domingo, 21 de abril de 2024

Quimera

Um verso feliz,
de sílabas e letras
felizes, em uma estrofe
extremamente feliz, entre
outras estrofes mais animadamentes
felizes ainda, compunham um poema
bonito e feliz.
A poesia percorria faceiramente por
entre aquelas linhas de uma métrica 
abolida e por isso felizes, 
sempre sorrindo e dançando,
e contagiava com sua alegria todas as
possíveis alegorias que moravam e
viviam dentro da quimera daquele feliz 
e satisfeito poema.

Triste o poeta,
triste a pena,
triste o tinteiro...

A realidade fora daquele poema
era terrivelmente feia e triste.
Os pensamentos na cabeça  do 
poeta viviam em desordem,
seu coração mastigava pedaços 
podres de amores antigos,
e sua alma, fantasma de si mesma,
vivia assombrada  pela percepção 
de parecer obsoleta dentro da 
própria existência. 

Mas os dedos tortos daquele poeta
escreveram poemas felizes até a morte.

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