E eu que cheguei a pensar que
meu coração possuía mais do
que uma unidade de consumo,
tolice, me desfaço desse engano
e faço do que pensei ser amor
nada mais do que um adorno
pendurado na parede mais
esquecida do átrio menos
visitado do meu coração destruído.
Não voltarei mais lá...não mais
como da última vez que voltei a pisar
lá desde que a Vênus que pensei ser
Musa já tinha me deixado claro que
eu jamais a mereceria. É fato, agora
percebo que jamais estive apto a
merecê-la, porém, não fomos capazes,
eu e esse meu coração, agora envilecido,
de nem ao menos cortejá-la como ela,
sendo a Musa inabalável que é, mereceria.
Mas eu, se nesse instante não posso dizer
que não mais a amo, declaro do fundo
do meu raso arrasado coração partido,
que farei o impossível para não mais
amar. O mesmo impossível que criaturas
apaixonadas fazem para se devorarem,
eu farei para que esse impávido amor não
me consuma. Não mais mais uma vez
de novo. E mesmo qu'eu declare o fim
disso tudo agora, é certo que eu sei que
por muito tempo essa desilusão irá me
assombrar existência afora. E eu irei
pagar o preço desse apreço ter
sido por ela jogado fora.
Culpa toda minha de por ser um tolo
poeta achar que poderia ser deveras um
apaixonado compreendido, não, jamais
serei triunfante como sei que serão estes
também tolos versos. Nunca saberei o que
ela amas, mas sei que esse desgraçado essa
tão admirável Musa jamais amarás.
Por esse meu profundo coração enamorado
ter se transformado no meu mais
pesado fardo é porque hoje abdico desse
amor que antes era meu sacerdócio e nesse
momento é minha desistência de qualquer
nova aproximação entusiasmada. Irei, pelo
bem da sanidade dessa minha alma
deslumbrada, manter-me distante como
distante de mim sempre fora a alma dela.
Como eu poderia saber que o infinito
daqueles olhos jamais me viram?
Agora são os meus que tal imensidão jamais
olharão de novo. E se por isso eu morro,
é do que se fará minha vida desde este
instante agora até o meu fim,
que julgo merecer que não demore.