terça-feira, 31 de outubro de 2017

insurreição

A vida entrega-se calada,
entregue a propria e insolita
sorte. Num patíbulo, a morte,
usa-o como tribuna livre,
um púpito para seu
lúgubre discurso:

'A vida, revolucionária e
revoltosa, trama contra vós,
oh mortos, clama e busca a
imortalidade, eu, como
soberano mor, não permitirei
contra nós tal atrocidade.'

Os mortos acotovelavam-se
amontoados uns por sobre
os outros em mórbido frenesi
diante da possibilidade de
verem a execução da vida,
todos sentiam-se traídos por
ela por isso clamavam por
vingança.

Mas um entre todos aqueles
mortos pensava diferente,
estava decidido a salvar a vida.

Acreditava ele e muito na ressurreição.

Lutar pela vida agora para mais
tarde poder senti-la de novo.

A vida nada queria, cansada e desiludida
como unidade consciente coletiva.
Queria descansar, habitar quem sabe um
ser minúsculo e não um planeta todo de
seres viventes sendo sempre os racionais
os mais estúpidos.

Uma fração da vida foi habitar o morto
dissidente crente da ressurreição, que
em algum lugar já era de novo um ser vivo.

O que sobrou da vida sentia o nó da forca
em seu pescoço, mas não havia nó algum
na garganta, a vida queria a morte.

Pro seu último baile,
estava ela e muito
ansiosa pela dança.



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