O silêncio declama o que lê, enquanto
a escuridão observa o que ilumina,
enquanto o desespero acalma a cólera
de suas paixões não correspondidas,
enquanto o amor mata o amor que
cativou, que por seu turno também
mata o seu assassino a se vingar,
enquanto a vingança perdoa a todos
convencida de que o perdão é o pior
castigo para quem se torna vez ou
outra responsável por atos imperdoáveis,
desse modo, o poeta culpa deliberadamente
a poesia por sua desgraçada sorte e pelo
seu fracasso eminente, culpa a poesia
e acusa-a, a acusa e ameaça, a poesia,
visivelmente indiferente, calma, de olhos
bem abertos e silênciosos, perdoa o poeta.
O poema mata o poeta, e seus versos o
devoram com sofreguidão.