sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Poesia outonal

e fica cinza o céu das minhas magoas...
minha conturbada e nublada alegria de viver se encanta com o impulsivo ato de narciso em cortar os pulsos com cacos de espelhos quebrados, com a extinção de Macondo, o terrível destino dos Buendías, a solidão...
e fica cinza o céu das minhas magoas...
minha tristeza como passatempo, meu tempo inerte e voraz, as certezas angustiantes das minhas derrotas eminentes e verossímeis, a dor...
e fica cinza o céu das minhas magoas...
o passo em falso que dou por temer prosseguir, a culpa que me culpa por não admitir a minha desgraça poética, o desejo de matar-me até o entardecer, a razão...
e fica cinza o céu das minhas magoas...
o prognóstico do espelho, o uso contínuo de estimulantes depressivos, a cólera da minha calma insuportável, o uso do tédio como algo para fazer, a libertinagem de minhas virtudes dogmáticas, a alienação...
e fica cinza o céu das minhas magoas...
a ingrata compaixão, os escrúpulos corrompidos na ambição de tentar ser sempre otimista, o sentimento maquiavélico, a tortura da rejeição, o profundo desejo de seguir incompleto e a incapacidade diante da minha perdição, o amor...

e fica cinza o céu das minhas magoas.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Pobre poema apaixonado

como queria não mais me render a essa compulsiva ideia de sempre poemas pra ti escrever. mas como lutar, como censurar esse poeta apaixonado que me abrigas? esse desejo involuntário que brota em meu coração já em cinzas e que sempre bate na direção da responsabilidade de nunca deixar de ti amar. minha dor envolta em eufemismos, minhas palavras sempre claramente apaixonadas entorpecidas em sentimentalismos, partem da mesma premissa, é o preludio que uso como álibi, é o que tenho feito incansavelmente na delirante vontade que meu amor por ti nunca acabe. difícil entender esse impasse, pensar em ti ou fingir não pensar em ti, me enganar e fingir aceitar, ou aceitar e fingir que não me engano, sendo que qualquer plano me leva a ti? ah! criatura admirável, dama que tem a cura para o pranto da minha alma, mulher que no frio de outono é o sol da minha aurora, que nas noites escuras de sextas estranhas é a lua límpida e despida que me leva sempre às nossas doces lembranças, momentos felizes que outrora eternizamos, procure entender o que parte desse eu-poético, não peço que aceite mas, saiba que por mais que soe patético esse involuntário ato, faço poesia para engrandecer o que me ensinastes, e agradeço a ti o fato de hoje sofrer por um dia ter tanto amado. mesmo perdido e solitário ainda tenho forças pra imortalizar aqui esse amor por ti escorraçado, se minha essência é a poesia que escrevo, você é o contexto dos mais bonitos enredos que, fazem dessa compulsiva ideia, meu habitat, meu lar soturno, meu mundo paranoico habitado por mim e pela lembrança tema, que, sempre me ajuda como pauta para meus melancólicos poemas.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

"..."

a noite acaba
o dia nasce
eu durmo.
a vida se mata
a morte se corta
eu sumo.
a lua se cora
a pálida cólera
o espelho soturno.
a garota da foto
o papel de parede
da memoria in-foco.
a bebida ainda
me diz que ainda
estou sóbrio ainda.
o amor rompido
seu corpo atenta
à minha libido.
a poesia prosaica
palavras intactas
quase arcaicas.
nas cabeças de uns
lirismo aceito
lugar comum.
no resto “aqueles todos"
é humilhada, lodo
escarrada- loucos!
entendo vou embora
escrevo minha hora
morro e sumo.
a noite desperta
o dia emudece

eu fujo.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Hemopoesia

junta-se a mim uma grande soma de certezas inúteis como toda exatidão é. mescla-se a mim e usurpa-me uma grande quantidade de indiferenças que diferem direto do que sinto. sobressai a mim todas as outras crenças que sempre com respeito eu desprezei. traio o amigo, roubo um sorriso da garota do inimigo, me declaro autêntico e me situo no cinismo pleno. nas blasfêmias do que penso ponho os sonhos na ferida, sangro junto com a hemofílica poesia, profetizo minhas desculpas no caso de não entender o uso dessas estúpidas linhas...rompo a promessa de não mais poeta ser, poeta sou de poemas híbridos que esperam incansavelmente perpetuar essa linhagem pura, então faço poesia na ânsia vazia de apenas escrever, pensar e dizer loucuras.


junta-se a mim uma grande ânsia vazia de apenas escrever loucuras, exatas de certezas inúteis como toda loucura é. mescla-se a mim uma grande linhagem de poemas híbridos puros, que diferem das indiferenças do que sinto. sobressai a mim a promessa de não mais poeta ser, rompo essa crença, e, respeito o desprezo de que poeta sou, profetizo a traição ao amigo, minhas desculpas no sorriso da garota do inimigo, me declaro autêntico nessas estúpidas linhas plenas de cinismo. nas blasfêmias do que penso com a hemofílica poesia, sangro junto com os sonhos postos na ferida para fecundar e gerar mais e mais feridas. sonhos rubros da cortante e inquieta poesia.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Soneto de despedida

arrependo-me de todos os meus versos e,
em especial, aqueles feitos pra ti.
a armadura de poeta apaixonado
não mais cabe em mim.

arrependo-me de todas as palavras que
elogiaram-te numa incansável luta.
arrependo-me pois hoje posso ver
que tu és apenas só mais uma...puta.

nesse derradeiro soneto, desejo
a ti, com tudo que ainda há em mim
o meu mais profundo desprezo.

arrependo-me honestamente dos dias
que em absoluto sofri, e, a partir de hoje,

por ti, não mais farei poesia.