quinta-feira, 14 de junho de 2012

Poética Paixão

Fazia frio.
Mas o frio que fazia não era aquele frio comum
de um inverno qualquer.
Era o frio dos poetas,
o frio outonal dos poetas ou
dos poetas outonais era o frio.

Nunca conseguira viver bem com a poesia.
Atrapalhava-se com os versos em sua cabeça,
de tal maneira, que, sempre publicava seus
pensamentos ermos como poemas.

Entendia-se como poeta pela simples razão de que sempre
soubera que apenas a poesia(e essa nunca conseguiu
entender o que nele à encantava), a que nascia da labuta
da sua devotada pena, o lhe revelaria, o emanciparia
das trevas da ignorância do seu destino e o ascenderia
a luz da opção da escolha de destinos efêmeros.

-A vida arde mesmo em liberdade-dizia- e nada
mais livre que uma pena vadia. Assim, habitava seu
lirismo e atuava sempre como vítima da sua poesia.

Nesse dia, dentro do frio que fazia, fazia versos.
Não sabia, mas esse seria seu último e, esse último
dia seria o dia que seus versos, finalmente, o fariam
liberto.

Estava na tentativa desde que acordara, à escrever.
Dois sonetos, uma dezena de haicais,
alguns outros poemas mais. Mas não sabia
que quem terminaria sua ode, sua mais
triste elegia, que começou escrever quando nasceu,
seria a própria poesia.

-Chega de anomia, não se vive das palavras
com esta falta de inspiração, essa anemia poética,
patética rarefação...se não me têm os poemas
cravarei então esta pena em meu coração.

Foi assim, o derradeiro levante, escrito com sangue
e emoção. Sem mais metáforas...sem rimas, apenas
a diáspora da ilusão. Foi-se a vida...matou-se o poeta,
morreu de paixão.

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