quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Fuga

Aos montes,
foi para onde muitos
correram, fugiram para
mais perto do céu
buscando acolhida divina.
Tolos e pusilânimes,
não sabem que os céus
detestam os fracos e deus
condena os que fogem,
e aqui em terra há
variados tipos de covardes,
aos montes.

Eu in verso

O coração é o oposto
do cérebro,
o anus da boca,
a alma do corpo,
a nudez da roupa.

E eu do resto.

Versos áticos

Asseados, assomam ao
certo aos seus assertivos
céus, sobre os olhos
de quem ora olha ora
finge não olhar para o
alto, para as nuvens,
estrelas, para o universo
todo em perpétuo colapso.
Assomam e deixam abaixo
(põe abaixo) a métrica e
seu fascínio, digo, fascismo.
Sobem asseados por pena
de belo talhe e de estirpe
invejada, e pela generosidade
de um poeta roto, quase todo
puído, porém e, embora louco,
sua cabeça asseada assegura
aos seus versos sutil e
pretensioso juízo.

Soneto

Dizem, os bajuladores da métrica
que o desfecho de um soneto
deve estar no último terceto,
essa é a maneira de faze-lo correta.

Devem ser decassílabos ou
dodecassílabos devem ser,
isso seria exato, ao meu ver,
se a poesia fosse mãe do pudor.

E a forma, meus caros irmãos,
num poema é o que não importa,
a poesia é livre pelas mãos

daquele que empunha a pena,
é o escultor quem usa o formão,
deixem ele responsável pela forma.

Honra e Erro

Uma história de sucesso às avessas,
fracasso é mato, e o poeta agrimensor
desses campos abastados.
     Se não há gloria em cantar
     as dores do Homem e da vida,
     há honra em poder fazer poesia
     de matérias tão nefastas e nocivas.
O poeta é um facínora do bem,
anti-herói algos, um vilão bom,
um demônio zen.
Sucesso é perfeição, o poeta entende
que perfeccionismo é um erro e
diariamente nesse erro ele busca
ser perfeito também, mas não é.
Se há gloria em ser poeta, tanto faz,
que gloria há em estar vivo, na vida,
se não existe gloria em ser poeta
para quem nasceu para morrer
pela poesia?

Minha maldição é uma honra!

Sempre Amais

A mímica dos teus gestos,
é ela toda cheia de graça,
ensina a beleza e a renova
e a faz ser sempre benfazeja.

Ah! o amor a teu modo,
o amor ateu, incrédulo e
inócuo não existe mais.
Agora só há amor otimista,
que acontece e acredita
que o sempre quer ser
sempre e pode ser sempre,
sempre mais.

Nosso amor é sempre mais,
e sempre diante dele eu peço
ao tempo para implorar para
a eternidade que permita ao
mesmo tempo acabar jamais.

E assim seremos felizes e,
se um dia se esgotar as areias
do tempo, nós já do tempo
seremos aprendizes e aonde
não houver ele, haverá nós,
nosso amor e nada mais.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Obscuridade

Os poemas que eu não fiz,
esses sim são os melhores.
Como uma existência além
da Terra olhando para cá
se sentindo miserável.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Gira o planeta

Venho do passado
com minha retórica
de outrora, hoje
retrógrada, mas
sempre atual como
relógio atrasado.
Nada importam as
horas de agora para
quem aprendeu a
contar o tempo no
passado.

O tempo se renova
filtrando-se em
calendários.

Lá fora,
universo
afora,
gira o
planeta
impulsionando
o tempo em
nossas vidas.

Despedida

Na medida do possível,
a vitória virá.

O impossível verá!

A glória virá em medidas
compatíveis com o esforço
do cansaço, o esboço diário
da conquista que traço
riscando com meus passos
num caminhar que o
horizonte dirá que é só de ida.

O impossível verá... despedida.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Vincent eu

Eu queria e muito ser
alguém como Van Gogh
foi e, a priori, eu sou
esse alguém.

Embora empiricamente
falando, não passo
de um comedor de
batatas, mas um Vincent
porém.

domingo, 16 de outubro de 2016

Escárnio

Me excitam os pecados,
mesmo os mais sujos e
baixos me são caros,
logo eu, feito à
semelhança de deus,
sendo assim, sou assim
a imagem do escárnio.

Overose

Dou-te meu sólido amor
entre um milhão de rosas
e flores, pois no insólito
jardim que és meu coração
não há nada que não seja
metafísico e (salvo as rosas
e as flores) nem nunca houve.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Soneto

Observei a silhueta do invisível,
eram os contornos da solidão.
A aparência que me saltava a visão
era algo dentro do indescritível.

A sós, nós dois, profunda comunhão,
em silêncio respeitando o inaudível,
ceamos sempre a sombra possível,
uma vez que a luz aqui, é escuridão.

O que passo a dizer não é crível,
mas o biombo por onde vi a solidão
em verdade era todos os indivíduos.

Todos são todos e todos são tudo,
menos eu, singular único,
e em mim, muitos eu's em profusão.

Poeta astro

Em si mesmo,
em si a esmo.
Em silêncio,
em sina.

Olhos para as estrelas,
enquanto o universo
cabisbaixo me olha
devolvendo minhas
tristezas.

O corpo é só um suporte
para a cabeça, saúde é
poder segurar entre meus
dedos tortos minha pena e
da cabeça mágica, sem cartola,
sacar fora os poemas.
Versos estapafúrdios agora,
daqui para muito em breve
continuarão os mesmos,
porém, terão os olhos
daqueles que os ignoram.

Versos em aço,
em fogo,
aveludados.
Versos destemidos,
livres, fragilizados.

Assimétricos, alinhados
ao paradoxo, são assim,
desse modo, mais que
antropofágicos,
se alimentam da própria
verve, escarlate como o
sangue que na carne viva
deles mergulha a pena
para fazer da velha senhora
poesia, Vênus.

Ensimesmo,
em si esmo,
o silêncio,
ensina.


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Carne da alma

O corpo é ampulheta
de sangue e oxigênio.
Carbono que o tempo
devora.

É carne da alma em
carne viva que expira
em vida para a alma
ir embora...do corpo
morto e, sob terra,
desabitado, o corpo
morto é mera matéria
podre, banquete para
vermes e vermes...e vermes.

Protocolo

O amor aguça meu coração
atrofiado. Em primeiro esboço,
é dele a culpa pelas fobias
que apresenta esse mesmo
pulsador de sangue, ferido e
ensanguentado.

O amor e seu fio cortante,
meu coração viu que foi ele,
frio, vil,
arrancou-o do peito e o
feriu mortalmente, ou quase.

Se sobreviverá ou não só
mesmo o mesmo amor poderá
dizer, já que é ele quem zela
pelas feridas das vítimas que
coleciona, praxe.

Há onde

Quando Buda,
o nirvana o estressou;
Quando Cristo,
no parricídio se vingou;
Quando Deus,
até o Diabo perdoou.

O Homem não.

Quando ateu,
mesmo na Ciência
não acreditou.

Como Homem,
buscou satisfação,
morreu poeta.

Viveu em ilusão.

sábado, 1 de outubro de 2016

Certeza

É outubro de dois mil e
dezesseis, já foste o inverno
e em breve irá também o
próximo mês, e a primavera
quando acabar será verão,
assim dezembro terminará
de liquidar mais um ano e
eu ainda, por minha vez,
nada tenho senão a visão
de que tudo continuará
do mesmo modo até a
chegada do outono e a
certeza fria do incerto
outra vez.