quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Desapareceu Sara

Enquanto olhava a chuva lá fora,
Sara chorava. Gostava
de qualquer coisa que acontecia
fora daquele lugar, assim,
já não suportava mais estar ali.
Os cigarros não ajudavam mais,
mas eram indispensáveis,
ainda restavam quatro.
'Deve dar até me tirarem daqui'.
A chuva continuava a cair,
calma, tranquila no seu objetivo
de molhar, e caía com a segurança
que tem quem realiza uma tarefa
quando sabe que, aquilo ali,
ninguém melhor fará.
A chuva jogava-se das nuvens
até a contemplação triste de Sara,
seus olhos marejados devolviam à
chuva a mesma e molhada obstinação,
chorar, chover...
Como era possível observar o céu
dali onde se encontrava? pensava
Sara.
a face cinza do céu, naquela hora,
dizia à Sara que seria, talvez, a tampa
para seu túmulo se, à visse ali,
outra vez.
Pelo menos estava abrigada da chuva,
estava seca, mas sentia muito frio,
não chorava mais, mas presa ali,
talvez nem o silencio à ouviu.
A chuva ainda caia, sutilmente,
como uma modorra, era quase
hipnótica aquela suavidade toda.
Sara adormeceu.
Acordou assustada, sendo
encarada pela pálida lua,
acendeu um cigarro, ficou em pé,
deu dois passos, foi até a pequena
abertura onde pôde ver melhor a
lua lhe olhando de soslaio,
estremeceu.
Fazia muito frio. Quanto tempo
passara? certamente não amanheceria
viva se não saísse dali, pensava Sara.
Pôs-se à fazer um esforço
enorme para lembrar como
foi parar ali, tentava,
não conseguia, a última coisa que
lembrava era estar ali olhando a chuva,
lá fora.
Ainda restavam três cigarros.
Ainda chovia.
Ainda olhava a lua.
Sara percebeu que pela pequena
abertura, onde era possível
observar a lua, talvez com
muito esforço seu corpo
passasse, quem sabe assim
pudesse sair daquele lugar.
Pegou algumas pedras para usar
como apoio e subiu, alcançou
a pequena fenda e, incansavelmente,
pôs-se à tentar passar o corpo
já cansado pela abertura, não
obteve êxito, desistiu.
Sara jogou-se ao chão,
completamente desesperada,
pior do que não conseguir sair,
era não saber onde estava e
nem lembrar como foi parar ali.
Ninguém buscava por ela
lá fora, de onde Sara se
desprendeu, havia passado
um pouco mais de doze horas
desde que sumira.
nunca mais foi vista,
Sara, desapareceu.

Nenhum comentário: