sexta-feira, 1 de abril de 2016

Soneto Incompleto

Em uma gaveta esquecida
dentro da minha cabeça,
encontrei uma poesia
inacabada, amarelecida.
Deveria estar guardada
ali há muito tempo,
quem sabe até escondida.
Mas quem escondeu ou
guardou? sei que não
fui eu, pois lembro de
todos os versos meus,
uma vez escritos,
jamais esquecidos.
Os versos deste poema
eram estes:

"Oh triste dama iludida,
aceita meus pêsames
pelo, do teu amado, a
partida. Deixa-me tentar

amenizar a tua dor
e quem sabe assim,
musa arrependida, calar
esse teu pranto e se for

preciso lhe dar a minha
vida. Vê-la sofrer deixa
minha alma triste, doída."

Como pode ver, falta desse
soneto a última parte,
o último terceto, o arremate.
Quem escreveu e o deixou
inacabado e, por que estava
dentro da minha cabeça em
uma gaveta velha, guardado?
À quem se refere esse soneto,
à uma musa imaginária ou
houve mesmo essa dama em
algum momento, merecedora
do apreço desse autor canalha?
Não serei inútil como esse poeta
desconhecido, esse intruso que
se meteu em minha cabeça para
esconder alguns versos seus
inacabados, terminarei esse
soneto, mas darei a ele o fim que
eu achar apropriado, serei fiel
ao enredo dado e farei assim
esse último terceto:

...Veja como cravo esse punhal
em meu peito, pois para não vê-la
sofrer, abro nele uma mortal ferida.

Pronto! não há mais poema
incompleto. Findo o soneto,
a poesia escondida, assassinando
o poeta apócrifo.

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