quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Silêncio meu

Para induzir o silêncio ao grito,
a vida ávida, ora ora, ora não,
para o deus do adeus em apelação
pela ação que discorreu eu para
retornar do seu brado ao
silêncio meu.

Quinta feira

Há cigarros para o
café da manhã,
um copo de Whisky
sem gelo e, depois de
alguns escarros, que
esse seja um bom
dia para esperar por
amanhã.

Insane Scene

Densa tênue
tensa em transe
suave, plena.

Transa o instante
intensa insana,
dança ao cio

sobre o lábio
frio da lamina.

Minha poesia como
amante quando ela
se veste de dama.

O Suicida do Crepúsculo

Ele queria morrer vendo o sol
se pondo, queria a morte como
vontade sua, queria ser o senhor
do seu momento, não queria a
vida de novo a sua vontade lhe
impondo.
Ele queria morrer no outono,
ao fim de um entardecer
qualquer que ele escolhesse
como perfeito para o seu
abandono.
Vivia ele num mundo fantástico,
onde tudo possível era desde que
se desejasse com muito ardor
realiza-lo, do drama à comédia
do romance à tragédia, cada ato.
A vida para com ele nunca havia
sido boa, tinha saúde mas não
tinha amigos, não tinha esposa,
vivia sozinho não porque queria,
mas porque a vida sempre assim
quisera, era ela de novo lhe impondo
as suas regras.
Quando ficava deprimido costumava
subir até a lua, de lá olhava para a
Terra e dizia que toda a sua tristeza
estava lá embaixo, mas não era verdade,
ele era a sua tristeza e a tristeza era o
espelho que o revelava cada vez mais
cabisbaixo. Chegaria um dia onde não
poderia mais ver a lua, pois já estava
tropeçando com seu olhar em seus passos.
Então decidiu que havia chegado o
momento. Na manhã do seu derradeiro dia
procurou a árvore que mais lhe agradava,
que mais lhe trazia alento, e no instante que
a encontrou percebeu que ela era perfeita,
pois era também a mais próxima do
horizonte, o sol desceria por ali, e assim,
aquela árvore foi a eleita. Trazia consigo
uma corda e uma roldana, fixou a roldana
no galho mais alto da árvore, e na corda
numa ponta fez um laço e na outra fez a
forca, passou a ponta do laço pela roldana
e colocou a forca em seu pescoço, sentou
e aguardou o sol começar sua descida.
Nesse ínterim ficou a pensar sobre sua
amarga existência, que o seu fim daquele
modo ia do paradoxo à ironia, pois em
sua vida cinzenta nunca se sentiu
iluminado e para a sua morte escolhera
o sol como carrasco, o astro que tudo
alumia. O sol começava a sua descida
para o oeste, parecia que sabia do plano,
descia triste e nesse dia era cinza as suas vestes.
Quando chegou na altura exata, ele sem
muita dificuldade laçou o sol e apertou bem
forte para que não escapasse a corda da
cintura do astro rei, ficou de pé sobre o galho
e apertou a forca em sua garganta, 'ta tudo
certo como imaginei', pensou. Inspirava
confiança. A corda começou a esticar,
seus olhos lacrimosos viam o horizonte
a tremular, tinha uma imagem úmida do sol,
começou a sufocar, seus pés não sentiam
mais o galho, estava suspenso, debatia-se
involuntariamente, havia chegado a hora,
estava morrendo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Espelhos

O infinito ladeado por espelhos se
multiplica e eleva a última potência
a sua eternidade.
Eu, uma ínfima partícula de átomo,
efêmero e deteriorável, me fiz poeta
para poder viajar pelo inesgotável.

A poesia nunca acaba quando termina,
pelo contrário, oferece espelhos.

Natimorto

A placenta viscosa,
uma liquida e gelatinosa
mortalha.
O útero como túmulo,
violado inopinadamente
para desenterrar do ventre
o feto defunto.
A barriga, o jazigo,
tantas vezes abrigo
de lombrigas, desta vez
incapaz de abrigar
humana vida.
A vagina, sedenta por sêmen,
sugou num único gole
a semente e,
desta faminta ingrata,
colhe a mãe iludida
um fruto podre.

Cruzfixa

Era uma cruz,
me revelou um devaneio
onírico, singularíssimo,
pois lembro muito bem
que eu não estava
dormindo, porem estava
ébrio.

Era uma cruz em meu peito,
sob meu peito,
por entre minha carne,
alojada dentro da minha
caixa torácica

Era uma cruz servindo ao
meu coração como lápide
da última morada.

Sim, desgraçados,
eu pude ver e sentir,
e sinto ainda agora,
o meu coração havia sido
crucificado e, não bate
mais, como outrora.

Foi o amor vil que o crucificou!
o salvador...o salvador...
o amar!

Pregou meu coração
em seu símbolo para
eu nunca esquecer
por quem ele deve
a partir de agora,
pulsar.


Altissonante

Há uma ferida aberta
no céu da boca do
meu coração.

Esta ferida é a chaga
que deixou o amor que
entrou em meu peito

como um sussurro e
saiu como um 'palavão'.

Há uma ferida aberta
no céu da boca do
meu coração.

És a chaga perpétua
que tão solícito a abrigou
meu coração.

Entrou como um nobre e
altíssimo silencio e saiu
vulgar como palavra de baixo

calão.

Joaquim Maria

Quisera eu não a tua gloria,
cortejada em vida e feita
eterna, póstuma.

Quisera eu não o teu talento,
nato e único e digno
apenas de tua pena e dos

teus lamentos.

Quisera eu não ser como tu,
não sou apto a ser nada mais
que eu mesmo, nada mais que um.

Tu foste vários,
poeta, romancista, teatrólogo...
foste todos num.

Queria eu apenas dizer-te,
oh bruxo pouco e sábio assaz,
que em teus livros permita

Que meus olhos se deitem
para levantarem jamais.
Permita que seja deleite

a minha existência sobre tuas
páginas e que eu possa beber
das personagens que traz

todas as faltas e dádivas.

Queria que soubesse que és
meu único mestre, é o
horizonte que norteia minha

superfície vazia. sou grato por
tudo que teus versos me ensinaram,
me mostraram e inspiraram,

grande e eterno Joaquim Maria.