
Micro ínfimo e tão pequeno
ou gigante grande imenso,
não faz diferença o tamanho
diante do infinito como
redundante de si.
Que se dane o desconhecido,
o mesmo, o descobrimento,
eu vivo a morrer cedo
mas é somente à noite que
desperto para o fim,
resisto resiliente mas,
à tarde eu nunca existi.