quinta-feira, 6 de abril de 2017

0x0

Estou empatado
com Deus.
e só o juízo
final irá isso
decidir, pois
enquanto eu
finjo acreditar
ele finge existir.

Sapere aude

É rés-do-chão,
é a base da alma do
mais elevado nível,
é ataraxia irascível,
é a beleza incognoscível
por si mesma,
é o axioma acima de qualquer certeza.

Não é religião,
não é ciência.

É a metafísica da senciência!

É por si só sapiência,
e depois, como pressentia,
já será do universo o molde,
já será    p o e s i a.

O mergulho

Abaixo de mim observo o abismo...
daqui, uma queda seria uma forma
letal de mergulho,
-cheguei ao cúmulo do auge,
ao píncaro do meu orgulho humano,
foste um erro, um engano...amar.
Ah! quanta certeza temos instantes
antes de nos enganar.
-O amor, a base de onde hoje eu
irei mergulhar, levarei comigo,
partiremos de uma plataforma
que de alguma forma foste um
tipo de vida em queda livre.
Seria um sopro do vento ou
seria o esboço de algum alento
vindo dos céus? meu corpo
estremeceu.
-É a vinda da morte,
é a morte vindo colher o fruto
que de tão apodrecido se desprendeu.
Os que observam minha tristeza
não compreendem sua filosofia,
pois a vida antes era inanimada,
era eterna até passar a ser vivida,
assim é minha tristeza em sua
morfologia assídua.
Mas há ainda o abismo a sugerir
montanhismo ao avesso e num
tempo mínimo, tão rápido quanto
algo do alto a cair.
-Seria meu corpo, do topo,
capaz de produzir um belo
voo em direção ao solo,
teria o solo capacidade de
o manter intacto em virtude
de um apurado pouso?
Do cume de toda
a minha gloria,
onde toda minha história
se resume, percebo que sou
admirado, não cansa em me
olhar aqui a vastidão de algo
que por muito tempo tem me
aguardado, e isso se abriga
em mim num ato puro de total
ascetismo.
Sem a máscara do meu orgulho
agora vejo,
abaixo de mim me observando o abismo...
-e que cumpra a vida o seu desejo.

Tomos de Outono

Descobre que há entrelinhas, um outono
duradouro sugere que há muito por entre
as linhas não lidas do destino.
Os tombos de menino, os tomos e mais
tomos e os livros que o levantam, que o
aspiram à um caminho.

Há tantas rosas
sequiosas por espinhos.
Há de bailar em
metáforas na valsa
da prosa do destino.

O desprezo que sente pelas tardes de sol,
o desejo que o tranca em seu quarto em
temporal. A simpatia pelo verão começa no
crepúsculo. Ama a noite em todas as estações,
mas o outono é quem o reflete e, as folhas
que dos píncaros caem, a terra com ósculos
                                              [às recebem.]


Ao outono os mais
belos versos.
Eu que a ele me somo
e juntos tornamo-nos
companheiros de excessos.

Os dias idos, vividos em furor,
duma verve rubra, libertina, estupor.
Os tempos idos do amor, da vida,
eterna ex namorada que o abandonou,
deixado à minguar pelo o que lhe resta,
a não presença ao receber o título de poeta.

Há tantas rosas
sequiosas por espinhos.
E quando houver de
bailar a metáfora, sugira
um tango à prosa do destino.

A tarde entristecer

Se ao menos fosse apenas
em tese o entardecer,

talvez em tristezas a
alma não adoeceria.

Mas é certo que o dia
deve morrer, só assim
a lua se eleva e a noite
surge em meio as
névoas de um cortante
frio de enlouquecer.

A noite ardente em
triste ser,
as trevas sentiria.

Olhos Descalços

A planta dos meu pés
sobre o solo, eu,
em pé, embaixo do sol,
abaixo do céu...para o
horizonte a ser conquistado
olho.

Fosse os meus olhos
meus pés,
o universo todo eu já
teria visitado.

Por ora, caminho calmamente,
sóbrio, e um dia eu chegarei lá,
uma vez que ando por onde
meus olhos vão primeiro.

Recôndito Abismo

Chuva interna de gotas d'alma,
dos confins do âmago
preenchendo todo meu ser.
Dum outono imperativo e
interminável, ora frio, ora
sempre frio em brisa fria
insuportável.
É sempre noite, há sempre trevas,
ainda que um solitário lume a
escuridão densa etérea afronte.
Eis a lua, farol soturno,
guerreira noturna em paz
inabalável, lhe apraz o fronte assim,
apenas ameaçado.
Atmosfera interior segundo meu
pobre lirismo, mas e, contudo,
se há algo de profundo nisso tudo
que eu possa dizer, eu digo...
abismo.

Paternidade

Amo muito e tanto, e sei que o amor
busca nisso a essência para seu mavioso
canto. Amo tanto e muito ao ponto do
amor plagiar meu sentimento e roubar
para ele o que sinto e nessa maravilha
de amar se dizer absoluto.

Amo mais do que a medida que cabe e
que mede o imensurável amor, é maior,
mais grande que a vida, é do tamanho
do universo centuplicado por sua infinda
dimensão. Não, é mais que isso, é dez
vezes mais que o infinito, é vasto,
é vitalício, é gradativa imensidão.

Amo hoje mais do que ontem, mesmo antes
já ter amado tanto, e se hoje amo gigante,
é para amanhã poder dizer que no futuro
o meu amor será ainda melhor, será um
sorriso lindo em seu semblante.

Amo com a energia pulsante de todas as
minhas células e, perplexo, sei que esse
amor está todo em mim assim como a
escura matéria preenche todo o admirável
universo.

Amo mais, mais do que eu já tenha dito,
e mais do que eu poderia dizer, mas digo e,
se não obstante, eu incansavelmente repito,
amo até a redundância, e coloco o amor
num ciclo que leva mil vezes a idade do
tempo para poder de novo se repetir e
perceber que é o mesmo, e embora seja o
mesmo, se torna novo a cada vez que eu
olho para você.

Amo, e ponho ele, o amor que conjugo,
acima dos céus, é o teto de Deus é o céu
dos deuses, é nele que Deus busca inspiração
para poder amar. É maior que qualquer
religião e, se não for tola a adoração,
é certo que é você e só você que eu irei
para sempre adorar.

Dizem ser o amor o canto mais verdadeiro
do poeta, eu se antes cantava a tristeza,
hoje minha poesia é só alegria, e no amor
e sua beleza, eu busco a sua métrica e melodia.

Amo, e como não poderia amar?

Se você parte de mim,
eu afirmo o contrário,
eu parto de ti para toda
a vida, daqui pra frente,
apenas amar.

Eu como parte de ti,
sou verdadeiro amor,
assim como tu,
como um pedaço de
mim, para onde for,
sei que irá para
disseminar o amor
que você em mim
plantou.

Amo, e o amor é tudo,
mas mesmo em caráter
absoluto, é pouco.
E como pode ser pouco
o amor que agora mesmo
tanto se cantou?
O poeta nada explica,
nem a matéria e tão
menos a metafísica,
ao contrário, alguns
dizem que a poesia
só complica, mas que as
respostas pros mistérios
da vida, muitos afirmam
que está nela sim escondida.

Porém, a resposta para o que
se perguntou acima, só mesmo
a natureza com os movimentos
que vêm de dentro da barriga
pode responder.

Seja um filho ou uma filha,
ela é verdadeira e, mesmo
respondida a questão,
a gente ainda cutuca a certeza
na esperança de que a mesma
afirme sempre a mesma explanação.
E ela afirma:
- é mesmo neste gérmen de vida
que está toda a sua sincera e
absoluta satisfação.

A vida que antes era amarga e fria,
hoje é terna e doce,
se antes era áspera e assaz vazia,
pois eu inerte jazia preso
ao nada, hoje é maviosa e completa,
toda bela e transformada.
É a felicidade em ataraxia.

Fico a contar os dias como alguém
obcecado por calendários,
e ao mesmo tempo aproveitando cada
instante por saber que
tudo passa assim tão rápido.

Logo vai-se a gestação, e a barriga grande,
tão crescida, em breve e,
no tempo certo, trará minha gloria para o
mundo na forma de uma pequenina vida.
Trará um filho que daqui para o fim,
será a minha razão de viver adquirida.



quarta-feira, 5 de abril de 2017

Oração

Peço a Deus, se é que ele acredita
em mim, que eu vença.
Peço a natureza, se é que ela pode
me ouvir, que forças eu tenha para
sempre no mínimo tentar.
Peço a mim, em íntima oração, que
nunca haja covardia, e que o medo
que há e que é inerente, um zelo da
criação, seja apenas mecanismo
para eu me orientar por onde tenho
que seguir.
Peço a vida que seja menos amarga
e que seja condescendente das escolhas
que eu faça, que se mostre ao menos
interessada. Que não seja vil, que não
seja nefasta.
Peço ao destino que seja razoável,
que o que é que tenha decidido seja
possível a mim adaptá-lo as minhas
vontades e talentos, e se eu trago
comigo algum dom, que eu descubra
a tempo de poder ao menos praticá-lo.
Peço a poesia que me entenda,
que com minha rebeldia não se ofenda,
saiba ela que eu sou um dissidente
antes para depois ser um poeta, e que
meus dedos tortos jamais doutrinarão
minha pena inquieta, a inspiração que
em mim se eleva jamais poderá caber
dentro de qualquer tola métrica e, se
isso um dia acontecer, que eu rompa
em definitivo com a poesia, e assim,
essa será com certeza, minha última
razão poética.
Peço ao tempo que tenha disciplina,
que seu passeio por mim ocorra
uniforme, que seja suave o balançar
do seu pêndulo temido, que venha
com o passo firme do seu caminhar
sobre minha existência, sabedoria e
desejo de aprender.
Peço ao amor, e desse modo faço
meu último pedido, que seja ele
incansável, e que por onde quer que
eu vá e siga, que venha ele sempre
comigo e, inseparável seja, pelas
veredas dessa vida.

É sal, é suor, é mar.
É fel em mel o doce
do amar.
É fogo e é fato que
é tolo quem não se
permite queimar.
É dor e a dor é a
melhor rima.
É só o ideal da vida,
o bendito do amor é
maldito em sina,
ensina.

É sal, é fel, é fogo,
é bobo, é dor...
é só.

É só...o melhor da vida.

Óculos

Meus olhos vítreos viram,
e vítimas da visão que os
aviltava, vociferaram em
voz maior que o pranto de
um amor perdido.

Violaram as trevas que
que os cercavam,
e ávidos por vontade e
força da natureza que os
forjou, fugiram da cegueira
que os observava.

domingo, 2 de abril de 2017

Untouch Screen

Não sou moderno,
menos ainda tecnológico.
Um modernista talvez,
porém, em caráter variável.
Não sou, quem me dera.
Os nascidos com as mãos
pálidas ou quase, e com
dedos para virar páginas,
não se adaptarão em um
mundo de cutucadores de tela.

Percepção

O silêncio aguça a audição,
mas de nada vale a surdez;
O escuro apura a visão,
mas não para quem tem os
olhos em treva perpétua;
O olfato apurado percebe
um odor distante, mas não
sabe que cheiro tem a cocaína;
Os sabores do mundo, todos
numa simples lambida da
língua, mas o sabor da vida
certamente está no gosto de
uma vagina;
Uma frágil rosa, que representa
uma paixão, um quase amor,
percebe-a quem a segura nas
mãos, e num descuido, os afiados
espinhos vão decepando o
polegar opositor.

Escopo

Meu plano A é
ser grande nesta
vida; Meu plano
B é insistir na
ideia do A e ser
maior ainda.