terça-feira, 10 de maio de 2022

Aspectus

Perder a calma pelo óbvio
pender a aura para o ódio,
vender o Diabo para a alma
e no amor fazê-lo ópio,
fazer o errado por linhas
certas, com os dedos tortos
ir por certas entrelinhas,
a métrica uma regra abolida,
sacrificar muitos versos e doar
a mesma alma para a poesia,
fazer rimas mais ou menos 
à risca, ferver à toa o sangue
da pena, a verve a esmo e o
estro se perde à vista,
ser um nada de saco cheio,
todo farto da vida, vazia...
endeusar o poeta e
santificar o poema,
bem mais tarde, depois da morte,
do mesmo modo como em vida seria.

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