segunda-feira, 22 de junho de 2020

Em fim

De quando em vez
talvez um tanto,
um quanto e às vezes,
e também outras vezes
sempre,
eu sou feliz,
sim, feliz,
mas não hoje.
Hoje entristeço.
Hoje felicidade é o avesso,
e a tristeza é só alegria e
me diz que feliz é o começo,
pois triste é como tudo termina.

Enlevo

Em diástole
e diáspora e
agora ex em
êxtase...
o Coração
pró alta ansiedade
pulsa pausas e para.
Passa assim por
toda a eternidade
afora.

Ad in finitum

Havemos de cair,
pois há
a beira da existência
um abismo,
acima o céu e assim
à frente a queda,
como antes no passado antigo
nós de acima de um céu caímos.
Que seja agora, após a queda,
que em definitivo voltemos,
subamos para o infinito perdido.

Hipótese

Que seja amor
o que se viu no
escuro, assim a
escuridão será
segura.
Ser bom no que se faz
faça frio ou farsa ou
frio faça o sol ao ser original.
Ser bom no que se é capaz,
faça versos ou versa que faz,
versos, de invernos austeros e
cheia de malmequeres a
primavera todos os olhos verão
em jardins poéticos, capaz de
ser verdade o amor ainda que
melhor quando apenas
hipotético.

O Vermelho e a Reforma

Num corte profundo expus
o vermelho e a reforma,
e o que será de mim agora.
Foi-se ávida a noite ceifadora,
e o que a manhã bela
trouxer em si e for à tarde
não será nada em mim embora.
Foice a noite
e eu martelo,
juntos em comum incômodo,
e amanhã quando já for tarde,
o que será de nós agora?