sábado, 29 de dezembro de 2018

Réveillon

Ano novo,
velha vida,
mais dos mesmos
males em novos
calendários com
comemorativas
e odiosas datas
repetidas.
Tudo (de) novo
envolto em
mesmos dias.
Agora já é ano que vem
sendo o ontem que foi
hoje buscando ser o
amanhã, um amanhã
que já foi tudo isso
também.
Réveillon é (ultra) passado,
que venha o fim para
realmente termos algo
novo para comemorar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Vias Vãs

Ex-caminho
escondido em
recôndito
escaninho,
cubro-me das pedras
do destino e
me torno assim
estrada de mim
mesmo,
e se em outro tempo
eu voltar a andar
pelo âmago afora,
já saberei por onde
não ir,
saberei o endereço.

Cemitério

A distância do céu
do solo qual é,
qual é a profundidade dos
poros, das covas, dos polos,
das obras do Paulo Coelho,
qual é a densidade baixa
dos ossos no solo,
enterrados há muito
sob o céu, alto,
profundo,
qual é?

Casa de Verão

Aquelas gotas que em tempos de chuva
caíam incessantemente do teto em pranto
em nossa casa de verão,
hoje chovem dos meus olhos
abandonados por você,
murmuram culpa em meu inverno
s o l i d ã o.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Democracia Estúpida

Venceu fácil o fascismo!
A derrota devota
A vitória do voto
Retumba bárbaro
O grito democrático.

Democracia hoje para
menos ser democracia
a frente, Brasil afora.

Brasil Deus acima de tudo,
por sobre todos,
em cima de todos,
caindo verticalmente
numa queda de todos
os votos válidos,
nulos e brancos.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Ágora Vazia

Quando muito da filosofia fala pouco,
a trivialidade das crônicas idiotas,
que são todas, me namora. Quando
pouco dessa filosofia me fascina,
eu sou o Deus Homem tratando todas
as divindades como escória.
Já fui mordomo de deus no reino
dos céus e o que presenciava por lá
é certo que nunca pena alguma
conseguirá pôr em versos num papel.
Deus é déspota hoje desde antes a sua
estúpida criação cair por Terra,
Jesus é cruz, é refeição para a miséria,
é a gula da fome, é matéria etérea,
carne da minha carne, é bactéria das
minhas bactérias.

Já fui devoto de paixões arrebatadoras,
de vícios destruidores e libertários,
já andei por entre canalhas e senhores
déspotas, fui mendigo de ilusões pelas
calçadas da vida, minha marquise favorita
as estrelas e a lua asceta em si mesma.
Certa vez observei a morte pela fechadura,
estava a se banhar numa banheira dourada
talhada de outros metais e de indestrutíveis
pedras duras, nua, a morte me fez exitado e,
despercebido, fui pego pela vida me
masturbando pelo que via, em gozo pude ver
a vida se retirando triste sentindo-se traída.

O tato da minha
intuição deu a mão
à palmatória quando
desconfiou que nunca
em insight algum
conseguiria supor
aquilo que se passa
agora, que se passara
ou passaria.

Já fui o antes de outrora,
o depois do futuro, de mais
longe ainda e o passado de agora.
Já sublinhei no calendário
do tempo o meu último dia
e o meu último dia é de toda a
madrugada fria a chegada da aurora.

Fui poeta muitas vezes,
todas as vezes que me
faltou a gloria, minha
honra, a escrita, é a razão
pela qual a poesia tanto
chora. A tristeza em
versos quando lida pela
felicidade da vida se faz
muito mais triste ainda,
e por onde quer que a
pena risque traz amargas
impressões das ilusões da
vida afora:

Um dia em
dada noite
não me
encontrei
e então
sozinho
fui embora,
depois de
algum tempo
quando lá
voltei, me
vi me
esperando
angustiado
numa ágora
vazia e,
ao me ver
chegar,
nós dois
em suicídio
fomos para
casa,
voltamos para
o antes e em
tempo de não
chegar partimos
em
pressa tardia.

Viver breve como se
por toda a eternidade
não existisse a vida.






Estrelinhas

Entendo tudo sempre pelas entrelinhas,
estrelas estrangeiras,
inglesas, esterlinas...
Estrelismo poético,
rimas de poemas abstratos
causam estranheza entre tantos e
muitos outros,
entretanto, entre tantos estranhos
da poesia que se julgam estrelas,
eu não estranharia se todos,
pelas entrelinhas,
nada fossem.

Histerismo patético em
exóticos versos,
esotéricos e filosóficos
em vestes, mas quando
nus, grande bobagem.

Vasta Vida Vazia e Só

O que pode ser mais solitário que a vida?
a vida que tudo é, que nos preenche dela
toda e toda ela é toda só, com sua consciência.
Toda consciência é só e nada pode ser mais
solitário que a minha.

Quando você não está só
consigo mesmo, com seus
demônios e deuses?

Minha consciência inveja os
e s q u i z o f r e n i c o s,

alguns poetas antigos já
diziam, somente a loucura
talvez seja capaz de fazer
companhia para a
consciência da razão,

eu afirmo o mesmo quando
meus pensamentos fazem
novas amizades.

O infinito do universo
é a maior solidão do mundo,
do meu coração...a maior
soledade é a vastidão do
meu amor pelo nada.

O nada é o que há de
mais só nisso tudo.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Omni

Deus é ausência,
invenção, crença,
loucura, razão,
estranha presença,
amor, medo, dor,
desespero, paixão,
é máxima potência.

Deus sou eu,
é você, é
meu cachorro,
minha mulher,
é a mãe, o pai,
o filho,
o espírito,
o fantasma,
o palhaço,
o bandido,
o milagre,
o mendigo,
a madame,
a desgraça.

É graça,
é gloria,
é tristeza,
abandono,
é dádiva,
lástima,
engano.

Deus é o feedback
do universo, é o que
você é te observando.

É tudo,
é pouco,
é nada,

é maravilhoso.

Manifesto

Aprosa em poesia
um manifesto poético,
uma proposta duma
próxima nova poesia.

Nova poesia em
velhos axiomas,
dramas, tramas
em tragédias e
tristezas tantas,
do fim do ser às
suas misérias;
do fim do ser às
suas ansias.

Mas algo foi posto
abaixo, não as
lamentações,
leitor feliz e circunspecto,
e também não a solidão,
genitora de tantos versos,
veio abaixo a métrica,
quando sem inspiração
tropeçou em seus cálculos,
seus calcanhares de passos
medidos que a levaram
a queda.

Jaze métrica canalha!

Soledade

Quando estar sozinho
é a melhor companhia
e não a única saída...

Princípio do Profundo

Raso,
como um rio morto,
lodo,lama,
tudo muito
muito razoável,
sobretudo.

Raso,
como olhos que choraram,
lágrimas, lástimas,
o tudo, pelo pranto
que se deu,
todo umedecido.

Raso,
como o fundo do poço,
lodo, lama...
raso,
como o princípio do profundo,
do fundo (se) assoma.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Self It

Plante
Masturbe-se
Construa
Crie
Faça voce mesmo
Cante
Escreva
Proteste
Grite
Faça voce mesmo
Ande
Corra
Viaje
Busque
Faça voce mesmo
Chore
Fuja
Enfrente
Ame
Faça voce mesmo
Levante- se
Durma
Acorde
Sangre
Faça voce mesmo
Confesse
Escolha
Pense
Mate-se.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

ERROR

Quando criança me ensinaram a
ter medo de Deus,
da Polícia,
do Escuro,
do Diabo, enfim,
absolutamente de
quase tudo.

Hoje sou ateu,
fora da lei,
gótico e
satanista.

Algo errado aconteceu,
presumo.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Gênese

Usar de atalho a avenida,
ser grande como o seu criador,
comportamento atávico,
expandir junto ao universo dia
após dia, ir de encontro à
máxima potência com toda a
a força da grandeza interior,
ser Deus agora, amanhã,
ser um Deus sempre, e
também depois.
Ser um ser superior
a si mesmo,
superar-se sendo grande
como foi quem tiver sido
o seu infeliz criador.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Magno

Megalômano, o vírus,
despertou da sua
inconsciência sentindo-se
um tumor cancerígeno,
maligno e destruidor.

Essa ínfima existência
sonha um dia  em ser
uma avassaladora doença
capaz de epidemias e,
quiça, extinções. 

Vieses Inservíveis

Doa-se versos quase novos,
não lidos, de velhos poemas
de uma nova poesia, esquecidos
há muito...
Doa-se estrofes, quadras,
tercetos,
Doa-se odes, haicais, elegias,
aforismos e sonetos.
Doa-se tudo que seja poesia,
e para quem além de levar os
versos também ler os poemas,
ganhará do verso lido,
do poeta, a ideologia.

Útil Dia Último

Não derivo da sorte,
à deriva num mar de
azar ancorado numa
tempestade eterna e
ternamente furiosa.

Na hora da morte se
alimentar eu sou
apenas só mais um
em seu cardápio, e
quando for eu o
prato escolhido,
sei que irá me
saborear sem pressa
alguma:

À la carte
sinto-me já sendo
servido.

Não possuo dos vitoriosos o porte,
o corpo que uso é fraco, doente,
magro e de aspecto fantasmagórico.
Minha cabeça pesada que dos muitos
empréstimos da loucura, é certo que
esta um dia me levará a razão.

Esta usurária cobra um preço alto
pela minha dela emprestada
inspiração.

Mas quando chegar a hora
que ao menos seja útil meu
dia último, que Deus venha
a existir quando eu for
embora, para me explicar
o porquê desta existência
frágil e sarcasticamente
estoica.

domingo, 5 de agosto de 2018

Bolsonarismo

Caras  brancas, caucasianas,
feias, bobas, francas.
Crachá carranca,
máscara face de caráter
quase, porém plena,
toda hedionda.
Faces em ênfases de
escárnio, uns olhos que
cospem, sempre no olhar
trazem escarro,
desprezo toxico por
qualquer diferente imagem.
Face faz-se fascista
em face de semelhantes
faces, redundantes fazem-se
em frases de medo e ódio,
em frágeis contextos ilógicos,
nazis utópicos, fantoches,
fanáticos, fantasmas fantásticos
de um fracasso ideológico.
São todos tão bons,
são vis cristãos do diabo.
São o axioma do mal, do
mau que se soma ao
discurso estúpido daquele
a frente destas faces tão
débeis, tão reles, tão praxes,
tão reses, tão férteis para o
caos...para este Fausto assim
implantar seu tão sonhado
neo Holocausto, sua verdadeira
intenção afinal.


Guerra Vida

Jesus, herói dos desgraçados,
gloria divina, graça humana,
mártir ultrarromântico
assassinado por ordem do pai,
dizei-me como posso ser eu
também um soldado do amor
nessa guerra vida de falsas
paixões, diga-me como faço
para amar esta vil madrasta,
esta existência canalha que
me julga um razoável nada
num campo de batalhas de
heróis?

Quero ser um herói a guerrear;
quero ser Jesus de martelo e
pregos nas mãos pronto para
o seu amor pregar, atravessando
os corações como lança,
perceba como é bela a dança
dos corpos de outros heróis a
música desta guerra querendo
dançar, e dançam e não deixam
o baile, a guerra jamais,
nunca acabar.

"...agora dança em mim um Deus".

A morte veste vida

Tu'alma
em teu corpo
arde,
inside, interius,
em artérias,
em si nua,
alva, a alma
tingida de
vermelho sangue,
insinua que um
coração bate.
Mas não
bate mais.

Tu'alma
em teu corpo
ardía.

Uma alma neste corpo morto havia,
insinua a morte e, em si nua, diz
que hoje já não mais há vida.

Estéreo Tipo

Se sou comum,
assim, como os
outros, por que
então os outros
não são assim,
como eu,
como um?

Acho que não
sou um tipo
assim, comum,
como todos.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Ultima ratio populi

Vimos cegos,
chegamos aqui tateando o
caos, protegidos por uma
democracia suja, de maioria
muda e surda como quem
não quer ouvir, que não ouve
o silêncio do que nada vê.
Partimos de longe,
de uma véspera do passado,
de uma terra saqueada,
de um dia ruim que
comprometeu toda a
vida de amanhã, de um lugar
bonito, porém desgraçado.
Estado de paradoxo,
o direito ao uso da força
defendido pelos fracos,
clamam por armas de fogo
aqueles que tanto já se
queimaram. A influência
da religião sobre a sociedade
hasteando a falsa bandeira
da pífia laicidade.
A política e seus dados viciados,
a corrupção andando a passos
largos rumo a ser constitucionalizada,
os velhos Dráculas de sempre na gestão
do nosso sangue, os mesmos
governando o mesmo povo de sempre,
miserável, ignorante e feliz por ser.
Terra maravilhosa sem beleza alguma,
o belo da natureza já não é mais belo,
já não há mais natureza, é uma pátria
de cegos que acham que a escuridão que
veem esconde alguma nobreza,
não há mais, a beleza vista antes,
hoje é holograma, é torpe miragem.
Alento para quem tanto se engana.
Em terra de uma justiça cega quando
convém, quem tem influência social
é rei, quem tem sobrenome, dinheiro,
fama, bens...
A razão primeira, nossa razão,
deveria ser a de nunca permitir,
mas permitimos e julgamo-nos
patriotas. Não, minha bandeira é
preta e não pertenço a essa pátria
de idiotas. Sou brasileiro sim,
mas não brasileirinho, sou gigante
do tamanho da minha terra continente e
vivo prestes a explodir, um canhão
apontado para o Estado, e podemos
ser milhões de canhões prontos para
a reorganização, a revolução social
que porá fim ao eterno estupefato,
trará o fim para a síndrome de coitados.

Desobedeça a paz que te cega e
abra os olhos e braços para a guerra.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Elisa Belle

Elisa Belle era seu nome.
Tão bela e tão doce, e
quisera Deus que ainda fosse,
mas não é mais, está morta,
vítima duma fatalidade que
é a vida, essa madrasta
nefasta, torpe, levou-a de
mim para as trevas da morte
e deixou- me aqui para sofrer
e sofrer e quem sabe mais
tarde, no futuro, ainda sofrer.

Havia recém completado dezessete
anos quando a conheci,
foi num entardecer de outono
que eu a vi, próxima a um jardim
observando as flores e,
as mais belas rosas, eu percebi,
a olhavam com inveja,
tamanha era a beleza de Elisa.

Diante dos meus olhos que
naquele momento eram a janela
por onde minha alma observava
a sua gêmea metade, dona de
toda felicidade que eu jamais
mereci.

Elisa olhou-me e então olhou
de novo, e ao sorrir, eu conheci
o que é a beleza e percebi com
exata certeza que nunca, nada
na natureza, tão bela quanto ela
possa algum dia existir.

Aproximei-me e tolo como todo
apaixonado me atrapalhei nas
palavras e pareci bobo, mas
mesmo que ela tivesse reparado,
tudo eu faria de novo para poder
ouvir aquela voz que só não era
mais linda do que a boca que a
externava.

Apresentei-me e beijei a sua mão,
sua pele macia, pelo toque,
produziu em meu corpo a mais
sublime e inebriante sensação,
na hora não pude deixar de imaginar
como seria seu beijo, seus lábios
deveriam ser os mais doces entre
todos os possíveis e puros pecados
e desejos.

Mas esse primeiro encontro foi breve
e depressa ela disse até logo e foi
embora levando consigo todos os meus
sonhos e ensejos de alegria. Naquela
hora eu percebi que nada mais no
mundo eu deveria fazer senão amar
Elisa Belle.

Enamorei-me perdidamente por ela,
dia e noite pensava nela o tempo todo,
e nos dias que não a via ficava como
um louco a tartamudear meus passos
por onde ela pudesse estar, ficava
dias sem ver Elisa.

Os dias em que nos víamos
eram sempre felizes, eram
assaz agradáveis e não poderiam
ser de outra maneira, ela
transbordava graça em tudo
que fazia, era a mais perfeita
criatura de Deus, e isso, depois
de tudo, ainda me estonteia.

Apesar de ela ainda ser jovem e
pura, eu já era vivido, tinha quase
o dobro da sua idade de menina,
e mesmo sempre a respeitando,
não deixava de imaginar sob o
vestido a nudez de seu corpo,
minha cabeça imaginando quase
me enlouquecia.

No dia mais terrível da minha vida
fomos passear em um afastado bosque,
e no interior de uma preservada mata
havia uma linda cachoeira. Elisa ficou
encantada com a queda d'água,
um pequeno riacho se formava aonde
a água caía, ela toda feliz e prazerosa
quis banhar-se naquelas águas e sentir
a cachoeira em seu corpo.

Eu quase não pude acreditar na
possibilidade de vê-la nua ou quase,
ali na minha frente, na mata distante,
longe de todos e da distante cidade.

Mas mesmo quase pegando fogo
eu tentei dissuadi-la, dizendo
que talvez fosse perigoso. Mas era
ela toda independente e nada do
que eu dissesse a faria mudar de ideia.

Ela, toda ingênua e segura,
tirou seu vestido e ficou
apenas com a roupa de baixo,
era uma malha leve e fina
que cobria quase todo o seu
corpo de anjo, deusa, mulher.

Mas eu sabia que uma vez molhada,
aquela sua vestimenta me daria a
visão perfeita que eu tanto aos céus
pedia. Graciosamente foi entrando
na água, seu corpo deslizava,
eu nada mais queria, meu coração
em brasas, em todo meu ser eu sentia.

Ela, sob a cachoeira me revelou
a beleza do pecado todo desenhado
em sua inacreditável anatomia,
estava extasiado, não acreditava no
que via, era perfeita, toda a beleza
do universo estava ali, em minha
frente se banhando naquelas águas frias.

Foi quando então Elisa Belle
deslizou da pedra e na queda
bateu com a cabeça na rocha
escorregadia  e  desapareceu
sob a água que até então toda
a beleza refletia.

Desesperado entrei no rio num
inarticulado nado e procurei até
não mais haver um único centímetro
de solo que eu não houvesse tateado.
Ela desapareceu, a forte correnteza
a levou antes que eu pudesse salvá-la.

Seu corpo foi encontrado um
pouco abaixo de onde estávamos,
mas já estava sem vida.

Eu, o mais infeliz dos desgraçados
desde então enlouquecera, fico a
olhar pr'aquelas águas buscando
vê-la, mas meus olhos recebem a
brisa molhada que produz a queda
daquela maldita cachoeira, misturada
com minhas lágrimas, essa brisa
salgada foi o que ficou no lugar
da minha doce Elisa Belle,
a mais maravilhosa e terrível
lembrança da minha triste vida inteira

Apoteose

...quiça, apoteose após o pacto,
mas abaixo os prós que sugerem
tal contrato e, embora sendo eu
de Deus um contrário, nada me
apetece no tão afamado Diabo.

Ao diabo adeus
e que deus vá
pro inferno.

Àmo Narquia

O contrário do que sou
tentando persuadir-me
a ser minha própria
contracultura, mas ser
o meu anti nunca foi
uma vontade minha,
ir pelo avesso do que
sou e sinto, e penso,
seria fundamentar
(fundar) um novo
Estado para a loucura,
porém, tal loucura
quer ser rei e quer
organizar o caos da
minha cabeça.

Quero uma república de
ideias livres, soltas e
revolucionárias, não uma
monarquia mental
organizada no sentido de
fazer todas as minhas
ideias automáticas e
escravas.

Contracultura Conservadora Jamais!



A Verve

Ali turgia, a liturgia rebelde,
no poema, fazia gigante, ser
grande, muito grande, a poesia.

Ali viviam os versos inquietos
que nunca incertos jamais se
perdiam, se bem que em certos
instantes, a pena errante, na
cabeça do versador os esquecia.

Esta existência é estranha,
confusa eu diria, o poeta
nasce poeta, cresce e vive
poeta e morre poesia.

Das mãos da morte,
da ponta da pena
que ceifa vidas e
versos, a verve,
sobrevive para
em outro poeta
fazer moradia.

Vencido

Vítima versado em vácuo,
vazado pela vida, vivendo
vencido. Vacilo várias
vezes, por várias vidas,
vastas, vãs, vazias...

Consigo

Eu
contigo
consigo
amor
pois
traz
consigo
amar.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Escarninho

Sentado na praça da vida
observando tantas faces
em meio a tantas vozes,
meu deus, quanta gente
caminha sobre esta praça,
sobre este mundo minha
alma pergunta, por que
não se calam e por que não
somem sob este céu, meu
deus, por que tanta gente em
tão pouco horizonte, por que
tantas vozes em tão pouco
silêncio, por que eu meu deus,
nesse mundo, nesta praça,
se não canto, não danço e
nada faço, o máximo de ação
é a ação do descanso?

Apenas de sobremodo observo,
só observo enquanto pereço,
e a poesia definha enquanto
esquadrinha em minha face
escarninho.

Ádito

A minha espera,
havia uma pedra
em meu destino.

Estava escrito,
estava no caminho.

Estava ali,
no meio,
por onde
ao certo
eu passaria.

E como quem
lê um poema
e se adverte,

eu já sabia.

Quando

Não é real a poesia,
é feérica, abstrata,
é fantasia pura ou
por pura fantasia é
realidade.
Na poética do poeta
o tempo é quando,
mas aqui fora,
nesta realidade fantástica,
quando será o tempo da
poesia?

Masturbo

O amor
uma ideia
fixa.
Teu corpo
uma ideia
física.

Da imaginação
para as mãos,
tudo isso em
ação fictícia.

Patíbulo

A sombra das coisas
a luz produz.
A soma das forças,
a força, de mim
deduz:
fraqueza!

As avessas
 (as vezes)
 a vida,
uma forca,
a certeza
que sempre supus.

Niilista

Por duvidar
de tudo,
eu acredito
em muita
coisa.

Deja Vu

Não estou preparado para nada
que não seja a vitória,
um vencido tentando fazer
história pelos versos do
pergaminho do destino.
O que foi dito ao tempo
sobre mim está errado,
pois eu, embora mortal,
não tenho as características
que toda  a vida dá para
aquilo que é deteriorável.
Não fenece oque já está
estragado e nunca, jamais
em tempo algum, se perde
o que não pode ser
encontrado.
E no fim,
quando por mim
Deus perguntar,
diga que não existi,
e que jamais gostaria
de ser lembrado.

Devassidão

Um grito de desespero do silêncio
após ovacionar minha solidão,
foi tudo o que se soube,
o que houve, e o que se ouve hoje
é o mesmo grito aflito declamando
as batidas do meu emocionado
coração.

Se a solidão é escura
então me dê apenas
um lume qualquer e
me deixe só na
escuridão.

Amor ao próximo é fuga e
vida compartilhada é tão
somente devassidão.

Eu menos todos sou eu por
inteiro sendo eu por entre os
outros alimentando minha
amada solidão,

todos menos eu são
outros sendo tudo e
sendo todos...
senão eu.

Certeza

A solidão da minha pessoa,
do meu lirismo, em coalizão
com a solidão sideral do
universo produziu nessa noite,
com esse vinho,
a sensação imensa de que
talvez eu não esteja
sozinho.

A lua envergonhada me
acenou com um sorriso,
e a noite por ela
iluminada trouxe-nos
dúvidas e alívio.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Cuspe Dela

Hoje eu te vi
ou quase,
meu cuspe em
contato com o
solo produziu
a figura da sua
face em saliva
e barro.

Reza

Eu:
o sujeito da oração
Deus:
-ouço o jeito da oração
Nós dois, uníssonos em
verossimilhança:
-eu sujeito a oração.

Deus é predicado do
invisível em que
acredito.

Aos céus
eu sou massa
invisível
graças a sua
imagem e semelhança...
e compaixão.

Ofício

Vou fazer poesia,
explicar pro âmago
asceta a presença
vil fora da caverna
de uma existência
vazia.

Mostrar pro fogo a
importância da água,
posicionar corretamente
o Tudo, pois uma vez
disposto em frente aos
espelhos da vida, se verá
refletido como nada,
porém, como um nada
absoluto.

Vou fazer poesia,
convencer a alma
a não mais insistir
na ideia diária de
sempre estar sozinha,
fazer alguma alusão,
ainda que tardía,
a importância da presença
de outrem, mas minha
solidão e suas fobias
preferirá para amanhã
estar só, como agora,
assim como ontem.

Fazer poesia,
apologia a porra
nenhuma pelo
nada que nascia.

Poesia é nada!

Assim como o Tudo
todo narciso que o
reflexo do espelho
dizia.

Em tristezas
a beleza do
poema ardía:
os versos eram
espinhos de um
botão de rosa
endêmica que
apenas no absurdo
nascia, rosa
vermelha de sangue
vivo que alguma
vida pedia,
assim, foi o
poeta até o
abismo do cosmos
buscar elementos
para inventar a
tão misteriosa
poesia, lá, encontrou
o âmago do universo
ensimesmado sobre
a infinitude de sua
existência vazia,
porém, descobriu
sentimentos puros,
antigos e intocados,
e então com sua
mística pena colheu
aquilo que mais  lhe
aprazia, contudo,
trouxe para cá
tudo o que hoje
se soma às misérias
de quem escreve,
para se fazer poesia.

Vou fazer poesia,
explicar a vida
para a morte e
na morte entender
Tudo aquilo que a
vida jamais me
explicaria.

Unidade

Vênus, Afrodite,
Gaia, Iara,
Ninfas, Aias.

Várias!

Toda mulher
é uma só
em todas e,
em uma só,

há muitas.

O Não de Tudo

Não sou eu o defeito das
coisas, a ação de tudo quilo
que dá errado, a razão, a
racionalidade do estranho
e confuso fenômeno que
é a vida, a existência
obtida.

Não, não sou eu o não
que se apresenta, não
sou a recusa e menos
ainda o convite, não
faço parte da beleza
que te intimida, que
discrimina e corrompe.

Não sou o nada que
preencherá todo o
futuro, não sou
tecnológico, moderno
e tão menos sou
futurista.

Se me apego ao ontem,
hoje é certo que o
amanhã irá me consumir
como insumo para suas
lembranças de como o
passado foi e é apenas
caminho pisado por
aqueles que seguem adiante,

eu fico para poder ser lembrado.

Não sou,
e nem poderia
ser, a negativa
de todos para
aquilo que são,
porém, certamente
talvez eu sou o
não de tudo para
aqueles que
nada são.

Humano Habitual

Sou carne humana
de alma sideral,
que sangra e sofre e
vive, e dança e corre,
insiste e tropeça,
preço que paga quem
olha para o céu,
e se venho a cair
é porque estou de
volta das estrelas
para meu corpo
humano habitual.

Crença

Negar a existência de Deus
é um ato de amor próprio,
aceitar e respeitar a crença,
acreditando ou não, é um
bonito ato de amor ao
próximo. Eu acredito no amor.

Destino Nosso

Não há pressa em pausa,
a causa é informação que
o efeito acessa,
não há certeza sem
dúvidas nesta vida que
não basta e que nos resta.

Não existe poesia sem
tristeza, a alegria está
no poema cabisbaixo que
a pena risca sobre a mesa.

Tudo é paradoxo,
para tudo e para
todos, o que preenche
a vida deles não está
dentro da alma
inquieta do destino
nosso.

Eles os homogêneos,
e nós,
heterodoxos.

Perfeição

Já me perdi na vida,
da vida, do mundo,
de todos. Já me perdi
de mim mesmo,
de Deus e dos demônios,
meus e dos outros.

Andei por onde nunca
estive e lá também
não me encontrei,

foi quando então a solidão
em minha companhia me
falou que, mais importante
que se encontrar, é não ser
como aqueles que nunca
se perderão.

O Tudo e o Talvez

Rezando no porão por acreditar
que talvez exista um sótão,
implorando perdão, aceitando
ser culpado, por acreditar que
talvez mereça.

O tudo e o talvez.

O fruto da esperança e o
desamparo na certeza,
na crença é onde de todos
duvidamos, é aonde
achamo-nos como agentes
do talvez, do engano.

Aquilo que somos,
somos mesmo de fato,
ou será apenas projeção,
um erro de percepção
onde damos grandeza ao
nosso fracasso?

Existência Ascética

Aquele que só diz
sandices, sabe-se
que sua poesia é
culta presa dentro
de uma ignorância
completa. Sócrates
sabia que nada sabia
e que toda filosofia
é patética.
Mas o poeta acha
que sabe, pelo menos
é o que lhe sugere
o silêncio quando
ele dá ouvidos a
sua dialética.

Lá vai o poeta,
levando sua pena
canhota em sua
mão destra,
leva-a para
contemplar
mundo afora
aquilo que existe
fora da sua
caverna.
Mas nada há,
no entanto,
se disposição
ainda lhe resta,
é certo que fará
desse nada versos
daqui até o fim
da sua existência
ascética.

Eterna

Antecedo o atraso do fracasso
para que a gloria seja pontual,
antevejo o futuro lendo o
passado percebendo o tempo
num ciclo espiral.
Respiro, resisto, registro o que
acontece em minha existência
observando-a com olhos de
outrem, porém, utilizando meu
cético olhar vertical.
Vejo, de novo, o que virá sendo
ontem e ostentando as novidades
como inéditas, esquece que
demonstra que com isso nos
deixa claro o quanto possuem
características de replicas dentro
de uma plágio atemporal.
O presente é breve,
o futuro é pura especulação
acerca da eternidade,
e o passado, meus caros,
o passado é eterno assim
como nosso efêmero
ciclo existencial.



domingo, 8 de julho de 2018

Dito impopular

Na vida
nada como
um dia
após o
outro para
ficar cada
vez mais
próximo
da morte.

Foste

Se eu fosse Deus
não haveria o Homem;
Se eu fosse ateu
não haveria Deus.

Se eu fosse a saudade
não haveria adeus;

E se eu fosse adeus
não haveria encontro.

Fosse eu a vida
não seria amarga,
fosse eu o mundo,
o universo todo,
tudo,

não haveria nada.

Amanhã Fadiga

O calendário e seu tempo fictício,
o relógio e seus ponteiros,
operários de um tempo ilustrativo,
alegórico e frágil que tiquetaqueia
sem cansar em seu propósito bobo
de agir a girar e girar para agir...

Os Dias, Os Meses, Os Anos.

As horas!
eis o que nisso tudo mais me cansa,
e me alcançam, as horas, e me
atropelam e pro futuro sempre
me revelam já cansado, como
um passado decrépito que se
arrasta por um imponde rável
tempo vil, imperativo e tenazmente
eterno.

Tempestade

Aedo a esmo
no ermo do
cerne de sua
existência
triste.
A esse poeta do abismo,
que do frio ao abrigo
fez versos de morno
fogo vil,
de fato,
mais uma vez
eu digo:
a esse poeta,
nada!

No mar da glória e
das conqistas
ele nada.

Desapariçao

Ao me diminuir
para poder ser
como os outros,
de sa pa re ci.

Destôo

A história do fracasso dos
Homens em tentar criar um
Deus perfeito,

o fracasso de deus em tentar
(fingir), para com nós, ser
sempre benevolente.

A fracassada existência do Estado,
do poder e da igreja...

Da história do mundo, de tudo e
de todos, do solo aos céus,
eu detesto e destôo.

Assemelhança

Há muitas sombras
de dúvidas sob a
luz da velha certeza.

Abruptas, se somam
 àquilo que poderia
ser e, embora já sejam,

sob essa velha luz,
assombram o fato
e não mais a isso se

assemelham.

Númeno

Dentro de um vazio que transborda,
tudo é nada, e o nada, como um
todo, aqui é pouco.
Eu quero mais.
Quero ser vasto como a solidão,
e se é para ser oco,
então que eu seja como o coração
que pulsa vida, e se tudo isso já
não bastasse, para o nada que é a
vida, eu sou um bastardo mais
nada ainda.

Ventura

Aluda a lua
a noite a sós
a não querer
ser escura.
Aguça paixão
sem amor,
sem querer
pertencer e
sem saber que
já é tua.

A noite será
sempre sua
maior (des)ventura.

Moribundo Ruído

O silêncio accapela
a assobiar uma
bela melodia.
Eu ouço-o e
embora entristecido,
a canção que
os lábios do silêncio
entoam alegrou-me
a vida naquele dia.
Mas logo percebo-o
quieto e entendo que
cantarolava pois
estava a velar um
moribundo ruido.

Lume

Gasta vida falha que
arde em fogo fácil,
fátuo, farto de queimar,
de um passado vasto em
cinzas e brasas que,
como um lume,
o futuro sombrio
iluminará.

So(ul)berbo

A espessura da finesa da
nobreza da minha alma é
variável por natureza,
de natureza (como o amoníaco)
álcali volátil.
Sou fogo frio de
chama fátua
anticongelante.