quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Última Estrofe

Suicidou-se, de modo sui generis o verso.
Passou a lâmina da verve afiada nos
pulsos da poética. De ponta de metal
pesado a pena, cravou-a no peito do
poema e assim assassinou a poesia.
A poesia com seu sangue a escorrer da
ponta da pena, riscou em vermelho 
viscoso uma última estrofe que dizia que
não foi o verso o autor daquela morte,
ainda que o verso morrer quisera.
Disse a poesia no seu último suspiro
escrito que o assassino não poderia ter
sido outro senão o maldito poeta.
Mais tarde debruçado sobre versos 
mortos, o poeta também foi encontrado 
morto. Morreu de remorso e culpa, aliás,
matou-se pela dor de ver morrer sua
poesia, matou-se pelo arrependimento de
ter investido, digo, inventado a morte
daquilo que escrevia.

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