sábado, 6 de setembro de 2014

Ríspido Raio

enquanto tiver
bebida em meu copo;
enquanto houver oxigênio
queimando em brasas e,
desse modo,
do meu cigarro estiver
saindo fumaça, digo,
é quase certo que ainda
estarei vivo.

enquanto houver a
opção do suicídio;
enquanto alguns demônios
habitarem meus ouvidos e
sussurrarem em áudio quase
inaudível, elementos para
minha poesia irascível,
estarei vivo.

enquanto não houverem
leitores para minhas
razoáveis páginas,
estarei vivo, pois há glória
apenas no tempo póstumo
para aqueles que estão
a frente do tempo que gozam.

estarei vivo enquanto flertar
com a morte e cortejá-la no
último baile, enquanto eu admirar
o seu porte e me embriagar de
êxtase em seu colo, certamente
estarei vivo mesmo que este não
seja meu propósito pois,
neste derradeiro baile,
meu corpo em riste, queria eu que
essa dama já me tivesse em
sua suíte.

estarei vivo sempre que o outono
ainda tiver estação;
sempre que o cinza dos céus
na paleta de deus ainda houver e
for opção;
estarei vivo enquanto a chuva
puder minha alma às nuvens levar,
e depois ao solo,
num ríspido raio,
em meu corpo,
de novo,
essa alma voltar.

estarei vivo mesmo não lúcido e,
em meu poslúdio, apenas a loucura
poderá atestar que sim,
ainda vivo,
mesmo já mastigando as frases
que prenunciarão o tão aguardado
f i m.  
   

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