terça-feira, 28 de junho de 2022

Além Mar

Areia entre os dedos dos pés
e os passos calmos nada demonstravam
do que se passava por dentro da alma,
os pensamentos por entre os dentes
com raiva,
calada a boca a cabeça jamais para,
essa fauces hiantes ainda me devora.
Acalmava o furioso mar que na praia
me observava,
o desespero do meu olhar buscando o
limiar do horizonte pronto para me
perder.
Poderia mergulhar nas águas salgadas
assim como meus olhos,
mas meus pés só pensavam em continuar,
caminhar para achar em algum lugar o
objetivo de ser. Para os passos o significado
é seguir sem parar, 
mas para os pés que sustentam o corpo o
descanso parece ser o sentido de tudo...
e a cabeça a pensar,
os olhos a ver,
a boca a falar.
Rispidamente parei de buscar,
deixei de fugir,
rompi com os pensamentos e
pus o olhar no escuro,
profundo como o silêncio que
a boca jamais proferiu.
O mar mergulhou em mim
refletindo as crateras da lua
em suas águas calmas,
e então toda poeira da superfície
lunar se conectou com cada
molécula de sal do oceano todo.
Eu continuava ali,
mas agora com as águas salgadas
pelo pescoço,
os pés submersos seguiam,
pensando na cabeça que não
sabia nadar.
Jamais fui visto novamente,
como antes do mar me perceber,
como antes do mar me objetivar.

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