sábado, 18 de outubro de 2025

Jesus Diabo

Não estando satisfeito 
eu desço da cruz e
faço pior. 
Jamais eu morreria 
por essa humanidade 
podre, horrível, 
e posso ser melhor e
fazer mais, eu poderia 
matar todos, sim,
praticamente todo
mundo, inclusive meu
desgraçado pai, que de
toda essa gente vil e
escrota é o Deus amado,
pois se eles todos se
dizem cristãos, ah! quem
me dera eu fosse o Diabo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Desconstruíndo

O silêncio declama o que lê, enquanto 
a escuridão observa o que ilumina,
enquanto o desespero acalma a cólera 
de suas paixões não correspondidas,
enquanto o amor mata o amor que
cativou, que por seu turno também 
mata o seu assassino a se vingar,
enquanto a vingança perdoa a todos
convencida de que o perdão é o pior
castigo para quem se torna vez ou
outra responsável por atos imperdoáveis,
desse modo, o poeta culpa deliberadamente 
a poesia por sua desgraçada sorte e pelo
seu fracasso eminente, culpa a poesia
e acusa-a, a acusa e ameaça, a poesia,
visivelmente indiferente, calma, de olhos
bem abertos e silênciosos, perdoa o poeta.
O poema mata o poeta, e seus versos o
devoram com sofreguidão.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Bis in idem

Os iguais riem-se
entre si, brincam 
de replicar em
mímicas ridículas
o modo de ser e
pensar, e de agir
do outro que 
também está a
fazer o mesmo 
com relação a
outrem que 
também fazem
igualzinho a
mesmíssima e
perigosa curva
ascendente para
uma atrofia:
Eles já não são 
eles, são outros 
que são idem a
eles. Eles são 
todos, são quase
todo mundo e
assim jamais,
como muito
poucos de nós,
serão o mundo 
todo.

domingo, 12 de outubro de 2025

Santa Satan

Um Diabo odiado ou
um Deus amado,
ou um Deus detestado
e um Diabo adorado,
ou também os dois,
tidos como
diametralmente 
inversos, ou o
mesmíssimo ser ambos,
tanto em imagem
quanto em semelhança,
os dois em um terceiro 
Ser que também os completa 
enquanto se afasta
completamente por medo 
de ser confundido por Deus,
que é abominável, e pelo
Diabo que pode ser mais
ridículo ainda. O Poeta.
Nem um e tampouco o
outro, e nem ele próprio,
ao tempo que os três é
um só, e um só Poeta pode
ser um Deus dos diabos ou
o Diabo de um deus, e se não 
é um nem aqueloutro, também 
não é Ele mesmo, porém.

Antemortem

Atentado
ao poder
por
motivo de
força menor.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Perpendicularidades

Sou muitos, e somos todos 
solitários, e se fôssemos 
luzes, seríamos um a sombra 
do outro...um à sombra do
outro, e aquele eu que por
sua vez é o Sol, sob Ele somos 
todos escuridão.
E dizem sempre, um para o
outro:
-tolice! sou somente Eu, um
único ser apenas, indivisível 
e de personalidade intransferível.
Parece loucura, dizem, enfermidade 
e sofrimento, mas somos todos
saudáveis, de alma e cabeça, e
qualquer cura para isso será para
mim uma terrível doença.

Sóis

Perdoa-me, oh! escuridão,
mas hoje desejo ficar só,
aliás, desejamos estar a
sós, só o Sol e Eu.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Versus

Meus versos jamais foram 
cantados por voz alguma,
tampouco por olhos alheios
alhures, nem mesmo o 
silêncio pôs-se a observar 
com o seu olhar inquieto 
estes versos que jazem vivos,
perplexos e intocados, 
e como ultimamente tenho
me pôsto a escrever pouco,
os poucos versos que deita
minha pena nas folhas de
papel do meu bloco de
notas companheiro, têm 
exatamente as mesmas cores
do papel de parede dos
desesperados pensamentos 
meus, violentos muitas vezes,
aliás, violência é tudo o que
tenho sentido, sofrido...pois
escrevo violentamente, e sofro...
sofro pelos versos que desdenham...
é que desdém é só o que eles sabem
sobre, ou é só o que sabem sobre eles...
a única paz que vemos é a que não 
possuímos: poeta, pena e poesia...
e de repente nada acontece de novo, 
de novo...e como!
Repetidamente o mesmo 'nada de novo'
se sucede ininterruptamente,
o que faço é o que me fez sempre,
ponho-me a escrever versos...
"a glória vai no rastro daqueles a
quem ela é indigna de guiar".
A vontade foi em toda a guerra,
de paz, a vontade foi em toda 
a vida, da morte, a vontade foi
em toda poesia, destes versos meus.



Como faço para chegar até a morte?

Segue
Reto
Toda
Vida.



sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Restos de Tudo

Sinto que sou pouco,
muito...
ao que penso que sou muito,
pouco...
Falta-me tudo e
sobra-me todos,
custa-me o peso de todo mundo 
ao preço do quanto
me é caro o mundo todo:
todo mundo não é o mundo todo,
o mundo todo sou eu,
todo mundo são os outros,
o resto de tudo e a sobra de todos.


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

I gotta agora

Eu levo sempre comigo 
todos os meus ontens e
anteontens que fiz
pelo caminho, 
eu tenho-os comigo 
como detiveram-me
quando quis o futuro 
antes do tempo. 
Diante desse exposto,
expulso de mim o
eterno amanhã que
insiste em vir ter de
mim antecipadamente 
correspondências...
não quero ser no futuro 
o que há muito já sou
agora, o quando do meu
tempo é ontem...por hoje
é isso... não quero ser
postumamente lembrado,
quero celebrar o agora e
amanhã qu'eu seja 
esquecido por todos que
jamais me conheceram.

sábado, 6 de setembro de 2025

Out Imune

Tenho medo de ficar
a sós com minha poesia 
e Ela me devorar, por 
isso peço a todos que me
lerão um dia a fazer isso
em público para que
quando forem devorados,
tenham como testemunha 
o desdém de todos que se
perdem ao redor, e se
perceber que tu'alma 
encontra abrigo em meus
versos, saiba que est'alma
já é minha e que a partir 
desse instante, da doença 
incurável da minha poesia,
você é agora um transmissor 
infectado.

Ressaibos de Remorsos

Quando meu presente for rara
antiguidade e minha poesia
fóssil, evidentemente que não 
lembrarão de mim, pois jamais 
me conheceram, e ficarão 
surpresos em perceber que o
que descobriram é um espelho 
que sempre furtaram de se olhar
por medo do reflexo feio que
sempre ante aos senhores esse
mesmo horror a de lhes 
apresentar, porém, se tivessem 
percebidos a si nele antes,
hoje não teriam mais medo de
nesse presente antigo que espelha
teu íntimo a se admirar, se admirar...
e se admitir que o feio do teu
âmago lhe agrada, menos mau, pois 
pelo menos o mal dentro de ti
se enxerga.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Odeio Deus e Outros Diabos

Jamais serei Deus novamente.
Declino do convite da presunção,
pois o Deus Todo-Poderoso cabe
todo nesta frase e Eu tenho por
vontade genuína ser um romance 
de mais de mil páginas, minha
existência é maior do que poucos
versos de meia dúzia de palavras,
de orações que se repetem em
rezas que se fazem inauditas e
incompreensíveis em lábios 
rachados de idosas quase senis e
caquéticas.
O Deus de todo mundo não pode
ser o meu porque eu não sou 
todo mundo.
Eu sou o mundo todo,
eu sou o mundo todo livre,
um mundo todo repleto de
assassinos de colonizadores,
repleto de pagãos leitores de
estrelas e da escuridão, eu sou
a escuridão que temem todos
os adoradores de deuses, e eu
odeio todo Deus que não tem
espelho em casa, mas eu adoro 
dos deuses aquilo que possivelmente 
é o mais terrível medo deles,
desse modo, assim, jamais serei 
ateu e/ou pecador novamente,
não terei mais porque gozar
desses prazeres.

Discordante Conserto das Coisas

Mato-me...
Escrevo em círculos uma poesia 
que almeja libertar-se, seguir em
frente e ser independente do seu
poeta, do mesmo modo como o 
poeta a livrou do cabresto da mé-
trica, Ela deseja livrar-se dele:
a tinta livrar-se do tinteiro;
o tinteiro livrar-se da pena;
a pena livrar-se dos dedos tortos
do poeta, e os dedos desejam
veem-se livres da escrita, a escri-
ta, como toda escrita deveria ser,
deseja ardentemente ser indepen-
dente, porém, essa escrita agora
quer ver-se livre da poesia, e minha
poesia há muito já me dá de ombros 
e sussurra consigo querer também 
ver-me pelas costas...mas eu sempre 
vivi e morro por Ela.
Que leitor meu morreria comigo?

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Arroubar Fogo

Fugir com o Fogo
como fosse Prometeu,
ou
Fulgir como o Fogo
como você prometeu?

domingo, 31 de agosto de 2025

Nossas Poesias

Não à poesia que nos liga, 
aliás, sim à poesia que não 
nos liga, mas que deveria?
Talvez, porém, esse talvez
é filho bastardo e único de
uma esperança tão 
ridícula quanto maravilhosa
poderia ser se pelos acasos
da vida e pelo poder invisível 
do imponderável um dia 
nossos caminhos pudessem se
entrelaçar, e eu imagino o destino 
tricotando a tessitura da sua
elegia mais comovida, e como 
a morte de um verso em uma 
linha tão viva é quase um desdém 
ou sacrilégio à natureza indestrutível 
da poesia, eu digo nesses versos
que nascem agora pra eternidade,
tão meus para ti, mas que nunca
saberei se chegarão aos olhos de
tu'alma, que há uma presença da
ilusão da tua presença que exerce 
em mim um não sei o quê de uma
vontade de você tão grande que 
por ora, por agora, eu não posso
explicar. Mas explicar o que, se
não está acontecendo nada,
não é mesmo?
É um diálogo de minha solidão 
com minha solitude, e a língua 
que elas falam está entre o
idioma das sombras e a linguagem 
quase mímica da luz. 
Falam sobre nós em um tempo
em que nós ainda não existimos.
Mas um dia nossas poesias beberão 
do mesmo verso no mesmo cálice
poema.



sábado, 30 de agosto de 2025

Seis Faces

Estava a jogar dados com Deus
e com o Diabo. Tentando a paixão 
do azar com a silhueta falsa da
sorte e, aquele que tirasse o
número maior, sairia da mesa
com a posse da sorte alheia e com
um desdém nos dentes pelo azar
dos derrotados adversários.

Se fosse Eu, poderia escolher tomar 
o lugar de um e do outro e assim 
ambos se anulariam.
Deus me venderia minha morte
na planta e terminaria durante
meu resto de vida de planajá-la
eu mesmo, e no tempo determinado 
no projeto, eu a executaria.

O Diabo perderia seu posto e me
serviria, eu receberia seu título 
de Lúcifer, como Jesus serviu a
Deus sob o título de Cristo desde
a infância até a agorinha.
Eu seria a personificação, pelo menos
em tese, de uma espécie de santíssima 
trindade: Eu o todo poderoso vencedor,
e os vencidos Deus e seu braço direito,
o Diabo.

Se fosse Deus quem tirasse o
número maior, de mim ele faria,
a contragosto, mas por vingança,
seu pupilo e me encarregaria,
pelo seu bel prazer, suponho, de
levar sua doutrina nas minhas
palavras e versos pelo resto da
vida aonde quer que minha pena
e passos fossem.

O Diabo voltaria para o seu submundo 
devendo manter-se subserviente a Deus 
e a todas as suas vontades e caprichos,
viveria como o Diabo, mas sofreria a
existência como um Homem.

Se o Diabo tirasse o número maior,
ele voltaria para os céus, governaria
o mundo e faria de Deus, é claro, o
seu mais fiel vassalo.
Quanto à mim deveria doar para ele
a minha alma e corpo, de minhas
carnes ele faria um banquete junto 
aos seus demônios, e de minha alma
ele faria chama de candeeiro que
arderia pela eternidade, iluminando 
altivo e não bruxuleantemente, para
todo o sempre os seus aposentos.

Eu joguei o dado e tirei seis;
o Diabo jogou o dado e tirou
seis também; Deus jogou o
dado e tirou sete:
-Milagre, milagre! - gritou Deus -
eu venci, eu venci, como venço 
sempre.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Azul em Êxtase

Ver teu coração gelado em chamas.
Verter paixão do meu peito,
nascente dessa intenção de te amar,
e desaguar em ti, em tua alma,
foz de todo esse amor.
Tua boca aveludada, porta voz de
um silêncio de aço, morder-te os
lábios com beijos desesperados...
e como quem se joga de um penhasco,
brincando ser o céu um teto e seu voo
ao solo a queda silenciosa de um
candelabro de quase-cristais 
inquebrantáveis.
Dos teus olhos distantes que ainda 
não me viram por eu estar assim
tão próximo, ter o teu olhar em mim 
que fizesse que ti por mim se
apaixonasse.
Ascender à tua enlevada alma e
entender a beleza negra em tua
pele alva, alvo dos meus olhos que
buscam descobrir querendo jamais
decifrar tal enigma para sempre
serem devorados, e para onde olha
a Esfinge, ser o horizonte contemplado 
olhando de encontro tua aura de
sacerdotisa helênica, que em versos
raros só o mais talentoso dos poetas
conseguiria reproduzir tua beleza.
Erradia de ti, agora consumida pelo
fogo de nossa ambiciosa paixão, um
Halo de luz de um céu de um azul 
em êxtase, do Sol farol super 
entusiasmado por nos ver sob suas
sombras.
Musa que também escreve belos versos e,
se estes versos descrevessem a beleza dela,
produziriam outros versos mais belos ainda:
poesia para pegar com os olhos e ler
cuidadosamente com as mãos, e meu tato
ama poesia e é também um artesão 
habilidoso, fazer do meu bem querer por
você obra de arte e deixar todo dia em
exposição em teu corpo, magnífica galeria
de naves nuas que somente ao meu amor
preenchê-la toda cabe...
Fosse incêndio você, eu seria o fogo que arde.

Invioláveis Aviltados

A Musa da Missa
é Maria, de Jesus 
a Madalena, e de
Deus a Virgem.
Do Padre o Coroinha.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Em si mesmo entretece,
entre teses e mais teses
de ser ou não ser, Ele
se entretém assim,
esse ser poeta, e
entristece-se 
se se destece 
o que é e se vê 
desinventado por quem
o criou.

Exercer

Passei um mês e meio
tentando sobreviver ao
dia de ontem. Já tem
uma semana que 
resisto ao dia de hoje,
e pra amanhã tudo
correr bem, é certo
que precisarei de
pelo menos mais um
ano.

Resilientemente

Morte morrida 
é   um   tipo de
suicídio        às 
avessas.

Dois Três Quatro

Ainda qu'eu ande pelo que vale
minha sombra pra morte, sem
medo, não ater-me-ei a mal
nenhum no caminho,
porque o Sol eu sei que está 
comigo. Muito embora eu siga
por trevas e, entre bestas 
como eu, eu sigo sozinho.
Se a morte procura por mim
buscando encontrar minha sombra,
então que ela vasculhe toda a escuridão.

De Todo Coração

Meu farto coração de tudo
i n f a r t a     f á c i l, desde
desse peito vitrine e nele
ele como enfeite exposto,
até o transeunte Amor que
passa e o ignora com a 
mesma pressa que o
compraria se ele estivesse 
à venda à vista, mas ele
só se dá ao acaso a prazo
de uma vida toda, e
nesse ínterim entre amar
e ser amado, desvaloriza-se
o apreço alheio por ele e
doa-se inteiramente de 
alma e corpo ao primeiro 
que não puder tê-lo mas
que deseja encarecidamente 
vê-lo livre batendo em 
retirada de toda pressão 
que é ter de ser amado
a vida inteira.

Fosse Fogo

Não fumo, mas se tivesse 
fósforos causaria um
incêndio, porém se eu
fosse bombeiro apagaria
o fogo. Se eu lesse Sófocles 
escreveria versos, mas se
fosse poeta não. 
Se eu ousasse mais em
hipóteses empíricas,
eu a priori poderia ser
bem mais que apenas
expectativas...
e se a propósito eu tivesse
fósforos e fosse poeta de
fato, eu incendiaria esse
poema. Mas não tenho
fósforos e tampouco sou
poeta, sou bombeiro civil 
e tenho um isqueiro apenas
para acender o meu cigarro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

D'existencia Divina

Eu sou Deus e nunca fui
Deus sou eu e nunca foi
Precisar de Deus jamais
A não ser que de joelhos 
Ele me peça com carinho.
Deuses não existem 
Deuses não resistem
Deuses não!
Um dia Deus falou comigo 
e me disse que não tem
problema algum não crer
na existência dele, mas que
é muito importante jamais
agir e se parecer com 
aqueles que acreditam. 
Essas pessoas podem ser
perigosas, me disse, pois,
uma vez que elas pensam
ter ao lado delas um Deus
todo poderoso, imagine
que atrocidades podem 
fazer. E por se sentir culpado 
e envergonhado 
pelas barbáries praticadas
pelos seus simpatizantes,
Deus manda avisar que
hoje, aliás, a partir de hoje,
Deus não existe mais.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Segunda-feira

Penso na miséria da minha
existência e justifico o uso
da minha imagem para
ilustrar embalagens de
desespero industrializado.
Vivemos a esperar por algo:
um telefonema, um e-mail,
mensagens de quem (não) se
importa com a gente, e até 
a morte que virá daqui a pouco 
ou daqui a décadas.
Eu procuro emprego pelo
dinheiro que preciso e não 
pela atividade que por ventura 
posso vir a desempenhar.
E quando me ponho a escrever,
coisa que acredito que nasci
para fazer, me vem logo o
desespero de estar perdendo 
tempo ao invés de sair e
entregar currículos.
Então escrevo meus poemas
e saio colando-os por onde
pessoas passam e ignoram
a existência de qualquer coisa
que não seja elas mesmas e
suas existências miseráveis.

Soneto

Matam-me leões todos os dias,
e comigo mesmo e para os outros 
todos sempre digo, estou cansado 
de sempre matar um leão por dia.

Se é simbolicamente falado o ditado,
então que seja mais verossímil o que
se diz, o cansaço diário é por sempre
morrer e não por ter de matar leões.

Logo eu, que abomino caçadores e adoro 
leões, mas mesmo assim sou todo dia
mortalmente ferido pelo rei da selva.

O que posso fazer para mudar isso jamais 
pude saber, inofensivo como um jardineiro 
ou poeta, conheço versos e sei da relva.

Sapiens Sapiens

Poesia rupestre à dura pena em
paredes de cavernas, à duras penas
escrita à la um sílex em carne de
caça, risca as pedras de paredes
internas de toda a caverna:
o primeiro Poeta, um Hominídeo
ainda, versando em vermelho sangue 
através de sinais que dos dedos tortos
dele surgem. Descreve o cotidiano do
Clã à luz da recente descoberta de
nova tecnologia, o fogo. Esse proto-
poeta e quase humano passa as noites 
em claro espelhando nas pedras das
paredes da caverna seus pensamentos,
lembranças e sonhos:
um animal gigante,
o fogo, a tribo, as
estrelas brilhantes em
meio a estranhos visitantes 
que descem dos céus de
tempos em tempos, naves,
luzes, seres de cavernas siderais
que ficam além do profundo do céu...
Tempos depois, quando num fim de
tarde esse primeiro Poeta não apareceu 
mais, todos os outros jamais perceberam
sua ausência, do mesmo modo como
jamais notaram a poesia nas paredes, e
um tempo depois que deixaram aquela 
caverna partindo para outra, ela desmoronou sobre si trazendo abaixo 
toda a estrutura interna.
Nos escombros de milhares de anos dessa
caverna ainda há vestígios da arte daquele 
desaparecido Poeta. 
Longe, muito longe dali, em uma gigantesca 
rocha que circunda uma estrela distante,
observa o céu a procurar pelo caminho de
casa o primitivo Poeta, agora também ser
interestelar, e quando voltar para os seus,
se um dia voltar, descerá dos céus e será 
tratado como um Deus.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Cavalo

Agarrar-se ao éter para
sustentar-se em pé e,
depois de muito viver,
decidir pela morte eterna,
prática efetiva, e ter de 
se matar de novo para
viver outra vez jamais
valeu a pena...
Diferente de viver ou quase,
eu morrerei por força de
regra inalienável.
-devemos matar um Deus 
por dia:
a cabeça do Deus sacrificial 
será o alvorecer; os olhos o
Sol; seus braços e pernas são 
as estações; suas articulações 
os meses; seus pés os dias; as
mãos a noite; seus ossos as
estrelas e sua carne as nuvens.
Ao invés de se sacrificar ou 
sacrificar um Cavalo, sacrifiquemos 
um Deus, assim eliminamos o
supérfluo e ficamos com o que
nos é útil ou que pode ser se assim 
precisarmos um dia.

Pobre Deus

Morre-se invariavelmente 
comovida todo dia gente
como a gente, morre-se de
vida sem perspectiva alguma,
e se morre de noite tem de
ser uma morte rápida porque 
de manhã já é pra estar de
de pé ressuscitada toda gente 
que morreu na madrugada,
outro dia a mesma vida e outras
mortes, mas há muitos modos
diferentes de viver: vive-se com
fome, vive-se com frio, vive-se 
com violência, vive-se na miséria e
na misericórdia, vive-se nas ruas
e sonha-se com esmolas melhores 
dia sobre
dia...sob o frio de escuridões de
intermináveis noites frias, e mais 
frio que os dias e noites é o coração 
e alma congelados daquela gente 
que não divide com a gente a
mesma morte e tampouco a mesma 
vida...
e se são gente como a gente, Deus,
como podemos ser como eles se é
visível que a sorte deles em nada
se parece com a nossa?
A sorte deles é dinheiro e o azar
nosso a mesma sorte...que jamais 
tivemos ou teremos... mas temos
a Deus, e o tememos...pois em nada 
isso se parece com sorte...bom mesmo 
seria dinheiro, ter muito dinheiro para
desse pobre Deus ser menos temerosa
a nossa vida e menos desejada a nossa
morte.

domingo, 10 de agosto de 2025

Insepulto

Deus morreu dentro 
da Humanidade...
e os Homens fizeram 
do mau cheiro
religião. 

Non-reversing mirror

Um terço do
reflexo no
espelho é
miragem,
a alma 
irrefletida é 
deserto, 
e a falta de
beleza oásis.

Que tende a ser volátil

Um verso de
extrema 
densidade,
pesado como 
chumbo,
brota do
delicado bico
da pena que
empunha a
mão pesada 
do poeta em
construção de
um etéreo 
poema.

Imperfeição Humana

Poesia que me quis,
confessa tuas intenções 
ao redor de mim,
teu bem querer é
métrica ou poema,
fará jus ao verso livre
o teu amor, ou teu
interesse é ter controle 
sobre o riscado da
minha pena?
Da poesia eu quero a
inspiração sem tamanho,
e não uma quantidade 
certa de letras e sílabas 
como se isso fosse
matemática exata e não 
a beleza de incertezas
em perfeição humana.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Ex Tunc

Nada mais de novo há senão o
fim de tudo...

Fui esquecido pelo passado das
coisas que já vivi, mas eu lembro 
de tudo:
lembro de quando aprendi a ler
a cada novo livro lido;
lembro de quando aprendi a escrever 
a cada novo verso escrito;
lembro de quando aprendi a caminhar 
a cada novo passo dado;
lembro de quadros que há muito pude
observar a cada novo quadro 
observado;
lembro de músicas que gostava quando 
criança a cada nova canção que ouço;
lembro dos medos que antes eu tinha 
a cada desafio diário vencido;
lembro dos sonhos de antes a cada 
novo pesadelo vivido;
Nas noites em claro que hoje a insônia 
me faz companhia eu lembro do quanto 
antes eu dormia tranquilo;
me lembro de um Deus raivoso que me
diziam existir em alguma parte do céu 
sempre que me perguntam por que sou
ateu;
lembro de não querer ter sido astronauta 
quando criança por medo de acabar 
cruzando com Deus;
lembro do meu pai que nunca tive 
sempre que olho para minha filha;
lembro dos amores que não me
corresponderam no amor hoje vivido
e compartilhado com quem me ama;
lembro do escuro que jamais me causou
medo quando criança na escuridão que
hoje ilumino;
lembro da poesia que jamais entendi 
quando muito jovem nos poemas
incompreendidos que hoje escrevo;
lembro do fim do mundo que antes
parecia ser iminente na eminência da
esperança que hoje ainda tenho.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Acolher à Coerção

Conceder a Lúcifer o título de Cristo,
fazer imagens de barro de Deus e 
dar a Ele a mesma carranca do 
artesão que o fez:
Deuses, os primeiros impostores, e o
Homo sapiens o primeiro impulsor.
Guerra, a língua paterna de toda a
Humanidade, sempre foi o idioma 
favorito de Deus, e o Homem auto-
didata aprendeu sozinho e jamais
parou de tagarelar. 

Vitral Noir

Colorindo sombras quando 
não sombreando arco-íris,
deslizando passos por úmidas
ruas ladeadas por bueiros 
exalando vapores podres com
cores de auroras boreais.
Revoluções em riste imploram
apoio dos meus punhos
cerrados enquanto minhas 
mãos entorpecidas descansam
em meus bolsos sem uso
de minhas vestes vertiginosas.
São vícios insanáveis toda 
essa auto destruição de toda
moral humana, e segue-se assim 
em overdose e mais super 
dosagens de destruição em massa
em telas de máxima resolução.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Último Momento Possível

Já fui dessa pra melhor
quando me segurei ao
fim antes que esse fim
fosse novamente (em 
cima da hora) adiado.
E se hoje estou de volta
na pior é porque decidi 
partir antes do tempo.
Mas como pude me
antecipar se era evidente
que minha hora havia
chegado, de outro modo,
se eu avisasse que
chegaria atrasado,
também não seria
ir à frente no tempo?

Passado Futuro

Eu preciso pra ontem
pensar em meu futuro 
dentro dessa madrugada 
ou no mais tardar nessa
manhã, por isso não 
posso prolongar a insônia,
uma vez que hoje já 
é amanhã e antes que
esse dia seja um 
novo anteontem 
depois de amanhã.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A quadratura do círculo

Sou de mim um Deus,
sou também ateu,
satanista e o próprio 
Diabo. Sou sobre mim
poesia, sou talvez cada
verso que expressa 
certeza e sou do mesmo 
modo o poeta que
exprime e espreme 
dúvidas em formatos 
de poemas. Sou o meu
fim em meio a cada 
recomeço...
Sou de mim um adeus,
e sou também a teus pés 
quem implora que não vá,
embora haja espaços
distantes entre os passos 
dos teus pés e os vôos 
de minhas asas assombradas
pela má sorte de ainda
não saber voar, é quando 
caio em si...
Eu risco um semicírculo
quadro a quadro enquanto 
a vida assiste a tudo, 
e o design de tudo que existe 
atira-se do mundo das ideias 
e uma vez em solo vai pro
subterrâneo. Eu cavo a minha 
cova, deito em minha tumba e
sou a própria Morte, ainda viva.

domingo, 3 de agosto de 2025

Boca Boca

Ouvi dizer que
deu-se de boca
a boca todo
aquele silêncio.

Mas são só rumores,
pois surge como soa
e quando soa urge.

Pós-Guerra

Cabisbaixo no ápice 
e de cabeça erguida 
no profundo de cada
fundo de poço: Fosso,
meu auge...
quase sempre o mesmo 
auge de antes.
Não venço dar conta
de tantas batalhas,
nessa guerra (dentro)
de mim não venço dar
conta de todas as batalhas,
porém, se sinto-me vencido 
por mim mesmo, então há 
de haver em algum lugar
um Eu que seja vencedor 
também. Mas em cada 
cenário pós-guerra me
encontro sempre arrasado,
enquanto em paradoxo outro 
exército sucumbe ao meu
distinto general.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Escuridão aquém Mar

A morrer de amor por não 
me sacrificar a tempo e por
não poder perdoar você pelo
peso posto por ti em teu perdão 
pelo meu sacrifício tardio imperdoável,
assim matou-me uma das ondas
de um mar de mágoas passadas:

A matar de amor
Ama tarde amor,
Jamais jamais se
Deve deixar qualquer 
Sentimento para depois,
Ame antes, no mais
Tardar ame ontem,
Ame hoje a manhã 
Antes do entardecer,
Para quando quiser 
Anoitecer a noite ser
Só amor.

domingo, 15 de junho de 2025

Futuro Retrô

Em quanto
do mesmo 
tempo cabem
todas as vidas?

Desde a primeira célula a surgir
até o último  Fungo a existir
até o Fim de tudo e de toda vida.

Enquanto o mesmo tempo renova-se
passeando pelas cinzas e ruínas como
o vento soprando por copas frondosas 
de árvores que há muito existiram. 

Em quanto
das mesmas 
vidas coube
o curso todo
do tempo?

Céu de Gaza

Desceu do Céu 
a queda duma
chuva, mas não 
como de modo
inverso sobe do
solo vapores 
às nuvens.

E então choveu...

E depois subiu ao
alcance das narinas
o podre cheiro de
carnificinas:

Chovia Mísseis!

sábado, 14 de junho de 2025

Domínio Público

Ver-se -á se versejar e se se
propuser a viver de versos
ou dos versos que não virá 
futuro algum grandioso,
porém, há glória. Verá que
a glória de ser poeta está 
em jamais vender seus 
versos pelo caro apreço 
que tens pel'Alma de 
cada um deles, pois não 
há riqueza suficiente no
mundo que possa comprá-
los, mas na vida há:
Que Sejam Caros e Gratuitos!
Não prostitua teus versos
nem os proíba de serem
acessíveis, mas cuide para
qu'Eles jamais se dobrem
para caber na métrica e
memória de todo mundo
ou de qualquer um.

Quanto menos
sentido fazem
para a maioria, 
mais significado 
verdadeiro Eles
têm para poucos.

E que assim se dê a presença deles
numa crescente constante até que
desapareçam. 


Anteontens

Sim, em síntese, hoje
soa apenas à la o
silêncio de ontem...
e eu em um surto
e n s u r d e c e d o r
definho 
a c i n t o s a m e n t e,
e se amanhã for como
hoje, todos os depois
de amanhã que virão,
se virem, serão à la
também todos os
anteontens de antes.




quinta-feira, 12 de junho de 2025

Cadafalso Poema

(...) a fé cega dos meus versos vendados
confundiu rimas de sua oratória 
livre com métricas de uma oração 
religiosa (...), não obstante, perderam-se
os versos,
do caminho do patíbulo onde se
apresentariam voluntariamente ao palco
de uma morte gloriosa, pois nesse dia,
uma Pena misericordiosa
estava enforcando grandes poemas
cansados de tal grandeza. Perdidos e 
confusos foram parar sob um púlpito
qualquer e venderam suas almas
pela busca por salvação à
um vil poema que se declarava por entre 
linhas obscuras de sua pregação 
um enviado do Poeta Deus único. 
E entristecido o poeta menor, dono
de tais versos, jamais outra vez 
exprimiu-se em poesia, e desse modo,
pela honra de poemas de verdadeira
grandeza, assassinou cada falso poema
que se declarou relevante nos últimos
dois mil anos. 

terça-feira, 10 de junho de 2025

Suástico

Sobre mim sonda-me assombrosa sorte:
sob a suástica de um Céu de Sol enluarado, 
meu gélido suor sobre um solo febril e
seco jamais o fará fértil. 
Sufoca-me a falta de ar que sopra em meus
ouvidos um silêncio sombrio.
Assoma do meu ser, do âmago do sétimo 
círculo do meu ser, um som que se assemelha 
ao eco interior de estômagos vazios de bestas 
famintas:
ecoa de minha cabeça, 
retumba dos meus pensamentos 
toda a miséria do meu mísero ser...enquanto 
sonha pesadelos consigo mesma minha
insônia modorrenta.

domingo, 8 de junho de 2025

Reforma

A teus mistérios 
Ateu dispor
Ateus pés 
A teus critérios, 

e graça, e glória...
e mais efeito placebo
para vassalos espirituais. 
Eu tô fora. 
Os que vivem de joelhos 
hoje lhos abandono.

Minha salvação é adeus,
desacreditar desde com 
um desdém ao Éden até 
propor uma reforma
agrária para demônios 
em situação de rua
poderem ter onde morar
nos vastos campos santos
devolutos do Paraíso
mesmo que para isso,
contra minha vontade,
eu precise também ir
morar lá, dar a forma
primeira às novas moradas.

terça-feira, 3 de junho de 2025

Eutanásia Suicida

Chorar (jamais) por tudo que já aconteceu. 

Chorar por toda essa humanidade 
horrorosa, à imagem e semelhança 
de seus Deuses Inserviveis.
Chorar de soluçar por toda natureza
destruída pelo progresso rumo ao
fim do planeta inteiro, chorar por
toda estupidez da natureza humana. 
Rir de desespero pelo reflexo do espelho 
do fim do mundo
mostrar você...semelhante à todos,
inclusive igualzinho a qualquer Deus
de merda que jamais foi útil para
porra nenhuma. 

Eliminar até o último Embrião:
-o Homem existe, e Ele deve ser superado.

Matar-se até o entardecer por não 
querer mais fingir que alguma vez
esteve tudo bem. Nada jamais foi bom:

satisfação, felicidade e alegria,
são alegorias da mesma ilusão,
quimera esta que é pensar que 
estar vivo é uma dádiva. 

Tolice!

Viver é corroborar com toda essa droga.

Eu quero é morrer duas vezes...dez,
várias vezes, até que não seja mais 
possível outra vez existir de novo.


domingo, 1 de junho de 2025

The Anarchrist

Eu acredito no escuro...
de toda escuridão eu passo a crer
no brilho quando posso ser lume
e leme que guiará esse escuro todo
para a luz que tudo dissipará:
-fúlgido fugidiço, a luz toda se
dissipará...À luz de e em todo e 
qualquer Estado,
minha bandeira preta sempre
tremulará:
uma cruz, um estandarte, um
furioso estardalhaço pelo senhorio 
silêncio de tantos alojados numa
quietude assustadora.
Ascender escuridão como um caos
alçando voo Altíssimo:
destruir a ordem das coisas daquilo
que foi estabelecido para ofuscar você. 
À revelia de tudo e todos contra você,
a prerrogativa dos outros e meus deveres...
Eu um ser vivo pensante à favor da
memória dos mortos, de todos que morrem
pela revolução. Todos habitam minha alma
da cabeça ao coração, dos punhos cerrados 
em riste aos passos que meus pés escrevem
por entrelinhas claras rumo a minha
crucificação.


quarta-feira, 28 de maio de 2025

Soneto

Em cada fim de mim mesmo
há mais e mais finais e há em
meio a isso tudo sempre 
burburinhos de recomeços.

E reconectar esses enfins com
novas tentativas é morrer 
mais uma vez por uma vida
que nem sempre vale o preço.

Quando pensar quanto nos custa 
continuar lutando não nos 
inspirar mais a seguir em frente, 

certamente é porque já morremos,
e se eu morrer todos os dias como
de costume, é porque insisto em
                         [continuar vivendo].




quinta-feira, 22 de maio de 2025

Amo, morro e mato!

Por você eu
mataria
por tua vida me
mataria
por amor te
mataria.
E eu ti amo...
muito!
Mesmo que você não me ame,
e por mais qu'eu morra,
ainda sim eu te amaria.

Amo, morro e mato,
não importa a ordem,
não importa nunca
se eu mato ou morro
primeiro, eu sempre
amo antes. 

terça-feira, 20 de maio de 2025

aonde termina outra janela

Assim, princípios de precipício:
 de penhascos e abismos toda
  aura, aspecto e energia, minha
Alma de design de desfiladeiros
 adora após uma queda saltar
  de novo, pular do parapeito da
Janela para além do horizonte, 

e quando depressa minh'Alma se
encontra caída, supõe o tropeço 
que a queda se dá sempre por
causa de uma depressão...no solo,

e se o chão por onde pisam meus pés 
se encontra abatido, minha Alma sobe
para acima de si mesma e testa o 
Céu sem ter asas, e como o Céu que

também nunca teve tato para com 
Ela, ambos anulam-se, e desde tal
instante não se pode mais determinar 
o que é Céu e o que é Alma:

Não se sabe onde começa uma e
aonde termina outra.

domingo, 18 de maio de 2025

Poezia

Minha escrita é da pena que sofria,
meus dedos, tortos, pela pena que 
sofriam: da pena que sofria minha
poética. O estro um cabresto sobre
a métrica guiando-a em assimetrias:
sangrava minha verve da pena que
s o r r i a.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Vago Vácuo

Fosse você fundo fosso
seria como vaso vazio.
Tu'alma soberba e rasa
é feita de rarefeito brio.
Um penhasco gélido de
afiadas pedras e mais
deserto do que o céu de
deuses. Deu-se sempre
assim. 
Foste você também 
capaz de um dia crer
que Deus habita o Éter 
e cultiva no Éden um
lugar especial para ti?
Tolice! Morra agora e
descubra que Deus 
algum jamais existiu.
Mas você  resiste e
acredita e medida e
fala sobre para os teus,
e tenta convertê-los à
tua crença.
És um vasto fastio,
um vasilhame sem
uso que a morte se
recusa quebrar, pois
teus cacos se espalhariam
pela superfície da vida que
teve, daria trabalho para
a preguiçosa morte juntar
todos os teus pedaços 
e carregá-los com Ela
para outra eternidade 
que também está com
os dias contados. 
O fim é sempre próspero, 
digo, o fim é sempre próximo 
e já começou muitas vezes,
mesmo antes da existência 
de ti.
A vida é o fim de tudo...
Toda morte ou a morte
de cada um é o inverso 
de uma infinitude enfim,
morrer é só morte e enterro. 
É terra sobre o corpo e
vermes famintos, ou fogo
que derrete ossos e cinzas
sem cheiro depositadas
em um vaso vazio.
Um vaso que guarda a morte
como teu corpo de alma vazia
um dia também aprisionou em
si uma vida que jamais teve
importância alguma.


sábado, 10 de maio de 2025

Projeção

Supus o fim
antes do tempo
e hoje estou
a c a b a d o.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Primavera Industrial

Muitos buscam entre a relva que 
cresce sobre túmulos de Deuses que
há muito, como neste tempo de agora,
jamais existiram, colher flores de
esperanças, em insalubres manhãs
de orvalhos ácidos sobre estas flores
mortas em cemitérios tão antigos
quanto a vida na Terra.

A Vida Humana Mata Fácil!

Ávidas flores de plástico para
pálidas vidas falsas e plásticas.

Abelhas Morrem aos Milhões!

A morte plácida e viva evita
corações ternos, a morte costuma 
ser hospedeira de pessoas cujo
coração já morreu, porém, ainda
bate e faz circular pelo corpo
vivo um sangue morto, tipo óleo 
sujo de motores de automóveis 
de ferros-velhos, e estes estalajadeiros 
são os que mais matam.

Pássaros desaparecem aos milhões, 
peixes e rios morrem...e mares,
e oceanos...e florestas inteiras,
e povos originários que há muito
existiram...verdadeiramente. 

Hoje nada mais existe, 
tudo que há, resiste apenas.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Transmuta

Da existência de Deus
a culpa não é minha,
enquanto da minha
poesia é minha culpa
ser um Deus.

A culpa por estar vivo é daquele
que vive, e que sorte eu tenho se
ao me sentir sempre morto, 
me absolvo de ser considerado 
culpado pela minha frágil e quase
etérea existência. 

Se poesia fosse ciência 
eu seria um jardineiro,
e se para ser cientista 
eu precisasse de muito,
eu tocaria piano...

Então desse modo minha poesia
é música para flores e arbustos, 
minha poesia é para todos os
insetos um tipo de comunicação 
universal.

E as abelhas alquimistas
fazedoras de mel, 
as abelhas que protegem
com a vida a Pedra Filosofal,
ao romperem o abdômen 
ao deixarem seu ferrão na
derme, impedem sempre que
se revele o lugar onde se
esconde também o Santo Graal.

Da insistência de Deus em
exercer poder sobre nós a
culpa é toda nossa.

A culpa é da fé, da esperança...

a mais hábil e vil forma 
de comunicação universal 
entre Deuses e Homens.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Ilustração

Uma ode ao amor, ou ódio...
falsa esperança é pleonasmo e
todo o abismo que me espera
secretamente me observa pelos
vãos de seu precipício.
Assim é o amor que não nos ama.
E ter de se reorganizar para não 
sobreviver de novo, é uma dose
a mais de quase morte que você 
deve sempre tomar...
um quase amor é subvida, é a 
morte já pelo quase, eu gosto mesmo
é da paixão, verdadeira como o fogo
e eterna durante toda sua efemeridade...
Todo o para sempre é ilusão,
qualquer amor em qualquer proporção 
é ilusório, é ilustração. 
Uma dose de amor, ou ópio...
valsa que se dança no silêncio,
que se cansa em si em ser só
desespero e jamais comunhão 
consigo mesma. Coisa que o amor
é, perceba, é sempre dele para com
ele mesmo, o bailarino de sua opera,
a orquestra de sua sinfonia, o amor
é todo circo e público para um único e
triste palhaço, o amor é do poeta a verve,
é da pena o verso, é da poesia o poema,
o amor é um poema que canta as desventuras 
de um vencido, o amor não pode ser glorioso, 
pois ele vence a si a se vender para um outro
que lhe seja mais caro, mais caro em seu 
âmago amargo e cruel. O amor é vil!
O amor é distração para o fim de tudo que
nos observa, e nos observa de um horizonte 
cada vez mais próximo...
todo apaixonado não enxerga nada além 
do que apenas o objeto de seu desejo...
ignora o que te espreita agora, ou viu,
esse silêncio que se materializou em solidão 
e irrealidade?


segunda-feira, 21 de abril de 2025

Sempre

Evidentemente, jamais pude amar a
vida como ela é. Não a amo por não 
concordar com ela, talvez isso se dê
por não poder compreendê-la, mas
sobre tudo que sei e tenho 
entendimento, eu não só não a amo,
como também passo a odiá-la.
Mas tudo bem, isso não muda nada,
mas faz toda a diferença para mim,
me sinto feliz em não concordar
com a maioria e poder escrever a
minha história jamais com a máxima 
de outrem, mas sim sempre com a
minha própria poesia.
Num futuro presente quando eu 
lembrar desses dias como hoje ou
como todos os ontens que passaram
por mim desde que pus meus olhos
em ti, não sei ao certo com que tristeza 
lembrarei, mas muito certamente com
muita pouca alegria poderei pensar
sobre o que nós jamais fomos.
Porém, lembrarei da lua admirando
você, lembrarei das tulipas medindo 
a beleza delas com a sua, lembrarei de
quando me disse ser muito solitária,
e eu ali na sua frente oferecendo abrigo 
e companhia, mas você não quis me ver,
de todo modo, poderei lembrar também 
de quando pude fazer você perceber o
quão incrível você é, porém, inacreditável 
mesmo será lembrar que a estúpida
juventude do meu coração te afastou de
mim ao se declarar apaixonado 
abruptamente sem ao menos você esperar,
eu sei, esse foi o erro, todavia, se amar é
um erro, ou foi um erro, deste erro eu
me declaro completamente culpado.
Como não lembrar que os poros de nossas
peles jamais compartilharam um 
um toque sequer. E por Deus que sempre
foi tudo o que eu poderia querer.
Lembrarei do vento em teus cabelos
ao vê-la tão cheia de energia correndo 
pelas ruas, correndo pelas vias desse
mundo em que você guia incansavelmente sua vida.
Lembrarei também dos teus poucos 
versos que quis me mostrar, e eu os
adorei com fervor como se fossem meus.
Dizer que lembrarei dos teus olhos e
olhar, é me repetir em redundâncias,
como o meu pensamento nesses dias é:
eu penso tanto em ti, e isso só não beira
um comportamento compulsivo, porque
se é à beira de algo que estou, não é da
obsessão, mas sim de um abismo profundo 
que é a recusa de um bem querer e vê-la
se tornando em rejeição. 
Sobreviverei, porém...ainda que seja apenas
para lembrar...
Eu sei que não morrerei desse amor,
e isso é o que mais me assusta, pois terei
de viver te amando até quando?
Isso ninguém poderá me dizer.
Talvez eu não te ame mais, quem sabe no
fundo eu nunca te amei, e muito
provavelmente eu te amarei pelo resto
de todo o meu sempre.



quinta-feira, 17 de abril de 2025

Oriente Próximo

Eu nunca tive você 
e mesmo assim eu
te perdi. Jamais em
momento algum eu
poderei te odiar...e
por me ver agora tão 
angustiado me
arrependo tanto,
embora não haja
culpa alguma,
do dia em que me
encantei com o teu
olhar...
pois se só tenho
olhos pra ti, e você 
não se cansa de me
ignorar, nada mais
me resta do que fingir
que tudo bem e levar
minha desolação para
outro lugar...
sigo então para qualquer 
direção e aonde quer que
eu vá, lá, desejo ainda
com mais força te ver,
mas você não existe,
mais para mim de você 
não há, nunca houve...
Se me amasse, pergunta 
minha alma para si, e
decerto com alguma
certeza jamais amará...
eu não passo de 
de um deserto que se encantou
com um oásis imaginário...
meu coração é um beduíno
batendo em círculos todo
o perímetro interminável 
do vasto campo florido
desse oásis deslumbrante 
que ele imaginou que seria
te amar...

terça-feira, 15 de abril de 2025

Sine qua non

Estes são para ti meu amor
meus últimos versos...
e ainda que o éter todo do
universo conspire a meu 
favor, eu sei que esse 'meu
amor' escrito aqui não passa
de um devaneio meu já 
chegando ao seu ápice, por
esse motivo, antes que tudo
isso se transforme em
loucura, eu me despeço de
ti aqui nesses meus 
entristecidos versos.
Eu quis muito você ao ponto
de me declarar, e o meu 
sentimento exposto, quando 
perguntado sobre o que eu
sentia, ele foi claro e direto
e se assumiu sendo de fato
amor, mas mesmo que fosse
só desejo e paixão, não faz a
menor diferença agora, pois
é certo que este é seu último 
ato, esse é para todo o sempre, 
desse meu amor, o seu adeus 
para essa ilusão que é querer
você e ter você para poder ter
meu coração batendo junto
ao seu lado a lado. 
Se ao menos você me dissesse 
que há reciprocidade mesmo
sendo impossível todo esse
amor, talvez esses versos de
despedida não fossem assim
tão tristes e desesperados.
Mas nada há...como nunca
houve e como certamente 
nunca haverá. 
Pois bem, desse modo, enquanto 
estou a morrer por esse amor
uma vez que não pude vivê-lo
junto de ti, me recuso a continuar 
para jamais sofrer de novo o que
insisto em sentir, não só eu mato
agora esse sentimento, como também 
jamais outra vez voltarei a fazer
poesia, para nunca mais verso algum
me lembrar desse tão infeliz e
ingrato momento. 

domingo, 13 de abril de 2025

Perspectiva

Quando ao vê-la
olhando para cima
achar que Ela está 
observando a beleza 
da Lua, pode até estar
certo, mas minha alma
de poeta pensa o oposto:
é acertadamente a Lua
olhando para baixo
admirando com certa
inveja a beleza da 
minha Musa.

Ininterrupta Tempestade

Tão distantes como o dia e
a noite, e interligados como
alma e corpo...
E conversamos através de
músicas e poemas,
do que mais você precisa para
continuar negando a
legitimidade desse amor?
Porém, por Deus e pelo Diabo
que eu entendo a recusa...
Parece que por onde pisas
teus pés eu posso ser chão,
e reclusa quando por proteção,
eu devo ser sempre o teu
telhado, e sou e..., chove
intensamente sobre mim e sobre
nós se aventura pelo que 
parece uma ininterrupta 
tempestade.
Se sou silêncio hoje é porque 
gostaria tanto que viesse falar
comigo, não trivialidades do
cotidiano, mas sim aprofundados
assuntos d'alma...mas você não 
vem...e quando pouco veio foi
para me dizer que não virá...
e quando tu passas por mim 
e os teus olhos
buscam outras coisas que não os
meus, aquele dia, instante e
existência não me servem.
Amar e morrer, como podem
se parecer tanto?
Amor e morte são sortes do mesmo
devir, ser um suicida que não pode
se matar não me parece tão 
diferente de ser um apaixonado 
que não pôde amar:
e eu Amo...e eu Morro...

sábado, 12 de abril de 2025

Longe Longe

Não pude nem ao menos tocá-la,
nem uma vez sequer pude
aproximar minha mão das mãos 
dela...e em desespero por isso,
meus dedos agora vivem da
obsessão de escrever versos
para Ela, e ingênuos pensam que
tais versos traram enfim uma
real aproximação:
Das mãos, das almas...
Dos lábios e corpos...e,
nesses versos, cada palavra
assume declaradamente que
minha poesia por Ela hoje
também está apaixonada.
Queria poder ser o vento para
brincar com os cabelos dela,
queria obter uma licença do tempo
para jamais morrer antes de poder
ter um singelo e sincero sorriso dela...
Ah quem dera Ela me olhasse e olhasse
de novo, e o riso faceiro do seu olhar ao
me ver, se risse e se fosse por mim percebido,
certamente moraria para sempre na
memória dos meus olhos que hoje
medem a distância entre mim e Ela,
e percebem que estamos longe, longe
demais dela e nos afastando aos poucos
cada vez mais e indo sofrer numa
quimera que se faz dia e noite mais e
mais distante.
No auge do desespero penso ter sido 
sorte minha o meu destino ter me 
possibilitado sofrer por Ela,
mas longe, longe do sofrimento 
sentimento algum aflora...e o meu
por Ela é todo flores e floresta.



quinta-feira, 10 de abril de 2025

Ela

Se fosse eu o horizonte 
certamente seria por Ela
que eu gostaria de ser
observado, mais do que
isso, seria por Ela qu'eu
desejaria ser conquistado. 
Se fosse eu uma janela
seria Ela que eu queria
que estivesse sempre
sobre mim debruçada,
observando a vida fora
das suas retinas tão 
interessadas, embora a
vida além d'Ela não seja
assim tão interessante. 
Se fosse eu os transeuntes 
que caminham pela avenida 
sob o seu olhar, chegaria
feliz ao meu destino sabendo 
que minha existência fora
por Ela percebida.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Não Mais Mais uma vez de Novo

E eu que cheguei a pensar que
meu coração possuía mais do
que uma unidade de consumo,
tolice, me desfaço desse engano
e faço do que pensei ser amor
nada mais do que um adorno
pendurado na parede mais 
esquecida do átrio menos 
visitado do meu coração destruído. 
Não voltarei mais lá...não mais
como da última vez que voltei a pisar
lá desde que a Vênus que pensei ser 
Musa já tinha me deixado claro que
eu jamais a mereceria. É fato, agora
percebo que jamais estive apto a
merecê-la, porém, não fomos capazes,
eu e esse meu coração, agora envilecido,
de nem ao menos cortejá-la como ela,
sendo a Musa inabalável que é, mereceria.
Mas eu, se nesse instante não posso dizer
que não mais a amo, declaro do fundo
do meu raso arrasado coração partido,
que farei o impossível para não mais
amar. O mesmo impossível que criaturas 
apaixonadas fazem para se devorarem,
eu farei para que esse impávido amor não 
me consuma. Não mais mais uma vez
de novo. E mesmo qu'eu declare o fim
disso tudo agora, é certo que eu sei que
por muito tempo essa desilusão irá me
assombrar existência afora. E eu irei
pagar o preço desse apreço ter
sido por ela jogado fora. 
Culpa toda minha de por ser um tolo
poeta achar que poderia ser deveras um
apaixonado compreendido, não, jamais
serei triunfante como sei que serão estes
também tolos versos. Nunca saberei o que
ela amas, mas sei que esse desgraçado essa
tão admirável Musa jamais amarás. 
Por esse meu profundo coração enamorado 
ter se transformado no meu mais
pesado fardo é porque hoje abdico desse 
amor que antes era meu sacerdócio e nesse
momento é minha desistência de qualquer 
nova aproximação entusiasmada. Irei, pelo
bem da sanidade dessa minha alma
deslumbrada, manter-me distante como
distante de mim sempre fora a alma dela.
Como eu poderia saber que o infinito 
daqueles olhos jamais me viram?
Agora são os meus que tal imensidão jamais
olharão de novo. E se por isso eu morro,
é do que se fará minha vida desde este
instante agora até o meu fim, 
que julgo merecer que não demore.




sábado, 5 de abril de 2025

Musa Impassível

Teus olhos...
quantos infinitos sugerem-me...
e olhando-os, nos olhos, nos olhos 
desse infinito maravilhoso que
mora em teu olhar, eu, enquanto 
te admiro falar, não deixo de não 
imaginar como seria se minha
presença morasse um dia também 
na memória desse olhar:
Ah! quem me dera eu existisse pra
ti como insistem teus olhos em meus 
pensamentos a ali também morar...
Teus olhos...quem me dera se um dia
procurassem os meus...e me vissem 
passar.

sexta-feira, 28 de março de 2025

Último Poema de Amor

 
Como saber se ela
Me ama também,
Como posso não me
Preocupar com isso,
Deus, como sentir tanto
Amor e não poder dizê-lo?
O mal de todo poeta é amar
O impossível e esperar que do
Indizível dito se materialize a
Realidade que tanto deseja, tolice...
Ledo engano!
Eu declarei o indizível,
Optei por me expor em oposição a ter
De calar meu coração partido.
Eu disse sofrer de uma vontade imensa
De amá-la, e mesmo que hoje sofra mais
Por isso, eu me orgulho da bravura indômita
Desse amor declarado, agora minha armadura
De poeta apaixonado é também de minha alma
A sua roupa mais bonita.

segunda-feira, 24 de março de 2025

Imponderável

"Suave Fogo, teu Corpo",
meus olhos pensam
olhando em teus olhos,
e enquanto converso
interessado inexplicavelmente 
em tudo sobre você,
penso também e sinto:
"Alma que queima mais que
Vulcão"...
e logo após, absolutamente te amo.

terça-feira, 18 de março de 2025

Fogo e Fênix

Passar a limpo em pensamento,
diversas vezes, todo o tempo em
que já estive em tua presença, 
faz com que aumente a vontade 
do desejo de estar diante de ti
outra vez o mais breve possível. 
Meus olhos se fecham para vê-la
com mais clareza dentro de minha
cabeça, e toda a profundidade da
minha alma enamorada reflete 
tua imagem que não deixa mais
em paz a memória desses olhos...
Meu coração um cofre vazio
violado pela tua existência, 
abrigada ali agora como quem
propusesse uma armadilha para
se mostrar para quem pensa tê-la
capturada, mas que na verdade
esse sim é o único cativo desse
aprisionamento antes pensado
proposto por ele...
Eu, vítima de mim mesmo desde
quando não pude ser capaz de
fugir dos teus olhos e olhar, da
tua pessoa e presença, e o que
mais me aflige é saber que tudo
isso se deu e se dá sem ao menos
eu ainda ter podido tocá-la:
tuas mãos e meus dedos, teus
lábios e boca e meus beijos, e
teu corpo e cabelos...tua nudez
de Vênus e minha perplexidade 
diante da posse do pecado servido
para mim em tua alma como um
cálice de doce veneno. Se antes eu
existia sem essa paixão e desespero, 
é certo que hoje morro diariamente 
de amor por você, e por você e só 
por você eu aceitaria voltar a viver
algum dia de novo. 

domingo, 16 de março de 2025

DestaTerra

Deus não será meu coveiro,
tampouco paraíso algum
será meu cemitério. 
Prefiro o solo desta Terra
para cobrir minh'alma como
o corpo e minha alma também
apodrecer, para que longe desse
planeta eu continue ainda não 
existindo. 

Admirável Destruição

Eu desejo o meu fim em teus lábios. 
Minha queda em teus braços e o
Apocalipse de tudo eu espero vivê-
lo em tua companhia. 
Em meio às ruínas que 
me encontrarei depois
eu quero não me arrepender em ti,
e tê-la para mim como quem
descobre possuir talentos mediúnico 
únicos, mesmo que esses talentos
revelem apenas o que se espera acerca
do fim. Eu quero morrer por viver com
você o sonho que nos destruirá ambos
em amor e redenção. 

Hoje

Um Dia Amanhã 
Será         Ontem 
      Também.
E ante pós ontem 
o Futuro. 


quinta-feira, 13 de março de 2025

Dissuasão

Se se cegam os olhos
seguem as trevas...
Escuridão!

Se se cerram os lábios, 
censura e silêncio e,
se se cerrram os punhos,
Revolução!

A fé é cega e tateia 
t i t u b e a n d o um
céu todo arruinado.

O beijo é amargo
à força a força de
uma mordaça para
cada palavra suprimida.

Os braços em riste
com os punhos fechados 
deve-se se dar sempre
por matar e morrer:

Quantas Vezes pelo Direito
de Viver se Fazer Necessário. 

domingo, 9 de março de 2025

Dessemelhantes

Não existem cores sem luz alguma,
e a densa escuridão d'alma de todo
poeta maior vislumbra as cores da
luz de qualquer aurora, e diferente 
de nossos primos vampiros que 
queimam ao contato com a luz de 
toda clara e azul manhã, nós poetas
maiores fazemos com que o Sol se
esconda atrás de densas nuvens
escuras por medo de perceber que
seu cálido brilho é desprovido de
poderes sobre nós. Somos senhores
da chuva, de ímpetos e tempestades,
e cinzentas nuvens brincam de imaginar 
figuras de bestas celestiais em nossos
versos cheios de trevas de semelhantes 
deuses, porém, todos o contrário de nós. 

Rasa Razão

Ao expulsar da cabeça 
suas ideologias às véspera 
de (a)parecerem com vestes
de más ideias, expusera o
vazio que habita o 
desinteresse de todo 
pensamento isento.

Do mesmo modo,
ao expulsar do peito
ardor àquelas paixões 
e querelas poéticas, quiçá,
filosóficas, expusera a todo
âmago o tormento em que pulsa
um coração quando o vazio o apraz. 

A Verve do Silêncio Sempre

Divino propenso 
ao maldito:
esse meu nada
dito, a verve...
virtude e vício
desse Eu adicto 
do silêncio sempre.

A lógica de tudo

Mais ao Norte
a Morte mais
ao Norte       a
M o r t e, mas
a Morte      ao
Norte mais ao
Norte, é mais.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Diatribes e Diabretes

Não se parecem com você, 
não se parecem comigo,
tampouco se parecem com
todos os outros que são 
como nós.
Você não tem culpa,
eu não tenho culpa alguma e,
entre os outros todos,
também como nós,
ninguém é culpado. 
Nem Deus nem Diabo,
não se trata disso também, 
mas veja, eles não preocupam 
o nosso Deus, porém, apetecem 
ao nosso Diabo:
O problema são as minorias,
os menos favorecidos, e como
bons Cristãos, nos padecemos 
deles e por eles oramos...
e que Deus tenha piedade
destas almas.

Psicopatia

Colhi de modo inadvertido 
um lamento poético do
teu olhar...
Teus olhos que pousaram
em mim deliberadamente 
quase sem querer, 
disseram-me com uma
avidez tácita, 
que eu de alguma forma 
lhe salvasse,
e meus olhos desesperadamente 
nesse mesmo instante 
perderam-se também na
mesma busca que pensam
te afligir, e para eles hoje,
pros meus olhos a salvação 
é te olhar...
e eu os arranco de minha face
se não puder mais vê-la.

Exsultet

A luz se
for      a
Lúcifer.
Se for a
Lúcifer 
há   luz.


Papa Morto

Quantas vezes repetir
o para sempre        até
perceber que      dessa
vez é para          nunca
mais...              de novo.

Todo Papa é muito velho
Todo Papado dura muito
Dura um longo tempo
até o Papa mais velho
ainda morrer,

desse modo, e pouco me
importa, o próximo Papa
já virá morto, de novo. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Carne, Sangue e Solidão

Fascinado por Icebergs, 
Baleias, Árvores e Colossais
Estruturas de Gás e Poeira
do Cosmo.

Apetece-me vocábulos insignificantes,
fonemas obsoletos...e o silêncio prolixo 
de um pensamento profundo no olhar.

A chuva me causa fascínio, 
o fogo, a madrugada e minha morte.
Poesia minha Musa e a música 
minha redenção. 

Um poeta por ofício e maldição, 
assim como Jesus é Cristo, porém,
não sou filho do pai, sou de minha
Mãe: Carne, Sangue e Solidão. 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Dos Demônios a Métrica

Detrás de cada poema,
versos; de cada verso
a pena; detrás da pena,
dedos tortos, retorcidos
por Ela; detrás destes,
a verve ávida de
um poeta à frente do
passado de cada rima 
ou não da sua poética;
por detrás dessa poética, 
Demônios...dos Demônios
a métrica. 

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Poema para Lucrécio

Silêncio ocioso sou eu e fui,
pelo entorno dos meus quandos
enquanto eu ía, seguia calado,
desejava sempre tanto que 
olhassem para mim, porém, 
vejo meu ao redor às cegas:

Mas eu vi o verso,
ouvi o verso,
devir do estro,
dever do gesto do
universo que fala,
que assalta aos olhos...

Mas há quem diga que não, 
que não e nem mesmo talvez,
nem vi nem houve.

E o quanto eu sinto que sim,
tem a mesma falsa vontade
da autêntica ilusão de algum
dia também ser notado ou
ouvido. Ou lido ou amado...
Mas se o esquecimento for
o meu destino, o mínimo que
posso esperar é que pelo
menos seja para sempre.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Opuser

Pondo um ponto
final ao fim,
sigamos:
Endosse ir em frente, 
enfrente ávida à se
opor a tudo que se 
desmorona  sobre si, 
sobreviva...convença...
para não ter que 
morrer vencida com
um gosto amargo
na alma.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Isso Sou Poeta

Eu acredito na filosofia, 
no fatalismo, na ansiedade 
e na poesia. 
A existência de Deus ou não 
não faz a menor diferença, 
eu não acredito na crença...
Duvido de toda certeza e 
acredito nas dúvidas, 
credito nas dúvidas a razão 
de ser nula toda certeza,
a razão de ser nula qualquer 
esperança, a razão de ser tola
toda fé, inclusive a minha...
Eu jamais poderei ser o que
não sou, ainda qu'eu tente,
e se sou poeta, isso sou poeta,
é porque a poesia é minha
alma a me opor a toda pobreza
de espírito da humanidade que
rasteja à sombra de Deuses e
Diabos, que rastreia adeuses e
ditados, pouco importa a origem 
e o destino final, eu vou pela
glória do ínterim, das lacunas,
do meio e não dos fins, meu 
tempo efêmero é externo, em
meu âmago a eternidade é só 
mais um calendário velho,
pendurado na parede da memória 
da minha psiquê primitiva.

A morte amo

Demora mas chega, 
difícil é sobreviver 
até                         lá. 

Porém, quando vem,
muda tudo, transforma 
a vida da gente:

Te amo amor te amo!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Através

Deixa o beijo dizer pelos lábios 
o que os olhos veem...
Um silêncio traz novidades que
há muito procuram serem ouvidas,
porém, a boca calou pelo sabor
doce do beijo, e desse modo os 
olhos se veem em um brilho antes
jamais visto, e ao longe ao largo
ainda percebe-se ecos do silêncio 
ainda ressoando mesmo tendo se
dissipado pelas vozes daqueles que
trazem as boas novas:
É a Morte! A Morte que se avizinha,
e ela não vem sozinha uma vez que
surge com todas as nobres almas 
que seduziu pelo caminho...
E Todos Morreram Felizes para Sempre.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Vivissecção

Pululam as entrelinhas 
meus versos, e entre um
entreato e outro da pausa
para compreensão de quem
lê, discorrem sempre 
ditirâmbicamente sobre
morte, vida e poesia, 
e antes que o leitor 
perceba que a poética 
ausente se apresenta como
uma assombração por entre
o texto, o autor mesmo
revela o susto e, apresentando 
disposta sobre as linhas o
corpo ainda quente, aberto e
dissecado da métrica,
como se esse poeta fosse
taxidermista, mas em se
tratando do corpo morto
exposto da métrica, esse
poeta está mais inclinado 
para a psicopatia. 

Sexta Rock Blues

A vida não pode ser boa
por ser horrível;
O amor por ser terrível 
não pode ser bom:
   Do Mesmo Modo,
de tardezinha é incrível 
a tristeza se se é todo
alegria logo após o
pôr do Sol...
-Quando na madrugada 
morremos, estar vivo
ainda na manhã seguinte 
é realmente desesperador. 

domingo, 26 de janeiro de 2025

Adeus dará

Ainda estou esperando a minha
grande década, e os dias que
demoram a vir, seguram consigo
semanas, meses e anos de glória. 
Desejo
acolho
concedo...e eu não me adapto ao
o que eu não quero, 
eu sofro e repilo, 
não sou dócil nem dúctil,
jamais serei o mesmo independente 
mente da situação, e se a vida ainda me é
amarga que ela não espere doçura
da minha parte.
Ser forte não é ser invencível, e toda
vontade requer força, 
mas até quando deveremos ser forte
se essa força de vontade não nos
tornará imortais?
Muito pelo contrário, de qualquer
modo nos encaminhamos para a
morte e isso sim pode ser inspirador.
A vida é resiliente, pois é a morte quem
lhe permite ser, percebe?
Eu não prefiro a morte e não me apego
a vida, eu prefiro a Arte e presumo meu
amor fati ser a poesia.
A morte de um poeta é o que há de mais
triste para a humanidade, e é talvez a
maior felicidade que possa brotar dessa
Terra para os deuses, 
eu pouco me importo com ambos.
O céu é queda para os deuses, e elevação 
para os Homens, eu sou só poeta,
nem homem e tampouco deus, 
e por isso habito o subsolo. 
Quando o mundo não mais acabar,
quando não houver mais morte pela
última vida perdida, então nesse dia
eu hei de brotar com minha poesia
como uma forma nova de existência. 

sábado, 25 de janeiro de 2025

Atento para com a vida

Eu lido com tudo isso há muito tempo...
comigo mesmo e, lentamente, o tempo 
que me resta me arrasta com ele por
sobre todas as coisas.
Eu leio pelo caminho o desenho dos
meus passos e percebo que quanto mais
volto meu olhos por onde passei mais
meu destino se faz incerto uma vez que
não olho por onde vou e sim por onde vim...
e sim por onde vago, e onde chego e
quando chego, é sempre desse lugar que
parto. E sigo...e volto meu olhar ao largo
e desejo que meus passos não me sigam,
para que jamais me mostrem o caminho
de volta outra vez.
O tempo leva consigo nós todos,
e o dia de hoje me parece interminável. 
Eu levo minha vida comigo no caminho
que trilho para a morte, elevo minha
morte ao posto de Musa e me desfaço da
vida como me despeço com um até mais
ver de alguém que sei que nunca mais verei
de novo, e no fundo por querer revê-la,
não desperdiço meu adeus. Minha existência 
é estranha como é estranho querer rever
alguém que não se conhece. 
Como saber quem se é de verdade sem ao
menos atentar contra a própria vida uma
única vez?
E tirando o A como prefixo de negação eu...
Eu tento sempre.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Enseja

Sê um Ás voraz e
devorar-se, ou também 
árvore ser e arvorar-se 
assim em si e ser
floresta para os seus
que buscam sua
natureza e ser sustentável. 

Ser o ar e, eventualmente, tempestade:
afetar ares de...
plantar em si sementes de céu e semear-se,
viver como ser a chuva a se molhar.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Ódio

Antes de mim eu já havia.
Nesta mesma vida e existência, porém, 
antes de agora jamais.
Ontem eu não existia,
embora seja eu um velho desconhecido, 
e o que hoje represento, em vidas passadas
nunca pude acontecer da maneira como 
em futuros tantos canso de ser.
Eu sou o fim de mim mesmo em meio
a muitas reconstruções diárias,
sou poética da retórica dos silêncios que
não pude calar. Eu falhei. Fui falho como
Deus é. E quando minhas palavras se voltarem contra mim, então poderei finalmente 
abraçá-las. 

O nosso problema é nos emocionarmos, 
não fosse o amor, seríamos perfeitos...

e isso é humano, não divino, e eu amo,
embora eu odeie a humanidade.