sábado, 29 de novembro de 2014

Grã Odiosa Opera

Oh! fêmea matriz,
abriga-me em teu útero
como filho único ou,
em todo caso,
como câncer putredíneo,
fruto teu e do descaso.

Oh! mãe de toda beleza,
deixa-me adentrar tuas entranhas,
deixa-me existir como criatura
profana e morar no interior
sacrossanto de tua natureza.

Mesmo que minha voz
não produza nenhum canto
permita-me soprar em teus
ouvidos meu pranto atroz,
permita que dentro de ti
meus gritos de dor encontrem
a paz, mesmo que esta dor não
a torne condescendente deixe-a
buscar em ti algo que a acalente,
algo que a apraz.

Ah! senhora,
eu que não admiro a pureza,
eu que em nada me encanto
com tal leveza, rogo à ti,
sonda-me:
tu que não és Maria,
tu que não és a virgem
violada pela divindade auto-
intitulada senhor de toda
supremacia,
tu que devoras os tolos,
que outrora já existia mesmo
antes de nada haver nos
pergaminhos da historia e
em todos os velhos tomos
do evangelho, diga-me oh
dona da minha reverência,
será possível a existência
apesar de sua nata efemeridade,
com muita perseverança, ter o
mesmo tempo que a eternidade,
ou apenas a inexistência possui
a mesma similaridade (contem-
poraneidade)?
Eu um abjeto expelido do
ventre do tempo queria muito
provar do infinito apenas uma
vez e assim habitar para sempre
esse tão único momento.

Oh! minha amada,
concede-me a eutanásia,
lhe suplico, não sou apto
ao suicídio pois em mim
não há alma e, meu corpo,
esse involucro vazio,
não pertence à mim,
é todo teu oh! fêmea matriz,
e é teu destino dar cabo
de mim, assim, liberta-me
para a eternidade,

— livra-me de ti
oh! dama covarde.

Sei que eu nunca soube
oque fazer com tal dádiva,
com tal lástima que nunca
coube em meu ser, e as
arestas nunca foram aparadas.
O tempo todo em meu caminho
eu tropecei em ti e a cada queda
mais pro fundo tu me puxavas.
Meu destino sempre foi um
menino violado pela mãe incestuosa
que sempre o embalava em seus
braços e, com seus abraços,
sem misericórdia o vilipendiava,
oh! bruxa poderosa.

Não é minha culpa o fracasso
uma vez que tu me reprovaste
sem ao menos me permitir
fazer a prova.
o talento que me deste é o
mesmo de um médico que num
mundo de saudáveis tivesse o
dom de erradicar toda uma
sorte de pestes.
Aquilo que produzo ninguém
consome, eu caído em desuso
em meu ápice, um poeta
decaído que não pode fazer
uso de sua verve que ferve
no clímax da mais pura arte.

Ah! acre ninfa,
tu que pareces doce
mas no primeiro beijo
já libera teu fel sobre
a língua, tu és nojo hoje
e foste ontem, me engana
com teu calor e no frio
tu me corrompes.
Tenho em meu peito
um sentimento que me
invade, mas não é amor,
é só desprezo que em meu
coração arde e é com
ele que vocifero o que
antes já lhe pedi:

— livra-me de ti
oh! dama covarde.

Escuta, foste tu,
oh! facínora prostituta,
que forjaste em teus
olhos minha face,
e como quem para mim
olhasse, me ignorava,
ignora-me, se nunca
me viste de propósito,
diga-me qual o propósito
de tua dissimulação?

Ah! vida,
no fundo tenho dúvidas
se no fundo tu também
não és vítima de nossa
relação, como eu poderia
contribuir com tua grandeza
se sou apenas fruto de
tudo aquilo que não
produz tua natureza.

Da parte que me cabe,
eu aprendi a doutrinar
minha tristeza e quando
depois de muita acareação
com meus demônios eu vi
que a beleza dos meus
vitalícios lamentos vão
até onde tu permitas
que pereçam.

Tu, que sempre ousa
seduzir minha solidão
não sabe nada sobre
companhia, oh! filha única
da agonia e da compaixão.

Eu, filho do mundo,
da vontade do poder,
do desejo de obter
em um segundo
o que em milênios
Cristo conseguiu,
mas eu nada tenho,
o que possuo é meu
corpo magro que arrasto
por aí, sem direção,
meu fardo tão pesado
quanto a cruz que Jesus
carregou para a sua
crucificação.

Eu, filho do mundo,
da materialidade,
da ciência de que a
felicidade é impalpável,
e vítima da certeza
de que ela sempre
escapará das minhas mãos.
daqui pra frente só
amarei a metafísica,
farei da filosofia minha
moeda e passarei a
reciclar minha mística
para poder sustentar
minhas eternas madrugadas
de insônias libertárias.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Desengano

Vede oh vate
o que vale tua existência
se teus versos nada valem,
o que valem os teus versos
se em tua existência eles
não cabem?

Do que uma vinda perdida
mais vale um adeus,
pois lhe falhou a vida e
falha te deus,
lhe falhou a pena nas
linhas percorridas por
tua escrita e nelas tua
verve morreu.

Vade oh vate
não há nada em tua poesia
que seja teu,
não há poesia,
e se pensas que produziste
alguma, não produziste,
lembra-te que tua verve morreu,
tu à mataste quando insististe e
muito, durante muito tempo que
eras um vate,
não és, nunca foste,
o que houve foi só impressão
pois tua existência nos moldes
desta vida nunca coube,
e como alento para tua tristeza,
escreveste, mas produzir poesia,
oh vate não lido,
tu nunca soube.

Soulstício

sabe minha solidão que
já fui outono quando era
primavera,
hoje sou inverno!
e os que esperam minha
queda no futuro,
eu lhes asseguro que isso
nunca verão.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Soneto

— Já dizia o provérbio, poeta,
teus versos não valem a pena
que os riscam sem métrica.
de disciplina eles nada sabem.

— E eu com isso, homessa!
a conduta da minha pena é picardia,
e meus versos não há quem meça.
não há medida exata para a rebeldia.

— Não sabes o que diz, oh ignorante,
o labor de um grande poeta é pôr o
conteúdo X na forma correspondente.

— A forma, meu caro, nunca é relevante,
meus versos cabem dentro do que concebem
e ficam furiosos se os medem, como todo
                                                 [velho punk].

imaginário mundo afora

não pergunte ao meu coração
quem sou, meu amor, nem onde
me abrigo. saiba que habitat de
poeta é solidão e me escondo em
todo verso meu escrito.

não pergunte aos meus passos
aonde vou, eu nunca estive aqui
para poder ir embora, se há algo
em ti que lhe assegura o contrário,
é só minha poesia presa ao seu
imaginário mundo afora.

não tente ter nada de mim
nem de minha alma, meu corpo
é pó e pertence à esta terra,
minha alma eu dei ao diabo
como esmola para livra-lo
da miséria.

nada sou como no passado nada fui,
e se para o futuro algo restou é só um
silêncio sem fôlego que trôpego aos
poucos...diminui.

Dezesseis Primaveras

Oh virgem, diga-me,
quantos beijos cabem
em teus inviolados
lábios tácitos,
qual o sabor da
vertigem que causam
se tocados,
qual a natureza do labor
para poder prova-los,
diga-me menina,
o que preciso fazer
para poder ser o
primeiro e único à
degustar sua vagina?

Quantos pecados abriga
teu desejado sexo sacro?

Se és a saída para a vida
aqui fora, eu daria a minha
para poder tê-lo agora.

Oh virgem, tuas dezesseis primaveras
são compatíveis com os meus tantos
outonos idos, tua mocidade embeleza
os altares postos para Dionísio e, por
teu corpo, eu destronaria tal deus e do
Olimpo eu o lançaria ao precipício.

Por ti faria versos,
quebraria os protocolos
da existência, se me
pedisse, e seria assim
eterno, enganaria a morte
sempre que minha presença
ela solicitasse ao inferno.
Faria da Terra meu paraíso,
oh doce virgem, e contigo,
jovem donzela, seria rei nessas
vãs terras, e o deus do infinito
perto de nós seria menos que
uma ameba, eu o faria discípulo
de vos, se assim você quisera.

Cenhores

vivo em silencio
e morro calado.
não quero ser
mais uma voz entre
tantas outras vozes
que sempre se repetem
de modo pormenorizado.

não entendo esse povo
que usa sua liberdade
para ser a cópia exata
do sujeito ao lado, e
esse sujeito já atua
como cópia dessa mesma
sociedade de bitolados.

é o rebanho do eu próprio atrofiado
preso à moda. um usa a máscara do
outro e o outro se assemelha ao
primeiro desde que este tenha sua
imagem em voga, a tendência é não
existir como indivíduo, e sim ser o
reflexo exato do outro que possui
a imagem exata do coletivo,
o gado à ser abatido.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Não mais amo você

A tez pálida
outrora tão bela,
desta vez não
me encantou.
Como a essência
de toda manhã,
sua alma fria,
quase gélida,
não me espantou.
Lembro que antes
à via envolta
numa áurea assaz
angélica, hoje o que
era antes (como
o orvalho em contato
com os primeiros
toques do sol)
evaporou.
A imagem do seu
corpo que me embriagava
os olhos, agora é como
uma falsa miragem
sem nenhuma beleza,
como tudo aquilo que
ocupa o posto de sóbrio,
e dentro dessa mesma
sobriedade a razão
em tons de tristeza.
Tua nudez dava-me a
ideia exata do porque
do pecado sempre
se mostrar tão imprescindível,
nesse momento se à
vejo despida me
cubro de vergonha
como um homem que
diante do corpo feminino
já não mais se excita.
O sentimento que trazia
no peito em letras
garrafais a identificação
de amor, agora é só um
embrulho no estômago,
um mal estar afônico
que não consegue nem
expressar a sua dor.
É preciso para tudo
dar um porque,
então lhe digo que eu não,
imperdoavelmente,
tenho a plena certeza,
que eu não,
não mais amo você.


Confissão

Do barro à evolução,
Dane-se a ciência e
Mais ainda a religião,
Pois nesta vida ingrata
Só há coerência no silêncio
E em sua confissão. 

Maldito poeta

estava eu com uma azia
na cabeça, entre um pensamento
e outro, ficava a fazer filosofia
de um lamento a outro, tentando
descobrir na metafísica o porque
de tamanha confusão mental.
me sentia quase um autêntico louco!
já era um sinal.
hoje sei que a azia na minha cabeça
não se explica com nenhuma
expressão medica, hoje sinto
que tamanha loucura era sintoma
de um maldito poeta.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Graças adeus

Sob a sombra do sol
ou acima do brilho da lua,
me assombra a crença de
todos os filhos da ira tua.

Há morada nos céus para
os que não são astronautas?

E para um ateu,
e se fosse eu,
o que haveria:
boas vindas...graças...adeus?

Última Canção

Não há eternidade suficiente
para tanta solidão,
se existe está toda
em meu peito em
forma de coração.
A única companhia presente
é o silêncio da batida,
que ressoa e...soa
como última canção.  

estupro

Por tuas carnes
eu ascendo o inferno,
me incitas ao ato
masturbatório,
i n c e s s a n t e m e n te.

Tua alma me deixa absorto,
me eleva ao paraíso,
mas não é disso que preciso
uma vez que tenho teu corpo,
d e f i n i t i v a m e n t e,
comigo.

sábado, 6 de setembro de 2014

Ríspido Raio

enquanto tiver
bebida em meu copo;
enquanto houver oxigênio
queimando em brasas e,
desse modo,
do meu cigarro estiver
saindo fumaça, digo,
é quase certo que ainda
estarei vivo.

enquanto houver a
opção do suicídio;
enquanto alguns demônios
habitarem meus ouvidos e
sussurrarem em áudio quase
inaudível, elementos para
minha poesia irascível,
estarei vivo.

enquanto não houverem
leitores para minhas
razoáveis páginas,
estarei vivo, pois há glória
apenas no tempo póstumo
para aqueles que estão
a frente do tempo que gozam.

estarei vivo enquanto flertar
com a morte e cortejá-la no
último baile, enquanto eu admirar
o seu porte e me embriagar de
êxtase em seu colo, certamente
estarei vivo mesmo que este não
seja meu propósito pois,
neste derradeiro baile,
meu corpo em riste, queria eu que
essa dama já me tivesse em
sua suíte.

estarei vivo sempre que o outono
ainda tiver estação;
sempre que o cinza dos céus
na paleta de deus ainda houver e
for opção;
estarei vivo enquanto a chuva
puder minha alma às nuvens levar,
e depois ao solo,
num ríspido raio,
em meu corpo,
de novo,
essa alma voltar.

estarei vivo mesmo não lúcido e,
em meu poslúdio, apenas a loucura
poderá atestar que sim,
ainda vivo,
mesmo já mastigando as frases
que prenunciarão o tão aguardado
f i m.  
   

esses poemas

me sinto preso à vida pela pena
— de nada me vale este posto de vate!
quem dera valesse me minha existência,
como  o som que é preso a língua
pelo fonema, mas de nada lhe vale
o silêncio que o cala.
— como de nada nos valem esses poemas! 

domingo, 17 de agosto de 2014

a(dicção)

Nunca nos entendemos,
eu e minhas virtudes.
Há silêncio na expressão,
pois quando falamos
nosso problema é adicção
que empreendemos.

Câncer

Quando observado
microscopicamente
o câncer (seria um
horror afirmar, mas
digo) o  tumor  me
lembra   a    beleza
m o n s t r u o s a
de   um     gigante
m a l i g n o.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Autarquia

me diga se todo o tempo
do mundo cabe dentro de
um relógio; se todos os dias
passados e futuros cabem
em calendários; me diga se
todo o amor do mundo é
capaz de preencher todo
um coração mundano; me
diz se a miséria é maior
que os desejos de toda
uma nação; se o consumo de
poucos pode nutrir a inanição de
todos em uma sociedade;
se deus é maior que o homem,
sendo o mesmo homem a
exata semelhança da mesma
divindade; se o pagão pode
sucumbir perante uma unidade
divina; me diga se toda a
realidade cabe em um sonho
meu, e se dentro desse sonho
eu acordasse, eu poderia fazer
do que é onírico a minha verdade;
me diga se o desejo de todas as
palavras é um dia se verem dentro
de um poema, ou se elas ignoram
a poesia e preferem o anonimato,
a filosofia do silencio, ao invés do
fonema; me fale da solidão que me
trazem estas palavras, da obstinação
delas em corromper minha gramática,
da confusão tão bela que geram em
minha cabeça quando eu às finjo
ignorar, da devoção à minha pena,
do respeito que elas tem para com
minha tristeza quando esta está a versejar.

peço que esqueça o que aqui foi
pronunciado, nada faça com isso,
ignore, deixe de lado...pois nada
vale nessa vida a voz da certeza
para quem quer viver calado.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Soneto

ainda que haja entre nós pouca
compatibilidade, tenho de te dizer,
amor, sagrado sentimento profano,
salvaste minha vida em vão engano.

eu que nunca soube lidar com
minha ociosidade, antes de ti
havia em meu cotidiano apenas
livros, drogas e tempestade.

entre o ópio o álcool e a cocaína,
eu tinha a poesia, o romance e a
filosofia, e tudo era pouco demais,

pois eu sempre cada vez mais queria.
ainda há muita leitura em minha vida,
mas hoje a única droga é a ocitocina.

Monodia

Cantarei o amor!
e digo que esse será meu
Último berro, mas não
Mais escreverei
Para ele poemas e
Ardorosos ternos versos.

Cantarei o amor!
Ainda que minha
Pena sangre, mas
Não mais ousarei
Olhá-lo nos olhos
E senti-lo no coração,

ainda que'u me engane,

E que eu arda em desespero,
Cantarei o amor apenas
Por fazer, assim como fez
O poeta primeiro, cantarei
Apenas para calar esse silêncio
Doido em meu peito guerreiro.

sábado, 31 de maio de 2014

Decaído

Deus, me responda, o que sou eu?
como posso duvidar tanto da tua
existência, se ao menos eu tivesse
alguma certeza quanto a minha crença,
se ao menos houvesse fé.
Deus, me diga, o que eu sou,
um Anunnaki (feito a tua semelhança),
um híbrido de linhagem
terrena e cósmica, ou apenas um típico
humano amante da dúvida e da
minha natureza exótica? (e da esperança).
O que sou perante à ti, ante ao o que
nem sei se é real, como posso não sentir
tua onipresença, me diz aí, Deus,
tu consegue sentir a minha?
Sabe quem eu sou ou tua natureza divina
é assaz demais para conseguir notar
minha infinitesimal existência?
Por que não somos tão íntimos quanto
és dos outros, por que minha quase nula
fé em ti só aparece quando preciso de socorro,
é assim que eu a ativo, é dessa maneira que
funciona?
Me diga deus, eu, o que sou diante a tua pessoa?
Como posso como poeta apenas escrever indagações
acerca da tua existência, me diga se ao menos poeta sou?
O que sabe sobre poesia, alguns versos meus já decorou,
assim como eu sempre ignoro quase tudo relacionado ao
o que dizem que você ensinou?
Por que não me ensinas também, para que eu possa ser
lembrado por ti como algo que você um dia já amou?
Por que eu não lhe amo, senhor?
por que gosto mais do álcool e do ópio,
me diga deus, só assim posso sentir um pouco da tua grandeza
de criador?
Minha perdição senhor, é não crer em ti, ou é suspeitar
que nada sou graças a vossa semelhança e ao teu amor?
Aonde irei determinar tudo isso,
ao teu lado, ou deverei me humilhar para que me seja
concedido a graça de habitar os teus pastos. Me diga
como faço para ser mais um entre teu gado, teu rebanho?
Sei que pode soar estranho eu falar assim, mas é o que
sinto e, mentira seria, se fosse diferente, qualquer coisa
de mim para ti. Não seria nada verdadeiro, mas com toda
tua sabedoria já deve saber de tudo isso. Falando nisso,
você que tudo sabe, como pôde não saber como me fazer
pertencer aos teus, como posso não sentir o que sente
aqueles que se ajoelham sob os céus? falando em céu,
a diferença é que eu sempre quis andar sobre...
Se todos o veem como um misericordioso, eu o tenho
como um misantropo, como um egocêntrico ufano,
mimado e ardiloso. Me diga Deus, cabe perdão à verdade,
ou ela está acima disso?
Minha alma é um precipício, e minha queda é me encontrar
dentro de mim mesmo, eu, um decaído... a esmo.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Prelúdio

o brio fachada,
eu vazio inflamado,
no cio do nada o
contrato com a vida
assaz assinado,
assassinado...
assim assinara.

a vida acontece no nada,
na ilusão exata.
em precisão sem coordenada;
a vida acontece intacta.

o tudo, é minha existência violada.

eu que
sou ao
t o d o
n a d a.



Fármaco

A religião é doença;
A vida uma droga;
A igreja um veneno.

O tempo é a cura;
O amor é remédio;
Deus é placebo.

A morte é a alta!

Os versos um vírus;
O poema um láudano;
O poeta um charlatão.

A poesia um fármaco!

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Dislexia Poética

O ruído que faz meu
eu lirico ao tentar produzir
poesia é silêncio.
É fácil perceber,
é gritante.
Ele cala, emudece.
Não cabe no molde
da poesia dominante,
minha pena, que, como
uma fera sussurra e, como
budista, vocifera com
tamanha lisura a
força do silêncio
diante da fala.
Meu eu lírico meditando
consegue ataraxia suficiente
para uma taquicardia,
porém, em outro plano,
o nirvana indene à todo
esse barulho mundano
sugere enquanto pergunta,
(da minha escrita à margem)
seria dislexia
poética tudo isso ou apenas
bobagem?
Mas ninguém o escuta.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Bocejo

Perco o sono observando
como boceja a insônia com
todo o cuidado para
que eu não perceba.
Ela falha. Após observar
seu bocejo, eu bocejo
também, porém, o sono
não aproveita o ensejo,
e assim a noite passa.
Quando amanhece,
eu e a insônia ainda
bocejamos,
o sono adormece.

Paradoxo

De forma abrupta,
pormenorizadamente
frágil e estóico,
instantes antes do pranto
fez-se superlativo o riso,
em meus olhos em
teus lábios em
paradoxo.
As lágrimas em
lástimas exprimem,
o adeus a vida em
muda melodia para
o meu canto do cisne.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

"Salve Métrica"

Observo os versos brancos
saudando a métrica,
sisuda, altiva.
Os versos estão todos alinhados,
em forma,
sem rima.

É mister dizer que
como poeta,
isso me lembra a
figura de Hitler
sendo saudada
pelos nazistas.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Hora Silenciosa

ante a procura pelos que nos habitam,
a vontade soberana, o mito,
meu eu-lírico, meus demônios,
aos hagios, aos plágios,
ao que preenche toda forma,
aos ecos que reverberam estridentes
dentro da hora silenciosa.

no incansável desejo de algo para
fazer, labuta minha honra ociosa.

aos sábios, à vontade da busca pelo
que sou ou pelo o que à mim se soma,
meu ego cego ante a postura totalitária
da minha pessoa, às máscaras em faces
já maquiadas de todas as minhas personas,
ao conflito do convívio, ao convívio do
anti-amo que à todos destrona.

ante a toda essa comuna interior,
venho como à propor novos passos.
para encontrar unidade junto a todo
esse clamor, sugiro como resolução
uma revolução onde se proponha
o holocausto.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Cicatriz

O sangue escorre em vermelho deboche
do dedo de deus
na ferida da humanidade,
a graça da vida.
A vida, a dádiva de toda a graça divina,
eis a ferida em carne viva...
do mesmo vermelho até o ultimo matiz.
A morte que vem e suaviza,
é dessa ferida,
a cicatriz.


Vulnerabilidade

O ponto forte da nossa existência
é o amor.
Caracteriza-se pela fragilidade,
a vida.
A vida é frágil!
difusa, cíclica.
Morro todos os dias de
minha vulnerabilidade,
o amor.
Mas não mais!
ninguém mais morrerá por ti,
nem eu,
muito menos
outro filho
b a s t a r d o
de algum deus,
o ponto frágil da nossa existência.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Sinopse

um grupo de versos busca abrigo
numa estrofe. quando pensam estar
seguros, se vêem aprisionados na
métrica. mas o que eles não sabem
é que há um herói a caminho para
salvá-los, o poeta sem rédeas,
empunhando sua poderosa pena
ele destemidamente travará uma
guerra para libertá-los.
conseguirá nosso herói salvar as
palavras e levá-las para o abrigo
seguro do verso livre, ou será que
o terrível vilão 'modo correto para
fazer poesias' vencerá mais essa
e sepultará as frágeis personagens
dessa aventura épica sobre paixão,
inspiração e liberdade?
confira essa emocionante estória num
poema próximo de você!

sexta-feira, 28 de março de 2014

Astrolábio

Estava eu à observar
a altura dos astros
quando ganhei um
beijo da lua.
seria verdade não
fosse absurdo,
pois ela prefere os
astronautas,
não poetas sem rumo.

terça-feira, 18 de março de 2014

MERDE!

quando a vida em sua mais suja máxima
diz que só existe satisfação na conquista,
eu percebo o quanto durante toda minha
história nunca fiquei satisfeito. eu, como
um péssimo otimista, insisto em observar
tudo de outro jeito. para tudo aquilo que
ainda não aconteceu, há bastante tempo
no futuro para que esse mesmo 'tudo aquilo',
quem sabe, possa acontecer. mas ninguém
sabe. nada pode acontecer! talvez o futuro
seja uma perda. mesmo assim, anseio pelos
dias que virão, e diante da estréia de cada dia
eu grito MERDE!, emocionado pela possibilidade
de obter talvez alguma satisfação de merda.


sexta-feira, 14 de março de 2014

Receio

Não entendo por que o amor vem até mim.
Eu que nunca soube amar!
deve ser por isso então o porquê de tanta
mulher.
Mas com todas tenho sempre o mesmo
problema, o de querer que sejam
do tipo Lou Salomé.
Mas antes que eu deixe-as, elas se vão.
e sempre meu palpite é que nunca mais
voltarão.
Talvez porquê não sou nenhum Rilke.
é isso ou o oposto, afirmo receoso,
o motivo pelo qual não fiquem.

quarta-feira, 12 de março de 2014

A Vida Disse Não

aquele que cantou o suicídio em
seus versos, morreu de velhice ainda
pensando em se matar;
aquele que desnudou tantas musas em
seus poemas e que com ardor tocou e
provou do sexo das mesmas, viveu em
total celibato e morreu virgem, exausto,
de tanto se masturbar;
aquele que incitou revoluções e que fez
da sua pena a espada anunciadora da
transformação, morreu sem nunca ter
participado ativa e fisicamente de nenhuma
tentativa de derrubar o Estado;
aquele que por tantas vezes negou a
existência de Deus, que repudiou a
providência divina e se proclamou senhor
do seu destino, pediu clemência aos céus
na hora da morte e fez do mesmo contestado
Deus, o supremo senhor da sua sorte;
aquele que se dizia poeta, que se sentia poeta
pois, em tudo que olhava via poesia, à esse e
à todos os outros personagens desse poema
canção, a vida não aceitou-lhes a proposta,
a vida disse não.

Spleen

aos que se aquecerão no fogo eterno,
aos que como eu, terão vida eterna ao
serem condenados, apresento-lhes
o círculo vicioso da nossa condenação:
vida-fardo-morte-alivio-vida-fardo-morte-alivio-vida...
inferno, caros pecadores, é reencarnação.
e se aos que decidem extirpar a própria vida
não cabe perdão, então digo-lhes que,
o suicídio, é a redenção.

domingo, 9 de março de 2014

Soneto Monostrófico

Seria decassílabo esse verso,
e esse aqui embaixo também.
Heróico, de martelo, bigorna e
sáfico na mão. A tonicidade é
mais importante que a inspiração?
A métrica na poesia é a algema
dos versos. O poeta carcereiro
que insiste em encabrestá-la,
trancá-la numa prisão, sua pena
a aldraba, em minhas mãos é
para os versos a alforria. O que
há de admirável na forma se
essa é a cela da poesia?
seria decassílabo esse verso
[como o primeiro acima dizia].

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Aquém-Rédeas

não me contive ao ter
em minha cabeça de louco
tantos pensamentos parafraseando
um a beleza do outro.
virei poeta!
não me contive,
e como a ideia apenas sobrevive
aquém-rédeas,
minha poesia é toda universo livre,
assim, é do verso livre a poética. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Útero Matriz

o que póstero estará
teu útero à gerar
quando não mais
houver rebeldia?
pergunta o poeta à
sua pena enquanto esta,
está a se embriagar
de cálices e mais cálices
de destilada ataraxia.

perceba-responde a
pena-que nunca houve
essa tal rebeldia, e quando
se soube da sua existência e
do desespero dos civis,
já faziam referência à poesia
nascida de minhas entranhas,
da eloquência do meu útero matriz.
a pergunta é, será que haverá leitores
para o devido devir?

Diálogo

-e então doutor, do que se trata?
-é doença crônica. doença já
velha e gasta. é difícil dizer se
há cura, talvez o melhor seja se matar.
-mas como doutor, não há sempre
de se lutar pela vida?
-sim, caro amigo, mas esse doente
sofre de acomodatício perpétuo.
-então é caso de morte certa?
-não, é pior, isso é caso de subvida.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Transedentarismo

quase sempre
discordo de quase
todos os outros
poetas.
tanto os mortos
quanto os
contemporâneos.
discorro acerca
de suas poesias
e para mim nada
presta.
os dos haicais
se mostram tão
objetivos que
numa tolice de
explicá-los
fazem palestras.
mais bobos que
esses são os da
poesia concreta,
logo a poesia que
é a 'forma' de arte
mais impalpável
que resta.
cito estes como
exemplo pois,
eis,
o que mais a
minha pena
detesta.
quanto aos outros,
bom,
são os outros,
não eu,
então neles,
quase nada
me interessa.
eu que nada faço
de novo,
pois minha poesia
também tanta
gente detesta.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Por Onde Passo

não deixo de ser quem sou
por onde ando, por onde calo,
por onde canto. mesmo quando
finjo, sou ainda o mesmo eu
centuplicado. o que penso sobre
tudo e todos, penso que são os
outros os destoados, mas não,
sou eu o incapaz de concordar
com algo capaz de inflamar uma
discussão acerca dos assuntos mais
abordados por esses outros, esses
que não são parecidos comigo nem
um pouco. eu, um abortado.
como pode a minha colheita,
fruto daquilo que planto,
alimentar todo esse povo,
sendo que o que eles consomem
é o inverso daquilo que canto?
como deus pode me salvar
se eu nunca o resgatei do
ostracismo de todo altar,
como posso, de coração,
para ele orar, se a oração
que aprendi me diminui tanto
perante ele que mal posso
alcançar o mesmo altar?
não escondo a minha culpa
em nenhuma tola esperança,
assumo sim que sou vítima,
mas meu algoz sempre foi a
perseverança, insistir no erro
como insiste em ser feliz na
miséria toda criança, eis a beleza
da nossa infância. como poderia
eu dizer à eles que ao som da
vida a tristeza também dança.
eu, que não deixo de ser quem sou
por onde ando, por onde calo,
por onde danço.
pecaminoso dentro de todo o
arbítrio, a cada passo dado sobre
esse solo, sob esse céu um novo
prejuízo. mais uma vez ocupo o
posto de réu, mesmo assim serei
sempre absolvido, estamos condenados
à infinita bondade de deus, a benção
da honra de sermos, por ele,
punidos. eu, um trapaceiro, talvez
ceguei minha fé ao abrigá-la em
uma caixa de espelhos. o horizonte
dessa crença é o retrocesso ao
início do primeiro milênio,
ao tempo da grande obra divina,
o filho carpinteiro. daquela época,
o grande astro, que para alguns
funciona como esteio para os fracos,
mas para mim é o óleo lubrificante
da engrenagem do meu cansaço.
eu que não deixo de ser quem sou
por onde ando, por onde calo,
por onde canso, por onde passo.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Inexistência

Cada vez mais cruel,
envilecido. Rejuvenesce
em seu posto de
eterno. Sempre preciso,
como deus de todo calendário,
para todas as conquistas,
imprescindível. Tua finitude
em minha estória não é crível
mesmo após minha aguardada
morte. Sendo assim, para gozar
a certeza de algum fim, diga-me,
velho tempo, como fugir da
gloria do infinito? condena-me
ao posto de perecível e me ajude
a nunca ser lembrado, eis, velho
tempo, minha meta.

Você, caro mortal,
foste humilde em teu
pedido, outros querem
para todo o sempre habitar
a memoria do mundo,
querem sempre algo mais
do que lhes é permitido.
Para mostrar à ti a minha
gratidão para com tua
nobreza, farei com que
traga em tua pena o antônimo
de toda beleza, e assim,
nobre colega, fará versos por
toda a vida, e que toda tua
vida, assim seja.

Tu, será poeta e,
tua poesia,
o b s o l e t a.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Amenos à mais

Aspirando à um sentimento,
estou a menos de quase um
suspiro de distância da paz,

dias mais amenos
a mais,
longe do ímpeto
de toda tempestade
fixada no horizonte ou
em meus editais, afixados,
por mim,
por onde passo.

quando o sentimento for pleno,
então já estarei a milhas
de distância...já
estarei em paz,
asfixiado.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Aspecto

Não morrerei de amor, isso é certo,
como romântico, apaixonado, amante,
sou só aspecto. Não vivo a vida em
total ardor, somente em tristeza profunda.
No domingo já não existo, já não me habito,
de segunda à sábado é nessa tristeza que existo.
Tudo o que conquistei com muito labor foi
tentar ser poeta dentro da merda de vida que
é quando se julga pensador. Pensador de merda!
Meu desabafo não cabe dentro de nenhuma
métrica, abomino qualquer estirpe de regra,
estripo toda minha inspiração quando ela
tenta se encabrestar em rédeas.
Eu que em todas minhas aspirações nunca me
atrevi à ser mais do que circunspecto, hoje,
em tudo que vivo,
tudo quanto sou,
o tudo que sou e como sôo,
sou apenas aspecto,
se em algo eu vivo,
em tudo eu morro,
isso é certo!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Walkman

Fragmento todo o
silêncio(enquanto
observo Nietzsche
ouvindo Wagner
em seu Walkman)
parafraseando-o
em meu pensamento,
e a dicção suave de
todo ruído, em meus
tímpanos, se assemelha
à algo que já pensei.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

À(creditar)

paz à narquia,
para se organizar...
inocular no cerne do caos
uma dose de adrenalina,
para a narquia ter reciprocidade
com sua natureza primitiva,
e assim, à divindade Caos
celebrar a destruição,
a desordem,
a quebra de
toda forma
concebida
como ordem,
como ideologia,
como vida.

paz à narquia
para a revolução
tida como ideia fixa
ser esquecida.

viva a tirania!
viva a autarquia!
viva enquanto ainda
há filosofia à tua altura,
para assim você propor,
com sabedoria, a ruptura.

Soneto

o que será de nós se tudo
isso for amor? pior será,
quando um de nós lembrar,
que isso tudo foi amor.

o que farei comigo, num frio
domingo, quando estiver só,
suicídio, será que haverá
solução melhor, talvez Beatles?

roubarei de Jesus a patente,
e em mim todo esse amor
agora latente, darei a ti.

assim, enfim reformulado, possamos
quem sabe, viver esse amor em
vaidade e sermos por ele, crucificados.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

etimologia

o fazer poesia,
a minha poesia,
é numa ilha deserta
ser demagogo e,
para tudo que é inóspito,
demagogia.

-minha poética é do insólito
a etimologia.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Eu

Absorto em
Absurdos o
Sujeito
Objeto
Abjeto.
Não obstante,
Poeta.
Absoluto.



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Desapareceu Sara

Enquanto olhava a chuva lá fora,
Sara chorava. Gostava
de qualquer coisa que acontecia
fora daquele lugar, assim,
já não suportava mais estar ali.
Os cigarros não ajudavam mais,
mas eram indispensáveis,
ainda restavam quatro.
'Deve dar até me tirarem daqui'.
A chuva continuava a cair,
calma, tranquila no seu objetivo
de molhar, e caía com a segurança
que tem quem realiza uma tarefa
quando sabe que, aquilo ali,
ninguém melhor fará.
A chuva jogava-se das nuvens
até a contemplação triste de Sara,
seus olhos marejados devolviam à
chuva a mesma e molhada obstinação,
chorar, chover...
Como era possível observar o céu
dali onde se encontrava? pensava
Sara.
a face cinza do céu, naquela hora,
dizia à Sara que seria, talvez, a tampa
para seu túmulo se, à visse ali,
outra vez.
Pelo menos estava abrigada da chuva,
estava seca, mas sentia muito frio,
não chorava mais, mas presa ali,
talvez nem o silencio à ouviu.
A chuva ainda caia, sutilmente,
como uma modorra, era quase
hipnótica aquela suavidade toda.
Sara adormeceu.
Acordou assustada, sendo
encarada pela pálida lua,
acendeu um cigarro, ficou em pé,
deu dois passos, foi até a pequena
abertura onde pôde ver melhor a
lua lhe olhando de soslaio,
estremeceu.
Fazia muito frio. Quanto tempo
passara? certamente não amanheceria
viva se não saísse dali, pensava Sara.
Pôs-se à fazer um esforço
enorme para lembrar como
foi parar ali, tentava,
não conseguia, a última coisa que
lembrava era estar ali olhando a chuva,
lá fora.
Ainda restavam três cigarros.
Ainda chovia.
Ainda olhava a lua.
Sara percebeu que pela pequena
abertura, onde era possível
observar a lua, talvez com
muito esforço seu corpo
passasse, quem sabe assim
pudesse sair daquele lugar.
Pegou algumas pedras para usar
como apoio e subiu, alcançou
a pequena fenda e, incansavelmente,
pôs-se à tentar passar o corpo
já cansado pela abertura, não
obteve êxito, desistiu.
Sara jogou-se ao chão,
completamente desesperada,
pior do que não conseguir sair,
era não saber onde estava e
nem lembrar como foi parar ali.
Ninguém buscava por ela
lá fora, de onde Sara se
desprendeu, havia passado
um pouco mais de doze horas
desde que sumira.
nunca mais foi vista,
Sara, desapareceu.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Minha Poesia

Como o ar nunca visto,
(o não poluído)
a poesia em sua
i n v i s i b i l i d a d e,
com suas vestes transparentes,
é como o Cristo destituído,
é o decaído destronado
por incompatibilidade de
hipocrisia, é poesia,
(não poluída) apenas
metafísica ou não.

Sobrevive e vive à margem
dos vícios da visão,
é sentida,
doída...doida...
é triste dentro da alegria,
da melodia do uníssono
pulsar do coração,
é heresia, é deus e diabo
tocando uma canção,
ora no violão o diabo,
ora deus no refrão...
d e s a f i n a d o.

Seria,
(se fosse explicado o
sentido da vida) a poesia
a explicação, então você,
que nada entenderia,
saberia que sempre
soube de tal verdade,
mas na verdade,
sempre achou que nada valia.

Eis a poesia,
sem valor algum,
sem moradia...sem
figura física que lhe
valha os contornos
de toda sua magia,
eis a explicação da
vida para a vida que
nunca foi viva,
para tudo quanto foi
(ou nunca foste)
vida tardia.

Eis leitor,
minha poesia,
que quando lida
calou...e quando
cala, lida para que

nunca mais seja vista
nas mesmas palavras
que nunca desenhou.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ah!Narco

quero um comício para os rebeldes.
marchando rumo ao poder,
um plebe encarando o Estado,
não há de volver para a direita
ou esquerda, há de se dirigir para
o cerne, sendo ele agente do colapso,
há de seguir em frente em cólera,
aos verbos, todos com os punhos
cerrados.

o Estado em estupor
em estado de estupor
minha mente estuda
um estupro contra o Estado.

já não suporto minha ressaca
ante toda essa sobriedade,
é inanimada a sociedade,
é tetraplégica, covarde...do
nada para o caos, eis o
itinerário para os não satisfeitos,
dos males o mais letal, é o povo
agora resolvendo de outro jeito.

o Estado em estupor
em estado de estupor
minha mente estuda
um estupro contra o Estado.

quero um palanque para os revoltosos,
quero um levante, um propósito.
que cada filho deste solo hostil
seja um homem bomba a postos.
vivemos em ruínas, mas somos nós,
desse país, os destroços...
estamos todos nós, nesse país,
e s t u p o r a d o s.

nesse torpor, minha mente estuda,
um  estupro contra o Estado.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Poeta 4G

aquele que mede os campos do pensamento e,
faz mais, lavra-os,
tornasse Ignaro ante todos seus contemporâneos.
esse tal agrimensor das idéias,
esse ignóbil diante aos que se prendem em
modernas rédeas, tecnologias nulas alimentadas
a base de néstias, faz uso da ignomínia em
todas suas palavras, quando postas em
trajes de poesia, quando salmodiadas
em ira fria,
d e c l a m a d a s.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Todo Quando Paraíso

é através do silencio
que se ouve;
somente cresce aquele
que está propenso ao
auge;
a crença em toda ciência
luze, na religião somos
todos apenas carregadores
de cruzes;
todo demônio é deus quando
todos somos hereges,
e todo fiel é ateu diante à
incapacidade de um deus
que não serve;
toda ferida sangra quando
cutucada e, toda ferida é
chaga, quando é pelo amor
abaixo assinada;
todo amor é falho, gasto,
se tornará eternamente efêmero,
é no dia-a-dia que sobrevive
ao uso desmedido por milênios,
é falho quando o 'eu ti amo' é
dito antes do coração precisar
do seu oxigênio;
toda mulher é musa, é deusa,
é mãe, é puta, é origem...
é através dela que nascemos e,
é por ela, que matamos, morremos;
todo poeta é filosofo, toda poesia
é mais que metafísica, toda certeza
está no lógico e, toda magia, encanto,
quimera e feitiço, está na pena desse
mesmo filosofo enquanto há silencio
para isso...p a r a í s o.