domingo, 31 de agosto de 2025

Nossas Poesias

Não à poesia que nos liga, 
aliás, sim à poesia que não 
nos liga, mas que deveria?
Talvez, porém, esse talvez
é filho bastardo e único de
uma esperança tão 
ridícula quanto maravilhosa
poderia ser se pelos acasos
da vida e pelo poder invisível 
do imponderável um dia 
nossos caminhos pudessem se
entrelaçar, e eu imagino o destino 
tricotando a tessitura da sua
elegia mais comovida, e como 
a morte de um verso em uma 
linha tão viva é quase um desdém 
ou sacrilégio à natureza indestrutível 
da poesia, eu digo nesses versos
que nascem agora pra eternidade,
tão meus para ti, mas que nunca
saberei se chegarão aos olhos de
tu'alma, que há uma presença da
ilusão da tua presença que exerce 
em mim um não sei o quê de uma
vontade de você tão grande que 
por ora, por agora, eu não posso
explicar. Mas explicar o que, se
não está acontecendo nada,
não é mesmo?
É um diálogo de minha solidão 
com minha solitude, e a língua 
que elas falam está entre o
idioma das sombras e a linguagem 
quase mímica da luz. 
Falam sobre nós em um tempo
em que nós ainda não existimos.
Mas um dia nossas poesias beberão 
do mesmo verso no mesmo cálice
poema.



sábado, 30 de agosto de 2025

Seis Faces

Estava a jogar dados com Deus
e com o Diabo. Tentando a paixão 
do azar com a silhueta falsa da
sorte e, aquele que tirasse o
número maior, sairia da mesa
com a posse da sorte alheia e com
um desdém nos dentes pelo azar
dos derrotados adversários.

Se fosse Eu, poderia escolher tomar 
o lugar de um e do outro e assim 
ambos se anulariam.
Deus me venderia minha morte
na planta e terminaria durante
meu resto de vida de planajá-la
eu mesmo, e no tempo determinado 
no projeto, eu a executaria.

O Diabo perderia seu posto e me
serviria, eu receberia seu título 
de Lúcifer, como Jesus serviu a
Deus sob o título de Cristo desde
a infância até a agorinha.
Eu seria a personificação, pelo menos
em tese, de uma espécie de santíssima 
trindade: Eu o todo poderoso vencedor,
e os vencidos Deus e seu braço direito,
o Diabo.

Se fosse Deus quem tirasse o
número maior, de mim ele faria,
a contragosto, mas por vingança,
seu pupilo e me encarregaria,
pelo seu bel prazer, suponho, de
levar sua doutrina nas minhas
palavras e versos pelo resto da
vida aonde quer que minha pena
e passos fossem.

O Diabo voltaria para o seu submundo 
devendo manter-se subserviente a Deus 
e a todas as suas vontades e caprichos,
viveria como o Diabo, mas sofreria a
existência como um Homem.

Se o Diabo tirasse o número maior,
ele voltaria para os céus, governaria
o mundo e faria de Deus, é claro, o
seu mais fiel vassalo.
Quanto à mim deveria doar para ele
a minha alma e corpo, de minhas
carnes ele faria um banquete junto 
aos seus demônios, e de minha alma
ele faria chama de candeeiro que
arderia pela eternidade, iluminando 
altivo e não bruxuleantemente, para
todo o sempre os seus aposentos.

Eu joguei o dado e tirei seis;
o Diabo jogou o dado e tirou
seis também; Deus jogou o
dado e tirou sete:
-Milagre, milagre! - gritou Deus -
eu venci, eu venci, como venço 
sempre.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Azul em Êxtase

Ver teu coração gelado em chamas.
Verter paixão do meu peito,
nascente dessa intenção de te amar,
e desaguar em ti, em tua alma,
foz de todo esse amor.
Tua boca aveludada, porta voz de
um silêncio de aço, morder-te os
lábios com beijos desesperados...
e como quem se joga de um penhasco,
brincando ser o céu um teto e seu voo
ao solo a queda silenciosa de um
candelabro de quase-cristais 
inquebrantáveis.
Dos teus olhos distantes que ainda 
não me viram por eu estar assim
tão próximo, ter o teu olhar em mim 
que fizesse que ti por mim se
apaixonasse.
Ascender à tua enlevada alma e
entender a beleza negra em tua
pele alva, alvo dos meus olhos que
buscam descobrir querendo jamais
decifrar tal enigma para sempre
serem devorados, e para onde olha
a Esfinge, ser o horizonte contemplado 
olhando de encontro tua aura de
sacerdotisa helênica, que em versos
raros só o mais talentoso dos poetas
conseguiria reproduzir tua beleza.
Erradia de ti, agora consumida pelo
fogo de nossa ambiciosa paixão, um
Halo de luz de um céu de um azul 
em êxtase, do Sol farol super 
entusiasmado por nos ver sob suas
sombras.
Musa que também escreve belos versos e,
se estes versos descrevessem a beleza dela,
produziriam outros versos mais belos ainda:
poesia para pegar com os olhos e ler
cuidadosamente com as mãos, e meu tato
ama poesia e é também um artesão 
habilidoso, fazer do meu bem querer por
você obra de arte e deixar todo dia em
exposição em teu corpo, magnífica galeria
de naves nuas que somente ao meu amor
preenchê-la toda cabe...
Fosse incêndio você, eu seria o fogo que arde.

Invioláveis Aviltados

A Musa da Missa
é Maria, de Jesus 
a Madalena, e de
Deus a Virgem.
Do Padre o Coroinha.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Em si mesmo entretece,
entre teses e mais teses
de ser ou não ser, Ele
se entretém assim,
esse ser poeta, e
entristece-se 
se se destece 
o que é e se vê 
desinventado por quem
o criou.

Exercer

Passei um mês e meio
tentando sobreviver ao
dia de ontem. Já tem
uma semana que 
resisto ao dia de hoje,
e pra amanhã tudo
correr bem, é certo
que precisarei de
pelo menos mais um
ano.

Resilientemente

Morte morrida 
é   um   tipo de
suicídio        às 
avessas.

Dois Três Quatro

Ainda qu'eu ande pelo que vale
minha sombra pra morte, sem
medo, não ater-me-ei a mal
nenhum no caminho,
porque o Sol eu sei que está 
comigo. Muito embora eu siga
por trevas e, entre bestas 
como eu, eu sigo sozinho.
Se a morte procura por mim
buscando encontrar minha sombra,
então que ela vasculhe toda a escuridão.

De Todo Coração

Meu farto coração de tudo
i n f a r t a     f á c i l, desde
desse peito vitrine e nele
ele como enfeite exposto,
até o transeunte Amor que
passa e o ignora com a 
mesma pressa que o
compraria se ele estivesse 
à venda à vista, mas ele
só se dá ao acaso a prazo
de uma vida toda, e
nesse ínterim entre amar
e ser amado, desvaloriza-se
o apreço alheio por ele e
doa-se inteiramente de 
alma e corpo ao primeiro 
que não puder tê-lo mas
que deseja encarecidamente 
vê-lo livre batendo em 
retirada de toda pressão 
que é ter de ser amado
a vida inteira.

Fosse Fogo

Não fumo, mas se tivesse 
fósforos causaria um
incêndio, porém se eu
fosse bombeiro apagaria
o fogo. Se eu lesse Sófocles 
escreveria versos, mas se
fosse poeta não. 
Se eu ousasse mais em
hipóteses empíricas,
eu a priori poderia ser
bem mais que apenas
expectativas...
e se a propósito eu tivesse
fósforos e fosse poeta de
fato, eu incendiaria esse
poema. Mas não tenho
fósforos e tampouco sou
poeta, sou bombeiro civil 
e tenho um isqueiro apenas
para acender o meu cigarro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

D'existencia Divina

Eu sou Deus e nunca fui
Deus sou eu e nunca foi
Precisar de Deus jamais
A não ser que de joelhos 
Ele me peça com carinho.
Deuses não existem 
Deuses não resistem
Deuses não!
Um dia Deus falou comigo 
e me disse que não tem
problema algum não crer
na existência dele, mas que
é muito importante jamais
agir e se parecer com 
aqueles que acreditam. 
Essas pessoas podem ser
perigosas, me disse, pois,
uma vez que elas pensam
ter ao lado delas um Deus
todo poderoso, imagine
que atrocidades podem 
fazer. E por se sentir culpado 
e envergonhado 
pelas barbáries praticadas
pelos seus simpatizantes,
Deus manda avisar que
hoje, aliás, a partir de hoje,
Deus não existe mais.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Segunda-feira

Penso na miséria da minha
existência e justifico o uso
da minha imagem para
ilustrar embalagens de
desespero industrializado.
Vivemos a esperar por algo:
um telefonema, um e-mail,
mensagens de quem (não) se
importa com a gente, e até 
a morte que virá daqui a pouco 
ou daqui a décadas.
Eu procuro emprego pelo
dinheiro que preciso e não 
pela atividade que por ventura 
posso vir a desempenhar.
E quando me ponho a escrever,
coisa que acredito que nasci
para fazer, me vem logo o
desespero de estar perdendo 
tempo ao invés de sair e
entregar currículos.
Então escrevo meus poemas
e saio colando-os por onde
pessoas passam e ignoram
a existência de qualquer coisa
que não seja elas mesmas e
suas existências miseráveis.

Soneto

Matam-me leões todos os dias,
e comigo mesmo e para os outros 
todos sempre digo, estou cansado 
de sempre matar um leão por dia.

Se é simbolicamente falado o ditado,
então que seja mais verossímil o que
se diz, o cansaço diário é por sempre
morrer e não por ter de matar leões.

Logo eu, que abomino caçadores e adoro 
leões, mas mesmo assim sou todo dia
mortalmente ferido pelo rei da selva.

O que posso fazer para mudar isso jamais 
pude saber, inofensivo como um jardineiro 
ou poeta, conheço versos e sei da relva.

Sapiens Sapiens

Poesia rupestre à dura pena em
paredes de cavernas, à duras penas
escrita à la um sílex em carne de
caça, risca as pedras de paredes
internas de toda a caverna:
o primeiro Poeta, um Hominídeo
ainda, versando em vermelho sangue 
através de sinais que dos dedos tortos
dele surgem. Descreve o cotidiano do
Clã à luz da recente descoberta de
nova tecnologia, o fogo. Esse proto-
poeta e quase humano passa as noites 
em claro espelhando nas pedras das
paredes da caverna seus pensamentos,
lembranças e sonhos:
um animal gigante,
o fogo, a tribo, as
estrelas brilhantes em
meio a estranhos visitantes 
que descem dos céus de
tempos em tempos, naves,
luzes, seres de cavernas siderais
que ficam além do profundo do céu...
Tempos depois, quando num fim de
tarde esse primeiro Poeta não apareceu 
mais, todos os outros jamais perceberam
sua ausência, do mesmo modo como
jamais notaram a poesia nas paredes, e
um tempo depois que deixaram aquela 
caverna partindo para outra, ela desmoronou sobre si trazendo abaixo 
toda a estrutura interna.
Nos escombros de milhares de anos dessa
caverna ainda há vestígios da arte daquele 
desaparecido Poeta. 
Longe, muito longe dali, em uma gigantesca 
rocha que circunda uma estrela distante,
observa o céu a procurar pelo caminho de
casa o primitivo Poeta, agora também ser
interestelar, e quando voltar para os seus,
se um dia voltar, descerá dos céus e será 
tratado como um Deus.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Cavalo

Agarrar-se ao éter para
sustentar-se em pé e,
depois de muito viver,
decidir pela morte eterna,
prática efetiva, e ter de 
se matar de novo para
viver outra vez jamais
valeu a pena...
Diferente de viver ou quase,
eu morrerei por força de
regra inalienável.
-devemos matar um Deus 
por dia:
a cabeça do Deus sacrificial 
será o alvorecer; os olhos o
Sol; seus braços e pernas são 
as estações; suas articulações 
os meses; seus pés os dias; as
mãos a noite; seus ossos as
estrelas e sua carne as nuvens.
Ao invés de se sacrificar ou 
sacrificar um Cavalo, sacrifiquemos 
um Deus, assim eliminamos o
supérfluo e ficamos com o que
nos é útil ou que pode ser se assim 
precisarmos um dia.

Pobre Deus

Morre-se invariavelmente 
comovida todo dia gente
como a gente, morre-se de
vida sem perspectiva alguma,
e se morre de noite tem de
ser uma morte rápida porque 
de manhã já é pra estar de
de pé ressuscitada toda gente 
que morreu na madrugada,
outro dia a mesma vida e outras
mortes, mas há muitos modos
diferentes de viver: vive-se com
fome, vive-se com frio, vive-se 
com violência, vive-se na miséria e
na misericórdia, vive-se nas ruas
e sonha-se com esmolas melhores 
dia sobre
dia...sob o frio de escuridões de
intermináveis noites frias, e mais 
frio que os dias e noites é o coração 
e alma congelados daquela gente 
que não divide com a gente a
mesma morte e tampouco a mesma 
vida...
e se são gente como a gente, Deus,
como podemos ser como eles se é
visível que a sorte deles em nada
se parece com a nossa?
A sorte deles é dinheiro e o azar
nosso a mesma sorte...que jamais 
tivemos ou teremos... mas temos
a Deus, e o tememos...pois em nada 
isso se parece com sorte...bom mesmo 
seria dinheiro, ter muito dinheiro para
desse pobre Deus ser menos temerosa
a nossa vida e menos desejada a nossa
morte.

domingo, 10 de agosto de 2025

Insepulto

Deus morreu dentro 
da Humanidade...
e os Homens fizeram 
do mau cheiro
religião. 

Non-reversing mirror

Um terço do
reflexo no
espelho é
miragem,
a alma 
irrefletida é 
deserto, 
e a falta de
beleza oásis.

Que tende a ser volátil

Um verso de
extrema 
densidade,
pesado como 
chumbo,
brota do
delicado bico
da pena que
empunha a
mão pesada 
do poeta em
construção de
um etéreo 
poema.

Imperfeição Humana

Poesia que me quis,
confessa tuas intenções 
ao redor de mim,
teu bem querer é
métrica ou poema,
fará jus ao verso livre
o teu amor, ou teu
interesse é ter controle 
sobre o riscado da
minha pena?
Da poesia eu quero a
inspiração sem tamanho,
e não uma quantidade 
certa de letras e sílabas 
como se isso fosse
matemática exata e não 
a beleza de incertezas
em perfeição humana.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Ex Tunc

Nada mais de novo há senão o
fim de tudo...

Fui esquecido pelo passado das
coisas que já vivi, mas eu lembro 
de tudo:
lembro de quando aprendi a ler
a cada novo livro lido;
lembro de quando aprendi a escrever 
a cada novo verso escrito;
lembro de quando aprendi a caminhar 
a cada novo passo dado;
lembro de quadros que há muito pude
observar a cada novo quadro 
observado;
lembro de músicas que gostava quando 
criança a cada nova canção que ouço;
lembro dos medos que antes eu tinha 
a cada desafio diário vencido;
lembro dos sonhos de antes a cada 
novo pesadelo vivido;
Nas noites em claro que hoje a insônia 
me faz companhia eu lembro do quanto 
antes eu dormia tranquilo;
me lembro de um Deus raivoso que me
diziam existir em alguma parte do céu 
sempre que me perguntam por que sou
ateu;
lembro de não querer ter sido astronauta 
quando criança por medo de acabar 
cruzando com Deus;
lembro do meu pai que nunca tive 
sempre que olho para minha filha;
lembro dos amores que não me
corresponderam no amor hoje vivido
e compartilhado com quem me ama;
lembro do escuro que jamais me causou
medo quando criança na escuridão que
hoje ilumino;
lembro da poesia que jamais entendi 
quando muito jovem nos poemas
incompreendidos que hoje escrevo;
lembro do fim do mundo que antes
parecia ser iminente na eminência da
esperança que hoje ainda tenho.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Acolher à Coerção

Conceder a Lúcifer o título de Cristo,
fazer imagens de barro de Deus e 
dar a Ele a mesma carranca do 
artesão que o fez:
Deuses, os primeiros impostores, e o
Homo sapiens o primeiro impulsor.
Guerra, a língua paterna de toda a
Humanidade, sempre foi o idioma 
favorito de Deus, e o Homem auto-
didata aprendeu sozinho e jamais
parou de tagarelar. 

Vitral Noir

Colorindo sombras quando 
não sombreando arco-íris,
deslizando passos por úmidas
ruas ladeadas por bueiros 
exalando vapores podres com
cores de auroras boreais.
Revoluções em riste imploram
apoio dos meus punhos
cerrados enquanto minhas 
mãos entorpecidas descansam
em meus bolsos sem uso
de minhas vestes vertiginosas.
São vícios insanáveis toda 
essa auto destruição de toda
moral humana, e segue-se assim 
em overdose e mais super 
dosagens de destruição em massa
em telas de máxima resolução.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Último Momento Possível

Já fui dessa pra melhor
quando me segurei ao
fim antes que esse fim
fosse novamente (em 
cima da hora) adiado.
E se hoje estou de volta
na pior é porque decidi 
partir antes do tempo.
Mas como pude me
antecipar se era evidente
que minha hora havia
chegado, de outro modo,
se eu avisasse que
chegaria atrasado,
também não seria
ir à frente no tempo?

Passado Futuro

Eu preciso pra ontem
pensar em meu futuro 
dentro dessa madrugada 
ou no mais tardar nessa
manhã, por isso não 
posso prolongar a insônia,
uma vez que hoje já 
é amanhã e antes que
esse dia seja um 
novo anteontem 
depois de amanhã.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A quadratura do círculo

Sou de mim um Deus,
sou também ateu,
satanista e o próprio 
Diabo. Sou sobre mim
poesia, sou talvez cada
verso que expressa 
certeza e sou do mesmo 
modo o poeta que
exprime e espreme 
dúvidas em formatos 
de poemas. Sou o meu
fim em meio a cada 
recomeço...
Sou de mim um adeus,
e sou também a teus pés 
quem implora que não vá,
embora haja espaços
distantes entre os passos 
dos teus pés e os vôos 
de minhas asas assombradas
pela má sorte de ainda
não saber voar, é quando 
caio em si...
Eu risco um semicírculo
quadro a quadro enquanto 
a vida assiste a tudo, 
e o design de tudo que existe 
atira-se do mundo das ideias 
e uma vez em solo vai pro
subterrâneo. Eu cavo a minha 
cova, deito em minha tumba e
sou a própria Morte, ainda viva.

domingo, 3 de agosto de 2025

Boca Boca

Ouvi dizer que
deu-se de boca
a boca todo
aquele silêncio.

Mas são só rumores,
pois surge como soa
e quando soa urge.

Pós-Guerra

Cabisbaixo no ápice 
e de cabeça erguida 
no profundo de cada
fundo de poço: Fosso,
meu auge...
quase sempre o mesmo 
auge de antes.
Não venço dar conta
de tantas batalhas,
nessa guerra (dentro)
de mim não venço dar
conta de todas as batalhas,
porém, se sinto-me vencido 
por mim mesmo, então há 
de haver em algum lugar
um Eu que seja vencedor 
também. Mas em cada 
cenário pós-guerra me
encontro sempre arrasado,
enquanto em paradoxo outro 
exército sucumbe ao meu
distinto general.