sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Aquém-Rédeas

não me contive ao ter
em minha cabeça de louco
tantos pensamentos parafraseando
um a beleza do outro.
virei poeta!
não me contive,
e como a ideia apenas sobrevive
aquém-rédeas,
minha poesia é toda universo livre,
assim, é do verso livre a poética. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Útero Matriz

o que póstero estará
teu útero à gerar
quando não mais
houver rebeldia?
pergunta o poeta à
sua pena enquanto esta,
está a se embriagar
de cálices e mais cálices
de destilada ataraxia.

perceba-responde a
pena-que nunca houve
essa tal rebeldia, e quando
se soube da sua existência e
do desespero dos civis,
já faziam referência à poesia
nascida de minhas entranhas,
da eloquência do meu útero matriz.
a pergunta é, será que haverá leitores
para o devido devir?

Diálogo

-e então doutor, do que se trata?
-é doença crônica. doença já
velha e gasta. é difícil dizer se
há cura, talvez o melhor seja se matar.
-mas como doutor, não há sempre
de se lutar pela vida?
-sim, caro amigo, mas esse doente
sofre de acomodatício perpétuo.
-então é caso de morte certa?
-não, é pior, isso é caso de subvida.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Transedentarismo

quase sempre
discordo de quase
todos os outros
poetas.
tanto os mortos
quanto os
contemporâneos.
discorro acerca
de suas poesias
e para mim nada
presta.
os dos haicais
se mostram tão
objetivos que
numa tolice de
explicá-los
fazem palestras.
mais bobos que
esses são os da
poesia concreta,
logo a poesia que
é a 'forma' de arte
mais impalpável
que resta.
cito estes como
exemplo pois,
eis,
o que mais a
minha pena
detesta.
quanto aos outros,
bom,
são os outros,
não eu,
então neles,
quase nada
me interessa.
eu que nada faço
de novo,
pois minha poesia
também tanta
gente detesta.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Por Onde Passo

não deixo de ser quem sou
por onde ando, por onde calo,
por onde canto. mesmo quando
finjo, sou ainda o mesmo eu
centuplicado. o que penso sobre
tudo e todos, penso que são os
outros os destoados, mas não,
sou eu o incapaz de concordar
com algo capaz de inflamar uma
discussão acerca dos assuntos mais
abordados por esses outros, esses
que não são parecidos comigo nem
um pouco. eu, um abortado.
como pode a minha colheita,
fruto daquilo que planto,
alimentar todo esse povo,
sendo que o que eles consomem
é o inverso daquilo que canto?
como deus pode me salvar
se eu nunca o resgatei do
ostracismo de todo altar,
como posso, de coração,
para ele orar, se a oração
que aprendi me diminui tanto
perante ele que mal posso
alcançar o mesmo altar?
não escondo a minha culpa
em nenhuma tola esperança,
assumo sim que sou vítima,
mas meu algoz sempre foi a
perseverança, insistir no erro
como insiste em ser feliz na
miséria toda criança, eis a beleza
da nossa infância. como poderia
eu dizer à eles que ao som da
vida a tristeza também dança.
eu, que não deixo de ser quem sou
por onde ando, por onde calo,
por onde danço.
pecaminoso dentro de todo o
arbítrio, a cada passo dado sobre
esse solo, sob esse céu um novo
prejuízo. mais uma vez ocupo o
posto de réu, mesmo assim serei
sempre absolvido, estamos condenados
à infinita bondade de deus, a benção
da honra de sermos, por ele,
punidos. eu, um trapaceiro, talvez
ceguei minha fé ao abrigá-la em
uma caixa de espelhos. o horizonte
dessa crença é o retrocesso ao
início do primeiro milênio,
ao tempo da grande obra divina,
o filho carpinteiro. daquela época,
o grande astro, que para alguns
funciona como esteio para os fracos,
mas para mim é o óleo lubrificante
da engrenagem do meu cansaço.
eu que não deixo de ser quem sou
por onde ando, por onde calo,
por onde canso, por onde passo.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Inexistência

Cada vez mais cruel,
envilecido. Rejuvenesce
em seu posto de
eterno. Sempre preciso,
como deus de todo calendário,
para todas as conquistas,
imprescindível. Tua finitude
em minha estória não é crível
mesmo após minha aguardada
morte. Sendo assim, para gozar
a certeza de algum fim, diga-me,
velho tempo, como fugir da
gloria do infinito? condena-me
ao posto de perecível e me ajude
a nunca ser lembrado, eis, velho
tempo, minha meta.

Você, caro mortal,
foste humilde em teu
pedido, outros querem
para todo o sempre habitar
a memoria do mundo,
querem sempre algo mais
do que lhes é permitido.
Para mostrar à ti a minha
gratidão para com tua
nobreza, farei com que
traga em tua pena o antônimo
de toda beleza, e assim,
nobre colega, fará versos por
toda a vida, e que toda tua
vida, assim seja.

Tu, será poeta e,
tua poesia,
o b s o l e t a.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Amenos à mais

Aspirando à um sentimento,
estou a menos de quase um
suspiro de distância da paz,

dias mais amenos
a mais,
longe do ímpeto
de toda tempestade
fixada no horizonte ou
em meus editais, afixados,
por mim,
por onde passo.

quando o sentimento for pleno,
então já estarei a milhas
de distância...já
estarei em paz,
asfixiado.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Aspecto

Não morrerei de amor, isso é certo,
como romântico, apaixonado, amante,
sou só aspecto. Não vivo a vida em
total ardor, somente em tristeza profunda.
No domingo já não existo, já não me habito,
de segunda à sábado é nessa tristeza que existo.
Tudo o que conquistei com muito labor foi
tentar ser poeta dentro da merda de vida que
é quando se julga pensador. Pensador de merda!
Meu desabafo não cabe dentro de nenhuma
métrica, abomino qualquer estirpe de regra,
estripo toda minha inspiração quando ela
tenta se encabrestar em rédeas.
Eu que em todas minhas aspirações nunca me
atrevi à ser mais do que circunspecto, hoje,
em tudo que vivo,
tudo quanto sou,
o tudo que sou e como sôo,
sou apenas aspecto,
se em algo eu vivo,
em tudo eu morro,
isso é certo!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Walkman

Fragmento todo o
silêncio(enquanto
observo Nietzsche
ouvindo Wagner
em seu Walkman)
parafraseando-o
em meu pensamento,
e a dicção suave de
todo ruído, em meus
tímpanos, se assemelha
à algo que já pensei.