ao mediar uma briga
entre deus e o diabo,
inventou o poeta a poesia.
ao enforcar a vida
no entardecer, enquanto
o sol descia,
ao beber da lua,
a mesma lua que
a noite inebria,
ao usar a morte certa
como metáfora para
o próximo dia,
inventou o poeta a poesia.
ao desnudar a musa
e desenhar em seu sexo
o fogo que ardia,
ao suspirar por vícios
numa busca profana
por companhia,
ao usar a métrica,
como pena e inspiração,
no fio dessa lâmina fria,
inventou o poeta a poesia.
ao satisfazer o sexo
na masturbação daquilo
que o olho espia,
ao se referir a igreja
como maldita por tudo
que nela havia,
ao perceber que o amor é,
mas também pode ser nada
daquilo que se dizia,
inventou o poeta a poesia.
ao buscar com seus atos
a gloria, e descobrir o pecado
em forma de alforria,
ao cuspir o láudano da
sobriedade no mesmo copo
sujo que se bebia,
e embriagar-se por noites,
desse mesmo ópio, verve
destilada em rebeldia,
descobrir que o caos
e a disciplina são notas
da mesma melodia,
a s s i m, e n f i m,
inventou o poeta a poesia.