quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Escritos de um ex Cristo

Já fui herói há muito tempo,
em verdade, eu era apenas
criança.
Sic transit gloria mundi.
Quando jovem, tinha a ideia
fixa de que era eu agente de
revolução, seja lá qual fosse.
Tinha dentro de mim um
desejo enorme de mudar o
mundo, queria subverter e
fazer daquilo que eu pensava
lei, uma realidade para todos.
Além de revolucionário eu
seria desse modo um déspota
também. Hoje ignoro o que
eu pensava. Depois de muito
pensar e sentir, cheguei a
fase adulta, pensava e sentia
de modo mais comedido.
Pensava sobre a vida e como
ela é toda tão vazia.
Vazio também, eu sentia pouco.
O amor é uma fraqueza;
A amizade uma tolice;
A família uma dívida com
a vida que se adquire quando
nasce e um fardo que se
carrega para o túmulo;
O cotidiano, o ócio, a labuta...
tudo isso sempre me causou
um pesaroso mal estar.
Hoje, de frente para a velhice
ainda busco satisfação,
depois de tudo que vivi e de
tudo que não vivi, sei que
essa tal satisfação de estar
vivo é algo que não compreendo.
O que eu sei e percebo é
a antítese. Mas como buscá-la?
A religião me aborrece, muito;
As artes me fazem cada vez mais
querer tantas outras formas de
possíveis e impossíveis realidades
quiméricas.

Enfim, assim, me vi poeta,
busco em minha poesia um
caminho seguro para chegar,
quem sabe um dia, a sentir-
me satisfeito.

Tirando meu mau humor
gasto e experimental, o que
eu sinto é uma espécie de
fuga de tudo, renúncia do
nada e apelo por silêncio
e solidão.


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