segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Transpassado

Todas as esperanças e sonhos 
que há muito vinha cultivando 
dentro de mim, 
do meu Ser adentro,
todas estas vontades e desejos,
são coisas antigas do futuro:
antigas, gastas e obsoletas, pois
são aspirações que já não mais
me apetecem, coisas que não 
quero mais e que não mais
espero que aconteçam.
Não desejo ser nada além 
daquilo que sou, e o além de
mim que desejo, é de mim para
o mundo, para os outros e para
o tempo, e não o contrário. Do
futuro e suas velharias tecnológicas
eu nada quero, desejo mesmo são 
as novidades de um passado que
no presente daquele tempo foram
ignoradas ou suprimidas. 
O horizonte que me agrada não é
o que está em minha frente,
mas àquele que está à frente de
qualquer tempo, em qualquer época,
transpassado ou não, um pórtico 
por onde posso passar de ida e volta quantas 
vezes julgar necessário:
assim como um livro...
um livro que lembra e pensa em cada
leitor que já o leu, e não fica a pensar
naqueles que por ventura um dia o
lerão.

Se só o passado já 
foi escrito, por que
perdemos tempo
tentando ler o futuro?

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Solidão Insólita

Estatizo minha morte.
Me isolo para não me
sentir só, e então a sós,
minha companhia 
abandono a própria 
sorte.

Bellum Sine Belo

Quem se sagra a consagrar-me a
sangrar por esta terra, ou
melhor, quem sangra por
sagrar-me a singrar, sem asas
nem velas, por este céu por
onde meu olhar se encerra?
A paz que me aprazia não mais
me apetece.
O que quero eu então, guerra?
Sei que nem todo o talvez sincero 
de minha alma sabe, porém,
desconfio que daria meu sangue 
para poder verdadeiramente por
algo morrer...
Viver, pouco me interessa, e no
entanto, nada mais me resta senão 
só vida, e o que faço com ela não é
nada comparado com o que ela tem 
feito comigo esse tempo todo.
A vida encena a acenar bandeiras
brancas, enquanto eu em cena, no
palco de suas platéias estúpidas,
ergo até onde posso minha bandeira 
preta e baixo minhas armas. Fecham-
se as cortinas e à luz ascendo:
atento contra a vida para não morrer
distraído.

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Ocasião Temporal

Antecede o passado o futuro
e sucede o presente o passado:
O passado é Quando, 
está à frente do tempo,
é Sempre.
O futuro é passado, obsoleto...
e a eternidade mora atrás do
tempo, à frente, do mesmo
tempo, é de onde brota desse
passado a nascente.

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Sete Manhãs

É incrível como nas segundas-
feiras eu não me tenho, odeio 
tudo, tudo em mim odeia tudo,
eu inclusive. No domingo à
tardinha sinto uma insegurança 
terrível, quase um medo desmedido
de todos os amanhãs que me restam,
e uma plena insatisfação pelo meu
presente e por meu passado que 
me detesta. As terças e quartas são 
dias normais, iguais entre si, na
quinta-feira meu humor é mau,
aliás, mais que mau, ele é mal,
é vil, e me sinto cansado e irritadiço,
quando não irritadíssimo. 
As sextas-feiras são dias assaz
agradáveis, quase tão bons quanto 
os sábados. No domingo eu morro 
e me enterro vivo, e na segunda-
feira ressuscito como quem jamais 
quis estar vivo, o que dirá então 
viver outra vez.

domingo, 26 de outubro de 2025

Qual o Contrário de Milagre?

Eu não acredito no acreditar em Deus,
se ele existe ou não, pouco importa, 
eu não duvido da existência, se existe 
ou não, é indiferente: eu não acredito 
nEle, incrível como eu não acredito na
crença, não creio na glória, na graça,
na falsa bondade, no glamour de Rockstar
todo insignificante. Deus não é foda,
é falho, falso e fictício, fútil (e não factível,
pra dizer o mínimo). Que diferença faz se
Deus existe ou não, e se ficar provado hoje 
que Deus existe, o dia de amanhã será 
melhor, ou se ficar provado que não existe,
amanhã será um dia pior do que todos os
dias ruins que a humanidade toda teve
até agora?

Qual o Contrário de Milagre?

Se a humanidade é a prova de que Deus
existe, então eu posso afirmar que é
justamente por isso que eu não 
acredito nEle.

Infinito Indefinido

Gira mundo...
núcleo fora de si:
o Céu calçada dos
olhos e o Chão 
tropeço dos pés,
quando os olhos
no chão os pés 
voam a passos
largos, correm 
como se tivessem
asas a bater,
como um planeta 
a girar revirando
os olhos pelo 
cosmos infinito,
indefinido daqui 
sob um ponto de
vista fixo e
defectível:
em defesa de um 
Si curioso e tímido,
busca...
se esconder.