terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Amanhã Agora

O ocaso de uma velha vida
e a aurora de uma existência nova
entoam em tons azul cinza azulado
quando não cinza'zul acinzentado,
a premissa de muitas honrarias.
O prenúncio absoluto de total
glória, um belo ' há Manhã' no
olhar da minha filha me diz que
tudo novo começa agora.

Eu de novo e não
o mesmo, mas o
mesmo eu em outro
buscando também
(em tudo que somos)
fazer historia.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Chuva

Chuva de um céu em
suor, nuvens brancas
de brancura açúcar e
algodão, surgem
(cingem) em
cinzas lágrimas doces
de sal.
Chove e chora o céu
a cantar a melodia das
águas que fartas e vastas
caem como se um mar
estivesse a desabar,
sobre nós a muitos
pés, sob os pés de Deus
a muitos nós vindo
aqui com nós se banhar.

Amo

Mais clichê dizer que
te amo
é o ressentimento
amor que engano,
é de praxe nele me
perder para me
encontrar em você,
Deus do abandono.

Eu amo, eu amo,
eu amo, amo,
embora você não
exista, eu não desisto
de insistir,
para mim mesmo,
em momentos de
total desespero que
posso contar contigo,
Deus etéreo dos mundanos.

Mas eu sei que você
sabe que você é só
estúpida invenção
humana, e eu,
sua mais perfeita
criação, Deus que
tanto amo.

Sangria

Em qual saúde a tua vida
agoniza, em que esquina
perde o rumo quem te guia?

Teu deus
tua existência
ojeriza.

Não existe céu para quem
não quer voar, para aqueles
que rastejam, sob a terra é
paraíso, é caríssimo lar.

Se és barro e pó,
estas em casa,
amigo anelídeo,
e teu deus é
sanguessuga.

Mudo, Pensativo e Quieto

O silêncio que me observa é primitivo,
os olhos de Deus, o murmúrio do
invisível em silvos que os mesmos
olhos em piscadelas destilam.
O silêncio das cavernas,
de um tempo em que Deus não existia,
sinto-o agora a me espreitar,
sonda-me, como dito antes,
como antes do tempo,
o nascimento do tempo já estava ele
a presenciar.

Mudo, pensativo e quieto.

O silêncio é propenso a sempre
diante de todo grande acontecimento
se calar (manifesta-se).
É covarde, diria alguns, eu, sem
pretensão alguma digo que é sábio.
Assim como Deus, pergunta-me
os mesmos, não, sábio, não covarde,
covarde ignora, sábio observa.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Pecado

Já fui Deus quando ainda
não havia céu,
hoje sou pecado por não
crer no passado, e se ontem
fui adeus é porque não há
futuro no horizonte.
O amanhã foi confiscado.

Facebook

A impressão é
v e r d a d e i r a,
mas a vida de
domingo a
dezembro é
uma farsa.

Desígnio

Meu poeta favorito pintava quadros,
com a verve do seu pincel
as cores e imagens vinham em
versos que os olhos dos que liam
para sempre ficavam perturbados,
mas isso é bom.
A arte nunca veio para remediar os
males, pelo contrário, as angústias dos
Homens a arte lança aos ares,
as dores desta vida está em variados
tons de muitas cores na paleta do artista,
em sua tela tudo cabe.

Meu pintor favorito fazia versos,
versos dos anjos aos demônios
para os meus dominios, para os
desígnios que vão da acolhida ao
abandono. Poemas que a pena
pintava em telas tão cheias de graça
e beleza, páginas trágicas tão belas,
tão sinceras numa felicidade
esmiuçada em rara grandeza.

Viver é bom,
existir é triste e
(acerca disso)
a dúvida é a
única certeza.

Heterodoxo

Você que tudo mede,
que meça tudo, todos,
a noite, o dia,
você sujeito reles,
para o diabo com
o seu deus, para o
inferno a sua poesia.

Religião é métrica,
Deus é régua,
fé é instinto que
vem do berço,
das cavernas.

Sou verso livre
e Deus me livre
se não for,
se não fosse.

Sou primitivo como o
barro preso aos dedos
sujos dos antigos macacos.

Em nada caibo.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Entropia

Posso pagar a conta da minha existência,
aparar as pontas da minha rebeldia;
Apagar o histórico das minhas desistências,
aplacar a sede das minhas conquistas,
mesmo que tardías.

Posso ser frio inalterado
abaixo do zero absoluto,
mas continuarei tentando
ser maior ainda.

Tênis

Fadado ao fracasso
calçando minha habitual
farda. Indo eu e o meu
fardo no encalço da vida
atrás da vitória.
Caminhando pelo universo
afora à forra, através de
todas as estrelas, velhas,
semi e supernovas todas.

sábado, 4 de novembro de 2017

Vida

Loucura mesmo é a
matemática, a verdade,
a linguagem. A filosofia
da natureza na simétrica
escrita da pena de Deus
afirmando sempre a
mesma certeza.

Angústia

Eu poderia atravesar a
parede através da minha
cabeça, um balaço, um
pensamento, uma conquista,
angústia, um fracasso...

Eu poderia ser só futeis
lamentos, mas são eles que
me são, são eles a tristeza,
não eu, eu apenas sinto-a,
cinjo-a.

Eu poderia existir dentro
de toda felicidade, mas tola
é a felicidade que é toda o
tempo todo.

Eu poderia atravesar meu
peito através do meu coração,
um punhal, um sentimento,
uma dor numa taquicardia
que ardía presa dentro de cada
pausada pulsação.

Poderia ser, a vida, boa solidão,
mas é dura companhia.

Contra uma existência parasita,
impressão que as vezes o poeta
tem para si sobre a vida,
esse mesmo poeta tem licença
poética para se matar em sua
poesia.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

insurreição

A vida entrega-se calada,
entregue a propria e insolita
sorte. Num patíbulo, a morte,
usa-o como tribuna livre,
um púpito para seu
lúgubre discurso:

'A vida, revolucionária e
revoltosa, trama contra vós,
oh mortos, clama e busca a
imortalidade, eu, como
soberano mor, não permitirei
contra nós tal atrocidade.'

Os mortos acotovelavam-se
amontoados uns por sobre
os outros em mórbido frenesi
diante da possibilidade de
verem a execução da vida,
todos sentiam-se traídos por
ela por isso clamavam por
vingança.

Mas um entre todos aqueles
mortos pensava diferente,
estava decidido a salvar a vida.

Acreditava ele e muito na ressurreição.

Lutar pela vida agora para mais
tarde poder senti-la de novo.

A vida nada queria, cansada e desiludida
como unidade consciente coletiva.
Queria descansar, habitar quem sabe um
ser minúsculo e não um planeta todo de
seres viventes sendo sempre os racionais
os mais estúpidos.

Uma fração da vida foi habitar o morto
dissidente crente da ressurreição, que
em algum lugar já era de novo um ser vivo.

O que sobrou da vida sentia o nó da forca
em seu pescoço, mas não havia nó algum
na garganta, a vida queria a morte.

Pro seu último baile,
estava ela e muito
ansiosa pela dança.



segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Aos vícios

Viva a contrariedade,
tua contracultura em
contraste com a
contraditória realidade.

Viva as contradições da vida,
as contra indicações vivídas,
à risca, aos vícios.

Os contras sempre nos
favorecem, para as certezas
e unanimidades que me
cercam, trago minhas dúvidas
contrárias, pois são elas que
nos momentos de obviedade
me salvam da concordância
covarde.

Antítese

Anticristo ou cristão
ou indiferente a isso.

Crer ou ser de Deus a
antítese, aceitar ou ser
contra o que prega o
rito de toda religião, de
toda sandice.

Em Deus eu creio por
ele acreditar em mim,
porém se me odeia, eu
o amo para ajudar a
encontrar o melhor
dentro de si.

Ofensa

Dê-me amor ou tema
o meu amor em ódio
pela recusa (e ofensa)
em fazê-lo nosso.

Dê-me amor e posse
do teu corpo, da tua
vida toda e da tua e
nossa morte.

Dê-me socorro agora,
que em tua boca eu morro,
teus lábios em recusa
ardem e o teu não vai
do beijo ao desaforo.

Coma

Adormeci antes do sono
e despertei antes de acordar,
então acordado, dentro do sonho,

não quis mais dormir
nem mais voltar.

sábado, 14 de outubro de 2017

Tantos Velhos e Distantes Tempos

O futuro é um passado distante,
eu escrevendo e acreditando que
minha escrita vai pelo novo,
por novas vias,

mas Homero e Horácio
já escreviam antes.

Acreditando em mim como
potência, Homem, deus,
Super Homem, é isso que eu
acredito e penso, mas também
assim falava Zaratustra, assim
também pensava há muito tempo.

Nada é novo,
nem toda a tecnologia,
nem todo o pensamento,
o que se raciocina hoje
foi e é a ideologia de
outros tantos velhos
e distantes tempos.

Ego

Tenho um
eu dentro
de mim
que fica
me adorando.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Senhorio

A capacidade de dar certo
nas coisas erradas,
a crueldade de Deus nas
escolhas da vida, escolhas
pra mim contra as minhas
escolhas. Dádivas que são
na verdade acasos sem
fortuna.

Resiliência é estar vivo,
sapiência é não ser gado.
Tolerância é meu silêncio
e meu grito é contra ataque.

O que ser nessa vida que em
você não é nada, e por que o
nada desta vida fez em você
sua morada?

Ismos

Todos em um em todos,
personas, hágios, demônios,
múltiplos karmas numa
alma apenas. Muitos eu's
em mim em pandemonio.
Muitos em mim são eu's
que abandono, porém,
ficam a vagar pelo âmago
como mendigos, como eu's
vencidos por mim mesmo.
São rebeldes, dissidentes do
que penso, acostumar a viver
com eles me faz ser um
lúcido louco quase
esquizofrênico.

Insepulto

O último poema de amor
que escrevi morreu iludido,
então eu, de luto, decidi
não mais escrever poemas
de amor, e para não
esquecer, o poema que
morreu, deixo ele em
minha alma insepulto.

Depois das Drogas

Eu me conheço com muito mais
propriedade agora,
depois das drogas,
como um refinamento e
purificação, ficou só a
essência da personalidade.

Depois da morte há vida
e essa sim é maravilhosa.

Depois de agora só me
resta a eternidade,
depois das drogas me
resta apenas ir embora...
atrás das mesmas e
velhas novidades.

Ofuscaos

Apática a paz
perdeu o foco,
a prática.
Percebeu que
o bem segue seu
ritmo a máxima
da guerra,
'a única higiene
do mundo'.

A fraca paz
aquém tática,
a paz espontânea,
sua derrota a quem
apraz?

Seus dissabores alimentam
a gula dos senhores da guerra.

Mas sua vitória se
faz instantânea
sempre que pela
frente encontra o
caos imaginando
alguma quimera.

Taquigrafia

Felicidade é a priori,
tristeza é ciência aplicada.
A vida dura ainda que piore,
poderá ser boa e, mesmo que
melhore, poderá ser dura.
Existe uma difetença de
escolha, um paradoxo que
você só percebe depois que
morre.

domingo, 8 de outubro de 2017

Em oposição ao verso

Por oposição ao sol, minha sombra,
fruto dessa luz. Levanta-se contra o
iluminador, a criatura, a luz criadora
encontra-se agora contra a sombra
que criou.

Assombra-se como outrora,
quando a Terra em relação
a si fazia-se contrária a sua
aurora. Não havia rotação,
o planeta apenas ruminava.

E quando houve luz
também assim houve
glória.

Da escuridão da falta de luz
para as sombras da luz de agora.

Por oposição à prosa
eu verso, inverso,
eu em versos versus
os versos da poesia que
se sente assim, tão presa.

Para os poetas que gritam amiúde:
-pô, ética, para os poetas da falta 
de métrica, para eles eu faço da
minha poética um foda-se.

domingo, 1 de outubro de 2017

O Macaco Nú

Um copo de cólera,
os irmãos Karamazov e eu
bebíamos numa noite na
taverna. A metamorfose
operava entre nós,
bebíamos ao admirável
mundo novo, à gaia ciência,
à vontade de potência,
fazíamos de nossos brindes
elogios da loucura
e em nossos copos tomávamos
um pouco de tudo, era o
crime e castigo, o vermelho e o
negro juntos e altamente
destilados. Ébrios, tão altos quanto
o trópico de câncer...
mas nem por isso parávamos,
resistir ao álcool é uma atividade
difícil, como o amor nos tempos
do cólera, éramos resilientes.
Eram noites brancas de lua brilhante,
sentíamo-nos bem juntos como se
tivéssemos passados cem anos de
solidão em uma estação no inferno,
não éramos mais os miseráveis de
antes. A bebida fez da taverna nosso lar,
os demônios bebiam conosco,
o menos alcoolizado ao andar parecia
o diabo coxo, um outro mais empolgado
falava de religião e dizia que iria abrir
uma igreja do diabo. Todos nós ríamos,
tudo era belo e agradável como uma
divina comédia. A bebida em nossos copos
era cerveja de espumas flutuantes,
que iam para além do bem e do mal.
Uma dama me olhava me avisou madame
Bovary, a estalajadeira, estava explicando
para os demais o modo como vivia,
minha filosofia da miséria, então parei
meu discurso do método e meus olhos
viram Lucíola, linda dama da noite e,
dali pra frente, senhora de todos os meus
dias. Serei seu eterno marido e ela minha
nova Heloísa. Lembro que vi marcado na
mesa o ano 1984, meu ano de nascimento,
mas isso não importa, estava bêbado
imaginando a casa velha que estou por
fora e o castelo que me sinto por dentro.
Do ano em que nasci até aqui, ah! quantos
outonos idos, admiro o novo e amo o
passado. É como se todos estivessem a colher
seus frutos com máquinas e eu ainda com
minha lavoura arcaica colhendo as flores
do mal por entre as dores do mundo.
Essas minhas afinidades eletivas me deixam
entre o ser e o nada e, perante o cosmos,
quando amiúde em mim eu me sinto
pequeno, sei que é porque sou humano,
demasiado humano, ou menos.



domingo, 24 de setembro de 2017

Doze Versos

Lord Byron é só mais um
cigarro no cinzeiro num dia
cinza, quase frio.
Rimbaud é um cuspe curto
que cuspo por desprezo ao
mesmo dia.

Em meu copo eu bebo e muito,
muito de Álvares de Azevedo,
tomo porres e mais porres entre
tantos facínoras na escura taverna.

Saio de lá Augusto de mim,
e dos Anjos até o fim do dia.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Anarcoreta

Alcova sombria, obscura e sóbria,
me guarda como a caverna guarda
o estoico asceta, exótico druida.
Alcova soturna, (in)quieta,
de atividade noturna e de dia
apenas leito, cova. Morada tétrica
de regime absolutista, porem de
absoluta liberdade poética, absurda
anomia. Eu que admiro mendigos,
onde muitos não vejo como vencidos,
mas percebo-os livres, eu que busco
minha caverna, que fujo para não
fingir, que meu asco é maior por
aqueles que dissimulam.
Buscar servir de exemplo para os que
não se veem refletidos em ninguém,
e que não buscam reflexos e tão
pouco refletir-se também.
Prepondera e sempre há de nunca
faltar, desassossego e apego ao
desassossego que há. Predomina
agora e certamente um dia ainda
preponderará.


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mesmo eu sendo *..eu

Aonde tudo cabe,
                      sabe,
minha vibe é diferente.
O esboço da beleza do
                                meu
espírito em iluminuras.
a l i t ú r g i c a  l u x u r i a 

Minha alma é vitral!

Poderão ser escritos de
                                 deus,
se nisso você acreditar.

Mesmo eu sendo ateu,
e se fosse, sei lá?




segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Aptidão

O que a presa faz quando
encontra o caçador desarmado
e decidido a não fazer mal
algum?

Ela ao certo não precisará
fugir, também não poderá
atacar, pois certamente não
terá forças suficiente para
subjugá-lo, uma vez que é
uma presa pequena.

Quando eu tiver em minhas
mãos a vida que tanto
idealizo para mim e desse
modo for feliz e satisfeito,
o que eu farei com toda a
bagagem de tristezas gastas e
seminovas que trago comigo
embutido em meu peito?

A presa fugirá sob o comando
do instinto.

Graça e Vitória

Excesso e retrocesso,
a máquina militar,
a força à força,
a forca popular,
o querer fazer do
poder, patíbulo, púlpito
para um discurso tirânico,
despotismo como regime
governamental.
O Estado em estado débil,
a debilidade de raciocínio
dos adeptos da confusão
mental como discurso
político, como ética, razão,
como luta em nome da honra
e em defesa dos bons costumes
e da família tradicional.
Não há molde de família ideal,
não existe modelo mais bonito
de família do que a opcional,
aquela que se escolhe e que
nos acolhe por afeto, por força
espiritual, não por sangue,
tradição, mas por amor, respeito,
empatia, consideração.

Não aos canalhas que vêm
sob o nome de Messias,
não aos messias, aos malditos
cristãos, aos demônios,
não aos que confundem
nossa realidade com as suas
estúpidas fantasias.

Não aos canalhas em pandemônio

Sim a tolerância, ao repeito,
sim a liberdade, igualdade,
a fraternidade como máxima
à la francesia.

Sem mais minoria predominante,
nem casta que domine,
sim para nós, nós todos ignorantes
enquanto a ignorância for a
nossa pátria mãe.
Não, chega, basta!

Mas se todos formos uns
para com os outros, se formos
todos por um, por uns, por todos,
então no futuro nossa bandeira
será a gloria.

Quando aceitarmos que todos somos
iguais então entenderemos o
propósito de sermos:

Graça e vitoria.

sábado, 19 de agosto de 2017

Depois dos amanhãs

Depois de amor eu só quero
álcool e cocaína, depois de
ontem, o hoje apenas não me
basta, eu quero o amanhã, e
depois o depois e, depois dos
amanhãs, mais e mais.

Não há calendário
nem relógio que
resista,

meu tempo tem o tempo dele...

e quando achar que acabou,
estaremos ainda na premissa.

Estou ferido de vida e
morrendo com saúde.

Depois desta vida eu só quero
férias e viajar no infinito pela
eternidade atrás de ressacas e
bebedeiras.


Vivo Amor to vivo

Mói meu amor o teu pesado coração de chumbo,
teu cofre blindado de paixões é de ilusões um
fosso profundo, é nessas Fossas Marianas do teu
peito que eu mergulho, na pressão esmagadora
que o amor exerce sobre os vencidos.

Sabendo que por tuas veias
circula mercúrio,
eu seria feliz se
fosse um vampiro autômato
com sede de metal líquido.

Um infeliz ferido pela
lâmina do amor,
e quando eu morrer
dessa ferida letal
serei um mártir, um
tolo, um covarde,
um morto bobo, pois
os mortos também
amam.

Como os vivos,
(como um vicio)
pela mesma
necessidade.

Sentir-se vivo.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Adventus

Eu tenho toda a idade do tempo,
conheço a biografia da vida e
sei sobre o mundo e a origem
de tudo.

Do fim de todos eu sou o advento.

Eu sou a morte,
o passado acusador
que te culpa pela
memória, sou eu a
sorte do destino
buscando encontrar
diamantes por entre
escombros e escórias.

Sou Jesus sendo Judas,
sendo Judas fui Jesus,
sou prego, madeira,
sou sólida cruz.

Aquela ajuda que tua
recusa sempre quis.

...e para toda satisfação
fátua que governa cada
existência,
s o u  s i n c e r a m e n t e
uma tristeza feliz.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Advertências ao espelho

Eu,
se fosse você
não seria eu.
Seria eu
se fosse você.

Se não fosse eu
o eu que sou,
não haveria
você, porém
você, sendo
o reflexo do
que sou, sou
eu...sendo você.

Enfim o Fim e Afins

Nós sobreviveremos até a chegada
da hora da nossa morte.

Eu queria ir me antes.

Acho deprimente ficar
para presenciar o fim.

O fim, meus fins.

Intempérie

O silêncio produziu um
documentário sobre mim
intitulado "Sobre algo que
não aconteceu".

É sobre versos dispersos,
diversos e demasiados tolos.

É sobre a poesia que nunca
de fato chegou a ser, que tão
pouco foi e que, resiliente,
certamente ainda é.

O silencio termina dizendo
que aquele que aprendeu a andar
correndo, para descansar
caminha. Pois é, mas o que isso
quer dizer, nem Zaratustra
adivinha.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Quimera

Se o mundo fosse perfeito
Deus seria um luthier e
eu um violoncelo.
Minha alma uma musicista,
a vida uma ópera,
minha família uma orquestra
e minha religião a música.

Soneto

Há ruídos arruinados,
não há mais som,
não existem mais fonemas:
há ruínas no áudio.

No mundo não há
mais barulho, contudo,
ainda ouve-se o pulso
do tempo a tiquetaquear.

Não há mais musica
senão os mudos lábios
do silêncio a assobiar

a contracultura do vácuo,
é a melodia do nada,
a ausência de tudo a soar.

domingo, 9 de julho de 2017

Sit et erit

O passado foi eu,
fui eu!
Eu que no presente
não existo ainda,
eu, que no futuro,
o último que me resta,
serei o único a ter
em meus fosseis a
confirmação de que
realmente fui eu,
foi eu!

Não hoje

Desde deste dia
em diante,
desde desta data,
esta,
não antes,
não hoje,
desde ontem
eu soo como um
ruído agudo
numa vida surda
e quieta.

E então um dia,
não hoje,
quando eu for
silêncio, toda a
vida será uma
festa.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Intrínseca flor

Há dor,
ardor que atesta que
há vida,
mas não corpórea, física.
Há dor
n'alma, sobrehumana,
celestial, poética,
metafísica.
Desconforto num espírito
inquieto, desassossego em
apego a um sintoma
perpétuo.
Não há cura, remédio,
deus, placebo,
não há cisão nem ruptura
que possa aliviar o que
essa alma traz palpitante
em seu coração.
É dor de ser,
de estar, existir,
resistir, excitar,
hesitar, persistir,
tentar...ser...
Dor que não contesta
a vida, que não se manifesta
contra tal dádiva ainda que
doída.
É dor, ardor, intrínseca flor
que mora (morre) no âmago
do âmago de cada átomo que
compõe o corpo que a alma
habita, passa de um para o
outro, do espírito etereo,
metafísico, para o corpo,
para a massa, pro eu lírico,
para o sujeito poético, para
o indivíduo.
É dúvida e essa dúvida é a
única certeza, é dúvida acerca
de tudo que a cerca, de tudo que
a alma vê e observa, e o que ela
vê os olhos do corpo não
enxergam.

Ardor, árduo,
indoor,
a dor que queima
a alma inteira,
de dentro para afora,
para o corpo, e por cada
poro se percebe que por
dentro há chamas de um
fogo incompreensível,
mas pelo que causa,
profundamente sincero
e preciso.


terça-feira, 27 de junho de 2017

Eversão

Reles, razoáveis,
ruins, rasos e raros
versos...não há
rato que roa o já
roído e em ruína
deteriorado mérito.

Nisso tudo

Sou um semi quase,
se me cabe ser algo
nisso tudo, na vida,
na fatídica história
do mundo.
Se pelo não querer
saber eu advogue,
referente ao nada,
se talvez ad hoc eu
fosse ou busca-se
ser, então para o
tudo num todo eu
também poderia ser,
um talvez. Ou não.
Quem sabe alguma
coisa nisso tudo,
poetas, filósofos,
deuses e diabos
do mundo?
Tudo o que sei, sobre o que
compreendo é o que penso
saber, e aquilo que não sei
possui as mesmas qualidades
e características quando julgo
sabê-lo, pois, sendo assim,
o que afinal detém toda a
sabedoria, e até onde ela é
verdadeira?
Os físicos e os loucos,
em sua maioria, são os que
mais sabem, os cientistas
sabem que sabem muito
pouco, por isso o exercício
da ciência.
Os religiosos se apegam e
fazem carreira na ignorância
por serem, nisso tudo, os mais
miseráveis.
O poeta por nada entender
faz poesia, a poesia por nada
explicar (a única que, por si só,
explica- se sozinha) habita nisso
tudo as entrelinhas.
Os filósofos, coitados, por acharem
que sabem tudo, da graça da
sabedoria, são com certeza os mais
desgraçados.
O amor sim, ele sabe, nele está a
resposta de tudo, de e para todos,
porém, nesse mundo, não há nada
mais misterioso e incompreensível.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Sou Mais

Tão mais,

a vida, a
natureza, o
universo.

Um dia feliz que
variavelmente
sempre vem.

Ah, o amor...
Demais!

E eu tão
somenos,
mas, ao
menos,
comigo mesmo,
em paz.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Dândi punk

Acima do cimo da mais alta
aflição Deus é útil,
abaixo disso,
dinheiro e saúde.
Peço perdão de joelhos,
pois em pé cansei de ir atrás
de ilusões, e se me perdi é
porque a liberdade que recebi
era apenas para rezas e orações.

Eu não sei rezar,
eu só sei fingir.
Eu não sei amar,
eu só sei fugir.

Há uma variável em
minha volição que,
religiosamente,
duvida de tudo,
e nesse exato momento
está ela agora
contestanto arbitrariamente
essa minha sincera
afirmação:

Minha alma é um vil cavalheiro,
dissimulado e torpe, nada é por
inteiro e tão menos é só metade,
como a sonata para piano numero
quatorze, ela é a primeira parte
sempre, mas também quando quer
é a segunda, a terceira, algumas
vezes se diz ser Beethoven...mas
na verdade não passa de um vil
cavalheiro imperativo, faz o que
quer, não escuta ninguém nem
nada ouve.

Eu sou e tão nunca fui,
...sendo o que hoje ainda não.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Babilônia Poesia

Ando sem motivo senão
o voluntário ato de caminhar,
ando sem pressa nos passos,
regulando nos pés a velocidade
máxima do modo devagar.
Ando e percebo que quando
canso, contra a fadiga vou
por aí passear.
Ah! se eu escrevesse como
ando, talvez algum dia então
eu pudesse alguns passos
meus publicar.

Mas ando em rima,
sem métrica, pra baixo
e pra cima a pena por
aí a camimhar,
vago pela minha sina
vaga, vazia, perdida buscando
um rumo para se inspirar,
e quando encontra divaga
sozinha seus versos meio
coxos por alguma calçada
esquecida de uma esquina
qualquer da Babilônia poesia,
minha morada como poeta
andarilho, um velho mendigo
que não carece de esmolas
para versejar.

domingo, 4 de junho de 2017

Candeeiro

Lá fora o vento sopra um outono
inteiro, aqui dentro acende-se a
vela, o lume da alma, candeeiro.
Agora o inverno faz-se imperativo
em face das minhas escolhas, eu
miro naquilo que aquece e acerto
sempre o frio, mas aproveito para
aprender, como sempre faço, de
modo sutil, a desvendar a deliciosa
sensação do calor de um abraço.
A primavera, agrimensora dos
campos floridos, surge em minha
janela aos prantos do frio fugindo,
eu a abrigo em meu jardim imaginário
de amores e de lírios.
E como uma canção cansada do
estribilho, observa-se no horizonte
um sol fatigado que caminha, vem
para nos dizer que nesse poema
não haverá verão nem andorinhas.


O Gérmen do Nada

Sou eu o aposento do absurdo,
a alcova da solidão, a harmonia
dissonante das coisas, o gérmen
do nada, a possibilidade de tudo.

Sou o paradoxo da contradição,
a beleza do que poderia ser e a
tristeza do que realmente é.

Já fui poeta, homem, criança, mulher,
sou a imagem e semelhança de Deus,
embora Deus não se pareça comigo.
Sou eu da minha vida um anti-herói
assim como Deus é um moçinho bandido.

O vilão será sempre o enfadonho destino,
que traz nosso fardo chorando para nós
carregá-lo sorrindo, mas não.

Aequilibrium

Da vida eu quero mais,
eu quero tudo que não
seja demais. Eu quero
equilíbrio agora, não depois.

Depois, eu não quero o nada
vindo perturbar minha balança,
vindo pesar e desequilibrar a
contradança das minhas conquistas
que podem ser tantas, hoje
esperanças apenas,
amanhã empíricas.

Da vida eu quero mais
e tudo o que é meu,
não quero excessos,
não quero menos,
quero equilibrio...

principalmente de Deus.

Abaixo o desequilibrio dos ceus
Abaixo a ganância dos Homens
Abaixo a inercia do nada
Abaixo os excessos de todos,
de tudo, da vida, do mundo, dos tolos.

Viva a nobreza da alma,
salve a grandeza de poucos.

Tristeza

Acalma a calma em cólera e,
embora haja pressa,
segue a passos rasos rumo
a raro destino.
Com os olhos cheios d'alma,
numa doída constatação de
quem passa para e olha,
há talvez empatia, mas no
fundo sabe-se que é só talvez
e ilusão.
Está ali, dentro de si,
o todo.
Porém, posto para se ver
ao espelho, o todo refletido,
surge aos mesmos olhos
com os contornos do nada,
e é isso que os outros veem.
Quando chega ao local que
vieste, volta, pois ali se lembra
que na verdade esquecera de
partir.

sábado, 27 de maio de 2017

Matrimônio

Nosso amor não é para sempre
o tempo todo, mas nos dias de
eternidade, eu a cada segundo
por você me apaixono.

Nos dias em que bebemos na
taça do efêmero o licor do nosso
intragável amor, eu a cada instante
por você tenho absoluto e
i n c o n t e s t á v e l  horror.

À queima-roupa

Sinto uma vontade de dar um tiro
na cabeça só por causa do cabelo
que me incomoda. Se o amor me
for ingrato, então faço desse
sentimento facínora um gatilho e
é certo que assim o balaço será
certeiro no coração.
Porém, por outro lado, se as ideias
não me perturbarem e o amor não
for uma ingrata mulher, eu não
farei como o poeta russo,
eu assassinarei o revolver  e essa
vida vil, afoita e aflita, eu deixarei
que siga o seu fatídico curso.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Numem

Eu sou a morte do assassino nas
mãos da vítima do seu crime.
Sou o Deus do perdão raivoso e
irascível para como os meus
dissidentes. Sou o fruto da união
entre a solidão e o nada, filho do
real e discípulo do abstrato, eu
sou a continuação do nada e da
mãe solidão sou eu o filho bastardo.

Eu sou a inexistência presente,
sou a ausência confirmada,
sou a presença esquecida antes
de ser ignorada.

Sou a culpa da inocência,
da vítima,
do crime eu sou a desculpa
através do silêncio que o
culpado exprime.

Do silêncio eu sou a mímica.

Sou o intervalo dado entre
uma lacuna e outra,
sou um dicionário raro de
expressões que como fonemas
têm horror a boca.

O mais altivo decaído poema,
o poeta que esconde e protege
os versos perseguidos pela métrica
capitão do mato.

Eu sou o verso caído da pena.

Sou a angústia da situação
antes que tudo melhore,
sou a inércia preguiçosa da
ação no acontecimento,
sou eu um fato a priori.

Niilismo

Versos feridos, alguns moribundos e
outros tantos a pena que fere,
parindo.
Humores sintéticos, desenvolvidos
para suportar a dureza da vida, do
tédio, a frieza que habita o espírito
poético, a certeza que era dúvida até
se convencer de que é bom acreditar
em algo. Mas o contrário também não
é certo quando o não acreditar é
absoluto, sincero e claro?
Velhos vícios provando o sabor de
novas drogas, a virtude de sempre
buscando como sempre ainda ser
institucionalizada.
Se antes havia alguma fobia,
hoje o medo é saber que antes
(talvez, é claro) havia, mas
somente no futuro é que se
saberá que na verdade nada
havia.
— Haverá! decerto era isso
que o passado dizia.
O que leva essa vida a acreditar
que deve desacreditar de mim é
o mesmo que me leva a percebê-
la simples e transitória, apenas
uma carruagem para um determinado
fim: não acreditamos na profundidade
de cada um.
Alguns preferem Cristo, outros Nietzsche,
muitos nenhum.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Cíclico

O futuro é material
inédito que o passado
já revisou para o
presente.

O amanhã é ontem.

Visão Sonora

A última visão dita por meus olhos
calou-se. O silêncio, a imagem vista
próxima, ao longe, era o medo que
desperta em nós o ruído do horizonte
nos olhando.

— A última vez que eu o vi,
disse meu olhos para meus passos,
estava ele se afastando.

Overdose

Noite nua, despida para a festa,
o destino me leva a ela trajando
eu o meu disfarce de inocente
juventude. Chego jovem e bebo
todas, lá por minha maturidade
já me sinto um pouco tonto e,
torto em pé, consigo ir atrás de
outras doses. Mas eu quero mais,
meu vício decrépito devora cigarros
jovens como que insaciável.

A noite brilha em
meus olhos a energia
fantástica da cocaína.

Começo a chegar em minha
velhice, desbravo a madrugada
como quem procura fugir da
manhã, e quando chego até a
saída, são os outros que me
carregam para fora.

Parêntesis

Fosse verdade nosso amor,
não foste.
Hoje é saudade o que passou,
e, na memória as reminiscências
não doem,
dor é esquecer
o que (não) passou.

Obliquietude

Percebi pelo sotaque do inaudível
que o silêncio me era familiar.
Meus tímpanos, crédulos do incrível,
fizeram perfeita leitura do timbre e,

para os olhos poderem acreditar,
descreveram do silêncio os detalhes
e pormenores dos traços, dessa forma,
a vista aos poucos, a prazo, convenceu-se

de que realmente percebia a ausência,
e mais tarde, quando ela esse fato olvidar,
poderá recorrer ao estimado ouvido

quando, diante do mesmo caso, perceber
as pálpebras em estranha impaciência,
estará o ambiente em vácuo pelo nada que há. 

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Soneto

Ao meu lado uma garrafa,
enquanto o silêncio e eu
balbuciamos nosso olhar
sobre algo que se passa.

Uma garrafa sóbria e quieta,
de re-sentimento destilado,
placebo inspirador como o éter,
nos cura daquilo que causa.

Em uma quietude profunda, conserto
um lapso ruidoso do silêncio,
e ele em instigadora calma,

pulula todo o ambiente entre
e ao redor da garrafa e eu,
eu...com o corpo embriagado pela alma.

Vampirismo

Maxilares de
máxima potência
em ação. É a
miséria do meu ser
devorando tudo
que me cerca
para a sua cruel e
necessária nutrição.

eu primeiro

Sempre me perco
quando saio à procura
de mim mesmo,
então quando me acho,
nunca volto a encontrar
o eu primeiro.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

0x0

Estou empatado
com Deus.
e só o juízo
final irá isso
decidir, pois
enquanto eu
finjo acreditar
ele finge existir.

Sapere aude

É rés-do-chão,
é a base da alma do
mais elevado nível,
é ataraxia irascível,
é a beleza incognoscível
por si mesma,
é o axioma acima de qualquer certeza.

Não é religião,
não é ciência.

É a metafísica da senciência!

É por si só sapiência,
e depois, como pressentia,
já será do universo o molde,
já será    p o e s i a.

O mergulho

Abaixo de mim observo o abismo...
daqui, uma queda seria uma forma
letal de mergulho,
-cheguei ao cúmulo do auge,
ao píncaro do meu orgulho humano,
foste um erro, um engano...amar.
Ah! quanta certeza temos instantes
antes de nos enganar.
-O amor, a base de onde hoje eu
irei mergulhar, levarei comigo,
partiremos de uma plataforma
que de alguma forma foste um
tipo de vida em queda livre.
Seria um sopro do vento ou
seria o esboço de algum alento
vindo dos céus? meu corpo
estremeceu.
-É a vinda da morte,
é a morte vindo colher o fruto
que de tão apodrecido se desprendeu.
Os que observam minha tristeza
não compreendem sua filosofia,
pois a vida antes era inanimada,
era eterna até passar a ser vivida,
assim é minha tristeza em sua
morfologia assídua.
Mas há ainda o abismo a sugerir
montanhismo ao avesso e num
tempo mínimo, tão rápido quanto
algo do alto a cair.
-Seria meu corpo, do topo,
capaz de produzir um belo
voo em direção ao solo,
teria o solo capacidade de
o manter intacto em virtude
de um apurado pouso?
Do cume de toda
a minha gloria,
onde toda minha história
se resume, percebo que sou
admirado, não cansa em me
olhar aqui a vastidão de algo
que por muito tempo tem me
aguardado, e isso se abriga
em mim num ato puro de total
ascetismo.
Sem a máscara do meu orgulho
agora vejo,
abaixo de mim me observando o abismo...
-e que cumpra a vida o seu desejo.

Tomos de Outono

Descobre que há entrelinhas, um outono
duradouro sugere que há muito por entre
as linhas não lidas do destino.
Os tombos de menino, os tomos e mais
tomos e os livros que o levantam, que o
aspiram à um caminho.

Há tantas rosas
sequiosas por espinhos.
Há de bailar em
metáforas na valsa
da prosa do destino.

O desprezo que sente pelas tardes de sol,
o desejo que o tranca em seu quarto em
temporal. A simpatia pelo verão começa no
crepúsculo. Ama a noite em todas as estações,
mas o outono é quem o reflete e, as folhas
que dos píncaros caem, a terra com ósculos
                                              [às recebem.]


Ao outono os mais
belos versos.
Eu que a ele me somo
e juntos tornamo-nos
companheiros de excessos.

Os dias idos, vividos em furor,
duma verve rubra, libertina, estupor.
Os tempos idos do amor, da vida,
eterna ex namorada que o abandonou,
deixado à minguar pelo o que lhe resta,
a não presença ao receber o título de poeta.

Há tantas rosas
sequiosas por espinhos.
E quando houver de
bailar a metáfora, sugira
um tango à prosa do destino.

A tarde entristecer

Se ao menos fosse apenas
em tese o entardecer,

talvez em tristezas a
alma não adoeceria.

Mas é certo que o dia
deve morrer, só assim
a lua se eleva e a noite
surge em meio as
névoas de um cortante
frio de enlouquecer.

A noite ardente em
triste ser,
as trevas sentiria.

Olhos Descalços

A planta dos meu pés
sobre o solo, eu,
em pé, embaixo do sol,
abaixo do céu...para o
horizonte a ser conquistado
olho.

Fosse os meus olhos
meus pés,
o universo todo eu já
teria visitado.

Por ora, caminho calmamente,
sóbrio, e um dia eu chegarei lá,
uma vez que ando por onde
meus olhos vão primeiro.

Recôndito Abismo

Chuva interna de gotas d'alma,
dos confins do âmago
preenchendo todo meu ser.
Dum outono imperativo e
interminável, ora frio, ora
sempre frio em brisa fria
insuportável.
É sempre noite, há sempre trevas,
ainda que um solitário lume a
escuridão densa etérea afronte.
Eis a lua, farol soturno,
guerreira noturna em paz
inabalável, lhe apraz o fronte assim,
apenas ameaçado.
Atmosfera interior segundo meu
pobre lirismo, mas e, contudo,
se há algo de profundo nisso tudo
que eu possa dizer, eu digo...
abismo.

Paternidade

Amo muito e tanto, e sei que o amor
busca nisso a essência para seu mavioso
canto. Amo tanto e muito ao ponto do
amor plagiar meu sentimento e roubar
para ele o que sinto e nessa maravilha
de amar se dizer absoluto.

Amo mais do que a medida que cabe e
que mede o imensurável amor, é maior,
mais grande que a vida, é do tamanho
do universo centuplicado por sua infinda
dimensão. Não, é mais que isso, é dez
vezes mais que o infinito, é vasto,
é vitalício, é gradativa imensidão.

Amo hoje mais do que ontem, mesmo antes
já ter amado tanto, e se hoje amo gigante,
é para amanhã poder dizer que no futuro
o meu amor será ainda melhor, será um
sorriso lindo em seu semblante.

Amo com a energia pulsante de todas as
minhas células e, perplexo, sei que esse
amor está todo em mim assim como a
escura matéria preenche todo o admirável
universo.

Amo mais, mais do que eu já tenha dito,
e mais do que eu poderia dizer, mas digo e,
se não obstante, eu incansavelmente repito,
amo até a redundância, e coloco o amor
num ciclo que leva mil vezes a idade do
tempo para poder de novo se repetir e
perceber que é o mesmo, e embora seja o
mesmo, se torna novo a cada vez que eu
olho para você.

Amo, e ponho ele, o amor que conjugo,
acima dos céus, é o teto de Deus é o céu
dos deuses, é nele que Deus busca inspiração
para poder amar. É maior que qualquer
religião e, se não for tola a adoração,
é certo que é você e só você que eu irei
para sempre adorar.

Dizem ser o amor o canto mais verdadeiro
do poeta, eu se antes cantava a tristeza,
hoje minha poesia é só alegria, e no amor
e sua beleza, eu busco a sua métrica e melodia.

Amo, e como não poderia amar?

Se você parte de mim,
eu afirmo o contrário,
eu parto de ti para toda
a vida, daqui pra frente,
apenas amar.

Eu como parte de ti,
sou verdadeiro amor,
assim como tu,
como um pedaço de
mim, para onde for,
sei que irá para
disseminar o amor
que você em mim
plantou.

Amo, e o amor é tudo,
mas mesmo em caráter
absoluto, é pouco.
E como pode ser pouco
o amor que agora mesmo
tanto se cantou?
O poeta nada explica,
nem a matéria e tão
menos a metafísica,
ao contrário, alguns
dizem que a poesia
só complica, mas que as
respostas pros mistérios
da vida, muitos afirmam
que está nela sim escondida.

Porém, a resposta para o que
se perguntou acima, só mesmo
a natureza com os movimentos
que vêm de dentro da barriga
pode responder.

Seja um filho ou uma filha,
ela é verdadeira e, mesmo
respondida a questão,
a gente ainda cutuca a certeza
na esperança de que a mesma
afirme sempre a mesma explanação.
E ela afirma:
- é mesmo neste gérmen de vida
que está toda a sua sincera e
absoluta satisfação.

A vida que antes era amarga e fria,
hoje é terna e doce,
se antes era áspera e assaz vazia,
pois eu inerte jazia preso
ao nada, hoje é maviosa e completa,
toda bela e transformada.
É a felicidade em ataraxia.

Fico a contar os dias como alguém
obcecado por calendários,
e ao mesmo tempo aproveitando cada
instante por saber que
tudo passa assim tão rápido.

Logo vai-se a gestação, e a barriga grande,
tão crescida, em breve e,
no tempo certo, trará minha gloria para o
mundo na forma de uma pequenina vida.
Trará um filho que daqui para o fim,
será a minha razão de viver adquirida.



quarta-feira, 5 de abril de 2017

Oração

Peço a Deus, se é que ele acredita
em mim, que eu vença.
Peço a natureza, se é que ela pode
me ouvir, que forças eu tenha para
sempre no mínimo tentar.
Peço a mim, em íntima oração, que
nunca haja covardia, e que o medo
que há e que é inerente, um zelo da
criação, seja apenas mecanismo
para eu me orientar por onde tenho
que seguir.
Peço a vida que seja menos amarga
e que seja condescendente das escolhas
que eu faça, que se mostre ao menos
interessada. Que não seja vil, que não
seja nefasta.
Peço ao destino que seja razoável,
que o que é que tenha decidido seja
possível a mim adaptá-lo as minhas
vontades e talentos, e se eu trago
comigo algum dom, que eu descubra
a tempo de poder ao menos praticá-lo.
Peço a poesia que me entenda,
que com minha rebeldia não se ofenda,
saiba ela que eu sou um dissidente
antes para depois ser um poeta, e que
meus dedos tortos jamais doutrinarão
minha pena inquieta, a inspiração que
em mim se eleva jamais poderá caber
dentro de qualquer tola métrica e, se
isso um dia acontecer, que eu rompa
em definitivo com a poesia, e assim,
essa será com certeza, minha última
razão poética.
Peço ao tempo que tenha disciplina,
que seu passeio por mim ocorra
uniforme, que seja suave o balançar
do seu pêndulo temido, que venha
com o passo firme do seu caminhar
sobre minha existência, sabedoria e
desejo de aprender.
Peço ao amor, e desse modo faço
meu último pedido, que seja ele
incansável, e que por onde quer que
eu vá e siga, que venha ele sempre
comigo e, inseparável seja, pelas
veredas dessa vida.

É sal, é suor, é mar.
É fel em mel o doce
do amar.
É fogo e é fato que
é tolo quem não se
permite queimar.
É dor e a dor é a
melhor rima.
É só o ideal da vida,
o bendito do amor é
maldito em sina,
ensina.

É sal, é fel, é fogo,
é bobo, é dor...
é só.

É só...o melhor da vida.

Óculos

Meus olhos vítreos viram,
e vítimas da visão que os
aviltava, vociferaram em
voz maior que o pranto de
um amor perdido.

Violaram as trevas que
que os cercavam,
e ávidos por vontade e
força da natureza que os
forjou, fugiram da cegueira
que os observava.

domingo, 2 de abril de 2017

Untouch Screen

Não sou moderno,
menos ainda tecnológico.
Um modernista talvez,
porém, em caráter variável.
Não sou, quem me dera.
Os nascidos com as mãos
pálidas ou quase, e com
dedos para virar páginas,
não se adaptarão em um
mundo de cutucadores de tela.

Percepção

O silêncio aguça a audição,
mas de nada vale a surdez;
O escuro apura a visão,
mas não para quem tem os
olhos em treva perpétua;
O olfato apurado percebe
um odor distante, mas não
sabe que cheiro tem a cocaína;
Os sabores do mundo, todos
numa simples lambida da
língua, mas o sabor da vida
certamente está no gosto de
uma vagina;
Uma frágil rosa, que representa
uma paixão, um quase amor,
percebe-a quem a segura nas
mãos, e num descuido, os afiados
espinhos vão decepando o
polegar opositor.

Escopo

Meu plano A é
ser grande nesta
vida; Meu plano
B é insistir na
ideia do A e ser
maior ainda.

terça-feira, 28 de março de 2017

Reticência

Se puder sepulte
sob seus seios
senhora, minha
existência.
Sabe-se que outrora
havia um coração ali
onde agora há um
cemitério de amores
e reminiscências.

Se der, semeie sobre
mim um olhar feliz
de ilusão, e que seja
ao menos reticente
em aparência.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Redundância

Abaixo minha honra e
me rendo, acato a ideia
de fazer parte do rebanho
e me junto às reses.

Embora tenha eu resistido
com muita galhardia e
confesse que nunca quis
ser um ruminante de idéias.

Daqui pra frente dividirei
o mesmo pasto e serei
como o todo, da alma às
minhas vestes, serei igual.

Serei os outros, o coletivo,
serei o plural. Eu como
indivíduo só serei forte
se for para ser como os demais.

Se for para ser sincero que
eu seja na verdade de outrem,
e que minhas opiniões plagiadas
possam influenciar os que me seguem.

E se amanhã eu não for
mais o mesmo de ontem,
é porque ao certo os que
me são caros é assim que querem.

Minhas vontades suprimidas,
meus anseios que se danem.
Todos em plena democracia
sendo um o outro, pois todos

os outros são unânimes.
Eu nem mesmo concordo comigo
a não ser que isso para todos
seja de algum modo interessante.

Sabedor da grandeza da minha
insignificância, eu me reservo
a ser como o próximo, sendo o
próximo como um outro já em

redundância. Vamos todos
marchando juntos rumo a
atrofia. Somos todos à forma de
um querendo ser igual à todos.



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Embora Eu Sem Mim

As vezes por algumas
horas me dá a vontade
de ir embora,
mas embora eu
queira ir,
como sobreviverei
sozinho, sem mim?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Amor-te

A morte amor tece.
Sua tez lívida traz
paz e conduz para
uma eternidade tácita.

Há morte para o total
de nós, de heróicas e
bonitas à trágicas e
cruéis.

A morte e seu amor
pelos mortais. Ela
espera, persegue e
acolhe, leva-nos com
ela para uma existência
ao nunca mais.

A morte para a dor de viver
é o único remédio.

Amortece...amor tece...

Expectativa

Meu otimismo é péssimo,
quase nulo.
Um otimista utópico do
Iluminismo, um poeta
obscuro. Talvez não.
Melhor seria dizer
'um nada' mas nem
nisso acredito.
Porém,
somente duvidando do
establishiment  é que
acreditamos no futuro.
O futuro è virgem e fértil,
o que estraga tudo é sempre
o presente, covarde e estéril.
A rotina mecânica do eterno
esperar.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Fé!

Tudo é possível na
mesma proporção
do pouco provável,
porém, se acaso
acreditar, verá que
o impossível se
mostrará improvável.

Distopia

Um fim do mundo
bonito e romântico,
é o que desejo para
a espécie humana.

O planeta se regenerando
e a natureza voltando a
ser absoluta.

Sem mais Homens,
sem mais máquinas.

Não haverá religião,
não haverá mais Deus.

O Homem que do pó
veio, voltará a ser poeira,
e que o universo queira
que jamais Deus algum
ouse em tentar por em
prática a irresponsabilidade
de se criar vida humana
aqui na Terra.

Que sejamos por
toda a eternidade
apenas a lembrança
de uma praga que
fora exterminada.

Protesto

O grito
ojeriza
o silêncio.
Hoje,
o silêncio
de ontem
já não mais
é o mesmo,
e logo mais,
amanhã ou
depois, também
não será mais
o mesmo silêncio.

Houve um grito,
há um grito, ouve?

Cabisbaixo

O universo cravejado de
estrelas e de tantos outros
astros.
E eu, habitante de mim
mesmo, andarilho destes
solos, vivo a olhar para o
chão perguntando para
Deus o que foi que eu fiz
dos meus passos.

O asfalto úmido,
por vezes, reflete a
luz morta das estrelas,
por entre estes reflexos
há vestígios dos meus
rastros desbravando a
galáxia inteira.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Ilusão de lógica

A vida é bela
Deus é perdão
O amor é dádiva
A igreja é santa
A religião necessária.

A justiça é cega
O dinheiro é bom
O Homem é justo
A humanidade é perfeita.

Se isso tudo não fosse
tão óbvio, logo a lógica
seria verdadeira.