quarta-feira, 28 de maio de 2025

Soneto

Em cada fim de mim mesmo
há mais e mais finais e há em
meio a isso tudo sempre 
burburinhos de recomeços.

E reconectar esses enfins com
novas tentativas é morrer 
mais uma vez por uma vida
que nem sempre vale o preço.

Quando pensar quanto nos custa 
continuar lutando não nos 
inspirar mais a seguir em frente, 

certamente é porque já morremos,
e se eu morrer todos os dias como
de costume, é porque insisto em
                         [continuar vivendo].




quinta-feira, 22 de maio de 2025

Amo, morro e mato!

Por você eu
mataria
por tua vida me
mataria
por amor te
mataria.
E eu ti amo...
muito!
Mesmo que você não me ame,
e por mais qu'eu morra,
ainda sim eu te amaria.

Amo, morro e mato,
não importa a ordem,
não importa nunca
se eu mato ou morro
primeiro, eu sempre
amo antes. 

terça-feira, 20 de maio de 2025

aonde termina outra janela

Assim, princípios de precipício:
 de penhascos e abismos toda
  aura, aspecto e energia, minha
Alma de design de desfiladeiros
 adora após uma queda saltar
  de novo, pular do parapeito da
Janela para além do horizonte, 

e quando depressa minh'Alma se
encontra caída, supõe o tropeço 
que a queda se dá sempre por
causa de uma depressão...no solo,

e se o chão por onde pisam meus pés 
se encontra abatido, minha Alma sobe
para acima de si mesma e testa o 
Céu sem ter asas, e como o Céu que

também nunca teve tato para com 
Ela, ambos anulam-se, e desde tal
instante não se pode mais determinar 
o que é Céu e o que é Alma:

Não se sabe onde começa uma e
aonde termina outra.

domingo, 18 de maio de 2025

Poezia

Minha escrita é da pena que sofria,
meus dedos, tortos, pela pena que 
sofriam: da pena que sofria minha
poética. O estro um cabresto sobre
a métrica guiando-a em assimetrias:
sangrava minha verve da pena que
s o r r i a.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Vago Vácuo

Fosse você fundo fosso
seria como vaso vazio.
Tu'alma soberba e rasa
é feita de rarefeito brio.
Um penhasco gélido de
afiadas pedras e mais
deserto do que o céu de
deuses. Deu-se sempre
assim. 
Foste você também 
capaz de um dia crer
que Deus habita o Éter 
e cultiva no Éden um
lugar especial para ti?
Tolice! Morra agora e
descubra que Deus 
algum jamais existiu.
Mas você  resiste e
acredita e medida e
fala sobre para os teus,
e tenta convertê-los à
tua crença.
És um vasto fastio,
um vasilhame sem
uso que a morte se
recusa quebrar, pois
teus cacos se espalhariam
pela superfície da vida que
teve, daria trabalho para
a preguiçosa morte juntar
todos os teus pedaços 
e carregá-los com Ela
para outra eternidade 
que também está com
os dias contados. 
O fim é sempre próspero, 
digo, o fim é sempre próximo 
e já começou muitas vezes,
mesmo antes da existência 
de ti.
A vida é o fim de tudo...
Toda morte ou a morte
de cada um é o inverso 
de uma infinitude enfim,
morrer é só morte e enterro. 
É terra sobre o corpo e
vermes famintos, ou fogo
que derrete ossos e cinzas
sem cheiro depositadas
em um vaso vazio.
Um vaso que guarda a morte
como teu corpo de alma vazia
um dia também aprisionou em
si uma vida que jamais teve
importância alguma.


sábado, 10 de maio de 2025

Projeção

Supus o fim
antes do tempo
e hoje estou
a c a b a d o.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Primavera Industrial

Muitos buscam entre a relva que 
cresce sobre túmulos de Deuses que
há muito, como neste tempo de agora,
jamais existiram, colher flores de
esperanças, em insalubres manhãs
de orvalhos ácidos sobre estas flores
mortas em cemitérios tão antigos
quanto a vida na Terra.

A Vida Humana Mata Fácil!

Ávidas flores de plástico para
pálidas vidas falsas e plásticas.

Abelhas Morrem aos Milhões!

A morte plácida e viva evita
corações ternos, a morte costuma 
ser hospedeira de pessoas cujo
coração já morreu, porém, ainda
bate e faz circular pelo corpo
vivo um sangue morto, tipo óleo 
sujo de motores de automóveis 
de ferros-velhos, e estes estalajadeiros 
são os que mais matam.

Pássaros desaparecem aos milhões, 
peixes e rios morrem...e mares,
e oceanos...e florestas inteiras,
e povos originários que há muito
existiram...verdadeiramente. 

Hoje nada mais existe, 
tudo que há, resiste apenas.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Transmuta

Da existência de Deus
a culpa não é minha,
enquanto da minha
poesia é minha culpa
ser um Deus.

A culpa por estar vivo é daquele
que vive, e que sorte eu tenho se
ao me sentir sempre morto, 
me absolvo de ser considerado 
culpado pela minha frágil e quase
etérea existência. 

Se poesia fosse ciência 
eu seria um jardineiro,
e se para ser cientista 
eu precisasse de muito,
eu tocaria piano...

Então desse modo minha poesia
é música para flores e arbustos, 
minha poesia é para todos os
insetos um tipo de comunicação 
universal.

E as abelhas alquimistas
fazedoras de mel, 
as abelhas que protegem
com a vida a Pedra Filosofal,
ao romperem o abdômen 
ao deixarem seu ferrão na
derme, impedem sempre que
se revele o lugar onde se
esconde também o Santo Graal.

Da insistência de Deus em
exercer poder sobre nós a
culpa é toda nossa.

A culpa é da fé, da esperança...

a mais hábil e vil forma 
de comunicação universal 
entre Deuses e Homens.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Ilustração

Uma ode ao amor, ou ódio...
falsa esperança é pleonasmo e
todo o abismo que me espera
secretamente me observa pelos
vãos de seu precipício.
Assim é o amor que não nos ama.
E ter de se reorganizar para não 
sobreviver de novo, é uma dose
a mais de quase morte que você 
deve sempre tomar...
um quase amor é subvida, é a 
morte já pelo quase, eu gosto mesmo
é da paixão, verdadeira como o fogo
e eterna durante toda sua efemeridade...
Todo o para sempre é ilusão,
qualquer amor em qualquer proporção 
é ilusório, é ilustração. 
Uma dose de amor, ou ópio...
valsa que se dança no silêncio,
que se cansa em si em ser só
desespero e jamais comunhão 
consigo mesma. Coisa que o amor
é, perceba, é sempre dele para com
ele mesmo, o bailarino de sua opera,
a orquestra de sua sinfonia, o amor
é todo circo e público para um único e
triste palhaço, o amor é do poeta a verve,
é da pena o verso, é da poesia o poema,
o amor é um poema que canta as desventuras 
de um vencido, o amor não pode ser glorioso, 
pois ele vence a si a se vender para um outro
que lhe seja mais caro, mais caro em seu 
âmago amargo e cruel. O amor é vil!
O amor é distração para o fim de tudo que
nos observa, e nos observa de um horizonte 
cada vez mais próximo...
todo apaixonado não enxerga nada além 
do que apenas o objeto de seu desejo...
ignora o que te espreita agora, ou viu,
esse silêncio que se materializou em solidão 
e irrealidade?