quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Talvez dor seja isso

O cinzeiro cheio, o criado mudo, sujo. calado.
o cigarro queima nos dedos da personagem,
os mesmos que escrevem esses versos a sua imagem
de poeta mudo, sujo. calado.

O mundo talvez seja o que não sentimos,
talvez sejamos no mundo o que pensamos,
e pensamos sobre o que sentimos em vida,
somos vida, outros são mundo.

Sou a disciplina da minha escrita
não tenho regras, não tenho rimas.

Não nascem rosas no asfalto, o jardim
é um limitado espaço, não segue longe
ao horizonte, não voa alto.

O cinzeiro cheio de um mundo triste
que não sente, mundo de personagens
que pensam em vida à vida, sobre em
que vida queriam ser melhores versos,
ora mudos, mas quase sempre calados.

Somos omissos. Pensamentos que sentimos
são palavras que velamos, noites temperadas
com lua e vinho, na busca por tentar dizer,
expressar-me, escrevi, me contive aqui. sozinho...

Talvez dor seja isso.

soneto

ergo-me da incerteza que me abriga.
beijo a face ácida do tempo, suave brisa.
excito-me vendo a dama de preto
vestida de morte contente e altiva.

vejo-me nas águas banhando o corpo
da mesma dama de preto, agora despida.
ela me beija com seu bico de corvo
e é dela a alma que habita-me, viva!

juro pra sempre servi-la,
juro pra sempre admira-la,
juro tentar ter com ela o que não tive com a vida.

deito-me no leito derradeiro,
findo o encontro como quem termina um soneto,

chego enfim ao fim e permaneço obsoleto.

soneto

criminosa desculpa tentar obter poesias
sem nada para escrever. tentar traçar
algumas linhas sem nada para dizer,
procurar adrenalina em um romance para ler.

gastar todas as tintas sem nada
para pintar, todos os acordes numa
canção para vender e orar, ser revolucionário
e aceitar, acreditar que tudo é já.

dirás que um verso teu não foge a pauta,
que um beijo seu não se escarra fora, que
a vida é vida quando a vida falta.

gritar na noite desejos de rebeldia,
ser um culpado suspeito, sujeito urbano

um cigano sem tribo, pazanarquia.