sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Intemporal

Meu arcaísmo vai contra a globalização,
evitar as massas, as redes que a
sociedade lança para te fazer presa
da sua autoridade universal.
Minha solidão quer andar só,
quer tempo para ser só o tempo todo,
ou talvez por meia eternidade e meia.
Uma árvore, uma caverna me apraz
mais do que uma multidão de faces
debeis que no final dos braços já não
há mais mãos mas sim apenas celulares,
dedos de extremidades evoluídas para
deslizar sobre imagens de semelhantes
mesmos deslizando dedos sobre as
mesmas imagens.
Meu altruísmo quer aniquilar toda a
sociedade, ajudar-vos a pôr fim a
feliz ideia alheia carregada duma
acadêmica mediocridade.
Quero a ignorância, a estupidez das
rochas, dos rios, sabedoria
das raízes profundas de velhas árvores,
queria ser da chuva a felicidade da queda,
das cachoeiras as quedas, as águas frias
sonoras que no interior do intocado
ressoam pelo silêncio afora, inauditas,
quero isso sempre e agora.
Não suportar o tempo em que se vive
por não compartilhar nada que esteja
em voga, não querer contemporizar
com os semelhantes por não haver
iguais como penso que poderia existir
outrora.
Feliz é o vácuo do universo que valsa
com a matéria escura por intermináveis
galáxias púrpuras e rosas.
Meu arcaísmo vai contra a coalizão,
pois nada nisso tudo tem amor próprio
o suficiente para fazer frente à soledade
viva da minha castigada solidão.
Que o futuro seja duro para quem busca
profundidade em querer ser multidão,
que o futuro seja agora para os que são
de agora para eu ser presente póstumo
revisitado neste atual mundo tecnológico,
e toda hora matam o passado para serem
autômatos de outros que virão.


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