sexta-feira, 24 de abril de 2009

Viver

queria uma inspiração para escrever
queria um mundo para perverter
queria uma doença para viver
queria uma saúde para ruir.

queria uma voz para gritar
queria um dom para domesticar
queria uma palavra não para explicar
mas para resolver o meu penar.

queria ver meu sangue nas páginas
-me cortei no que escrevi ao imaginar
que era feliz fazendo rimas sem mas.

queria, ah como queria não mais querer
me extinguir dos sentimentos, me ver
em um altar ardendo em chamas.

sou um eu que não me vejo
um verso que não escrevo, sou um
espelho que, posto na frente dos meus
desejos, reflete todos os medos.

inflamo-me e não renasço, mas
a cada passo penso em regar-me de
alegria, tento mirar na direção da
alforria e desprender-me em colapso.

fujo do fluxo de absurdas portas abertas,
do encontro da procura pelo nada, dos
longos intervalos da lúdica mente de um poeta.

fujo da vida que já não mais é tão bela,
estudo minuciosamente as palavras,
para pôr fim às palavras dela.

[adoeci no mundo que ergui,
prendi meu livre existir conjugando
o verbo acontecer, existir...
orei e pedi pra deus rezar por mim,
e que eu tivesse a ousadia de não permitir
que essas mesmas orações falassem por mim.
queria uma inspiração para perverter,
um mundo para escrever, queria ruir na saúde

o meu viver].

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