quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Delírios num quarto escuro

vazei por uma estreita passagem até a antessala da razão. o pecado mora ao lado, e o devaneio certamente é vizinho da lucidez. me vejo só, numa sala onde parece ser um centro de reuniões, rituais e até mesmo orgias inimagináveis, essa por último, imagino por pura sordidez de caráter, mas se realmente o pecado mora ao lado e a grama do vizinho é sempre mais cuidada que a nossa, esse jardineiro sórdido também estava lá. num súbito e frenético ato de pensar, elaborei planos e mais planos sem nenhum fundamento, o pensar em demasia e o pensamento mecânico é tão nocivo quanto a guerra, pode até ter um propósito traçado, mas mesmo assim é totalmente nocivo, condenável e repudiado. nesse momento meu peito disse ou apenas taquicardiou- sinta mais, pense menos. emocione-se em demasia e não faça de sua cabeça uma maquina. não procure substituir algo que é pluralmente singular, algo que é o mesmo sempre, fiel mesmo se feito em serie, seria sempre o mesmo, único. o âmago, a alma, é incopiável, insubstituível. não tente ter com a cabeça, raciocínio, algo que só é possível sentir com o coração. meus olhos então me despiram a carne, e assim o espelho pôde ver seu reflexo e, num ato de sandice sacra minha alma pôde se olhar por um instante. no meio dessa autocontemplação, o meu ego inflou tanto que depois de segundos, estava eu observando do alto a antessala e a estreita passagem por onde vim, minha alma olhava-a trêmula pois meus olhos lacrimejavam muito e assim o sal esterilizou todo o meu corpo que, nesse momento, já como embalagem vil da alma voltava num ato rudimentar de bumerangue, e, na completa junção com o declínio do meu ego, volto ao lugar de origem. saio de um psicodélico sonho e encaro novamente a inútil e catastrófica realidade, a tal antessala da loucura.

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