segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Chuva

Chuva de um céu em
suor, nuvens brancas
de brancura açúcar e
algodão, surgem
(cingem) em
cinzas lágrimas doces
de sal.
Chove e chora o céu
a cantar a melodia das
águas que fartas e vastas
caem como se um mar
estivesse a desabar,
sobre nós a muitos
pés, sob os pés de Deus
a muitos nós vindo
aqui com nós se banhar.

Amo

Mais clichê dizer que
te amo
é o ressentimento
amor que engano,
é de praxe nele me
perder para me
encontrar em você,
Deus do abandono.

Eu amo, eu amo,
eu amo, amo,
embora você não
exista, eu não desisto
de insistir,
para mim mesmo,
em momentos de
total desespero que
posso contar contigo,
Deus etéreo dos mundanos.

Mas eu sei que você
sabe que você é só
estúpida invenção
humana, e eu,
sua mais perfeita
criação, Deus que
tanto amo.

Sangria

Em qual saúde a tua vida
agoniza, em que esquina
perde o rumo quem te guia?

Teu deus
tua existência
ojeriza.

Não existe céu para quem
não quer voar, para aqueles
que rastejam, sob a terra é
paraíso, é caríssimo lar.

Se és barro e pó,
estas em casa,
amigo anelídeo,
e teu deus é
sanguessuga.

Mudo, Pensativo e Quieto

O silêncio que me observa é primitivo,
os olhos de Deus, o murmúrio do
invisível em silvos que os mesmos
olhos em piscadelas destilam.
O silêncio das cavernas,
de um tempo em que Deus não existia,
sinto-o agora a me espreitar,
sonda-me, como dito antes,
como antes do tempo,
o nascimento do tempo já estava ele
a presenciar.

Mudo, pensativo e quieto.

O silêncio é propenso a sempre
diante de todo grande acontecimento
se calar (manifesta-se).
É covarde, diria alguns, eu, sem
pretensão alguma digo que é sábio.
Assim como Deus, pergunta-me
os mesmos, não, sábio, não covarde,
covarde ignora, sábio observa.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Pecado

Já fui Deus quando ainda
não havia céu,
hoje sou pecado por não
crer no passado, e se ontem
fui adeus é porque não há
futuro no horizonte.
O amanhã foi confiscado.

Facebook

A impressão é
v e r d a d e i r a,
mas a vida de
domingo a
dezembro é
uma farsa.

Desígnio

Meu poeta favorito pintava quadros,
com a verve do seu pincel
as cores e imagens vinham em
versos que os olhos dos que liam
para sempre ficavam perturbados,
mas isso é bom.
A arte nunca veio para remediar os
males, pelo contrário, as angústias dos
Homens a arte lança aos ares,
as dores desta vida está em variados
tons de muitas cores na paleta do artista,
em sua tela tudo cabe.

Meu pintor favorito fazia versos,
versos dos anjos aos demônios
para os meus dominios, para os
desígnios que vão da acolhida ao
abandono. Poemas que a pena
pintava em telas tão cheias de graça
e beleza, páginas trágicas tão belas,
tão sinceras numa felicidade
esmiuçada em rara grandeza.

Viver é bom,
existir é triste e
(acerca disso)
a dúvida é a
única certeza.

Heterodoxo

Você que tudo mede,
que meça tudo, todos,
a noite, o dia,
você sujeito reles,
para o diabo com
o seu deus, para o
inferno a sua poesia.

Religião é métrica,
Deus é régua,
fé é instinto que
vem do berço,
das cavernas.

Sou verso livre
e Deus me livre
se não for,
se não fosse.

Sou primitivo como o
barro preso aos dedos
sujos dos antigos macacos.

Em nada caibo.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Entropia

Posso pagar a conta da minha existência,
aparar as pontas da minha rebeldia;
Apagar o histórico das minhas desistências,
aplacar a sede das minhas conquistas,
mesmo que tardías.

Posso ser frio inalterado
abaixo do zero absoluto,
mas continuarei tentando
ser maior ainda.

Tênis

Fadado ao fracasso
calçando minha habitual
farda. Indo eu e o meu
fardo no encalço da vida
atrás da vitória.
Caminhando pelo universo
afora à forra, através de
todas as estrelas, velhas,
semi e supernovas todas.

sábado, 4 de novembro de 2017

Vida

Loucura mesmo é a
matemática, a verdade,
a linguagem. A filosofia
da natureza na simétrica
escrita da pena de Deus
afirmando sempre a
mesma certeza.

Angústia

Eu poderia atravesar a
parede através da minha
cabeça, um balaço, um
pensamento, uma conquista,
angústia, um fracasso...

Eu poderia ser só futeis
lamentos, mas são eles que
me são, são eles a tristeza,
não eu, eu apenas sinto-a,
cinjo-a.

Eu poderia existir dentro
de toda felicidade, mas tola
é a felicidade que é toda o
tempo todo.

Eu poderia atravesar meu
peito através do meu coração,
um punhal, um sentimento,
uma dor numa taquicardia
que ardía presa dentro de cada
pausada pulsação.

Poderia ser, a vida, boa solidão,
mas é dura companhia.

Contra uma existência parasita,
impressão que as vezes o poeta
tem para si sobre a vida,
esse mesmo poeta tem licença
poética para se matar em sua
poesia.