sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Soneto

— Já dizia o provérbio, poeta,
teus versos não valem a pena
que os riscam sem métrica.
de disciplina eles nada sabem.

— E eu com isso, homessa!
a conduta da minha pena é picardia,
e meus versos não há quem meça.
não há medida exata para a rebeldia.

— Não sabes o que diz, oh ignorante,
o labor de um grande poeta é pôr o
conteúdo X na forma correspondente.

— A forma, meu caro, nunca é relevante,
meus versos cabem dentro do que concebem
e ficam furiosos se os medem, como todo
                                                 [velho punk].

imaginário mundo afora

não pergunte ao meu coração
quem sou, meu amor, nem onde
me abrigo. saiba que habitat de
poeta é solidão e me escondo em
todo verso meu escrito.

não pergunte aos meus passos
aonde vou, eu nunca estive aqui
para poder ir embora, se há algo
em ti que lhe assegura o contrário,
é só minha poesia presa ao seu
imaginário mundo afora.

não tente ter nada de mim
nem de minha alma, meu corpo
é pó e pertence à esta terra,
minha alma eu dei ao diabo
como esmola para livra-lo
da miséria.

nada sou como no passado nada fui,
e se para o futuro algo restou é só um
silêncio sem fôlego que trôpego aos
poucos...diminui.

Dezesseis Primaveras

Oh virgem, diga-me,
quantos beijos cabem
em teus inviolados
lábios tácitos,
qual o sabor da
vertigem que causam
se tocados,
qual a natureza do labor
para poder prova-los,
diga-me menina,
o que preciso fazer
para poder ser o
primeiro e único à
degustar sua vagina?

Quantos pecados abriga
teu desejado sexo sacro?

Se és a saída para a vida
aqui fora, eu daria a minha
para poder tê-lo agora.

Oh virgem, tuas dezesseis primaveras
são compatíveis com os meus tantos
outonos idos, tua mocidade embeleza
os altares postos para Dionísio e, por
teu corpo, eu destronaria tal deus e do
Olimpo eu o lançaria ao precipício.

Por ti faria versos,
quebraria os protocolos
da existência, se me
pedisse, e seria assim
eterno, enganaria a morte
sempre que minha presença
ela solicitasse ao inferno.
Faria da Terra meu paraíso,
oh doce virgem, e contigo,
jovem donzela, seria rei nessas
vãs terras, e o deus do infinito
perto de nós seria menos que
uma ameba, eu o faria discípulo
de vos, se assim você quisera.

Cenhores

vivo em silencio
e morro calado.
não quero ser
mais uma voz entre
tantas outras vozes
que sempre se repetem
de modo pormenorizado.

não entendo esse povo
que usa sua liberdade
para ser a cópia exata
do sujeito ao lado, e
esse sujeito já atua
como cópia dessa mesma
sociedade de bitolados.

é o rebanho do eu próprio atrofiado
preso à moda. um usa a máscara do
outro e o outro se assemelha ao
primeiro desde que este tenha sua
imagem em voga, a tendência é não
existir como indivíduo, e sim ser o
reflexo exato do outro que possui
a imagem exata do coletivo,
o gado à ser abatido.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Não mais amo você

A tez pálida
outrora tão bela,
desta vez não
me encantou.
Como a essência
de toda manhã,
sua alma fria,
quase gélida,
não me espantou.
Lembro que antes
à via envolta
numa áurea assaz
angélica, hoje o que
era antes (como
o orvalho em contato
com os primeiros
toques do sol)
evaporou.
A imagem do seu
corpo que me embriagava
os olhos, agora é como
uma falsa miragem
sem nenhuma beleza,
como tudo aquilo que
ocupa o posto de sóbrio,
e dentro dessa mesma
sobriedade a razão
em tons de tristeza.
Tua nudez dava-me a
ideia exata do porque
do pecado sempre
se mostrar tão imprescindível,
nesse momento se à
vejo despida me
cubro de vergonha
como um homem que
diante do corpo feminino
já não mais se excita.
O sentimento que trazia
no peito em letras
garrafais a identificação
de amor, agora é só um
embrulho no estômago,
um mal estar afônico
que não consegue nem
expressar a sua dor.
É preciso para tudo
dar um porque,
então lhe digo que eu não,
imperdoavelmente,
tenho a plena certeza,
que eu não,
não mais amo você.


Confissão

Do barro à evolução,
Dane-se a ciência e
Mais ainda a religião,
Pois nesta vida ingrata
Só há coerência no silêncio
E em sua confissão. 

Maldito poeta

estava eu com uma azia
na cabeça, entre um pensamento
e outro, ficava a fazer filosofia
de um lamento a outro, tentando
descobrir na metafísica o porque
de tamanha confusão mental.
me sentia quase um autêntico louco!
já era um sinal.
hoje sei que a azia na minha cabeça
não se explica com nenhuma
expressão medica, hoje sinto
que tamanha loucura era sintoma
de um maldito poeta.