sábado, 31 de dezembro de 2022

A Redenção de todos os Versos

Sangrava do mesmo modo sagrado
de sempre,
como o céu noturno em tempestade,
sangrava em gotas escarlates 
de pura poesia ultrarromântica.
Sangrava a pena como o peito
do poeta abatido por um punhal
alado e pelas próprias mãos,
àqueles versos cortantes um dia
fariam valer a pena.
Morrer pelo poema e matar-se
com a própria poesia,
morrer pela poesia,
não foi a métrica mas foi a
forma como escrevia.
Todos os versos já alertavam
para esse fim e foram todos
ignorados, todos ignorados,
sempre foi esse o fim de todos
os versos, mas ele ainda continuava
escrevendo, quase como um 
psicopata de si mesmo,
e não são assim todos os
malditos poetas?
E agora que provou o gosto do
sangue de Deus, quem mais a
poesia poderá matar?
Ninguém mais...
pois somente deuses devem morrer!

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Delírios de Lírios Doces

De um sonho de um
jardim imaginário
esse enunciado:
Dulçor do suor que
rompe com o sal,
o mesmo sal sabor
das lágrimas e refresca
pétalas como a pele e
se faz doce chorar:
e chorava copiosamente
no sonho um quase
triste outdoor.
Imaginava uma abelha
que pegajoso seria
eliminar pelos poros
os açúcares que o
organismo consome,
e que perigo pro corpo
saquear a despensa assim...

E brilhou nos cristais de
açúcar alguma luz que
àquele olhar chorou.
Mas fazia frio sobre o
veludo da pele e a febre
interna que tanto fazia suar
fez-se tão revolucionária
que foi necessário escrever
em letras acesas para
toda a insônia imaginar:
e a insônia imaginou
dulcíssimas flores.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

A Queda

Caiu sobre mim
toda a (des) graça
de ser um ateu
pecador quando
Deus tropeçou
acima do céu e
veio ao chão como
um bêbado
abandonado a 
sorte da sua própria
sombra.

Re-volição

Quero de novo fazer
valer a minha vontade.
Minhas paixões são
soberanas e detesto
ter de compartilhar
meu egoísmo com
outros tantos egos
alheios que só pensam
em si mesmos.
A novidade passou a
plagiar o que é velho
desde quando o
passado deixou de
assinar o futuro que
escreveu.

Revolução

Quase será,
quando quase
não for mais
o quanto antes
deixar de ser.
Por ora pode-
se dizer que
jamais foi, mas
tudo pode mudar
quando nada
acontecer.

Louvor, Censura e Exaltação

Apostei toda a minha força de vontade
num calendário velho e perdi cada dia
que se foi desde a aposta.
Com muita resiliência mantive-me 
firme e num calendário atual dobrei a
aposta, amanhã minha sorte será
lançada.

     Jamais obtive
     S U C E S S O
     com sorte alguma,

mas os dias que me restam é a
minha moeda de troca, porém,
se o calendário vencer,
além de vencido,
não me sobrará mais tempo para
azar algum.

Quem me dera eu não fosse poeta
e tivesse sorte na vida,
mas quem seria Eu se fosse eu um
afortunado e não tivesse 
absolutamente nada a ver com
Poesia?

Eu prefiro a desgraça de ser quem
sou do que a sorte de jamais ter
sido.
Prefiro a graça dos meus pés
cansados do que a ilusão das
asas de quem pensa que voa
sem jamais o céu ter conhecido.

Eu passo o braço em volta do que
sobrou e abraço um novo dia.
Ainda ando de mãos dadas com o
desejo de vir a ser amanhã o que
ontem eu hoje lembro ter vivido.

Avante pro passado, avante!
Meu futuro é um retardatário
ou será do meu ontem doravante.


segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Transe

Espelho púrpura ocaso,
sangue santo vermelho,
roxo...
Dói viva dor se
não morre o corpo,
rói a alma a si,
mesmo assim que
doa,
morde-se para sentir-
se viva, e
percebe que já se 
acha fantasma:
Não há mais peso,
Não,
Não há mais pulso,
Não,
Não há mais culpa.
Leve levita intensa
t r a n s l ú c i d a :
reflete o interior de
si para a vida, revela-
se para todos agora
que anoiteceu.

MorrEu eu, Nasci!

Posto a deposição do poeta
a queda ascende a poesia
que sempre foi tiete do
próprio subsolo,
e quando alçou voo os
versos, a pena caiu em
desgraça.
Bebeu sempre muito de si
mesmo e morreu
tolamente envenenado.

Judas Jesus

Mandaria flores para a humanidade
após o fim do mundo, por você eu faria
do apocalipse o nosso começo de tudo,
e depois, depois de mútua traição,
novamente após o fim de tudo, eu faria
o tempo voltar para toda oportunidade
que tive de ver sorrindo o teu olhar,
teus olhos e o sorriso que morou nos
teus lábios instantes antes de me beijar,
seria para sempre o papel de parede de
minhas lembranças antes do fim.

Faria guerras e faria as pazes
por você, por você eu faria dessa
obsessão apenas amor (embora
acima de tudo) e só,
eu morreria por você se você
mandasse me matar,
e quando você morrer,
de braços abertos,
eu loucamente viveria você,
por você e só por você eu
finalmente poderia viver,
mesmo que morrêssemos
por isso.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Música

Eu fecho
(olhos mudos)
a boca
para o ouvido
ver,
tateio o perfume
que o silêncio
deixou:
Então Desperto.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Quando enquanto

 Um poeta morreu
aqui (...)
O velório foi quando 
enquanto ainda
estava vivo,
e o enterro
será e é,
no fim de cada
poema lido.

Quando Morrer (?)

Tudo ruim, mas tudo bem.
O todo ruindo, mas ok.
Após a apostasia que se
apossou de mim,
acredito mais ainda que
nasci para existir para
ser o contraditório do
próprio termo Ser,
e evidentemente,
não sou, mas tudo bem.
Amargo o destino que me
leva para a morte e deixo
um rastro por onde passo,
excessivamente raso,
e nem o mais apurado tato
consegue perceber:
-Que bom - diria minha poesia -
Sucesso enfim.

O erro foi nunca crer em
Deus enquanto acredito em
mim, porém,
se eu não morresse hoje,
como ontem morri,
ainda assim amanhã eu
jamais acreditaria.