terça-feira, 10 de junho de 2014

Autarquia

me diga se todo o tempo
do mundo cabe dentro de
um relógio; se todos os dias
passados e futuros cabem
em calendários; me diga se
todo o amor do mundo é
capaz de preencher todo
um coração mundano; me
diz se a miséria é maior
que os desejos de toda
uma nação; se o consumo de
poucos pode nutrir a inanição de
todos em uma sociedade;
se deus é maior que o homem,
sendo o mesmo homem a
exata semelhança da mesma
divindade; se o pagão pode
sucumbir perante uma unidade
divina; me diga se toda a
realidade cabe em um sonho
meu, e se dentro desse sonho
eu acordasse, eu poderia fazer
do que é onírico a minha verdade;
me diga se o desejo de todas as
palavras é um dia se verem dentro
de um poema, ou se elas ignoram
a poesia e preferem o anonimato,
a filosofia do silencio, ao invés do
fonema; me fale da solidão que me
trazem estas palavras, da obstinação
delas em corromper minha gramática,
da confusão tão bela que geram em
minha cabeça quando eu às finjo
ignorar, da devoção à minha pena,
do respeito que elas tem para com
minha tristeza quando esta está a versejar.

peço que esqueça o que aqui foi
pronunciado, nada faça com isso,
ignore, deixe de lado...pois nada
vale nessa vida a voz da certeza
para quem quer viver calado.

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